PERÍODO: 27-05-2024 (segunda-feira) até 29-05-2024 (quarta-feira)
LOCAL: EEM Egídia Cavalcante Chagas
TEMA: Entre currais e memórias: a cultura vaqueira e o exercício do protagonismo feminino a galope
APRESENTAÇÃO: O Ceará é um estado marcado pela ação e pela história de diversos tipos humanos. É a terra do jangadeiro dentre os quais merece destaque o famoso Dragão do Mar, líder da luta contra a escravidão. É lar de poetas populares como Patativa do Assaré e de escritoras que conquistaram espaço na literatura nacional de forma arrojada e vanguardista como Raquel de Queiroz. É um mundo formado pela contribuição do vaqueiro. “O cavaleiro do sertão se estabelece nesse âmbito como um agente tomado pela identidade cultural de cearense […]” (NUNES, 2018, p. 28) e, portanto, é uma parte considerável de transformações seculares que ainda hoje estão em curso em meio ao “processo histórico e cultural de colonização da região que hoje constitui o estado do Ceará” (idem, ibidem) e, por conseguinte, de Morada Nova, também denominada como terra do vaqueiro, sujeito mestiço cujas rotinas laborais alimentaram o surgimento de poemas, cordelistas, pintores e toda uma série de artistas e profissionais envolvidos com o mundo do curral. A cultura vaqueira viu a transformação da “pega de boi no mato” e das festas de apartação em um esporte, a vaquejada, com amparo legal. Também permitiu a luta pela subsistência e o exercício cultural das mais diversas manifestações artísticas e econômicas. Especificamente, no caso de Morada Nova, Ceará, a cultura vaqueira permitiu o exercício do protagonismo feminino. A mulher não ficou reduzida ao papel de filha ou mulher do vaqueiro, ou ao de cozinheira da fazenda. Ao contrário, as histórias da terra do vaqueiro testemunham que a mulher vaqueira vem assumindo uma condição de pé de igualdade seja na luta do curral seja na pista de vaquejada, com força e beleza. No galope do cavalo, Morada Nova vem fazendo sua história e se consolidando como uma terra culturalmente singular na medida em que valoriza o tradicional e que discute situações e oportunidades para o futuro.
JUSTIFICATIVA: O vaqueiro é um mestiço que ocupou vastas áreas do sertão e que tem abastecido várias produções científicas e artístico-literárias. O Monólogo do vaqueiro (Gil Vicente), Grande Sertão Veredas (Guimarães Rosa), Vidas Secas (Graciliano Ramos) e O Quinze (Raquel de Queiroz) são obras ficcionais em que o vaqueiro e seu mundo são abordados. Brandão (2008) reflete sobre a representação geográfica e social do vaqueiro em seu sertão. Cascudo (2005) e Vieira (2007) analisam o vaqueiro a partir de cantadores e cantigas. Peixoto (2007), Silva (2011) e Nunes (2018) se debruçam sobre questões linguísticas a partir do vaqueiro e de seu mundo donde derivou a vaquejada. Pordeus Júnior (2003) se debruçou sobre a origem multiétnica do vaqueiro. A figura do vaqueiro e o ofício da vaquejada podem estar em constante transformação ao longo do tempo, mas o frescor de sua existência e a animação de seus fazeres continuam os mesmos em relação aos desafios e perigos que marcaram o passado e que afetam o presente e a possibilidade de futuro. Ora, independente de as histórias e aventuras de cavaleiro medievais encontrarem algum tipo de paralelo nas vivências do vaqueiro nordestino, o trabalhador dos sertões brasileiros conseguiu superar as adversidades do curral e dos sertões para alcançar novos espaços de interação na sociedade. Por conseguinte, o mundo da vaquejada e a cultura vaqueira estão passando por movimentos de renovação com os quais a sociedade vem adquirindo novos sentimentos e posicionamentos acerca do que os currais e suas memórias significam para as diversas realidades e segmentos do mundo contemporâneo, especialmente para o exercício do protagonismo feminino.
OBJETIVO: Problematizar o contexto de atuação dos vaqueiros e as diversas manifestações de caráter memorialístico que ressignificam os processos histórico-culturais e artísticos com os quais a sociedade lida.
METODOLOGIA: Realização de atividades informativas, formativas e pedagógicas em sala de aula e de palestras e/ou ações artístico-culturais dentro e/ou fora dos espaços escolares.
INFORMAÇÕES: Escola Egídia Cavalcante Chagas. Telefone: (88) 3422-2810.
REFERÊNCIAS:
BRANDÃO, Tanya Maria Pires. O Vaqueiro: símbolo da liberdade e mantenedor da ordem no sertão. In: MONTENEGRO, Antonio Torres et al. (Orgs.). História: cultura e sentimento. Recife: Ed. UFPE; Cuiabá: Ed.UFMT, 2008. p. 119-134.
CASCUDO, Luís da Câmara. Vaqueiros e cantadores. São Paulo: Global, 2005
NUNES, Ticiane R. Língua(gem) e cultura: um estudo etnográfico dos campos lexicais de vaqueiros do Ceará. Tese UECE. 2018.
PEIXOTO, Lílian Marilac Cornélio de Freitas. A fala do vaqueiro do sertão baiano: análise semântico-lexical. 2007. 181 f. Dissertação (Mestrado em Letras e Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Letras e Linguística, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2007.
PORDEUS JÚNIOR, Ismael de Andrade. Cearensidade. In: CARVALHO, Gilmar de. Bonito pra chover: ensaios sobre a cultura cearense. Fortaleza: Demócrito Rocha, 2003. p. 11-20.
SILVA, Eliane Santos Leite da. O campo lexical do trabalho em cartas de vaqueiros e negociantes ao Barão de Jeremoabo. 2011. 133f. Dissertação. Universidade do Estado da Bahia, Salvador, 2011.
VIEIRA, Natã Silva. Cultura de vaqueiro: o sertão e a músicas dos vaqueiros nordestinos. In: Anais do III Encontro de estudos multidisciplinares em cultura. Salvador: UFBA, 2007