XIMENES,
Expedito E.; NUNES, Ticiane. R Realidade Linguística na Linguística Aplicada
indisciplinar: nova concepção (p. 21-30). In
FERREIRA, D. M. (Org.). Estudos críticos
da linguagem. 1ª ed. Curitiba -
Paraná. Appris editora. 2017. (214 p.).
“O
termo ‘realidade linguística’ foi introduzido por J. Trier em 1931, mas foi
Eugênio Coseriu, em Princípios de Semãntica Estrutural, de 1977, quem
amplamente divulgou o conceito, que utilizou para sistematizar a Teoria dos
Campos Lexicais, já lançada por K, Hayse e G. Ipsen […] e para demonstrar que a
existência dos campos está condicionada à linguagem em uso, pois é por meio do
uso que conseguimos delimitar a atuação dos vocábulos” (p. 21).
“É
impossível ignorar as necessidades sociais de desenvolvimento de estudos sobre
a linguagem com a apreciação do contexto contemporâneo como um campo
plurissignificativo e permeado por atores sociais que buscam compreender sua
realidade de linguagem” (p. 22).
A
realidade linguística é “a língua em uso, ou seja, a língua empregada pelos
falantes que dela se utilizam para se comunicar ou interagir, e não como a
idealização de um sistema abstrato e distanciado da realidade dos usuários” (p.
24).
“[…]
realidade linguística é um termo que, apesar de ser pouco explorado pela LA Indsciplinar,
está presente na ideologia defendida pelos teóricos que arquiteta(ra)m essa
recente corrente da LA [Linguística Aplicada], em que, sem a linguagem em seu
uso cotidiano, não poderíamos investigá-la, tendo em vista que as abstrações e
as generalizações não são suficientes para reproduzir a comunicação dos
usuários de uma língua” (p. 26).
“[…]
os estudos linguísticos modernos no âmbito da LA Indisciplinar seguem a
tendência de observar a realidade como inspiração e motivação para suas
pesquisas acadêmicas. Esse movimento de observação coloca em evidência a
necessidade de se estudar a linguagem em sociedade e a relevância dos falantes
como atores que a reinventam […]” (p. 28).
“[…]
é na realidade linguística que os usos da linguagem se fazem, sejam eles
tradições discursivas consagradas ou novos usos recèm-criados – o que
justificaria a pertinência do termo realidade linguística” (p. 29).
………………………………………………………………………………………….
FERREIRA,
D. M. Agência na linguagem: do diferente ao semelhante (p. 31-52). In FERREIRA, D. M. (Org.). Estudos críticos da linguagem. 1ª ed. Curitiba - Paraná. Appris editora.
2017. (214 p.).
“[…]
só posso sentir/praticzr a ação da inclusão se retornar à exclusão” (p. 33).
“[…]
para que um signo seja legível necessita que seja repetível, repetido –
iterável –, pois tem em si força de ruptura com o seu contexto” (p. 33).
“[…]
se as nomenclaturas carregam sentidos e sentidos não se saturam, podemos
afirmar que os sentidos classificatórios de nomenclaturas são da ordem de escolhas que podem adquirir o status
hegemônico pela sedimentação de uso que os usuários o qualificam” (p. 33).
“[…]
mesmo que ator não seja o mesmo que agente (ator está ligado à função e agente,
à ação), esse ator não deixa de ser um sujeito agente de ação concreta” (p.
35).
“[…]
agente, ator e sujeito seriam modalidades, ou seja, formas identitárias, que
compõem a identidade social dos indivíduos” (p. 35).
“[…]
talvez o protagonista seja um agente, um indivíduo que lidera a mudança, não
deixando nem de ser um ator social, enm um agente, que emerge do coletivo, que
representa um coletivo e que tem uma posição particular, mas que é construída
no sistema social” (p. 38).
“[…]
discurso como prática social e sua natureza performativa, ou seja, […] falar é
agir […]” (p. 38).
“[…]
o discurso é a base da estrutura social, pois ele não apenas representa suas
convenções, mas também constitui e molda tais convenções, fazendo com que o
mundo e as relações sociais adquiram significados” (p. 38).
“E
abordando a linguagem em sua natureza performativa, damos ao sujeito a
responsabildiade de seus atos de fala, que com sua força ilocucionária projeta
efeitos de sentido (força perlocucional) […], no processo interativo e
comunicativo que nada mais é que uma relação social que se estabelece entre
sujeitos em um espaço e tempo cultural e político” (p. 38).
“[…]
o sujeito asssujeitado seria um sujeito locutor incapaz da criação de um
discurso novo, reproduzindo apenas discursos anteriores consolidados, logo não
poderia ser um agente; o sujeito discursivo, ligado à práxis social, pode
remodelar e protestar, e mesmo que esteja vinculado às representações das
estruturas sociais não deixa de ser um sujeito em práxis social; e o sujeito da
ação, de uso da linguagem enquanto performativa, é capaz de agenciar seu
próprio discurso, mesmo quando lhe é exigida a autoridade sociocultural de
caráter instituicional” (p. 41).
O
sujeito “agente é um ator cuja ação pode ter efeitos sociais. Este mesmo
sujeito combatente pode se tornar um protagonista tanto pela sua posição
criativa quanto pela sua performatividade inserida na linguagem” (p. 41).
Na
“vertente de agência como resistência, há também atos agentivos que envolvem
cumplicidade, acomodação e reafirmação do status
quo. (p. 43).
“É
pela agência contra a opressão, combatente, que nos surge o protagonista” (p.
43).
“Nas
agências contra a opressão e para as mudanças sociais, tanto o sujeito
particular quanto o sujeito social se encontram emparelhados, da mesma forma
que um líder carismático […]” (p. 43).
“[…]
o sujeito individual chega a sujeito social, do sujeito social chega a ator – o
sujeito que assume uma função social a qual deve e quer desempenhá-la – e por
tal função age, cuja agência permite que adquira a propriedade de agente. Ao
assinalar que sua agência tem um propósito, torna-se protagonista de uma ação
social que visa à transformação e à mudança” (p. 48).
A
“ação de um sujeito, cuja agência (agente) o direciona a uma função social
(ator social), cujo papel assumido, tendo um propósito, possibilita alcançar o
seu próprio (protagonista)” (p. 49).
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SILVA,
Jony K. de C. Por uma Pragmática menor: tensões entre linguagem, corpo e
política (p. 53-68). In FERREIRA, D.
M. (Org.). Estudos críticos da linguagem. 1ª ed. Curitiba - Paraná. Appris editora.
2017. (214 p.).
“[…]
a linguagem é uma questão de política, antes de ser linguística […]” (p. 53).
“[…]
uma pragmática menor é uma pragmática enquanto política da língua, que leva em
conta o estar-fora em relação à lingua; fazendo, então, com que haja variação
contínua da língua e criação de forma de vida” (p. 53).
“Uma
política descolonial que vai de encontro à subjetivação, às identidades de
gênero, satisfazendo-se de uma pragmática menor como política da língua” (p.
54).
“[…]
há uma relação de imanência entre uma palavra ou qualquer enunciado, com atos
de fala, com pressupostos implícitos na palavra de ordem” (p. 54).
“[…]
o sentido é o expresso da proposição,
o acontecimento, o puro devir; e é incorpóreo,
por não se confundir com a preposição nem com o objeto ou estado de coisas que
estaria no mundo designado por esta, ou com a representação ou com os conceitos
perpetuados pela proposição” (p. 55).
“O
sentido é o atributo da coisa ou do estado de coisas, como um verbo” (p. 55).
“Afirmar
que o sentido é o expresso, ou que
está no uso, é uma posição pragmática a toda uma dimensão logicista ou
semântica da linguagem” (p. 55).
“[…]
palavras de ordem […] expressam atos de fala incorpóreos, a partir da relação
com uma palavra ou com qualquer enunciado. Esses atos são atribuídos a corpos,
como variáveis de agenciamentos coletivos de enunciação que, relacionados de
determinado modo, reúnem-se em um regime de signos, conformando uma máquina
semiótica. Os corpos, por sua vez, formam um regime de corpos, ou um
agenciamento maquínico. Um agenciamento, então, constitui-se dessa
inseparabilidade entre linguagem e corpo; e por um lado, ele é coletivo de
enunciação e, por outro, maquínico de desejo. Não há um agenciamento coletivo
de enunciação se ele não for, também, um agenciamento maquínico” (p. 55).
“[…]
pensar as outras dimensões da linguagem a partir da pragmática; e […] uma
agenda política para a linguagem a partir da pragmática” (p. 55).
“A
concepção deleuziana do sentido advém de uma filosofia da linguagem estóica, e
não da lógica aristotélica (como boa parte da origem da filosofia analítica e
da filosofia da linguagem)” (p. 56).
“Não
há ato mais performativo do que outro” (p. 56).
“Todo
agenciamento se faz de linguagem e de corpo que, quando voltada sua face para
um plano de composição, potencializa criação de ambos. Contudo a linguagem não
se encontra numa relação de correspondência e representação para com o corpo,
nem vice-versa; entre ambos, existe apenas uma relação distribuitiva, por uma
pressuposição recíproca” (p. 56).
“Se
a linguagem é devir, todo devir é perspectivismo. De um ponto de vista
epistemológico, não se compartilha de uma concepção relativista e, muito menos,
de uma concepção essencialista acerca da relação entre linguagem e mundo. O
perspectivismo é criação de mundo, mas um mundo que somente é, (ou melhor,
devém) mundo a partir de uma perspectiva […]” (p. 57).
“No
uso, o sentido faz parte de uma forma de vida, de um jogo de linguagem, que se
constitui social, político, histórico e cultural – sua gramática. Considerando
isso, o organismo provém, enquanto estrato para com o corpo, uma máquina
abstrata que opera por segmentações, regimes, hierarquias e binaridades” (p.
60).
“Aparelhos de captura ou de Estado são os
agenciamentos que operam segmentações ao corpo, impondo um organismo” (p. 60).
“Em
termos de gramática, entedemos que a máquina de guerra é uma gramática de
revide contra o Estado e seus aparelhos” (p. 60).
“[…]
a depender do agenciamento, um signo varia de sentido […]” (p. 61).
Silva
(2017) defende a distinção entre os signos da máquina de guerra que confrontam
os signos do aparelho de estado (p. 61-62). O autor opera com os conceitos de
cartografia, modelos hilemórficos e hecceidades (p. 62-63).
“[…]
devir-mulher […] uma postura descolonial acerca da subjetivação […]” (p. 64).
“Diferentemente
do anormal, o anômalo não pressupões um padrão, um normal em contraposição; ele
é composto apenas de devires, afetos funcionando como uma borda e ocupando uma
posição ou um conjunto de posições em relação a uma multiplicidade” (p. 65).
“Um
agenciamento se compõe de dois eixos, um horizontal e um vertical: no primeiro,
constitui-se de expressão e conteúdo, ou seja, um agenciamento coletivo de
enunciação e maquínico de desejo; no segundo, faz-se de lados territoriais e de
pontas de desterritorialização (p. 66).
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ALENCAR,
C. N. de; LUCENA, Maria de F. M. Entextualizações em menos que nada: textos que
viajam na obra de Slavoj Zizek (p. 69-78). In
FERREIRA, D. M. (Org.). Estudos críticos
da linguagem. 1ª ed. Curitiba -
Paraná. Appris editora. 2017. (214 p.).
O
texto deve ser visto “como signo da prática discursiva, eivada de
intertextualidade e interdiscursividade [e] índice de formas de vida, que
indexicalizam políticas do contemporâneo” (p. 70).
“[…]
como os repertórios de convenções macrossociais marcam indexicalmente os textos
que produzimos” (p. 74).
“O
legi-signo é o signo convencionalmente aceito, o padrão, signo de lei [e] o
sin-signo [é] uma ocorrência. Pelo sin-signo, o legi-signo se torna um novo
signo a cada ocorrência” (p. 75).
“[…]
quais contextos macrossiciais marcam indexicalmente os textos produzidos […]”
(p. 75).
“[…]
o capital torna-se capital especulativo e amplia novas formas de acumulação
para cobrir os gastos com tecnologias, cada vez mais sofisticadas, e para lidar
com a flutuação cambial do capital financeiro, atingindo não apenas a classe
operária, mas também grupos culturais vulneráveis, como indígenas, ribeirinhos,
quilombolas, camponeses, favelados. Tais grupos, subsumidos pela dominação
neoliberal, que pretende submeter a todos à lei do valor, passam a resistir
coletivamente, configurando os chamados ‘novos movimentos sociais’” (p. 75).
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CAMINHA,
T. Corpo tecnorgânico na cibercultura: efeitos sobre sexo e gênero (p. 81-100).
In FERREIRA, D. M. (Org.). Estudos críticos da linguagem. 1ª ed. Curitiba - Paraná. Appris editora.
2017. (214 p.).
“A
aplicação dos conhecimentos e princípios tecnológicos a outros sistemas de
atividade humana tem revolucionado os modos pelos quais interagimos com o Outro
e estendemos nossos limites para além do corpo dito ‘natural’, mas não por isso
o transformamos em ‘anormal’” (p. 81).
“O
‘Eu-máquina’ , incosciente dos efeitos dos elementos exteriores que moldam sua
própria corporificação, também se transforma em um agente ativo de recriação do
sexo e ressignificação do gênero” (p. 81).
“[…]
o simbolismo social que aponta para a inevitabilidade de um gênero que não fuja
à anatomia (idealizada como uma forma da natureza) e de um exemplo de
afetividade […]” (p. 81).
“[…]
o trabalho material da sociedade também dá vazão a uma nova percepão de
sexualidade que se opõe ao binário normal/heterossexual e à dicotomia
normal/anormal” (p. 82).
“A
própria realidade do sujeito, por exemplo, não pode ser sintetizada à
materialidade das coisas, visto que ele está submerso em um mar de ondas
eletromagnéticas, sobrecarregadas de informação, e situadas em um novo lugar de
sociabilidade – o ciberespaço” (p. 82).
As
relações vivenciais entre Alter, Ego e Outro “podem assumir valores contínuos,
senão instáveis” (p. 83).
A
partir de uma realidade cibercultural é possível concluir que “a realidade
‘pós-humana’ só é percebida como tal por meio das formas de vida que ela torna
possíveis e que a tornam possível” (p. 83).
“[…]
aptidão (ou adequação) diz sobre situar o corpo no campo da ação, práticas
sociais, e não estudá-lo a partir de condições biológicas e trans-históricas
[…]” (p. 83).
“Desde
a Revolução Industrial (século XIX), nota-se uma sincronia entre os meios de
produção e os modelos de estética […] o capitalismo é um sistema econômico que
investe no corpo como um projeto de produtividade”. […]. A aparência física
baseada em imposições modelares passou a servir de justificativa, até mesmo,
para a divisão de classes […]” (p. 84).
“[…]
a tendência dos discursos institucionais é transformar proposições ideológicas
em senso comum sob a rubrica de ‘conhecimento’ […]” (p. 84).
“[…]
o corpo é a versão situada do humano na história social” (p. 87).
“[…]
o grande debate em torno da sexualidade diz respeito a pôr em questionamento os
essencialismos que tratam sexo, gênero e identidade como uma unidade. […]. A
idéia de sujeito […] como um tipo de ação afirmativa, ou seja, um lugar de onde
se fala” (p. 88).
“[…]
o corpo é também uma tela de inscrição do momento histórico e de suas
contingências sociais” (p. 89).
“[…]
no caso do/a transexual, o que é inteligível é transformado em algo
ininteligível para apoiar a carga histórica de práticas discriminatórias.
Recordemos que o homossexualismo saiu da classificação de transtorno mental em
1873” (p. 89).
“[…]
uma parcela significativa de homens e mulheres classificados como tais têm uma
porção genética indeterminada, mesmo que suas constituições físicas e funções
reprodutivas sejam inquestionáveis. Em consequência, a presença do cromossomo X
em homens e Y em mulheres, ainda que inativo, põem em xeque qualquer binarismo
sexo/gênero” (p. 89).
“Uma
subjetividade livre é imprevisibilidade (incondicionamento) e adaptabilidade
(indeterminação) com liberdade de escolha: subverter ou se adaptar à norma” (p.
90).
“[…]
a nova provocação de sexualidade aos ‘pós-humanos’ é a superação dos
significados políticos das categorias de sexo/gênero tradicionais, dos
processos identitários anteriores […]” (p. 91).
“[…]
superfície (re-apresentação física) e
interioridade (psique) são duas faces da mesma moeda […]” (p. 91).
“E
se o corpo é uma significação limitante, ele ele também pode ser ressignificado
pela transgressão das formas que o ‘normalizam’ e o constrangem” (p. 92).
“Uma
cultura tradicional costuma ser fechada a questões de gênero aquém do masculino
e do feminino […]” (p. 93).
“[…]
toda cultura gira em torno dos sistemas de representação simbólica, do poder
das palavras e das imagens […]” (p. 93).
“[…]
entre o normal e o anormal, a diferença está sempre nos valores culturais
atribuídos à alienação social, política e pessoal” (p. 98).
………………………………………………………………………………………….
BARROS,
M. A. X. Feminino no funk midiático (p. 101-116) In FERREIRA, D. M. (Org.). Estudos
críticos da linguagem. 1ª ed. Curitiba
- Paraná. Appris editora. 2017. (214 p.).
“[…]
gênero não pode ser visto como dicotômico ao sexo, pois ambos são categorias
discursivas e não naturais” (p. 101).
“[…]
a nomeação, a catgegorização e a designação são prerrogativas do
discurso-linguagem. […] como o discurso está inserido na história, o sentido de
gênero abarca questões socioculturais” (p. 102).
“[…]
a controvérsia conceitual entre gênero e sexo situa-se politicamente, sobre os
papéis sociais do homem e da mulher assumidos no percurso de sua história e na
dialiética do poder” (p. 102).
“A
categoria de gênero constitui-se dos usos que fazemos da linguagem” (p. 103).
Ritualização
e práxis dos atos de corpo (p. 105).
“A
produção de um ato de fala depende, portanto, de sua relação com o ato
corporal, amos constituindo um ato performativo
(p. 106).
“[…]
o gênero é constituído socialmente por papeis desempenhados por atores sociais
e pela repetição ritualizada de seus atos, cujas ações e repetições estilizadas
são o próprio gênero em construção, processo que não se esgota em um
fazer-dizer, mas que se complementa nas formas do fazer do corpo” (p. 107).
Barros
(2017, p. 107) resume duas concepções derridianas: “(I) a iterabilidade, pela
qual o signo é sempre um outro na mesmidade; e (II) a citacionalidade, um signo
é recontextualizado, deslocado, mas produz sentido” (p. 107).
“[…]
o poder da agência se dá na ressignificação da performatividade, contribuindo
para a contestação dos papéis tradicionais de gênero. […]. As possibilidades de
agência levam a reconfigurações do próprio fazer do gênero, permitindo novas
possibilidades de papéis sociais na inscrição do gênero” (p. 108).
“Chamamos
de ‘funk midiático’ o funk de mídia, aquele que tem apelo midiático e circula
nas redes. Não se trata de uma categoria específica do funk, mas de sua
capacidade de difusão no espaço virtual e imediato em rede” (p. 108).
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ASSUNÇÃO,
Fábio N. Habitus linguístico na rede
social: diálogo multimodal – série Stranger
things (p. 117-132). In FERREIRA,
D. M. (Org.). Estudos críticos da
linguagem. 1ª ed. Curitiba - Paraná.
Appris editora. 2017. (214 p.).
Gramática do
Design Visual
(GDV), de Kress e van Lewen e ShowMe
de Jon Callow (p. 117).
“[…]
relação estabelecida entre icônico e verbal” (p. 118).
“[…]
os homens não são submissos em relação às estruturas sociais, mas condicionados
por ela […]” (p. 119).
“Se
há estrutura em movimento (estruturante), pode,se compreender a linguagem como
ação, interação e fenômeno social, demonstrando as relações entre língua, ação
verbal e comunidade discursiva da qual os indivíduos usuários fazem parte. Isso
pressupõe uma perspectiva processual, na qual a linguagem é construída em
práticas do dia a dia” (p. 120).
“[…]
as práticas de linguagem estruturam relações e são por elas estruturadas, ou
seja, ao mesmo tempo em que inscrevem, também incorporam histórias sociais que
permitem que os usos da linguagem sejam constantemente atualizados nas
interações dos indivíduos e acionados quando a ocasião determina” (p. 120).
“[…]
Callow remete a um modelo de letramento australiano desenvolvido na década de
1980, que apresenta uma visão holística e integrada, composta por três
dimensões interligadas, denominadas operacional,
cultural e crítica” (p. 121).
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SOUSA,
Jamille M. Signo ideológico no discurso publicitário (p. 133-144). In FERREIRA, D. M. (Org.). Estudos críticos da linguagem. 1ª ed. Curitiba - Paraná. Appris editora.
2017. (214 p.).
Sousa
(2017) explica que Platão analisou o signo por seus três constituintes (nomes,
ideias e coisas) e que o signo natural e convencional é uma representação
imperfeita das coisas. São Tomás trata o signo pelo viés da Lógica e o
compreende como instrumento comunicativo e cognitivo. Guiraud enfoca o caráter
de estímulo do signo. Saussure focaliza a dicotomia significante e significado
do signo.
“[…]
não é possível considerar o discurso como algo fechado e concluso” (p. 136).
“Longe
de ser uma abordagem fechada e um campo delimitado de análise do discurso, a
ADD surgiu sem a historicidade que fora conferida a outras abordagens de
análise do discurso, como a Análise o Discurso de orientação francesa (AD) e a
Análise do Discurso Crítica (ADC) […]” (p. 135).
“[…]
natureza social da língua” (p. 135).
“Da
articulação entre linguagem e sociedade/história, vem à tona, então, a noção de
dialogismo, que é entendido como princípio constitutivo da linguagem e fruto da
relação entre locutor e interlocutor” (p. 135).
O
Círculo bakhtiniano questionou “a tradição de análise da ideologia como subjetiva
e interiorizada – uma ideia de lugar fixo na cabeça do homem – [e] a de análise
idealista e psicologizada – uma ideia pronta, já dada, desenvolvida na
consciência individual do homem” (p. 136).
Para
o trabalho do Círculo de Bakhtin, é preciso “concebermos a filosofia da
linguagem como uma filosofia do signo ideológico”, conforme Sousa (2017, p.
138).
“[…]
tudo que significa é ideológico, é um signo; e sem os signos não existe a
ideologia. O signo nada mais é que um fenômeno ou objeto existente na realidade
com uma função ideológica. Assim, para que um signo exista, é necessário que
exista também um fenômeno ou um objeto físico, que receba uma função social e
passe a significar além de sua própria particularidade material” (p. 138).
Os
signos “são constituídos no processo de interação verbal e não podem ser vistos
apenas como uma parte da realidade, uma vez que possuem uma realização
histórica, concreta, social; eles refletem e refratam outra realidade bem como
estão sujeitos a critérios de avaliação ideológica. Os signos são criados nas
relações interindividuais sendo carregados de valores conferidos por diferentes
interlocutores” [...] (p. 138).
“[…]
a interação semiótica faz-se relevante, quando proveniente das interações entre
os suijeitos sociais tanto para a construção dos signos quanto para os efeitos
de sentido nesses signos, que são (re)carregados a partir da interação verbal”
(p. 139).
A
partir de Sousa (2017), depreende-se que o signo se relaciona com o contexto e
com a interação que os sujeitos praticam.
“Um
objeto por si só não passa de um objeto neutro. Mas, num determinado grupo
social, incorporado de significado, passa a ser um elemento ideológico, que
reflete e refrata uma realidade social” (p. 142).
“O
meio social envolve por completo o indivíduo, seja esse indivíduo locutor seja
interlocutor de um enunciado. Compreendemos a ideologia como um sistema sempre
atual de representação da sociedade e do mundo construído a partir das
referências constituídas nas interações e nas trocas simbólicas desenvolvidas
pelos grupos sociais organizados. Assim, à medida que os signos vão tomando
novos sentidos e sendo atualizados, nós, sujeitos interagentes, vamos nos
movimentando junto com eles, conferindo ‘nossos’ sentidos, por meio dos
sentidos do outro, mediante enunciados que nos cercam e que construímos. Nós os
ressignificamos” (p. 143).
………………………………………………………………………………………….
BARBOSA,
Soraia A. Embate de vozes em entrevista política do Jornal Nacional:
(des-)ligitimação do discurso de outrem (p. 147-160). In FERREIRA, D. M. (Org.). Estudos
críticos da linguagem. 1ª ed. Curitiba
- Paraná. Appris editora. 2017. (214 p.).
“[…]
o estruturalismo saussureano concebe os interlocutores como indivíduos não
marcados social, ideológica ou historicamente, em contrapartida à noção de
interlocutores para a ADD [Análise Dialógica do Discurso], os quais produzem
enunciados concretos, em uma interação viva, concreta, mantendo entre si uma
relação dialógica, povoada de outras vozes que se harmonizam ao próprio discurso
dos enunciadores em um dado contexto interacional […]” (p. 149).
“É
a alternância dos falantes o fator determinante da dimensão do enunciado. Neste
há a presença de ecos e lembranças provenientes de outros enunciados, havendo,
pois uma relação de refutação, confirmação. Completude, enfim, há um diálogo
entre esses enunciados. Enquanto as unidades da língua não apresentam um acabamento
que propicie uma resposta, o enunciado já permite um acabamento daquela devido
à sua natureza replicante. Enquanto as unidades da língua se caracterizam pela
neutralidade, os enunciados são carregados de juízos de valor, de emoções,
entre outros fatores, e são definidos sempre por sua natureza dialógica. Todo
enunciado é sempre heterogêneo, ou seja, em seu interior há a relação de duas
posições, as quais se constroem mutuamente” (p. 152).
A
partir da interpretação bakhtiniana de Barbosa (2017), depreende-se que as polêmicas
são a materialização da bivocalidade como o ataque do eu em em função do outro,
situação que alimenta o dialogismo constitutivo da linguagem.
………………………………………………………………………………………….
PEREIRA,
Dulce V. Estilização da identidade feminina em ‘relatos de vida’ (p. 161-174). In FERREIRA, D. M. (Org.). Estudos críticos da linguagem. 1ª ed. Curitiba - Paraná. Appris editora.
2017. (214 p.).
“[…]
todo um sistema de significação, ou melhor, uma ‘gramática cultural’ de gêneros
foi constituída e esteve alinhada a uma lógica masculina, patriarcal,
heterossexista” (p. 161).
“[…]
identidade e diferença são ambas criaturas da linguagem, ou seja, consistem no
resultado de atos de criação linguística. […] a linguagem é indeterminada e
instável, pois o ‘signo’ linguístico depende de um processo de diferenciação e,
assim sendo, […] ‘a presença da coisa’ ou do ‘conceito’ no signo é algo que
nunca é concretizado de modo absoluto, dado o constante adiamento de tal
presença ou conceito”, segundo a teoria derridiana analisada por Pereira (2017,
p. 163).
“[…]
o termo ‘etnografia’ deixou de ser ancorado num contexto colonialista, de uma
concepção ‘exótica’ em favor de uma concepção que estenda a etnografia a todos
os lugares, a todas as circunstâncias” (p. 168).
“[…]
sentidos linguístico-discursivos históricos […]” (p. 173).
………………………………………………………………………………………….
GONÇALVES,
João B. C.; AMARAL Marcos R. dos S. Estética e perspectiva étnico-cognitiva
poema ‘DNA’ de Arnaldo Antunes (p. 175-196). In FERREIRA, D. M. (Org.). Estudos
críticos da linguagem. 1ª ed. Curitiba
- Paraná. Appris editora. 2017. (214 p.).
“[…]
uma obra poética-artística deve ser contemplada não como um artefato
linguístico, apenas de acordo com sua organização composicional e
conteudística, mas deve-se superar esse nível, para integrá-lo à unidade da
cultura, como uma totalidade impregnada tanto de valores do mundo da vida
quanto de mundo da cultura e da arte” (p. 175).
“[…]
o momento […] o emotivo-volitivo e o posicionamento axiológico
constitutivo da vida prática” (p. 176).
“[…]
a criação literária não é um fato psicológico nem objetivo que possa ser
racionalizado simplificadamente; absolutamente, ela mantém uma relação
axiológica, em processo e ininterrupta, com a unidade da cultura” (p. 178).”
“[…]
a unidade da cultura dos diversos fenômenos culturais em interação é, sempre, o
homem e seus sistemas de valores […]” (p. 178).
“[…]
o caráter ético da epistemologia bakhtiniana evidencia-se, sobremaneira, na
medida em que recusa a partilhar do método objetivo-abstrato, posicionando-se,
assim, em favor do estudo da ação concreta do sujeito situado historicamente,
em razão de buscar entender a atividade humana como integral, valendo-se de
momentos peculiares e gerais. Nesse
sentido, a epistemologia bakhtiniana humaniza na ciência novamente o homem, o
que tem consequências políticas transformadoras das relações sociais no sentido
de se estabelecer lógicas fundantes de práticas abertas à contradição e à
pluralidade – a inconclusiblidade constitutiva das relações humanas, por conta da constante consideração
da situacionalidade histórica” (p. 179).
“Efetivamente,
a criação humana emerge das relações limítrofes entre esferas ideológicas
heterogêneas e orienta-se para a unidade da cultura em práticas sociais
concretas […]” (p. 181).
A
partir de Gonçalves e Amaral (2017), é possível distinguir o ato cognitivo
(conhecimento), o estético (arte) eo ético (moral), bem como fato
(objetivo-psicológico) e sentido (social e cultural).
Em
nota de rodapé, Gonçalves e Amaral (2017, p. 183) explicam “que o ato estético
funda-se na não coincidência de
consciências na interação, o ético, pela coincidência e o cognitivo, pela
inexistência de consciências alheias. […] quando um objeto passa a remeter para
algo fora de si, situado e axiologizado numa prática social, é que emerge o
signo. […] o problema da reificação no discurso decorre da exclusão/apagamento
da presença concreta do sujeito, em seu posicionamento ontológico. Assim, a
questão dos limites entre os atos estéticos, éticos e cognitivos está
impregnada da questão ideológica, como forma de humanização do homem. Logo,
negar o diálogo constitutivo entre estes é negar o caráter transformador de
cada um deles, tornando cada ato como estático, não inconcluso, a-histórico,
não humano” (p. 183).
“O
resultado da atividade autoral é o acabamento estético (dialógico) como
estabelecimento dos limites artísticos, […] nenhum espaço é isolado ou isolável
– é sempre fronteira. Sabe-se que o problema da forma orienta-se segundo a
relação entre conteúdo e material” (p. 185).
“Portanto,
a forma artística é uma vivência autoral tanto da composição quanto da
arquitetônica da obra […]” (p. 186).
O
“ato responsável [é] o compromisso inalienável do ser perante o mundo […]” (p.
191).
“[…]
estrutura genérica que se forma a partir da união de composições específicas de
outros gêneros discursivos, no caso, a união verbo-visual de elementos […]” (p.
191).
“[…]
aquilo que no homem é mais humano, que é sua vivência emotivo-volitiva,
entendendo que o ato cognitivo é um momento dessa vivência” (p. 194).
“[…]
um momento da experiência prática responsável eticamente pelo mundo” (p. 195).
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PINHEIRO,
Maria V. B L.; PINHEIRO, Gustavo C. Para a escrita científica: crítica a
orientações hegemônicas. In FERREIRA,
Dina. M. (Org.). Estudos críticos da
linguagem. 1ª ed. Curitiba - Paraná.
Appris editora. 2017. (214 p.).
“[…]
os grupos que interagem verbalmente podem ser reconhecidos como uma comunidade
específica com seus estilos, que se identificam por uma retórica também
específica […]” (p. 198).
“[…]
cada área disciplinar se compõe de um grupo que interage por meio de
convenções, objetos e metodologias específicas, constituindo, assim, uma
cultura disciplinar particular que se manifesta e é também construída pelos
próprios discursos que ali circulam” (p. 199).
“[…]
culturas disciplinares diferem entre si no que diz respeito a questões como
objetivos a serem alcançados, nomenclaturas utilizadas, convenções de escrita,
formas tipificadas de argumentar, entre outros aspectos” (p. 201).
“A
compreensão de que usos que fazemos da linguagem (textos orais, escritos e
multissemióticos) são forma de agir no mundo social tem sido amplamente
debatida nos estudos linguísticos teóricos e aplicados dos últimos anos. O
alinhamento da pragmática à retórica está no fato de que o texto é entendido
não só como um reflexo de ‘atos sociais’ desenvolvidos em ‘situações retóricas
recorrentes’ […] mas também por ser tratado em seus contextos de uso […]” (p.
200).
“[…]
os conceitos de atos de fala e de fatos sociais são centrais para o estudo de
gêneros textual-discursivo, porquanto enfatizam o caráter linguístico-retórico
dos processos de construção da(s)
realidade(s), ou fatos sociais que são efeitos criados por textos
concretos” segundo Pinheiro e Pinheiro (2017, p. 201) a partir de reflexões
bazermanianas” (p. 201).
“Enquanto
a lógica está preocupada com a verdade, independentemente de quaisquer
considerações sobre valores morais, a retórica, com o que é discutível em uma
sociedade, envolvendo crenças e juízos de valor” (p. 202).
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