"Nenhum termo corresponde exatamente a uma das noções fixadas; eis porque toda definição a propósito de um termo é vã; é um mau método partir dos termos para definir as coisas" (p. 46).
"[...] o fonema é a soma das impressões acústicas e dos movimentos articulatórios da unidade ouvida e daunidade falada, das quais uma condiciona a outra [...]" (p. 77)
"Para certas, a língua, reduzida a seu princípio essencial, é uma nomenclatura, vale dizer, uma lista de termos que correspondem a outras tantas coisas" (p. 105)
"O signo linguístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica. Esta não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão (empreinte) psíquica desse som, a representação que dele nos dá o testemunho de nossos sentidos; tal imagem é sensorial e, se chegarmos a a chamá-la "material", é somente nesse sentido, e por oposição ao outro termo da associação, o conceito, geralmente mais abstrato" (p. 106).
"O laço que une o significante ao significado é arbitrário [...]: *o signo linguístico é arbitrário*" (p. 108).
"[...] o significante é *imotivado*, isto é, arbitrário em relação ao significado, com o qual não tem nenhum laço natural na realidade." (p. 109).
"O significante sendo de natureza auditiva, desenvolve-se no tempo, unicamente, e tem as características que toma do tempo: a) *representa uma extensão*, e b) *essa extensão é mensurável numa só dimensão*: é uma linha." (p. 110).
"A sílaba e seu acento constituem apenas um ato fonatório; não existe dualidade no interior desse ato, mas somente oposições diferentes com o que se acha a seu lado" (p. 110).
"[...] a língua aparece sempre como uma herança da época precedente. O ato pelo qual, em dado momento, os nomes teriam sido distribuídos às coisas, pelo qual um contrato teria sido estabelecido entre os conceitos e as imagens acústicas - esse ato podemos imaginá-lo, mas ele jamais foi comprovado" (p. 112).
"Uma língua constitui um sistema" (p. 113).
"A língua forma um todo com a vida da massa social [...]" (p. 114).
"[...] vínculo entre esses dois fatores antinômicos: a convenção arbitrária, em virtude da qual a escolha se faz livre, e o tempo, graças ao qual a escolha se acha fixada" (p. 114).
"A língua é para nós a linguagem menos a fala" (p. 117).
"[...] fora do tempo, a realidade linguística não é completa e nenhuma conclusão se faz possível" (p. 118).
"A língua já não é agora livre, porque o tempo permitirá às forças que atuam sobre ela desenvolver seus efeitos, e chega-se assim ao princípio da continuidade, que anula a liberdade" (p. 119).
"É sincrônico tudo quanto se relacione com o aspecto estático da nossa ciência, diacrônico tudo que diz respeito às evoluções. Do mesmo modo, *sincronia* e *diacronia* designarão respectivamente um estado de língua e uma fase de evolução" (p. 123).
"A Gramática tradicional ignora partes inteiras da língua, como a formação das palavras; é normativa e crê dever promulgar regras em vez de comprovar os fatos; falta-lhe a visão do conjunto; amiúde, ela chega a não distinguir a palavra de escrita da palavra falada. (p. 124).
"A língua é um mecanismo que continua a funcionar, não obstante as deteriorações que lhe são causadas" (p. 128).
"A língua é um sistema no qual todas as partes podem e devem ser consideradas em sua solidariedade sincrônica" (p. 128).
"[...] na língua, cada termo tem seu valor pela oposição aos outros termos" (p. 130).
"[...] os valores dependem também, e sobretudo, de uma convenção imutável: a regra do jogo, que existe antes do início da partida e persiste após cada lance" (p. 130).
"Sendo a língua uma instituição social, pode-se pensar *a priori* que ela esteja regulada por prescrições análogas às que regem as coletividades. Ora, toda lei social apresenta duas características fundamentais: é *imperativa* e é *geral* [...]" (p. 133).
"[...] se se fala de lei em sincronia, é no sentido de ordem, de princípio de regularidade" (p. 135).
"[...] cada alteração fonética, seja qual for ademais a sua extensão, está limitada a um tempo e a um território determinados" (p. 138).
"É na fala que se acha o germe de todas as modificações [...]" (p. 141).
"O objeto da Linguística sincrônica geral é estabelecer os princípios fundamentais de todo sistema idiossincrônico, os fatores constitutivos de todo estado de língua" (p. 145).
"Os signos de que a língua se compõe não são abstrações, mas objetos reais [...]" (p. 147).
"Quando uma ciência não apresenta unidades concretas imediatamente reconhecíveis, é porque elas não são essenciais" (p.151).
"O mecanismo linguístico gira todo ele sobre identidades e diferenças, não sendo estas mais quya contraparte daquelas" (p.154).
"O vínculo entre os dois empregos da mesma palavra não se baseia na identidade material nem na exata semelhança de sentido, mas em elementos que cumprirá investigar e que nos farão chegar bem perto da verdadeira natureza das entidades linguísticas" (p. 155).
"A distinção das palavras em substantivos, verbos, adjetivos etc. não é uma realidade linguística inegável" (p. 155).
"[...] nos sistemas semiológicos, como a língua, nos quais os elementos se mantém reciprocamente em equilíbrio de acordo com regras determinadas, a noção de identidade se confunde com a se valor, e vice-versa" (p. 156).
*[...] a noção de valor recobre as de unidade, de entidade concreta e de realidade" (p. 156).
"A Linguística trabalha, pois, no terreno limítrofe em que os elementos de duas ordens se combinam; *essa combinação produz uma forma, não uma substância*" (p. 160).
"Assim, o valor de qualquer termo que seja está determinado por aquilo que o rodeia" (p. 163).
"Os fonemas são, antes de tudo, entidades opositivas, relativas e negativas" (p. 166).
"[...] *na língua só existem diferenças*" (p. 167).
"[...] *a língua é uma forma e não uma substância*" (p. 170).
"[...] os termos estabelecem entre si, em virtude de seu encadeamento, relações baseadas no caráter linear da língua, que exclui a possibilidade de pronunciar dois elementos ao mesmo tempo" (p. 171).
"A relação sintagmática existe *in praesentia*; repousa em dois ou mais termos igualmente presentes numa série efetiva" (p. 172).
"A frase é o tipo por excelência de sintagma" (p. 173).
"O todo vale pelas suas partes, as partes valem também em virtude de seu lugar no todo, e eis por que a relação sintagmática da parte com o todo é tão importante quanto a das partes entre si" (p. 177).
"Na língua, tudo se reduz a diferenças, mas tudo se reduz também a agrupamentos" (p. 177).
"Não existe língua em que nada seja motivado; quanto a conceber uma em que tudo o fosse, isso seria impossível por definição. Entre os dois limites extremos - mínimo de organização e mínimo de arbitrariedade -, encontram-se todas as variedades possíveis. Os diversos idiomas encerram sempre elementos das duas ordens - radicalmente arbitrários e relativamente motivados -, mas em proporções as mais variáveis [...]" (p. 182).
"No interior de uma mesma língua, todo o movimento da evolução pode ser assinalado por uma passagem contínua do motivado ao arbitrário e do arbitrário ao motivado [...]" (p. 182).
"A Linguística estática ou descrição de um estado de língua pode ser chamada de *Gramática* [...]" (p. 183).
"A gramática estuda a língua como um sistema de meios de expressão; quem diz gramatical diz sincrônico e significativo [...], não existe, para nós, "Gramática histórica"; aquilo a que se dá tal nome não é, na realidade, mais que a Linguística diacrônica" (p. 183).
"[...] formas e funções são solidárias, e é difícil, para não dizer impossível, separá-las. Linguisticamente, a morfologia não tem objeto real e autônomo, não pode constituir uma disciplina distinta da sintaxe" (p. 184).
"Nem todos os fatos da sintagmática se classificam na sintaxe, mas todos os fatos de sintaxe pertencem à sintagmática (p. 185).
"Nenhuma análise gramatical é possível sem uma série de elementos materiais que lhe sirvam de substrato, e é sempre a esses elementos que cumpre voltar, no fim de contas" (p. 188).
"Uma unidade material existe somente pelo sentido, pela função de que se reveste [...]" (p.189).
"A Linguística diacrônica estuda não mais as relações entre os termos coexistentes de um estado de língua, mas entre termos sucessivos que se substituem uns aos outros no tempo" (p. 193).
"[...] o rio da língua corre sem interrupção; que seu curso seja tranquilo ou caudaloso é consideração secundária" (p. 193).
"[...] a mudança fonética não afeta as palavras, e sim os sons. [...] as mudanças fonéticas são absolutamente regulares" (p. 197).
"As línguas atravessam algumas épocas mais movimentadas que outras [...]" (p. 204).
"Uma palavra que eu improvise [...] já existe em potência na língua [...]" (p. 223).
"[...] concepções acerca do arbitrário absoluto e do arbitrário relativo" (p. 223).
"Existem, pois, em toda língua, palavras produtivas e palavras estéreis, mas a proporção de umas e outras varia" (p. 223).
"O latim antigo tinha, portanto, em alto grau, o sentimento das peças da palavra (radicais, sufixos etc) e de sua combinação" (p. 225).
"Nada entra na língua sem ter sido antes experimentado na fala, e todos os fenômenos evolutivos tem sua raiz na esfera do indivíduo" (p. 226).
"A língua retém somente uma parte mínima das criações da fala" (p. 227).
"A língua não cessa de interpretar e de recompor as unidades que lhe são dadas" (p. 227).
"A analogia é, pois, a prova peremptória de que um elemento formativo existe num momento dado como unidade significativa" (p. 228).
"A língua é um traje coberto de remendos feitos de seu próprio tecido" (p. 230).
"[...] a analogia, precisamente porque utiliza sempre a matéria antiga para as suas inovações, é eminentemente conservadora" (p. 230).
"[...] uma palavra é simultaneamente compreendida como unidade e como sintagma e perdura enquanto seus elementos não mudam. Inversamente, sua existência só é comprometida na medida em que tais elementos caiam em desuso" (p. 231).
"A aglutinação consiste em que dois ou mais termos originariamente distintos, mas que se encontram frequentemente em sintagma no seio da frase, se soldem numa unidade absoluta dificilmente analisável. [...] a ausência de vontade é justamente um caráter essencial da aglutinação" (p. 235).
"A análise das unidades da língua, feita a todos os instantes pelas pessoas que falam, pode ser chamada de análise *subjetiva* [...]" (p. 243).
"[...] a diversidade geográfica foi a primeira comprovação feita em Linguística [...]" (p. 254).
"Os idiomas que divergem entre si somente em pequeno grau são chamados *dialetos* [...]" (p. 255).
"[...] a unidade linguística pode ser destruída quando um idioma natural sofre a influência de uma língua literária. Isso se produz infalivelmente todas as vezes que um povo alcança certo grau de civilização" (p. 258).
"Por aí só, o espaço não pode exercer nenhuma ação sobre a língua. [...]. A diversidade geográfica deve traduzir-se em diversidade temporal" (p. 261).
"Assim como não se pode julgar um volume por uma superfície, mas somente com a ajuda de uma terceira dimensão, a profundidade, também o esquema da diferenciação geográfica não fica completo senão quando projetado no tempo" (p. 262).
"A diversidade geográfica é, pois, um aspecto secundário do fenômeno geral. A unidade de idiomas aparentados só pode ser achada no tempo" (p. 262).
"[...] existem tantos dialetos quanto localidades" (p. 265).
"Uma das vantagens dos altas linguísticos é a de fornecer materiais para os trabalhos de dialectologia [...]" (p. 266).
""É difícil dizer em que consiste a diferença entre uma língua e um dialeto" (p. 268).
"Assim como os dialetos não passam de subdivisões arbitrárias da superfície total da língua, também o limite que se acredita separar duas línguas só pode ser convencional" (p. 268).
"A propagação dos fatos de língua está sujeita às mesmas leis que regem qualquer outro costume, a moda, por exemplo" (p. 271).
"Só quando nos damos conta de que, numa massa unilingue, a coesão varia de acordo com os fenômenos, de que as informações não se generalizam todas, de que a continuidade geográfica não impede diferenciações perpétuas, é que podemos abordar o caso de uma língua que se desenvolve paralelamente em dois territórios separados" (p. 274).
"[...] toda língua é a continuação da que falavam antes dela" (p. 285-286).
"Não acontece às Linguagem o mesmo que à humanidade: a continuidade absoluta de seu desenvolvimento impede distinguir nela gerações [...] a concepção de línguas filhas e línguas mães, porque tal concepção supõe interrupções" (p. 286).
"A comparação linguística não é, portanto, uma operação mecânica; ela implica a confrontação de todos os dados capazes de propiciar uma explicação. [...]; a comparação resultará sempre numa reconstrução de formas" (p. 290).
"[...] nos casos muito numerosos em que os testemunhos da antropologia e da língua não concordam, não é necessário opô-las ou escolher entre ambas; cada uma delas conserva seu valor próprio" (p. 295).
"Embora a língua não forneça muitas informações precisas e autênticas acerca dos costumes e instituições do povo que a usa [...]" (p. 300).
"[...] nada se poderá deduzir com certeza fora do domínio propriamente linguístico" (p. 301).
"[...] a língua não está sujeita diretamente ao espírito dos que a falam [...] nenhuma família de línguas pertence, por direito e para sempre, a um tipo linguístico" (p. 301).
"De modo geral, tudo quanto o tempo fez o tempo pode desfazer ou transformar" (p. 305).
"[...] a *Linguística tem por único e verdadeiro objeto a língua considerada em si mesma e por si mesma*" (p. 305).
SAUSSURE, Ferdinand. Curso de linguística geral. Org. Charles Bally e Albert Sechehaye. Colab. Albert Riedlinger. Prefácio à edição brasileira de Isaac Nicolau Salum. Trad. Antônio Chelini, José Paulo Paes, Izidoro Blikstein. 28° edição. São Paulo. Cultrix, 2012. ISBN: 978.85.316.0102-6
Caro mestre,
ResponderExcluirEm minha preocupação de ensinar o aluno a aprender, com grande satisfação me deparei com seu ótimo Blog. Parabéns pelo artigo, que muito me ajudará em minhas aulas de Tópicos de Gramática Normativa e Tópicos de Morfossintaxe.
Grato.
Aproveitei e divulguei o Blog a meus alunos.
Prof. Adelson Sobrinho - Prof. EBTT - Classe D- nível 1 - UFC.