“[...] lei nº 5.692, de 5 de
agosto de 1971 – talvez, a mais radical e minuciosa reforma de educação que já
se tenha feito no mundo – a
profissionalização integral de todo o sistema de ensino (da alfabetização
funcional aos cursos de pós-graduação) [...]” (p. 15).
“Ora, qualquer professor de
didáticas sabe que a apresentação unilateral, dogmática e expositiva das
situações não gera o engajamento, sobretudo quando a exposição tem ares
catequéticos” (p. 16).
Os colonizadores para aqui vinham
com o fito de enriquecer depressa e voltar à MÃE PÁTRIA. Daí a diferença fundamental entre o BRASIL e os ESTADOS
UNIDOS (bandeirantes e pioneiros). [...]. Deste modo, podemos considerar que os
PRIMEIROS TREZENTOS ANOS de nossa história, realmente não existiram, em termos
civilizatórios ...” (p. 17).
O Brasil “nasceu em 1808, com a
TRANSMIGRAÇÃO DA FAMÍLIA REAL. [...]Aliás, se fôssemos mais radicais,
transporíamos a data da independência para a REVOLUÇÃO DE 1930, considerando o IMPÉRIO todo e a REPÚBLICA
VELHA como aspectos modernizados da
colônia... Até 1930, o Brasil era, apenas, um vasto arquipélago de fazendas de
gado e de café, onde desmandava o ‘coronel’ com seus ‘cabras’, um pequeno
exército privado” (p. 17).
“O papel de POMBAL foi reforçar
os controles monopolistas” (p. 21).
“Se considerarmos os cerca de 70
(setenta) anos de Império como uma
espécie de colonização sofisticada, podemos dizer que nossa história não tem
ainda um século (1889-1975), donde se conclui que este gigante de oito milhões
de quilômetros quadrados e cem milhões de habitantes é um milagre do século vinte: não temos história!
[...]. É lógico que na corrida desenfreada para o mundo moderno – ficaram os
‘bolsões’ de primitivismo e de colonização... Por isto somos um arquipélago
cultural” (p. 21).
“Só a educação – permanente, universal e gratuita –
poderá homogeneizar a nação, retirando, retirando dos dicionários expressões
coloniais como ‘zé-povinho, ‘cabra’, mulato, mameluco’ e outras denominações
que designam o OUTRO BRASIL...” (.
22).
“Durante 259 anos, de 1500 a 1759, os jesuítas montaram, quase
clandestinamente, uma ‘rede escolar’ (‘rede’ a falta de outro termo), de
caráter estritamente profissional
(preparação de clérigos e de amanuenses para a colônia das Companhias de
Comércio e Navegação), ‘rede’, contudo, que provavelmente nunca deve ter
alcançado a 3.000 (três mil) alunos – a única oportunidade escolar da Colônia
em quase três séculos (um território de extração de matérias-primas precisa,
evidentemente, apenas, de clérigos e feitores)” (p. 23).
“Não se sabe se Pombal era um
renascentista liberal inimigo da Inquisição e da clerezia ou um agente secreto
das Companhias de Comércio e Navegação que ele mesmo fundou, temerosas da
‘politização’ dos mestiços da feitoria” (p. 24).
“Pombal foi, antes de tudo, um
instrumento do CAPITALISMO [...]”
(p. 25).
“[...] a educação do povo é o
sustentáculo da liberdade e da autonomia. Propositamente Portugal maninha os
mestiços ignorantes e analfabetos para evitar problemas de rebeldia, como os da
INCONFIDÊNCIA MINEIRA. Os PRIMEIROS 300 ANOS de nossa vida
colonial foram divididos, pois, entre duas ‘companhias’: a) a COMPANHIA DE JESUS, que monopolizava
a educação impedindo a implantação de um sistema de ensino popular como ocorreu
nos EUA, desde os primeiros momentos após a ‘descoberta’; b) a COMPANHIA GERAL DO COMÉRCIO DO BRASIL
(e suas sucessoras) que impediram qualquer surto de independência econômica. Os povos europeus, ao que parece,
não têm consciência da contribuição que o Brasil deu através de seus índios,
escravos e mestiços para:
A – o desenvolvimento da
capitalismo internacional;
B – a primeira revolução
industrial;
C – o desenvolvimento das nações
ocidentais...” (p. 25).
“Quando solicitamos auxílios para
para promovermos o nosso desenvolvimento, estamos, apenas, cobrando juros da
imensa riqueza [...] que mandamos a preço vil para a Europa e, em particular,
para a Inglaterra, enquanto permanecíamos uma feitoria da nobreza portuguesa.
Fomos nós, também, que mantivemos próspera a Companhia de Jesus, que pontilhou
a Europa de colégios onde estudou a elite intelectual do mundo até nossos
dias...” (p. 25).
“[...] a educação nacional foi
obra da Companhia de Jesus, a
princípio dedicada ao aldeiamento dos índios, depois bifurcando sua atividade
em aldeiamento de índios e ‘colégios’ para colonos, formadores de clérigos e
amanuenses” (p. 27).
“É uma constante na história
brasileira o fato de o Poder Público sempre descartar-se de suas obrigações
para com a comunidade (menores abandonados, doentes, indigentes) [...]” (p.
28).
“Este vaivém de ‘cria e extingue’
é outro aspecto de nossa luta de POVO
versus Metrópole [...]” (p. 28).
“É nossa herança de feudo privado
recorrer sempre a organizações não estatais. Nunca nos ensinaram a nos governar
como ESTADO. Para nós, o ESTADO é sinônimo de opressão como nos
cansamos de constatar nos trezentos de colonização, tanto assim que a LIBERDADE, por exemplo, de ensino, é
sempre concebida como não-estatal... mesmo que se admita que o ESTADO é democrático! O povo ainda não
se convenceu de que o ESTADO é mera
expressão da nação em sua soberania e não a presença odiada da metrópole
representada pelo capataz. Sempre que falamos em LIBERDADE, fazêmo-la contrapondo-a ao ESTADO, como se o ESTADO
não fosse, precisamente, instrumento de ação política dos cidadãos. Quando
discutimos a ‘liberdade de ensino’, sempre imaginamos que são as entidades
privadas que garantem esta liberdade, jamais o ESTADO. Como se percebe, o ESTADO
É VISTO COMO OPRESSOR, como se sua presença denunciasse ainda o domínio da
metrópole. Daí a ojeriza que o brasileiro tem à ‘política’: ser político é como
ser capataz do ESTADO e aliado da
metrópole, inimigo do povo. Esta ojeriza deve vir dos 300 ANOS DE COLONIZAÇÃO em que o Estado metropolitano não fez mais
que oprimir” (p. 29).
“Assim, se o governo nunca deu
escola ao povo (educação universal,
gratuita e permanente), muito menos podiam fazê-lo as ordens religiosas
ligadas às classes dominantes” (p. 31).
“Trezentos anos atrás, numa larga
faixa territorial banhada pelo rio Uruguai, que futuros tratados diplomáticos
repartiriam entre Brasil, Paraguai, Argentina e Uruguai, as coxilhas do Sul
viram se desenvolver o que poderia ter sido a primeira república genuinamente comunista da história. Era uma
sociedade praticamente independente do poder colonial e teocrática, orientada
pelos missionários jesuítas, onde não existia o direito de propriedade, os bens
eram comuns e o dinheiro não intervinha nas transações internas. Seus
habitantes, índios catequizados da família Guarani, viviam em missões que
dispunham de ruas amplas, praças arborizadas, sólidas casas de arenito e
magníficas igrejas de estilo barroco” (p. 31).
“A assinatura do tratado de
Madri, de 1750, entretanto, interromperia a experiência dos jesuítas. A Espanha
cedia a Portugal as terras à esquerda do rio Uruguai, onde se localizavam São
Miguel e outras seis florescentes missões. E para firmar sua soberania sobre a
região, os portugueses imediatamente trataram de expulsar a população das
missões. Liderados pelo cacique Sepé Tiaraju, os índios tentaram reagir, mas
foram aniquilados pelas forças de Portugal – e, desde então, abandonadas e em
ruínas, as missões brasileiras passaram a viver um sono de dois séculos” (p.
32). RELATO CITADO EM “O TEMPO E O VENTO” DE ÉRICO VERÍSSSIMO.
“Se examinarmos as peripécias do
‘sistema’ de educação nacional, facilmente verificamos que o que sempre se
chamou ‘sistema’ de educação no Brasil foi um cerimonial destinado à iniciação
cívico-mercantil de pequenas elites de comerciantes e latifundiários” (p. 33).
“O ‘vestibular’ é todo exame cujo
objetivo é conter o ‘estouro’ do ‘sistema’ escolar bloqueado (chamou-se ao
frêmito dos populares nos portões dos liceus de ‘democratização do sistema
escolar’, pitoresca expressão para um ‘sistema’ de educação nacional que pretende destinar-se ao povo). A maior parte,
pois, da população ficou sempre do lado de fora do ‘sistema’ e contra ele se
esmeraram através da história os requintes da vigilância gestapiana dos
responsáveis pela honorabilidade dos padrões da educação nacional até
chegar-se, para simplificar a vigilância, a proibir que tentem o salto mortal
para dentro do ‘sistema’ os que tiverem menos de 21 (vinte e um) anos de idade
[...]” (p. 34).
“A revolução de 1930, liderada
pelos tenentes, veio abolir estas discriminações e implantar uma democracia
baseada na vontade popular. Mas os idealistas da revolução esqueceram de
popularizar a educação, criando uma verdadeira democracia educacional através
da escola pública, universal e gratuita,
única forma de fazer os nossos mestiços, ainda mergulhados no torpor colonial,
adquirirem dignidade e capacidade de ampla participação” (p. 35).
“O ‘sistema’ educacional, pois,
nunca foi destinado ao povo, ao longo de nossa história. Se na Colônia, a Metrópole
exigia que a elite fosse estudar em Coimbra, a partir da Independência
criaram-se todos os obstáculos (como este de exigir 21 anos para um exame de
madureza!) para que os mestiços não ascendessem na pirâmide escolar: para as elites o ‘sistema’; para o povo os
‘exames’ [...]” (p. 35).
“Nunca tivemos, por exemplo, um Pestalozzi (Europa) ou um Dewey (EUA) que tivessem tido
influência decisiva sobre os métodos e processos de educação. [...]. Nunca
fazemos reformas da ‘educação’: nossas reformas são sempre administrativas” (p.
37).
“O nosso ‘sistema’ escolar foi
sempre obra dos empresários quer se
chamem ‘companhias’ ou ‘sindicatos’ nacionais ... Em vão, Anísio Teixeira
pregou durante cinquenta anos uma escola
pública, universal e gratuita,
como existe nos EUA...” (p. 38).
“Mesmo quando educadores como
Lourenço Filho e Anísio Teixeira estiveram no poder, não possuíram força para
modificar a rotina escolar. Quem pretender buscar, em nossa história
educacional, um ‘método’ de ensino (fora da ratio studiorum dos jesuítas) ficará decepcionado com a falta de
reflexão metodológica de nossos educadores” (p. 39).
“[...] fomos sempre um ‘país de
trabalhadores’ tão caracteristicamente voltados para a produção que o nosso
próprio nome gentílico (‘brasileiro’ – cortador de pau brasil) é o nome de um
profissional (pedreiro, ferreiro, bombeiro).
Nunca fomos de elocubrações
intelectualísticas. A prova é que nunca floresceu, no país, a filosofia (somos uma ‘cultura’ sem filósofos). [...]. Não temos quase
museus e inexiste, propriamente, uma rede nacional de bibliotecas. Em resumo:
não somos muito dados à cultura, o
que significa que somos um povo de mentalidade
pragmática. Durante séculos mantivemos a população toda em estado de
analfabetismo [...]. Só nos lembramos da alfabetização quando os analfabetos
começaram a atrapalhar o sistema de produção e a expansão do mercado interno de
consumo, o que mostra nossa ‘objetividade’” (p. 41, 42).
“Fomos um dos primeiros países do
mundo a eliminar o grego e o latim (que é ainda ensinado na União Soviética) do
nosso currículo e nunca conseguimos, verdadeiramente, implantar a ‘cadeira’ de artes em nossas escolas” (p. 42). NESTE
SÉCULO XXI, RESTOU A RÚSSIA E A DISCIPLINA DE ARTES FAZ PARTE DO CURRÍCULO DA
EDUCAÇÃO BÁSICA, PELO MENOS, OFICIALMENTE).
“Num país de paradoxos,
analisando-se a estória da educação nacional, verificamos que a única ‘reforma’
educacional que se preocupou com a chamada ‘educação humanística’ foi a que
surgiu do ESTADO NOVO, inspirada
pelas correntes do fascismo internacional... reprodução dos ideais que
presidiram – durante a colônia – a obra educacional dos jesuítas” (p. 43).
“Não temos seitas (mesmo os que
aderem a seitas dizem ao IBGE que são católicos). Nossas ‘universidades’ também
não têm doutrina própria ou mesmo tipologia característica (são tão jovens para
isto!)” (p. 45).
“Assim, não resta no País um INSTITUTO DE ALTOS ESTUDOS
completamente desinteressado, como existem em todos os países civilizados. Todo
nosso ensino baseia-se em ‘currículos mínimos’, sem o que o diplomado não teria
direito de exercer uma profissão
regulamentada. Como nosso ‘sistema’ escolar iniciou-se em forma clerical,
formar-se no Brasil, é como receber as ‘ordens’ religiosas que dão poderes
mágicos ao consagrado... Não compreendemos ainda que na universidade se possa
‘fabricar ciência’. Mas, para ‘fabricar-se ciência’ é preciso é preciso duvidar, criticar, debater, questionar...
Assim, a universidade não é o local ‘estudar, mas o local de reformular o conhecimento e a cultura.
É lá que se cria a nova sociedade... Nossa sociedade nunca mudou, justamente,
porque nunca tivemos universidade. A
escola profissional é uma escola própria de uma sociedade estática. Numa sociedade estática, transmite-se apenas know how. Numa sociedade aberta, o know how, é provisório e está em
permanente reelaboração. A missão do estudante não é, pois, estudar: é
reformular o conhecimento, a cultura e a sociedade” (p. 47).
“Os cursos superiores incriminam
os professores do nível médio por não darem base suficiente ao curso
universitário; os do grau médio acusam o curso primário de insuficiente para o
prosseguimento do curso secundário; o curso primário culpa os pais pelo
insucesso do ensino elementar, terminando esta reação em cadeia de queixas na
má formação genética. Cada ciclo superior censura o ciclo imediatamente
inferior, atribuindo-lhe a responsabilidade pelo fracasso de seu próprio
trabalho. [...]. Por sua vez, as associações de classe (ordem dos advogados,
por exemplo), falam em exigir também que os futuros profissionais passem pelas
‘forças caudinas’ de um exame de proficiência antes de terem o direito ao
exercício profissional (aliás, para o serviço público (sic!) de qualquer
profissão superior é sempre indispensável concurso,
jamais pensando-se em dar crédito aos resultados escolares). Não esqueçamos que
o universitário brasileiro é uma espécie de espermatozoide que sobrevive,
milagrosamente, na ascensão turbulenta da pirâmide escolar que, a partir de
ampla base elementar, afina-se, no vértice, como afiado e longo estilete, não sem antes passar pelo trauma ciclópico da
carnificina do vestibular, onde morrem mil esperanças de talentos promissores”
(p. 49).
“[...] processo seletivo que se
estrangula, ainda, ciclicamente (vestibulares), para regurgitar na calha das
escórias os que não são exímios... Os admiradores do “american way of life’ diriam que isto é a plenitude da meritocracia: cada etapa lança à frente
os melhores... A meritocracia
pretende reproduzir a seleção natural,
a impiedosa e implacável lei de evolução dos seres vivos. Acontece, porém, que
a seleção natural cria modelos experimentais e a meritocracia elege os
privilegiados...” (p. 50).
“A única profissão que não comete
erros é a de professor. O engenheiro, o médico, o advogado, todos os profissionais
podem ser punidos por ‘incompetência profissional’. O professor, jamais; todo
fracasso, no processo escolar, é, sempre e invariavelmente atribuído ao
aluno... O aluno é que tem de provar que é ótimo. O professor é, apenas, um
magistrado que julga o mérito.
O ‘sistema’ não visa à
aculturação do povo, como se fosse um fenômeno intrínseco do processo
sócio-cultural. O ‘sistema’ visa a atender ao mercado de trabalho (é a velha filosofia colonial), jogando-se a
borra para o limbo dos desvãos sociais. Talvez esteja aí o estopim da explosão
que se anuncia no sistema escolar: a escola já não pode ser processo seletivo, mesmo porque não
existe um porão sociológico onde se joguem os reprovados... A educação é, hoje,
um processo contínuo, permanente, universal – um clima geral onipresente de
desenvolvimento de todos os indivíduos do ecúmeno e condição necessária de
continuidade evolutiva do fenômeno vital, jamais agência onde os capatazes vão
buscar recrutas para preencher os claros deixados pela batalha da produção” (p.
50).
“[...] sofremos apenas as
consequências do estado cultural do povo que nos colonizou: o português que
descobriu o Brasil era um conquistador
analfabeto, não possuindo Portugal, também sistema escolar” (p. 51).
“Em toda parte, o cuidado principal
do sistema escolar não é com os ‘vitoriosos’, mas com os que fracassam ao longo
do processo. No Brasil, quem jamais (exceto eu mesmo, perdoe-me a imodéstia o
leitor) foi pesquisar o que ocorreu com os milhões de reprovados esmagados pelo
vestibular? Quem jamais pesquisou para onde foram as legiões que compõem a
evasão escolar? Quem se preocupa com os que não acompanham o ‘regime escolar’
(p. 51)?
“[...] (nossas riquezas é que
sustentaram a primeira revolução tecnológica na Europa, dívida que nunca nos
foi paga) [...]” (p. 53).
“O carnaval é a reprise, em três
dias, de três séculos de cafagestagem (sic)
vestida de fantasia carnavalesca...” (p. 54). CARNAVALIZAÇÃO EM BAKHTIN.
“É natural que não tenhamos
tradição ‘cultural’ e que tentemos queimar etapas, mesmo porque nada temos de
tradição a pôr na fogueira do progresso. Somos, talvez, o único país do mundo
sem o peso de um passado. Nascemos e crescemos, num caldeirão racial, em pleno
século XIX. Somos um povo sem memória...” (p. 59).
“Falamos sempre em ‘nossas
tradições’ (cristãs e ocidentais) como se os cristãos e os ocidentais tivessem
aceito a presença da nação brasileira
como irmã inter pares. O que
ocorreu, porém, foi justamente o
contrário: o ocidente ‘cristão’ e ‘civilizado’ dizimou a população autóctone
(genocídio) e saqueou nossas
riquezas com voracidade canibalesca! Se conquistamos a independência política
no limiar do século XIX foi por mero acaso: uma disputa entre as famílias
coroadas da Europa...” (p. 59). A INFLUÊNCIA DO MITO FUNDADOR.
“Somos, orgulhosamente, uma
‘raça’ caldeada de degredados, negros, índios e imigrantes que nada deve às
‘tradições’ do mundo ocidental. Pelo contrário: trabalhamos duro no eito para
mandar pau-brasil, açúcar, ouro e café para a EUROPA, promovendo lá o aparecimento
da ERA TECNOLÓGICA. O mundo
ocidental tem imensas dívidas para com a nação
brasileira...” (p. 60).
“O único povo do mundo cujo
gentílico tem o sufixo EIRO é do BRASIL! Ora, o sufixo eiró indica, em
nossa língua, as profissões [...]” (p. 63).
“Brasileiro foi o nome que se
dava em Portugal aos indivíduos que se dedicavam ao abate e comercialização de
pau-brasil [...]” (p. 63).
“Todos sabem que o ouro e os
diamantes de nossas ‘minas gerais’, alimentaram na Inglaterra, via Portugal, a primeira revolução industrial e foi a
independência precoce dos EUA que impediu o saque de suas reservas naturais,
apesar de o inglês ser um colonizador mais elegante e escrupuloso que o
português” (p. 64). APESAR DE SER UM EXPLORADOR TÃO OU MAIS PERVERSO (VIDE A
ÁFRICA E A ÁSIA).
“O desenvolvimento de um país, ao
que parece, é sempre função do subdesenvolvimento de outros...” (p. 64).
“A elite nacional imita o
colonizador como se não fizesse parte do povo
brasileiro. Daí a displicência com que encara as medidas de saneamento das
endemias, a escolarização universal e gratuita, a distribuição da renda, a
estatização dos serviços comunitários, a defesa contra o mercantilismo
internacional. É como se disséssemos que são problemas dos mestiços...” (p.
65).
“A displicência com que se trata
o analfabetismo, a distribuição da renda nacional, a eliminação das endemias,
mostra que as elites mantêm uma atitude ‘metropolitana’ como se se tratasse de patrão x empregado, mesmo quando o
tratamento dos problemas é feito em termos sentimentais: a condescendência e a
atitude caritativa podem ser mais humilhantes que a brutalidade do capataz. A
distribuição de esmolas às populações nordestinas é uma das cenas mais
pungentes de humilhação humana: velhos sertanejos rijos, de porte homérico e
perfil olímpico, de cuia na mão, recebendo um punhado de farinha de
mandioca...” (p. 65).
“[...] o Brasil seria o único
país do mundo que teria obtido independência sem esforço de seu próprio povo.
De fato, a independência (além de ser uma exigência da política mercantilista
da Inglaterra, imposta a um Portugal de joelhos pelas guerras napoleônicas e os
gastos perdulários da Corte), foi hábil concerto entre a Metrópole e os
‘brasileiros’ (leia-se: ‘portugueses’ que exploravam as matérias-primas da colônia).
Foi ‘suave transição’ (como o general Spínola imaginou que seria a libertação
das colônias portuguesas da África) entre o estado de colônia externa para
permanente estado de colonização interna!)” (p. 73).
“O clero foi sempre, na história
do Brasil, esteio sociológico dos ‘patrícios’ caboclos (grandes famílias
nordestinas são descendentes de padres). Este exemplo serve para se compreender
para quem se destinava o ‘sistema escolar dos jesuítas’ na época da Colônia:
toda família que se prezava tinha um padre (quando o poder saiu das mãos do
clero foi noutras organizações que as famílias tradicionais foram buscar
esteio)” (p. 75).
“[...] não interessava às
famílias tradicionais promover a independentização
política do povo (daí o cuidado com que a Constituição escolhia quem podia ser
eleitor no Brasil) ... A Revolução de 30, implantando o voto popular,
correspondeu à vitória da plebe romana sobre os patrícios, embora a escolha do
candidato continuasse a ser feita na cúpula, como em Roma. Mas, o fato de os
‘patrícios’ terem que mendigar o voto do povo, cria situação nova: o patrício
tem que agradar ao populacho... Foi como surgiu o paternalismo no Brasil: os
‘patrícios’ começaram a fazer ‘obras públicas’ para o povo – postos de saúde,
de puericultura, merenda escolar, escolas INPS... mas tudo com o caráter de
‘doação’ governamental e de ‘mediação’ entre a metrópole (o governo) e os
colonos (o povo). Estas benesses eram apresentadas, na época da eleição, como
credencial dos candidatos (a eleição decidiria qual das famílias tradicionais
em luta teria o poder). O povo era fácil de ser manejado! Mas, toda esta
dramatização terminará por cansar os ‘patrícios’ como ocorreu em Roma: afinal,
esta via-sacra intermitente de mendigar votos atrapalha o mundo dos negócios
dos ‘patrícios’” (p. 75)...”
“É portanto, fácil distinguir uma
nação de uma feitoria: nação, gira em torno do bem-estar, da autonomia e da
participação de todos no processo nacional; feitoria gira em torno da eficiência da produção, da ordem nos
canteiros de obra, dos dados estatísticos da prosperidade da empresa (por vezes,
o interesse da produção leva o empresário a melhorar as condições da senzala e
a premiar o operário-padrão)” (p. 76)...
MESQUINHEZ PARA FINANCIAR A
FUNDAÇÃO DE UNIVERSIDADES E PARA RESTRINGÍ-LAS A SÃO PAULO E ADOÇÃO DE dos
“estatutos da Universidade de Coimbra” POR VOLTA DE 1823 (p. 77 a 81).
“A grande preocupação de Dom
Pedro II era manter em alto nível o câmbio (como fazia Salazar), para garantir
a balança comercial de nossas matérias-primas... O imperador-filósofo, apesar
de dizer que ‘se não fosse imperador... queria ser mestre-escola’, não era
entusiasta da educação popular” (p. 85).
“É este clima de marasmo feudal que chamamos de NOSSAS TRADIÇÕES ocidentais e cristãs.
Falta realizarmos a SEMANA DA ARTE
MODERNA com relação à educação, livrando-nos do estilo colonial herdado dos
‘brasileiros’ – os feitores que proibiram durante três séculos qualquer processo civilizatório na colônia portuguesa
da América” (p. 88).
“Sendo o nosso ‘sistema’
educacional transplantado de outras culturas, raramente, percebe-se, em sua
estruturação e nas ‘teorias’ que pretendem explica-lo, qualquer relação direta
com o contexto sócio-cultural a que pretende servir” (p. 89).
“1. Durante trezentos anos de
colônia não tivemos uma estrutura escolar para ser utilizada pelo povo. Os
jesuítas, durante este tempo, mantiveram 17 seminários de formação de clérigos”
(p. 91).
“7. Com a Primeira República,
cria-se o Ministério da Instrução Pública que, por não ter função,
extinguiu-se. Criam-se os parcelados e preparatórios para suprir o ensino médio
inexistente. Voltam os jesuítas e as ordens religiosas” (p. 91).
“8. Em 1930, cria-se, finalmente,
o Ministério de Educação e Saúde e implanta-se o ensino médio seriado. O
empresariado empolga o setor médio (90%) pela omissão da ação governamental
(explosão do ensino médio)” (p. 91).
“Para muitos historiadores e
sociológos, a função do jesuíta não é pedagógica, mas comercial [...]” (p. 93).
“Como não consta que índios
tenham chegado ao bacharelato (não
há índios intelectuais na história cultural da colônia) ... logo se vê que o
‘sistema’ escolar instituído pelos jesuítas foi desde o início desviado para os
filhos dos donatários, sesmeiros e burocratas do Reino aqui de passagem, jamais
pensando-se num sistema escolar popular,
como se fez nos EUA, desde a mais remota data da ocupação do território” (p.
95).
“[...] o peso do absolutismo
monopolista da metrópole, provavelmente consequência da independência
americana: sabe-se que por trás de Pombal estava a Inglaterra...” (p.96)
“Enquanto os Estados Unidos, pelo
tratado de Versalhes, vê (sic), em
1783, sua independência reconhecida pelas nações civilizadas, depois de
sangrenta guerra de oito anos (1775-1783), o Brasil espera ainda quarenta anos
(1822) para ver sua independência ‘declarada’ por um gesto arrebatado de um
príncipe que a Metrópole aqui deixara (prevendo um fato como este) para
garantir a continuidade da dominação (ver as ‘províncias ultramarinas’ da
África de hoje)” (p. 96).
“O povo americano foi educado
para reger seus próprios destinos, desde a chegada dos pioneiros” (p. 97).
“O ato adicional à Constituição,
no ano de 1834, estabeleceu que ao Governo Imperial (União) caberia organizar,
apenas, o ensino superior, cabendo
os demais graus às depauperadas e atrasadas províncias [...]. No Rio Grande do
Sul (1857), no Colégio de Artes Mecânicas para ofícios, a lei mandava recusar
matrícula às crianças de cor preta e aos escravos e pretos ‘ainda que libertos
e livres’” (p. 97).
“Mas se algo caracteriza o ambiente castrense da colônia é a
ausência total de tipografias e jornais, fenômeno que nem de longe pode ser
imaginado nos EUA, que nasceram sob o signo da liberdade de imprensa” (p. 98).
ATRASO NA FUNDAÇÃO DAS PRIMEIRAS
UNIVERSIDADE EM SOLO BRASILEIRO (98, 99).
“[...] enquanto o pioneiro
americano, por exemplo, fundava cidades construindo um banco e uma escola (sem
esperar a ordem régia), os donos de
sesmarias inauguravam feiras com capela e pelourinho, os dois instrumentos sócio-culturais de contenção das
veleidades do nacionalismo e independência dos mestiços” (p. 100).
INFLUÊNCIA DA EDUCAÇÃO EM
SEMINÁRIOS POR JESUÍTAS (p. 100, 101).
“Os seminários eram tolerados
porque são escolas em que o pensamento é, disciplinadamente, contido nos canais
do dogma, vigiados de perto pelas mesas censórias e pela Inquisição. Para se
ter idéia do terrorismo cultural metropolitano, basta lembrar que até poucos
anos nenhuma seita protestante medrara no território nacional...” (p. 101).
“Expulsos os jesuítas em 1759 e
não tendo vingado as ‘aulas régias’ pombalinas, ficou a Colônia sem qualquer
sistema escolar, sobretudo elementar [...]. Assim permaneceu com a vinda de D.
João VI [...]. Proclamada a Independência, em 1822, não se cuidou de
estabelecer um sistema escolar para o novo império [...]” (p. 104).
“’Lei – de 15 de outubro de 1827.
Manda crear escolas de primeiras
letras em todas as cidades, villas e logares mais populosos do Império.
[...]
Art. 5º. [...] os Professores que
não tiverem a necessária instrução deste ensino, irão instruir-se em curto
prazo e à custa dos seus ordenados, nas escolas das capitães.
[...]
Art. 6º. Os professores ensinarão
a ler, escrever, as quatro operações de aritthmetica, [...] os princípios de moral
christã e da doutrina da religião catholica e apostólica romana [...];
preferindo para as leituras a Constituição do Império e a história do Brazil.
[...]
Art. 12. As mestras, alem do
declarado no artigo 6º, [...] ensinarão também as prendas que serve á economia
doméstica [...]
[...]
Art. 15. [...] os castigos serão
os praticados pelo método Lencastre.” (p. 105, 106).
“Ao lado destas isoladas unidades
(liceus) da escola pública (estaduais) começaram a surgir os célebres
‘colégios’ particulares, agora também leigos [...] origem da atual rede
empresarial [...]. É a volta do privatismo colonial dos jesuítas [...]”. (p.
107).
“[...] colégio Pedro II (único
mantido até hoje pela União, no nível médio, além das escolas
técnico-industriais) servindo de base de ‘padrão’ nacional (equiparação)” (p. 108).
“As escolas primárias,
abandonadas nos lugarejos, limitam-se ao trivium
clássico de ler, escrever e contar (há pouco mais de 50 anos as
nomeações para mestres de escola elementar rezavam ‘para ensinar a ler,
escrever e contar’) (p. 108).
“O Império viveu todo das glórias
do Colégio Pedro II e da notoriedade das Faculdades de Direito de Olinda e de
São Paulo (a fábrica dos burocratas do Império e da República) [...] A escola normal equivalia, para as moças,
ao que os Liceus significavam para
os rapazes [...]” (p. 108).
“O papel da união (fixou-se,
historicamente, esta função) começa a ser o de ‘controlador’ em vez de
‘mantenedor’, aparecendo os primeiros vagidos do trágico vestibular... [...]. É
na república que se começa a pensar em ‘sistema’, incluindo nisto a natureza
operacional da escola.
“Esta política de jogar para as
unidades federadas a carga maior da manutenção do ‘sistema’ escolar só pode ser
compreendida em sua gravidade examinando-se o sistema de arrecadação de
impostos que privilegia, de maneira absoluta, a União (os municípios, do ponto
de vista orçamentário nunca existiram, realmente). É pois, uma política
deliberada de omissão que só veio a ser modificada recentemente com os auxílios
federais aos estados” (p. 109).
“Chegamos ao limiar do século XX
sem um sistema escolar: nos
lugarejos, a escolinha de ler, escrever
e contar [...] dos mestres
ambulantes [...] ensinando o bê-a-bá;
nas principais capitais das províncias, o LICEU
(rapazes) e a ESCOLA NORMAL (moças),
reservados à elite burocrática e latifundiária; surgem, aqui e ali, como
escolas reservadas à ‘nobreza tropicália’ [...] os Caraças e os Ateneus; o
ensino superior gira em torno das duas faculdades de medicina e as duas
faculdades de direito do início do império; os parcelados e preparatórios
suprem a falta de uma escola média geral; a União se omite, totalmente, de
obrigações para com a constituição da rede escolar [...] (p. 110).
LEÔNCIO
DE CARVALHO, 1879 – [...] estabelece-se o controle
e exclusividade dos ‘exames’ pelo poder central [...]” (p. 111).
“Em vez de escolas públicas, como
nos EUA, criam-se os exames parcelados [...]. Foi o início do sistema cartorial
[...] em que as obrigações do Poder Público, em matéria de educação, eram substituídas
por ‘policiamento’ [...]. O parecer de RUI BARBOSA [...] foi o primeiro
documento que levantou, na discussão sobre o ensino brasileiro, problemas de
educação propriamente ditos [...]”. (p. 111).
Proposição de reformas para o
colégio Pedro II eram “ousada e sacrílega heresia, numa metrópole onde reinava
um ‘imperador-filósofo’” (p. 112).
BENJAMIM
CONSTANT (1890) – Proclamada a República, coube
a seu ideólogo, Benjamim Constant, o recém-criado Ministério de Instrução (et pour cause), Correios e Telégrafos
([...] sugerem o ensino por correspondência hoje em moda [...]) tentou acabar
com os preparatórios [...]
estabelecendo um currículo estritaente positivista. [...]. A criação tardia do
‘sistema’ tem como consequência deixar fora
dele todos os que ultrapassaram a idade escolar” (p. 113)
“Benjamim Constant percebeu que o
exame de madureza é a expressão do temor que as classes privilegiadas têm da
ascensão das massas” (p. 114).
EPITÁCIO
PESSOA (1901) – Baixa a lei ‘adaptativa’ [...] todas
as ‘reformas’ começam a gravitar em torno do ensino secundário (o ensino profissional existente neste nível era
irrelevante) [...]. Aparecera no país a classe
média, com a destruição dos ‘aristocratas’ do Império e a decadência das casas grandes [...]” (p. 114).
“[...] como pode um exame
‘suprir’ algo que falta [...] De fato, não há nada a ‘suprir’, mas a
escolarizar” (p. 114).
“Com a república “se inicia a
explosão do crescimento demográfico e o país começa a sair da monocultura
colonial (pau-brasil, açúcar, café, algodão, gado, etc.), dando os primeiros
passos na direção da industrialização.
[...] as reformas educacionais são, apenas, o feed back de fatos sociais, econômicos e políticos, nada tendo a
ver com ideais pedagógicos humanitários [...]” (p. 115).
RIVADÁVIA
(1911) – Foi a ‘reforma’ (que durou quatro
anos) chamada ‘ensilhamento’ da educação (por analogia às soluções financeiras
do Ministério da Fazenda, sobretudo em torno da monocultura do café) [...] (as
épocas ‘tumultuadas’ são épocas de ‘remanejo’ social). Constata-se o
descompromisso total do Poder Público com relação à educação [...]” (p. 115).
MAXIMILIANO
(1915) – A Reforma Maximiliano foi a ‘operação
punitiva’ contra o descalabro’ da Rivadávia [...] retomou vários pontos das
‘reformas’ anteriores: a) vestibular (da Rivadávia) [...] b) ensino, disciplinadamente, seriado, embora mais reduzido na
duração (da Epitácio Pessoa); c)
restrição à equipara
ção e proibição de reconhecimento
das escolas particulares (da Benjamim Constant); d) tolerância dos preparatórios (da Leôncio Carvalho), mas agora
parcelados em etapas anuais. Aliás, esses são os temas burocráticos e
cartoriais de nossas reformas [...]” (p. 116, 117).
“Nos países anglo-saxões, os
educadores escrevem tratados de filosofia
da educação; no Brasil, organizam epítomes da legislação do ensino e dos
pareceres jurídicos das ‘cortes’ educacionais...” (p. 118).
“Quando o Poder Público resolveu,
de fato, escolarizar bastou abrir escolas públicas levando as escolas
particulares à falência, prova de que se a seriação não se tornava a forma
corriqueira de educação era porque o povo não podia pagar as taxas cobradas
pela rede privada...” (p. 118).
“Quando a Revolução de 1930
chegou, um dos setores da República
Velha quer era considerado carcomido
(segundo a linguagem da época) era o da educação” (p. 119).
“[...] POMBAL destrói o equipamento missionário do ‘sistema’ escolar
colonial [...]; b) BENJAMIM CONSTANT
[...] tenta criar um órgão estatal (MEC) [...] e varrer dos currículos a massa
de clericalismo acumulada por quatrocentos anos de educação monacal (sic) vigiada pela Inquisição [...]; CAMPOS é o ‘positivista’ da Revolução
de 1930 [...] que instala definitivamente, um sistema escolar seriado, pondo
fim aos preparatórios [...]. CAPANEMA,
dentro da onda internacional de autoritarismo vigente (nazismo, fascismo,
integralismo, etc) [...] regride ideologicamente, para os padrões educacionais
dos jesuítas [...]” (p. 120).
“A Reforma Campos foi um divisor de águas [...]. A Revolução de 1930
[...] injetou no país sangue novo por intermédio de um caudilho gaúcho formado
na escola nacionalista das lutas de fronteira” (p. 122).
“O Estado Novo foi revolucionário em tudo, menos em matéria de
educação...” (p. 125).
“É interessante observar-se o
fenômeno das ‘reformas’ impostas sem debate: são radicais, ideológicas e
efêmeras... Enquanto a Reforma Campos veio no bojo da Revolução de 1930 (como a
de Benjamim Constant viera na euforia da República), a de Capanema foi fruto de
um consulado solidamente estabelecido (o Estado Novo vigorava desde 1937),
portanto, de caráter estritamente disciplinar e cartorial, sem arrojos e sem
aberturas. Enquanto as reformas Benjamim Constant e Campos foram precedidas por
memoráveis discussões, a de Capanema foi elaborada no segredo dos gabinetes
[...]” (p. 125). TUDO É IDEOLÓGICO E MAIS OU MENOS EFÊMERO.
Capanema definia o objetivo da
escola secundária (o miolo do sistema escolar) como sendo voltado para a formação de personalidades condutoras
(führer, duce, caudilho)” (p. 126).
“[...] a ‘reforma’ Capanema
especificava que, ‘sendo o ensino primário para
todos... o secundário destinava-se a acentuar e elevar a consciência
patriótica e humanística’ de uns poucos, donde se conclui que o legislador
distinguia o todo (povo) das elites (personalidades condutoras), o
que é, precisamente, a doutrina nazista da formação dos führers (grupo ariano selecionado e educado à parte para conduzir o
povo alemão). E acrescentava: ‘O ensino secundário se destina à preparação das
individualidades (não se dizia personalidades!) condutoras [...]” (p. 127).
“A Reforma Capanema tentou
introduzir o Exame de Estado (a lei
o chamava ‘exame de licença’), nos moldes do ‘baccalauréat’ francês [...]” (p.
128).
“A violenta expansão do ensino
médio [...] exigia [...] função ‘pedagógica’ do MEC. Ninguém tinha idéia do que
devia ser uma escola secundária
[...]. Havia um frenesi nacional de abertura de escolas secundárias num país
que nunca tivera sequer escola elementar, de modo que todos aceitavam como
bíblia as portarias do MEC [...]” (p. 128).
“[...] apareceu (1939) a nova
vedete do ensino superior, a FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS, já
prevista na Reforma Campos (decreto nº 19.851), uma mini-universidade [...] o
início de nova era do ensino superior, cujos efeitos vêm explodir 30 anos
depois na reforma universitária” (p. 129).
“[...] vinda para o Brasil de
Intelectuais europeus que aqui fizeram escola, como Roger Bastide e Levi-Strauss, hoje luminares do pensamento
ocidental. [...]. A criação das faculdades de Filosofia (hoje proliferando em
todo o território nacional como se fossem cursos de ensino médio!) atingiu o
âmago do ‘sistema’: pela primeira vez, cogita-se da formação do professor de
nível médio, tradição que já se estabelecera, há longos anos, com relação ao
ensino primário (escolas normais: 1834), única área em que se discutia, até
então, as ciências de educação e onde atuavam os pedagogos nacionais (os
grandes nomes da área de educação são encontrados sempre envolvidos com o
ensino normal e com o ensino primário, mesmo porque estes tipos de ensino foram
sempre da competência estadual onde havia certa liberdade de ação: Lourenço
Filho, no Ceará, Anísio Teixeira, na Bahia, Fernando de Azevedo, no Distrito
Federal, etc.). As grandes ‘reformas’ pedagógicas (a introdução do espírito da
‘escola nova’, por exemplo) ocorriam nas províncias, à revelia do Ministério da
Educação, por iniciativas de líderes locais (ou contratados nos estados mais
progressistas: Lourenço Filho, no Ceará)” (p. 129).
“A Faculdade de Filosofia viria a
ter profunda influência no ensino médio e superior. Até então, os professores
do ensino médio e superior eram recrutados entre os profissionais que, ou
fracassavam, ou desistiam de suas profissões [...] enquanto os profissionais
que melhor se saíam em suas profissões ascendiam ao magistério superior, do
qual faziam um apêndice de sua vida profissional, servindo a cátedra,
sobretudo, para dar alto status
(mestre) na área de concorrência profissional...” (p. 130).
As faculdades de filosofia
formavam cientistas. Os “que se sobressaíram [..] emigravam para o estrangeiro
(‘evasão de cérebros’)” (p. 130).
O “texto e intenções [da reforma
Capanema] não resiste à capacidade popular de transformar as fórmulas
estrangeiras em caricaturas” (p. 130). CARNAVAL E RISO EM BAKHTIN).
“Um cientista ilustre, no Brasil,
não dá como seu endereço a universidade, tal como ocorre nos países do
Ocidente” (p. 131) SITUAÇÃO REFORMULADA COMO ATESTA O CURRÍCULO LATES ATUAL.
“O ‘sistema’, tão pacientemente
elaborado nos gabinetes, vai ser sustentado por um ‘corpo docente’ fabricado
pela burocracia do Ministério da Educação (o incêndio do prédio em que
funcionara o Ministério deu azo a que qualquer um requeresse o registro de
professor alegando que seu ‘processo’ ... tinha sido queimado no oportuno
sinistro). [...] O professorado primário do país é a ‘massa de manobra’ dos
deputados e vereadores que dele se servem como ‘cabos eleitorais’ ou como
demonstração de prestígio (licenças e transferências)” (p. 132).
“[...] de cerca de seis milhões
de crianças em 1968 matriculadas no curso primário só restaram cerca de um
milhão e meio em 1969, o que mostra que cinco milhões de ‘matriculados’ no
curso primário não devem ter sequer aprendido a ler! [...]. Com um corpo docente,
alarmantemente deficitário e recrutado à trouxe-mouxe, é esquisito deparar-nos
com uma luta entre os ‘formandos’ e os ‘rábulas’, como ocorreu, então com
relação ao curso secundário (com relação ao primário nunca se questionou a
habilitação legal, mesmo porque sendo o salário irrisório não há porque
disputá-lo) (p. 132, 133).
Nas décadas de 40 a 60 do século
XX, “enquanto o ensino secundário se expandia, explosivamente (chegando a um
índice de 500% anual) a evasão nele era, por sua vez, incompreensível, chegando
a atingir de 85% a 90% [...]. Tudo acontecia como se a juventude se sentisse
ludibriada: ingressava no curso secundário, em massa, estimulada pelo processo
sócio-econômico em curso no país, mas logo abandonava a escola, decepcionada,
talvez, por não encontrar nela nenhuma
relação com a realidade [...]” (p. 133).
“[...] a massa sabia que a escola secundária era a única via de ascensão social, resultado de toda uma
tradição elitista iniciada pelos colégios dos jesuítas, o que resultava numa
ambivalência: uma escola secundária alienada da realidade e uma rede de escolas
profissionais marcadas pelo labéu de aprendizagem de manualidades” (p. 134).
“O sistema de escolas
profissionais (apesar do tom ‘acadêmico’ que a Reforma Capanema lhe dava) não
atraía o povo” (p. 134).
“[...] para o ensino superior
[...] o ‘vestibular’ decepa a cabeça dos aspirantes com a eficiência da
guilhotina francesa na época do terror. Para mais de 300.000 (trezentos mil)
candidatos à universidade, em 1974, não havia mais de 60.000 (sessenta mil)
vagas [...]. Se o ‘sistema’ deve funcionar com comportas... o controle deve ser
estabelecido ao longo de toda escolaridade para evitar este tipo de
estrangulamento final! [...]” (p. 135).
“A velocidade dos acontecimentos
e o impacto das transformações sócio-culturais foram mais fortes que o poder
policial de contenção das inovações, de modo que a Reforma Capanema foi-se esboroando por pura inércia e ineficácia
[...]. A evidente ‘ilegalidade’ da criação das inspetorias seccionais é o mais convincente exemplo de que não é a
lei que determina os fatos” (p. 135).
“No período getuliano (1937-1945),
na efervescência da legislação
trabalhista que o ‘pai dos pobres’ oferecia, graciosamente, aos
trabalhadores de uma indústria nascente (a industrialização intensificou-se com
a Segunda Guerra Mundial 1939-1945) e a partir do ‘corporativismo’ de
inspiração integralista que criou a Federação
das Indústrias e a Federação do
Comércio como contrapeso aos sindicatos dos trabalhadores ‘impostos’ pelo
governo (é, talvez, o único caso na história de sindicatos terem sido criados pelo governo e a sindicalização ter
sido coercitiva!) [...] instalaram-se o SERVIÇO NACIONAL DO COMÉRCIO (com seu
apêndice assistencial denominado SESC) e o SERVIÇO NACIONAL DE INDÚSTRIA (com
seu apêndice assistencial denominado SESI) (...}” (p. 137).
“[...] o objetivo pragmático da
existência destas escolas profissionais – preparar a mão-de-obra qualificada – não permite divagações legislativas e
‘pareceres’ eruditos, vez que os patrões (que pagam a manutenção da rede) ao
receber os aprendizes, vindos, diretamente da escola, em suas empresas, testam,
diariamente, a eficiência do sistema, de modo que a atividade pedagógica que
realizam dispõe de um ‘feed back’ regulador que mantém o processo em alta
eficiência (retro-efeito que não estaria à disposição de um sistema escolar
profissional de caráter geral e sem ligação direta com o sistema de
produção). Possuem, por exemplo, um setor de ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL e outro de
ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA, órgãos que o Ministério da Educação jamais cogitou de
possuir pelo preconceito capitalista de forçar a existência de instrumentos
deste tipo em todas as unidades escolares [...]. O processo de permanente reciclagem do corpo docente (inclusive
em simpósios nacionais) permite razoável nível de profissionalização do
magistério que, assim, não pode escudar-se, apenas, na imputação equívoca do
diploma” (p. 139).
Quanto ao SENAI e ao SENAC “estes
serviços estão em permanente reorganização, como se as ‘reformas’ neles fossem
um construtivismo sequencial dos
organismos vivos [...]” (p. 139).
O SENAI e pelo SENAI “tanto para
recrutamento de alunos e professores, como para estágios e ‘inspiração’ de
renovação (segundo a modernização
tecnológica) – realizaram a aspiração universal de ligar a escola ao
sistema de produção (empresa-escola,
por oposição ao sistema institucional que procura o objetivo utópico de
realizar a escola-empresa)” (p.
139).
“[...] quando um serviço é,
realmente, funcional, a própria funcionalidade (feed-back) mantém sua eficiência. E o que sempre faltou ao
nosso ‘sistema’ escolar foi funcionalidade...” (p. 140).
“As atividades do nível primário (extrativas, agrícolas e
pecuárias), durante a Colônia, o Império e a Primeira República, eram tipicamente,
aviltantes, próprias de escravos, índios preados, degredados e imigrantes. Os
donatários, os sesmeiros, os senhores de engenho, os fazendeiros não se
permitiam lidar, pessoalmente, com estes afazeres degradantes (eram as tarefas
dos mestiços). Assim, jamais se
imaginou escolarizar estas atividades, até a recriação das primeiras escolas de
agronomia, durante o Império. Foi da alienação do curso primário ministrado no
sertão que nasceu a idéia de Sud Menucci e Moreira de Sousa: eles não podiam
compreender como uma escola primária sertaneja nada ensinasse de agricultura e pecuária (ver ESCOLA NORMAL RURAL DE JOAZEIRO E LIMOEIRO DO NORTE,
no Ceará, dirigidas por D. Amália Xavier e D. Maria Gonçalves). Só em meados do
século XX, voltou-se a cogitar da ‘educação rural’ com o aparecimento de uma
instituição muito humilde, nos arredores de Belo Horizonte. Hoje, esta
instituição é uma potência espalhada por todo Brasil: ABCAR (Associação
Brasileira de Crédito e Assistência Rural) [...]” (p. 140).
“Estas instituições – SENAI –
SENAC –ABCAR – estão, propriamente, a serviço do empresariado, mas
indiretamente, servem de sistema de educação profissional de acordo com as
flutuações do mercado de trabalho”
(p. 141).
“Caberia ao MINISTÉRIO DE
EDUCAÇÃO E CULTURA coordenar – com forte e decisiva liderança toda esta babel
de iniciativas divergentes para que o povo brasileiro venha a ter um autêntico SISTEMA ESCOLAR” (p. 142).
“É estranho que o êxito
extraordinário do SENAI (indústria) e do SENAC (comércio), ANCAR (agricultura e
pecuária) não tenha levado o governo, em todos estes anos, a determinar
‘serviços nacionais de aprendizagem’ nas áreas da AGRICULTURA, da PECUÁRIA, das
indústrias EXTRATIVAS (atividades primárias), bem como nas áreas QUATERNÁRIAS,
sobretudo, nestas últimas, justamente, as que caracterizam o mundo moderno” (p. 142).
“O caso típico não escolar desta
mentalidade fragmentadora e desta progressão desenvolvimentista anárquica [...]
na área do sistema de produção, é o dos ‘incentivos fiscais’: parte ponderável
da arrecadação dos impostos (justamente, a do imposto de renda – que tem por finalidade equilibrar a distância da
renda nacional) volta, graciosamente, aos cofres da empresa pagadora [...]” (p.
142).
“Não se entende por que a parcela
de imposto paga pela empresa particular – considerada justa e razoável pela lei
em vista de sua finalidade de geradora de riquezas e de empregos – deva voltar
ao pagador, sobretudo, porque, uma vez pago o imposto, a soma arrecadada passa
a ser patrimônio público. Sua devolução
à empresa implica numa discriminação a favor de um grupo social, assim,
duplamente privilegiado, contrariando o princípio geral de direitos iguais para
todos [...]. “Com os ‘incentivos fiscais’, a empresa particular que pagou os
impostos retirando-os do consumidor, através do cálculo do preço industrial e
fiscal do produto que é vendido ao povo, recebe de volta o tributo para
produzir de novo e, novamente, cobrar do consumidor o tributo que pagará com o
capital que pertence ao povo...” (p. 143).
“[...] a tortuosidade que o Poder
Público utiliza para exercer sua função básica de, através da arrecadação de
impostos, criar para o povo um equipamento
coletivo (estradas, energia, hospitais, núcleos de abastecimento, escolas, frentes pioneiras como a TRANSAMAZÔNICA,
previdência, urbanização, equipamentos de comunicação, etc.) [...]” (p. 143).
“[...] de modo que – dada a
eficiência das ‘associações de caridade’ (Santa Casa, orfanatos, abrigos,
asilos, etc.) que, através de ‘esmolas’ criaram um sistema particular de
impostos – isentava-se o Poder Público de atender às necessidades coletivas
(o atendimento precário e aleatório das organizações de ‘caridade’ impedia o
surgimento de grupos de pressão que forçassem o governo a assumir suas
responsabilidades” (p. 144).
“[...] ficamos impressionados com
o número de instituições ‘privadas’ (subvencionadas), todas vivendo
precariamente: cada uma delas revela, simplesmente, a omissão governamental. Há
poucos dias, o Instituto Pestalozzi
que cuida de excepcionais foi despejado de sua sede por uma empresa particular”
(p. 144)!
“Por que não aumentar alguns
centavos nas carteiras de cigarros para ajudar a manutenção das universidades
[...]” (p. 144).
“[...] o imposto de renda é o que mais se aproxima da justiça tributária [...]” (p. 145).
“A escola particular é uma
sobrevivência histórica das ‘companhias’ coloniais não tendo cabimento diante
das funções do estado moderno” (p. 145).
“O sistema escolar, hoje,
equivale ao sistema de água e à rede de fornecimento de energia elétrica: em
cada local deve haver uma torneira,
uma tomada de corrente e uma escola [...]” (p. 145).
“Toda solução empresarial para
educação (quer a modalidade seja incentivo fiscal, doação, transferência de
poder, subvenções, etc.) é um mero paliativo e uma alienação. [...]. As
‘campanhas da fraternidade já não impressionam ninguém: todos compreenderam que
a forma de captação de recursos não é a esmola, mas o imposto” (p. 146).
“A gratuidade dos educandários gratuitos deve ser paga por alguém:
ou pela comunidade, ou pelo desprendimento idealista da juventude” (p. 146).
“Os ‘cenegistas’ [Campanha
Nacional de Educação Gratuita] conseguem, por vezes, retomando velha tradição
colonial do ‘mutirão’ (toda comunidade participa fisicamente, inclusive) construir
prédios escolares em locais onde nunca chegou a iniciativa do Poder Público”
(p. 147).
“Parece que, enquanto houver
alguém que, em vez de pagar impostos,
preferir dar esmolas e fazer caridade... o sistema educacional não
se tornará UNIVERSAL E GRATUITO, como Anísio Teixeira envelheceu pedindo que
fosse” (p. 147). SITUAÇÃO REFORÇADA PELO CRIANÇA ESPERANÇA DA REDE GLOBO.
“Sem diminuir o valor da
empolgante epopeia dos idealistas dos ‘educandários gratuitos’ [...] é preciso
convir que está na hora de a campanha entregar o fruto de seu trabalho
missionário ao Poder Público [...]. A noção de Estado evoluiu suficientemente
para se compreender que o mecanismo de captar recursos é simplesmente, o IMPOSTO” (p. 148).
“Como o ‘sistema’ era
desarticulado e justaposto, as pressões reais criavam cursos-tampões que ajustavam o irrealismo forma da estrutura à
situação vivencial dos que tinham desse adaptar às exigências legais” (p. 149).
“[...] as mais diversas agências,
não previstas pelo ‘sistema’, atendem, à revelia da ‘ideologia’ imposta pelas
leis, às verdadeiras necessidades do desenvolvimento da nação. Foi o que
ocorreu. Um exemplo típico e decisivo, mais de caráter didático que de cunho
sócio-cultural, é a existência de cursos de aprendizagem de línguas estrangeiras
extra-sistema, liderados pela ALIANÇA FRANCESA e a CULTURA INGLESA e
disseminados em mil ‘cursinhos’ particulares, por vezes organizados através de
poderosas empresas de prestação de serviços” (p. 149).
“Existe um sistema escolar
paralelo que se ordena segundo as necessidades do sistema de produção” (p.
150).
“[...] os cursos de aprendizagem do SENAI e do SENAC poderiam ser
considerados paralelos com relação à
sonolenta, dispendiosa e irrelevante (para o sistema de produção) rede de
escolas técnicas federais” (p. 150).
“Se o sistema é regulado por
exames, os exames empolgam o sistema, reduzindo-se o sistema escolar a preparar
para os exames. [...]. No sistema seriado entrecortado de exames, os períodos
intermediários são de relaxamento geral, pontuados, aqui e ali, por ‘ameaças’
[...]” (p. 150).
“[...] muita vez, a aula era,
apenas, uma enumeração dos pontos ‘que iam cair nas provas’ ou um lembrete
aterrorizador do futuro examinador (no falso papel de mestre) prometendo
desforra, na hora das provas, contra a falta de consideração dos alunos para
com sua ‘atividade docente’” [...]. “Antes da Capanema, o ano letivo era
suspenso quatro vezes para períodos de ‘provas parciais’ ...” (p. 151).
“[...] os cursinhos, nome curioso que se dá ao sistema escolar realmente
funcional [...] funcionam por mimetismo, tomando a forma de exame a que se
destina. [...]. O cursinho é a providência lógica e prática para as
incoerências do ‘sistema’ ... Sempre que o ‘sistema’ exige algo que não
fornece, os mais sagazes, percebendo a falha da estrutura, correm a oferecer o
que todos precisam. Se o ‘sistema’ fosse coerente, não haveria lugar para os cursinhos” (p. 151).
“O cursinho pré-vestibular é um escarmento para os professores do
ensino médio” (p. 152).
“Num certo momento, num rasgo
anti-histórico de realismo, os cursinhos foram acoplados (por convênios) ao
curso seriado de modo que passou-se a admitir, sem escrúpulos, que o curso
colegial (apesar das proclamações da lei) era uma simples preparação para o
vestibular [...] a ponto de poderem determinar com relativa precisão a
probabilidade de determinada questão cair nas provas... São as mais perfeitas
oficinas de preparação de um candidato para vencer os truques dos exames [...]”
(p. 152).
“A indefectível e clássica página
de anúncio de O CRUZEIRO, com os retratinhos 3x4 de jovens que afirmam ter
conseguido ótimos empregos depois de fazerem cursos por correspondência [...]. O ‘sistema’ escolar, ontem, como hoje,
não prevê cursos rápidos como estes que preparam o candidato para o sistema de
produção” (p. 153). SITUAÇÃO SUPERADA PELOS CURSOS DE TECNÓLOGOS ATUAIS.
“[...] um sistema escolar paralelo de caráter estritamente profissional, cuja
realidade os órgãos oficiais de educação fingiam desconhecer. [...] a urgência
pragmática dos problemas reais (emprego e rentabilidade) é mais criativa e tem
mais objetividade que a reflexão, ‘in abstracto’, dos programadores ... Estes
cursos heréticos é que deviam ter sido o modelo da ‘profisionalização’ que se
pretendeu implantar no ‘sistema’ escolar geral: eles já tinham provado sua
eficiência e funcionalidade, em longos anos de serviços prestados. [...]. São
cursos assim que, na Inglaterra, hoje, são chamados UNIVERSIDADE ABERTA.” (p. 154).
“[...] caixa mágica das ilusões
(que são chamadas de ‘comunicação de massa’) [...]” (p. 155).
“O cinema, o teatro, o turismo,
os correios e telégrafos, as copiadoras e mimeógrafos, as revistas e jornais,
tudo hoje é arrolado no conceito de educação. Nós, por exemplo, não
descobrimos, ainda a função escolar dos museus, instrumentos de se servem,
assiduamente, os educadores europeus e norte-americanos...” (p. 156).
“Centenas, talvez, milhares de
instituições mantêm cursos assim paralelos,
desconhecidos do sistema oficial. Nestas mini-universidades, não havendo
‘currículos mínimos’, o ensino torna-se, extremamente funcional, mudando e
variando de acordo com a pesquisa e o progresso científico” (p. 156).
“Empresas como a PETROBRÁS mantém
cursos até em nível de pós-graduação para formação de engenheiros adequados ao
tipo de tarefa a que se dedica [...]” (p. 157).
O IDORT (São Paulo) funciona como
uma UNIVERSIDADE DO TRABALHO, sempre atento à demanda de mão-de-obra das
empresas e repartições públicas [...] um serviço à disposição do sistema de
produção [...]” (p. 157).
“A Fundação Getúlio Vargas é uma
espécie de universidade moderna, extremamente engajada no processo
sócio-cultural, produzindo pesquisa, arquivando conhecimentos, ministrando
ensino e orientando a mudança. Aliás, é o que, no Brasil, mais se aproxima de
uma universidade americana, não fosse sua tendência a considerar-se apêndice
governamental e a inércia da renovação de seus quadros administrativos, fato
que a vem levando a uma paralisia geriátrica. [...]. Uma profissionalização
‘oficial’ não tem credibilidade para o sistema de produção em que a eficiência
é a lei geral da sobrevivência. Em cada recanto de um centro dinâmico como São
Paulo existe uma escola paralela
[...]. A escola paralela amolda-se ao candidato e a suas conveniências, fornecendo,
precisamente, o que o freguês solicita” (p. 157).
“Qualquer empresa de grande porte poderia [...] manter, internamente,
uma universidade, sem para isto ter que fazer maiores investimentos em
equipamentos e pessoal! É o que chamamos de EMPRESA-ESCOLA, por oposição à
ESCOLA-EMPRESA cuja viabilidade tem se mostrado mínima” (p. 158).
“Tão evidente e poderoso é o sistema paralelo que [o] MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO manteve, durante quase uma década (para irritação e protesto dos
alunos de faculdades de filosofia) cursos
de formação de professores de grau secundário (CADES), inteiramente
independentes das faculdades de filosofia, destinados à preparação de exames de
suficiência que credenciavam o candidato ao magistério (registro de professor)
do ensino médio. [...] A profissionalização só é possível, assim, dentro do
sistema de produção e é sempre ad hoc.
[...] É por isto que o sistema de produção mantém seu próprio sistema escolar”
(p. 158).
“Da Colônia até [...] hoje, a
tônica da crítica ao ‘sistema’ escolar brasileiro é, sempre e invariavelmente,
a corrupção, a falta de autenticidade, as deficiências do magistério, a falta
de fiscalização... evidente diagnóstico de que nossos ‘sistemas’ não surgem dos
fatos sociais, mas do transplante de sistemas alienígenas [...]. A profissão,
quase sempre, é aprendida no contato direto com profissionais vitoriosos ou
através do próprio contexto cultural. É por isto que, durante milênios, não
houve escolas profissionais dentro do sistema escolar. A escola profissional
nasce com a industrialização e o capitalismo, no momento em que a atividade
produtiva tornou-se o instrumento de estratificações sociais e de dominação
política. Ninguém pode entender a profissionalização sem estudar as CORPORAÇÕES
DE OFÍCIOS MEDIEVAIS” (p. 159).
“O sistema escolar tradicional é
uma força ligada ao status quo da sociedade. Não está a serviço do
momento histórico. Só numa sociedade científica o sistema escolar estaria a
serviço da evolução” (p. 159).
“A função da escola, entre
outras, é integrar os indivíduos em seu grupo social, sobretudo, criando
condições para que nele desempenhe um papel. O grupo é uma forma de organização
para a produtividade” (p. 160).
“Todas as forças que, dentro da
sociedade, têm como objetivo a conservação do status quo, são inimigos naturais do intelectual (não chamamos
‘intelectuais’ os que estão a serviço da estrutura). A consagração da
inteligência é quase sempre post mortem,
isto é, ocorre quando a sociedade,
em sua evolução, já assimilou a proposta que em seu tempo foi contestação” (p.
160). VIDE NIETZSCHE.
“Mas, Há dois tipos de escolas
(escolas fora do sistema) cuja função é desenganar seus alunos do processo
social comum, sobretudo, do mecanismo
de produção: a escola militar e o seminário religioso (no caso do seminário
religioso o desengajamento é tão drástico que seus alunos renunciam à função
reprodutiva, a mais elementar forma de sobrevivência: é como se o religioso se
educasse para a extinção biológica, ao renunciar à procriação). [...] a escola militar e o seminário religioso procuram produzir um cidadão, marcadamente,
diferente, regido por leis próprias (código canônico e os regulamentos
militares a que estão subordinados os demais cidadãos) com sua própria carreira
e com seus tribunais particulares. É como se fossem grupos paralelos com
organização própria” (p. 160, 161).
“Houve tempo, no Brasil, que,
praticamente, todas as lideranças políticas e empresariais eram constituídas de
ex-militares ou ex-seminaristas [...]” (p. 161).
“[...] sistemas paralelos que são, geralmente, omitidos pelos que analisam
o sistema escolar” (p. 161)
“As igrejas e os quartéis
(recrutas) funcionam como sistemas pedagógicos permanentes (talvez, o primeiro
modelo de educação permanente).
[...]? Nossas primeiras escolas superiores foram uma escola militar e uma escola
de guarda marinha. [...]? O positivismo que tanta influência teve na vida
brasileira não nos chegou por intermédio da ‘intelligentzia’, mas por vias
militares o que, provavelmente, é um fenômeno original no mundo” (p. 162).
A EXPERIÊNCIA DE COMUNIDADE tinha
a idéia de “trazer a comunidade à escola
e levar a escola à comunidade [...]” (p. 162).
“O diploma oficial é pois, uma
condição de sobrevivência profissional,
pelo poder mágico que possui de eliminar os concorrentes: não se pergunta se
alguém é competente, mas se é diplomado. A função dos Conselhos é garantir que os diplomas
sejam autênticos e que os cavaleiros
sagrados pelo feudo escolar não sofram concorrência desleal [...]” (p. 164).
“[...] ao longo da história:
quando, no Brasil, se fala em ‘reforma’, geralmente, se trata de ensino
secundário” (p. 167).
“Em 1827, ‘decreta-se’ a criação
(?!) de escolas primárias em todos os vilarejos (tudo em educação no Brasil
funciona por decreto)” (p. 168).
“O filho do ‘coronel’ saía,
diretamente, de seu latifúndio (mestre-escola) para o parcelado, o que explica
a ausência de um sistema escolar: é esta a origem de nossa mania pelos exames
[...]. Nunca cuidamos de construir escolas, mas regulamentar exames” (p. 168).
“Em 1942 [...], a ‘reforma’
Capanema, ainda ignorava qualquer ‘sistema’ municipal (ensino primários)
legislando que, para entrar no ensino médio, bastava um certificado, dado por
quem quer que fosse [...]” (p. 168).
“[...] o vestibular tem por fim descomprometer o poder público da eficiência
da escola média. O exame – como o batismo – apaga todos os pecados...” (p.
168).
“Com a expulsão dos jesuítas,
vimos fragmentarem-se os ‘colégios’ como unidades administrativas e pedagógicas
[...] passando-se ao regime de cadeiras (aulas régias) de gramática latina, retórica e grego
(financiadas pelo subsídio literário, espécie de ‘salário de educação’ daquela
época [...])” (p. 169).
A história da educação brasileira
assentou que o “único nível de escolaridade que não pode ser substituído por um
atestado ou exame, portanto, é o ENSINO
SUPERIOR” (p. 169).
“[...] a história da educação
brasileira girou em torno deste problema: justificar,
legalmente, a inexistência do ensino médio para que o ensino superior não
parecesse boiando no ar ...” (p. 169).
“Assim como o empresariado
derrubou – quando lhe pareceu útil (apesar do ‘imbróglio’ que criou para os
colégios públicos) – o exame de admissão,
derrubará, também, em futuro próximo, o vestibular
(atente-se para o explosivo crescimento do ensino superior privado, idêntico ao
do ensino secundário na década passada). Se o vestibular, numa certa altura, dificultar a obtenção de clientes
por parte da rede de escolas particulares, de nível superior ... um conselho
descobrirá a forma hábil eliminar o entrave ... E já começa a faltar clientela
nas faculdades isoladas do interior de São Paulo” (p. 171)!
“[...] a ideologia que preside a
organização escolar procura resolver sempre os problemas de ordem econômica
...” (p. 171).
“[...] o objetivo do Poder
Público é desobrigar-se de investir em educação” (p. 172).
“A unificação, agora, do curso
primeiro ciclo médio (ginasial) equivale à UNIVERSALIZAÇÃO DO ENSINO MÉDIO
(oito anos de escolaridade!) quando não se conseguira, até então, nem de longe,
a UNIVERSALIZAÇÃO do curso primário (quatro anos de escolarização)” (p. 172).
“Ora, todo planejamento moderno
de um sistema educacional baseia-se na universalidade, permanência e
gratuidade, extrapolando a idéia restrita de escola” (p. 173).
“Não podendo, portanto,
matricular-se no ‘sistema’, nem fazer exames antes de 18 (dezoito) anos ...
esta imensa população de párias permanecerá no LIMBO EDUCACIONAL... Estando
reservado o ‘sistema’ para os grupos etários que atinjam idade escolar (taxa de
3% de crescimento, os que não se escolarizaram em tempo oportuno ficam sem
chance até atingir 18 anos, quando se lhes abre a possibilidade de um exame ...
Sabendo que este grupo não tem proteção legal e que está num beco sem saída
(exame supletivo), os ‘cursinhos’ como uma matilha de lobos, cevam-se à vontade
de sua indefesa contingência [...]” (p. 175).
“É bom notar e dizer-se,
francamente, que o esforço de seriação não é louvável e humanístico esforço do
Poder Público para fazer do sistema escolar um processo geral de
desenvolvimento humano para toda a população, no período da infância, adolescência e juventude: as
escolas empresariais é que têm interesse em acabar com os mecanismos
burocráticos que permitem acesso aos vários níveis escolares, sem passar por
rígida seriação, donde provém a possibilidade empresarial de vender educação... tornando-se a
população escolar um mercado cativo,
fora do qual não há salvação” (p. 179).
UMA TRAVA CHAMADA “falta de maturidade presumida” (p.
181).
“Ora, a matrícula por disciplina
é uma regressão evidente ao sistema de PARCELADOS, medida que beneficia a todos
menos aos que recorrem ao exame supletivo...” (p. 182).
“A Fundação Nacional do Bem-Estar
do Menor (Sucessora do famigerado SAM – serviço de Assistência ao Menor – donde
saíram os mais renomados marginais-criminosos do país) é uma ‘fundação’ (a nova
forma de constituição do ‘sistema’) [...]” (p. 182).
“Se encontrássemos, na natureza,
uma espécie gregária que abandonasse seus filhotes, provavelmente, a
exterminaríamos sob o pretexto de ser uma degenerescência da biologia...” (p.
184).
“Diferentemente dos europeus e
americanos [...] os nossos pedagogos são mais legislativos que experimentais: o
nosso saudoso e iluminado Anísio Teixeira [...] quase nunca estava dentro das
escolas [...] preferindo cargos administrativos, sobretudo o INEP, onde brilhou
durante tantos anos, e de onde divulgou, no Brasil, a doutrina de seu amigo e
mestre americano Dewey, a ponto de o prócer americano passar a ser tema
programático das escolas normais do Brasil” (p. 185).
“A vida de Anísio Teixeira deve
ter sido um rosário de desilusões [...] não teve a satisfação de consolidar sua
obra, logo abalada pelos ventos da turbulência social: seu pecado capital era viver no futuro. Deixou, contudo, a ESCOLA
PARQUE de Salvador, o modelo da escola fundamental do futuro que vegeta
silenciosa para não provocar ciúmes à espera que chegue à espera que chegue seu
tempo” (p. 186).
“[...] Lourenço Filho, o
idealizador da campanha de alfabetização de adultos do período do ‘despotismo
esclarecido’ do Ministério da Educação e o reformador do ‘sistema’ educacional
do Ceará. O paulista, imberbe ainda, um dos líderes dos Pioneiros da Educação,
foi chamado pelo Governador do Ceará, com carta branca, para reformar a estrutura
educacional do estado (1921 [...] ano em que J. Piaget começou a publicar suas
obras de psicologia, a revolução einsteiniana da educação). Lourenço, com sua
ESCOLA NOVA, foi o autor absoluto e solitário de manual didático das escolas normais, durante décadas, lugar em que
as moças de boas famílias pensavam que estavam aprendendo a fazer a ESCOLA NOVA
(confundiam cartolina com motivação). Fernando de Azevedo, no Rio de Janeiro,
tem uma atuação equivalente e menos utópica. [...] Dewey, nos EUA, sem nunca ter
disposto de poder e sem nunca ter visto suas idéias transformadas em leis ou
‘pareceres’, determinou profunda revolução pedagogógica no sistema escolar
americano” (p. 186).
“[...] o ‘sistema’ oficial
mantinha-se, medievalescamente, inabalável (onze anos de ‘reforma’ CAMPOS e
vinte anos de ‘reforma’ CAPANEMA), mesmo quando a lei fazia proclamações
‘revolucionárias’: - o revolucionarismo da lei de DIRETRIZES E BASES nada
mudou, fundamentalmente, nos hábitos pedagógicos do ‘sistema’ escolar
brasileiro, visto que a inércia histórica foi mais poderosa que os acenos de
liberdade educacional a que se propunha” (p. 187).
“Com a equívoca vitória dos
‘pioneiros’ através da lei de DIRETRIZES
E BASES [...] – a mentalidade dos ‘pareceres’ tornou-se oficial através dos
CONSELHOS DE EDUCAÇÃO” (p. 187).
“[...] quem toma a si a tarefa de
dirigir, obriga-se a treinar, a supervisionar e a controlar, sob pena de a
direção transformar-se em farsa” (p. 188).
“O projeto, de inspiração
‘pioneirista’ (escola nova) e influenciado pela redemocratização, sofreu o
impacto de todas as forças tradicionalistas que conseguiram o milagre de reter,
por quase QUINZE ANOS (1948-1962), o projeto na Câmara” (p. 189).
“A partir da DIRETORIA DO ENSINO
SECUNDÁRIO, o Ministério da Educação mexeu-se, pela primeira vez, fora da área
de fiscalização” (p. 190).
“[...] a primeira vez que o
magistério nacional entrou em contato efetivo com o Ministério da Educação
[...]” (p. 191).
“As inspetorias seccionais foram
a primeira presença real do Ministério da Educação no território nacional” (p.
191).
“[...] GINÁSIO DE NOVA FRIBURGO (inspiração de Luiz Alves de Mattos e
Irene de Melo Carvalho, promotores n Brasil de um renascimento pedagógico pela
primeira vez, no nível de ensino secundário); GINÁSIOS VOCACIONAIS em São Paulo (liderados por Maria Nilde
Mascellani). (p. 192).
“Como a iniciativa particular não
vela pelos interesses públicos ... quem perdeu foi o povo brasileiro” (p. 193).
“20 – Sistema Radioeducativo
Nacional (SIRENA: – um dos ‘mass
media’ na educação)” (p. 194).
“1930 – Criação do Ministério de
Educação e Saúde – Dec. 19.402, 14 de novembro de 1930” (p. 195)
[...]
1931 – Reforma Campos – Dec.
19.890, 18 de abril de 1931
1931 – Obrigatoriedade
constitucional de despesas com educação – Dec.20.348, 28 de agosto de 1931.
1932 – Manifesto dos Pioneiros
(primeiros ideólogos de educação no Brasil)
[...]
1937 – Reorganização do
ministério da Educação – Ação Supletiva do Governo Federal – Lei nº 378, 13 de
janeiro de 1937” (p. 195).
“1938 – criação do INEP Dec.Lei
580, 30 de julho de 1938
1942 – Fundo Nacional do Ensino
Primário – Dec.-lei 4.958, 14 de novembro de 1942
[...]
1954 – Projeto Nestor Jost
1955 – Projeto nº 419-55
(DIRETRIZES E BASES: andamento)
1957 – Projeto nº 2.222-C
(DIRETRIZES E BASES: andamento)
[...]
1961 – Lei de DIRETRIZES BASES
(20-12-61) aprovação do projeto” (p. 196).
“*** Projeto Nestor Jost (Lei
4.132) – Reforma do Ensino Secundário
que se antecipa à lei de DIRETRIZES E BASES” (p. 199).
“***
Lei de Diretrizes e Bases (Lei 4.024, 20/12/61)
– Aprovação” (p. 201).
“*Comissão de Cultura Popular
(23.7.63) (Alfabetização)
MEB – Educação de Base (alfabetização” (p.
201).
“*** Unificação das Diretorias do
Ensino Sec. Comercial e Industrial em torno do Ginásio Moderno (Port. 347 –
16.9.63) (Diretoria do Ensino Fundamental) (p. 202).
“Plano Estratégico de
Desenvolvimento (1968-1970) (p. 203).
“Nesta altura (1968) [...]
inicia-se a regência do Conselho Federal
de Educação” (p. 203).
“* Plano Trienal de Educação
(5.2.64) (p. 202).
“[...] a figura modesta, mas
atuante e renovadora de Armando Hildebrand [...] renovador das estruturas do
MEC no compasso de espera da lei de Diretrizes e Bases, como inspirador remoto
da atual reforma ‘profissionalizante’, pois foi ele quem fez o Ensino
Industrial tornar-se uma modalidade respeitável de educação no Brasil [...]”
(p. 204).
“[...] a aprovação da LDBEN
(1962) que destrói a liderança do MEC e reintroduz a mística da privatização da
privatização na educação nacional”
(p. 205).
“O melhor da LDBEN não foi a
aprovação do projeto, mas a memorável ‘campanha em defesa da “escola pública’
promovida a partir do Estado de São Paulo (jornal) liderada por Roque Spencer
Maciel de Barros, Almeida Júnior, Fernando de Azevedo e, sobretudo, pelo aguerrido
Florestan Fernandes e sua equipe que percorreu o país de sul a norte, numa
agitada campanha cívica [...]. Foi mais uma ocasião de ‘politização’ [...]. Foi
quando emigramos para a popularização do sistema escolar até então extremamente
elitista e ‘pedagogizante’. Pela primeira vez, na história do Brasil, os
problemas de educação foram objeto de uma campanha popular, pondo-se em dúvida
o privatismo dominante (quase 90%
das escolas secundárias eram particulares)” (p. 208).
“[...] nem eles, ‘os pioneiros’,
quando organizaram os sistemas educacionais dos estados, deram importância
descentralizadora aos MUNICÍPIOS [...]. O desentralismo que pregavam era,
apenas, a vingança dos estados contra o poder central: nada tinha a ver com a
liberdade de ensino” (p. 208).
“[...] a lei de DIRETRIZES E
BASES implicou, sumariamente, na destruição do MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, como
órgão orientador, fiscalizador e estimulador da educação nacional, transferindo
seu poder para o CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO e para as SECRETARIAS DE EDUCAÇÃO
DOS ESTADOS” (p. 208).
“[...] a lei de DIRETRIZES E
BASES começou a atuar, dentro do ministério da educação, muito antes de ser
aprovada pelo Congresso [...]” (p. 209).
“O controle da pulverização das
verbas orçamentárias destinadas à educação nacional passou a ser denominado de
‘despotismo’ do Ministério da Educação...” (p. 211).
“[... não houve uma única escola
média do país (eram mais de 4.000) que optasse pela descentralização (‘estadualização’)! Como se vê, o problema não era
pedagógico, mas, estritamente, econômico...” (p. 213).
“[...] quando o fenômeno legal
não se apóia no fenômeno social, não tem importância a forma e o conteúdo da
estrutura artificial que a lei cria, como não se exige adequação entre a
fantasia e a realidade. A LDBEN teve, pois, como efeito exclusivo a
privatização do ‘sistema’ escolar através dos conselhos” (p. 213).
“A LEI de DIRETRIZES e BASES
consagrou a já existente Lei de
Equivalência (política iniciada em 1950 e 1953)) entre os cursos
profissionais e o secundário, sem nada
inovar, salvo no detalhe pitoresco de determinar que as escolas técnicas
comerciais e industriais passassem a denominar-se ‘ginásios’ e ‘colégios’
(nossa mania de transposições semânticas). [...]. Foi a Lei de DIRETRIZES e
BASES que firmou, no Brasil, realmente, o conceito de ENSINO MÉDIO (iniciado
pela reforma do ensino secundário (Nestor Jost – 1954) e concretizada pela
portaria 347, 16-09-63, apesar de a lei trazer ainda capítulos especiais para
cada ramo de ensino” (p. 214).
“Uma escola profissional é
sempre... uma escola profissional,
diga o que se disser” (p. 215).
“O que determina a viabilidade
das leis e a habilidade dos pareceres não é sua legalidade, mas as pressões
sociais e econômicas. Com a ampliação da rede de escolas secundárias públicas,
as escolas particulares descobriram que o exame de admissão era
antipedagógico... abolindo-o! Os mesmos autores do parecer de liberação da
entrada no ensino médio, incoerentemente, tornaram-se paladinos do VESTIBULAR
(o obstáculo, à entrada no ensino superior) – hoje o ponto nevrálgico do
‘sistema’ educacional brasileiro – o que prova que os pedagogos podem ser
simples joguetes dos fatos sociais e políticos: se as barreiras entre ciclos
são antipedagógicas, são-no para todos
os casos” (p. 215).
“O vestibular é comprovação de
que toda escolaridade, do pré-primário ao 2º ciclo, não tem fidedignidade, pois
se tivesse, a seleção se faria pelos resultados escolares (se é que deve haver
seleção) ... Os exames funcionam como reguladores do fluxo ascedente dentro da
pirâmide escolar: quando há vaga, deixa de haver exame...” (p. 216).
“Enquanto o EXAME for o
instrumento de controle (numerus clausus)
do sistema, o sistema vive e desenvolve-se em função do EXAME [...]” (p. 216).
“[...] (§ 3º do art. 35 – o
currículo das duas primeiras séries do 1º ciclo será comum a todos os cursos de
ensino médio ... Este parágrafo (inspirado na reforma do ensino secundário que
os técnicos do MEC fizeram em 1954, não só realmente unifica, finalmente, o
ensino médio (pelo menos na base), como cria um SUBCICLO (além do primário
(ginásio), de quatro anos, e o segundo (colégio) de três anos: ver Portaria
347, de 16-09-63)” (p. 217).
“[...] a Lei de DIRETRIZES E
BASES (e antes dela a Lei 4.132/54 – projeto Nestor Jost) previa um TRONCO COMUM constituído pelas duas primeiras séries: a infelicidade
foi dar um nome novo a este ‘tronco comum’, nome que não existia na lei. [...].
Ao que parece, escandir os períodos de escolaridade em pequenas fatias é sempre
uma solução mais objetiva no caso brasileiro, mesmo porque estas divisões,
nenhum interesse pedagógico apresentam: é mera política de ESCOLARIZAÇÃO” (p.
217)
“A legislação atual preferiu
‘primarizar’ o curso ginasial todo, num curso
fundamental de oito anos, o que obrigaria, se as leis fossem para ser
cumpridas, o Poder Público a dar oito anos de escolaridade básica a toda a
população brasileira (obrigatoriedade determinada pela lei de 7 (sete) a 14
(quatorze) anos [...] ... O aumento da escolaridade obrigatória, em toda parte,
cresce lentamente, estritamente correlacionado com o crescimento do produto nacional bruto. Não se resolve
isto com decretos” (p. 218).
“[...] tendência
‘profissionalizante’ predominante no MEC [...]” (p. 218).
“A idéia de um ensino médio
unificado, pelo menos no primeiro ciclo, era uma aspiração de todos, naquele
momento, e hoje seria heresia pensar o contrário” (p. 219).
“Determinando a lei que a
‘autorização’ e a FISCALIZAÇÃO (como os conselheiros fariam isto,
perguntava-se, então) caberiam aos conselhos e não havendo dispositivo legal na
lei que impusesse fiscalização aos estabelecimentos de ensino médio (o
parágrafo 2.º do art. 16 que a isto se referia foi vetado), toda a rede de
escolas secundárias considerou-se ipso facto, livre de qualquer controle
governamental, com a vantagem de os conselhos estaduais, de que passariam a
depender agora, serem constituídos, obrigatoriamente, com a participação de
representantes das escolas particulares. Esta autonomia lhes era concedida sem
perda dos direitos e compromissos jurídicos decorrentes da equiparação [...]” (p. 219).
“Cada escola tornou-se um pequeno
feudo [...]. A autonomia com equiparação
foi reforçada por inúmeros dispositivos em que o poder Público ficava obrigado
a também manter as escolas privadas fornecendo auxílios [...]” (p. 219).
“No período de 1953-1956
começara-se a reciclagem [do] pessoal [...] preparando-se o MEC para contar com
um grande contingente de especialistas [...] mediante as 40 inspetorias
seccionais. A destruição do corpo de inspetores
era o corolário da privatização” (p.
220).
“Não dispondo de um quadro
próprio o MEC se vê forçado a aliciar pessoal para cada iniciativa que toma
[...]” (p. 220).
“Aparece, pela primeira vez, numa
lei de reforma do ensino, longo e minucioso capítulo sobre RECURSOS PARA
EDUCAÇÃO com o que se institucionalizam os três (prmário, médio e superior)
FUNDOS DE EDUCAÇÃO, criados antes da Reforma (1954), pomo de discórdia da longa
tramitação da lei. A distribuição dos recursos dos FUNDOS passa a ser feita
pelos conselhos, retirando-se finalmente, ao ministério da educação, qualquer
iniciativa, reduzido que ficou a uma pedagoria.
Assim o MEC é a única secretaria de estado que não pode planejar a aplicação de
seus próprios recurso” (p. 221)!
“Dentro do regime escolar
brasileiro, o ano letivo e a seriação não são destinados a propiciar
experiências enriquecedoras ao educando. De fato, pode-se dizer que as
atividades escolares são ‘exames a longo prazo’, pois, em última análise, o que
valem são seus resultados. A vida escolar brasileira gira em torno das notas e
da reprovação. Os professores não educam: expõem os ‘pontos’ do próximo
exame...” (p. 225).
“Hoje, estamos convencidos de que
o EXAME DE MADUREZA deveria ser a permissão de matrícula, segundo a idade em
qualquer série (no ensino médio, de caráter geral), de modo que o candidato se reencontrasse na escola com
sua faixa etária” (p. 226).
“[...] a alusão aos INSTITUTOS e
à AUTONOMIA DIDÁTICA, ADMINISTRATIVA, FINANCEIRA E DISCIPLINAR, criaram a
infraestrutura para o surto de criação de universidades que de então a esta
parte ocorreu; algo parecido com a explosão, na década anterior, das escolas
secundárias (500%)” (p. 226, 227).
Com a explosão do nível superior,
“transferiu-se a ‘livre empresa’: a ‘livre empresa sabe sempre onde há
oportunidade de bons lucros, daí nunca ter-se interessado pelo curso
primário...” (p. 227).
“Aliás, a explosão do ensino
superior é a consequência natural da explosão do ensino secundário na década
anterior: os ex-alunos da escola média querem agora a universidade...” (p.
227).
“Todo o surto espetacular do
ensino superior atual deve-se à capacidade dos empresários de detectar as
carências da administração pública em matéria de serviços comunitários. [...].
Quem sofre duro golpe com esta explosão é a renda familiar que é bitributada
com as despesas de manutenção da rede privada...” (p. 227).
“[...] Pedro II fundou a Escola
de Engenharia de Ouro Preto (Profissionalização), com o que fica salva a honra
de setenta anos de império, justamente, os mais graves do mundo ocidental
(1822-1889) (p. 227).
“Um fenômeno [...] é que, apesar
de termos iniciado nosso sistema escolar com os seminários dos jesuítas e tendo sido a luta pela seriação a tentativa de abolir o pragmatismo utilitarista dos
parcelados para construir uma escola média ‘formadora de personalidade’
(desinteressada) – o que a lei só conseguiu estruturar na ‘reforma’ Capanema –
é estranho que nossa tradição [...] seja a da escola profissional! A Antiguidade e a sobrevivência dos LICEUS DE
ARTES E OFÍCIOS (criados como abrigos de deserdados), prova isto,
acrescentando-se que as nossas mais antigas faculdades são as de AGRONOMIA (e
são elas, também, as mais bem montadas): D. João VI cuidou, apenas, de abrir
escolas superiores, estritamente profissionais (salvo a de Belas Artes, mais
uma homenagem a um artista da Corte). O Ministério da Educação constituíra-se
já com diretorias de ensino técnico
e antes da lei de DIRETRIZES E BASES já incentivava, no ensino secundário,
‘artes industriais, comerciais e agrícolas” que apareceram na nova lei com o
nome de ‘prática educativa vocacional’. A própria lei Capanema previa uma
disciplina denominada ‘trabalhos manuais’ (e economia doméstica). Assim, o rumo
profissionalizante da atual legislação não é tão revolucionário como parece, à
primeira vista: retoma velha tradição pragmatista consequente do cuidado da
metrópole em evitar o desenvolvimento de reflexões heréticas... [...]. As
primeiras escolas públicas de ensino médio foram as escolas normais
(profissionais para moças). Rui Barbosa propunha manualizar o Pedro II, mesmo
antes de abolir-se a escravatura no país. Nunca tivemos universidade,
justamente porque esta instituição não é profissional [...]. A única rede de
escolas federais de ensino médio foi sempre uma rede escolas profissionais
(escolas técnicas). As ‘humanidades’ nunca foram preocupação do Poder Público,
vez que nosso Poder Público teve sempre cunho colonial [...]. Como grande
contingente do povo brasileiro é descendente de índios e escravos, o Poder
Público sempre tratou o povo como constituído de seres inferiores, [...]. O
intermezzo da Lei Capanema foi uma anomalia explicável pela regressão
ideológica própria do fascismo, fazendo confluir o arcaísmo metropolitanos de
caráter colonial-mercantil, com o arcaísmo ideológico de caráter
autoritário-elitista” (p. 228).
“A grande tarefa histórica da educação nacional é homogeneizar,
culturalmente, a população para que todos os habitantes (100 milhões) sejam
considerados cidadãos... e possam participar nas decisões nacionais [...]”
(p. 229).
“Se é verdade que os Jesuítas
tiveram influência decisiva na Reforma Capanema, a LDBEN não foi bastante forte
para exorcisar esta presença” (p. 231).
“A lei 5.692-71 não revoga in totum a LDBEN, pretendendo ser um
enxerto em sua estrutura [...]” (p. 232).
“A Reforma-1971 é uma retomada
dos ‘tecnocratas’, mas agora num clima diametralmente oposto ao que reinava de
1948 a 1956... Os tecnocratas da fase anterior atendiam ao objetivo da
popularização do sistema escolar, em vista de uma modificação dos ‘marcos
institucionais’ [...]” (p. 232)
“A palavra ‘trabalho’ tem
conotações diferentes tem conotações diferentes na boca de um economista, de um
sociólogo ou de um pedagogo: para o primeiro,
o termo lembra ‘canteiro de obra’ e ‘mercado de trabalho’; para o segundo, o termo envolve classes
sociais’ e ‘estruturas do poder’; para o terceiro,
a expressão significa ‘realização pessoal’ e ‘participação no processo
construtivista’ (para o pedagogo a perspectiva é sempre futurológica [...]” (p.
235) TEMA E SIGNIFICADO.
“Supor que com cargas horárias salva-se o humanismo
frente à antropofagia tecnológica é de uma ingenuidade que humilha a
‘intelligentia’ crioula” (p. 236).
“O que a lei determina e o que os pareceres interpretam não mudarão o
curso dos fatos” (p. 237)
“[...] as leis sem base
sociológica nunca são cumpridas” (p. 238).
“O grau de desenvolvimento
tecnológico é que determina as profissões de um contexto sociocultural” (p.
238).
“[...] ‘currículos mínimos’ são
facas de dois gumes. Feitos, normalmente, para garantir ‘padrões’, podem
implicar em obstáculo intransponível para a ‘invenção tecnológica’, hoje tão
fluida e polivalente” (p. 239).
“Uma saturação profissionalizante
em mãos inábeis pode comprometer o próprio desenvolvimento bio-psicológico da
juventude (p. 240)!
“[...] não é provável que a
empresa capitalista se disponha a engajar-se num processo de interesse
humanístico que pode minimizar seus lucros e transformá-la num serviço
comunitário” (p. 240).
“[...] nos países altamente
industrializados, abandona-se o taylorismo
e as linhas de produção para
integrar o operário numa atividade
diversificada que lhe restitua a consciência de pessoa humana (o que se
faz, menos por ‘humanismo’ que por exigências de produtividade!) (p. 243).
“[...] (o despotismo não é menos
despótico porque é exercido por uma assembleia) ...” (p. 244).
“O que determina o ‘currículo
mínimo’ (por que ‘mínimo’ ?!) de uma profissionalização é o engajamento do
indivíduo no sistema de produção” (p. 244)!
“[...] Roosevelt (new deal) – este Getúlio Vargas dos
Estados Unidos [...]” (p. 245).
“Se um grau de ensino é superior
ao outro, não o é porque cada grau deva ter um currículo específico; não há
disciplina ‘superior’ a outra: o tratamento operacional diversificado de cada
disciplina é que determina seu nível, se nível deve haver”. [...]. O legislador
preferiu pois uma divisão trialista: a)
um curso fundamental de oito anos
1.º ciclo); b) um curso médio de três ou quatro anos (2.º
ciclo) e c) um curso superior com três ciclos (básico, graduação, e
pós-graduação)” (p. 249).
“[...] quando a Constituição diz
que o curso primário (de quatro anos, quando a Constituição foi votada) era
obrigatório de 7 (sete) a 14 (quatorze) anos, não quis (todos sabem disto!)
dizer que o curso primário deveria ter oito anos: tanto é assim que ninguém, em
todos estes anos, interpretou, desse modo, o texto constitucional: quis dizer,
[...], que o jovem poderia fazer o curso primário (de quatro anos), enquanto
estivesse na faixa de 7 a 14 anos [...]. O preconceito constitucional não
pretende que a criança fique escolarizada de 7 a 14 anos (durante 8 (oito)
anos). A intenção do legislador foi que não se negasse oportunidade educacional
ao adolescente alegando-se a idade” (p. 249).
“[...] a formação da inteligência
hipotético-dedutiva e do pensamento proposicional, período que se estende pelo
resto da vida mas é mais intensamente ‘filosófico’ e ‘metafísico’ entre 11/12 e
13/14 anos” (p. 251).
“[...] a terminalidade (pelo
menos sempre foi assim) se caracteriza pelo fechamento de um ciclo bem nítido.
Estes ciclos são determinados por um balanço entre as exigências do crescimento
biopsicológico (1), as disponibilidades orçamentárias (2), as pressões sociais
manifestadas pelo índice de evasão (3), o nível sociocultural das populações
(4) e a política governamental de escolarização (5). O legislador optou por
três terminalidades: uma no fundamental,
após 8 (oito) anos de escolaridade (para adolescentes de 14 anos de idade), uma
média, após 11 (onze) anos de
escolaridade (para jovens de 18 anos) e uma superior, após 18, 19 ou 20 anos. Poucos países no mundo
conseguiram até aqui fazer tão distanciados e longos os ciclos com
terminalidade...” (p. 251).
“Transposta a idade de 7 (sete)
anos em que a criança adquire as conservações
lógicas (J. Piaget), segue-se um período de cerca de quatro anos
(justamente, o que correspondia ao primário) em que elabora, psicologicamente,
as operações concretas” (p. 252).
“É indébito, ao que parece,
exigir-se uma escolaridade universal e gratuita de oito anos, se o país não
conseguiu ainda, nem parece estar perto disto, uma escolarização universal e gratuita de quatro anos. [...] A
obrigatoriedade, pois, evidentemente, é uma ficção legal e a própria lei cria a exceção universal para não
frustrar a população e não constranger o Poder Público...” (p. 253).
“Todo este esforço anônimo e
quase clandestino de escolarização primária, muito adequado a um país com
enormes problemas de escolarização, fica perdido, tendo o sistema que abrir
vagas para todos a partir da primeira série fundamental [...]” (p. 253).
“A estrutura física do ‘sistema’
parece que não foi tomada em consideração pelos reformadores. Os problemas
financeiros e administrativos que um curso fundamental de 8 (oito) anos trará
para o ensino municipal são insuperáveis, conhecendo-se a precariedade do
ensino elementar fornecido pelas prefeituras” (p. 255) LEI DO FUNDEB E APORTE
FEDERAL ENCAMPAM O ESFORÇO MUNICIPAL COM EDUCAÇÃO.
“[...] manejo de matrículas que
implica na reestruturação completa da administração [...]” (p. 255).
“Como o corpo docente do primário
continua no ‘primário’ (quatro primeiras séries do fundamental) e o do ginasial
no ‘ginásio’ (quatro últimas séries do fundamental) não parece ter havido a tão
falada integração: afinal, que foi
esta integração, se os professores são os mesmos, os livros são os mesmos, a
escola é a mesma?! Se existe uma classe de professores que só pode ensinar até a 4ª série (o próprio legislador traiu-se ao
admitir isto) é que existe um ciclo
autônomo, bem antigo e bem caracterizado (a supressão do exame de admissão já tinha feito tudo
que era possível em matéria de ‘integração’). Se nas primeiras quatro séries o
processo é de regente de classe e
nas quatro últimas o regime é de corpo
docente... como convencer a clientela de que há um ciclo fundamental integrado?! Nas quatro primeiras séries continua
a fluidez de matrícula tradicional no curso primário (pegar o bonde andando:
matrícula na série determinada por um exame prévio). Nas quatro últimas,
continua o rígido regime de promoção serial mediante exames finais (comprovação
burocrática de aprovação na série anterior). Como não nos convencer de que se
trata de dois ciclos?! O quê, afinal, caracteriza a integração? (p. 257).
“[...] a escola americana
apresenta vasto elenco de créditos
possíveis [...]. O sistema napoleônico francês (1808), característico das
sociedades fechadas, hoje marcadamente gerontocrata,
é tradicionalmente cartorial [...]. Nossa tradição é, acentuadamente, francesa.
Mas, a partir da LDBEN, tentamos ‘americanizar’ nosso processo, à revelia do
tipo de sociedade em que vivemos” (p. 257).
“[...] (as resoluções
correspondem às antigas portarias do Ministério da Educação, no tempo do
‘despotismo esclarecido’) [...]” (p. 258).
“O que se espera de um conselho é
[...] que humanize as soluções adaptando-as às circunstâncias e às pessoas
[...]” (p. 260).
“[...] as cortes americanas geram
o próprio direito positivo” (p. 258).
“Se a lógica fosse capaz de
abarcar todas as hipóteses do vivencial
... teríamos o regime ideal em que a norma
comportaria a própria vida” (p. 259).
“As matérias escolhidas pelo
estabelecimento e aprovadas pelo Conselho eram denominadas na LDBEN de
‘optativas’ [...]” (p. 259).
“Estas matérias vão-se
transformar, para efeito digestivo, em DISCPILINAS, ÁREAS DE ESTUDO E
ATIVIDADES, que o regulamento relacionará, ordenará [...]” (p. 259).
“Não se deve, pois, [...]
confundir ‘formação geral’ com ‘núcleo comum’ e ‘formação especial’ com ‘núcleo
diversificado’ ...” (p. 260).
“O ideal do cientista social é
por é pôr os fenômenos sociais sob controle” (p. 261).
“[...] que o critério de remuneração seja feito mediante avaliação da qualificação,
incentivo que, ‘se pegar’, como dizem os brasileiros, levará todo o magistério
primário às faculdades de educação” (p. 261).
“A lei não resolveu o problema
crônico do formado em pedagogia: ele continua sem saber que matéria deve
ensinar fora do quase extinto curso normal [...]. Não se sabe porque o curso de
pedagogia foi elevado ao nível de FACULDADE DE EDUCAÇÃO se seus diplomados não
sabem onde exercer a profissão...” (p. 262).
“O magistério é a pedra de toque
dos sistemas escolares [...]” (p. 263).
“[...] Lei 5.692 [1971] (Reforma
do Ensino) e o Decreto Federal 71.244 [1972] (Auxílio Financeiro) não estão
sendo cumpridos pela maioria dos governos estaduais” (p. 264).
“Estas 2.200 horas do ciclo serão
divididas entre educação geral e educação especial. A educação geral compreende
o seguinte núcleo comum: 1) língua
portuguesa, 2) literatura, 3) história, 4) geografia, 5) matemática,
6) física, 7) biologia, 8) química
[...]” (p. 266). AUSÊNCIA DE ARTES, FILOSOFIA E SOCIOLOGIA, por exemplo.
“[...] b) como os professores têm
uma cota de 25% tolerável de faltas; c) como os alunos também podem usar 25% do
tempo total para infrequência (mais de 250 (duzentas e cinquentas) horas
durante o ciclo) [...]”, agravam também problemas de redução do ano letivo que
ocorrem quando o dia letivo coincide com feriados ou situações atípicas e “(quem
vive dentro das escolas conhece estas incríveis coincidências)” (p. 266).
“[...] resolução n.º 2, de
27-1-72, ao estabelecer o mínimo
exigível para a habilitação profissional [...]” (p. 266).
“Há sistemas escolares no mundo
que, [...], exigem 240 dias letivos com 8 (oito) horas diárias (quase 2.000
anuais), num total de 6.000 num ciclo de três anos” (p. 267).
“Se o país tem recursos para
manter a juventude toda escolarizada, deve fazê-lo [...] em termos de educação geral, tomando-se este termo
no mais amplo sentido semântico que pode chegar ao extremo de eliminar qualquer
conteúdo prático em vista do desenvolvimento
da inteligência” (p. 268).
“[...] (nunca esquecer, porém,
que toda solução profissionalizante é emergencial). O que quase ninguém procura
entender é que há soluções pedagógicas para um momento emergencial (carreiras
curtas) que do ponto de vista de uma política humanista perene e do ponto de
vista da problemática do conhecimento científico são condenáveis, mas são o mal
menor (estado de guerra). O trágico é propor como perene o que seria
justificável numa emergência...” (p. 269).
“[...] histórica discriminação
entre ensino acadêmico (para os
privilegiados) e ensino profissional
(para os deserdados)” (p. 270).
“Ora, ocorre que o sistema
escolar que vinha sendo montado era discriminador: a) escolas acadêmicas para os economicamente favorecidos e b) escolas profissionais para as classes
desfavorecidas” (p. 270).
Lei 5.692 (p. 274, 275 e 276).
“[...] as crianças subnutridas
recebem a MERENDA ESCOLAR, a mais
arrojada iniciativa didática do país, pois, hoje se sabe que a fome é o fator
básico determinante da frenagem do desenvolvimento mental” (p. 278).
“[...] só os estados de São Paulo
e Paraná podem, realmente, vangloriar-se de possuir um sistema escolar de nível
médio de caráter público)” (p. 278).
“A lei de Diretrizes e Bases de 1961 [...]” (p. 279).
“É na área do ensino médio que se
discutiu sempre, tradicionalmente, problemas transcendentes como os de humanização, de pessoa humana, de formação
de personalidade, da cultura geral,
tolerando-se, neste nível, a profissionalização,
como um mal inevitável por conta das estratificações sociais e da divisão do
trabalho numa sociedade de classes. [...] universidade era, apenas uma forma de
aglutinação administrativa para, por exemplo, dar maior autonomia às faculdades, estas, sim, a unidade básica do ensino superior” (p. 280).
“Dois fenômenos [...]: a) a expansão incontrolável do ensino superior [...]; b) a diversificação de objetivos, entre os quais, além do ensino, pesquisa [...]. A introdução da
pesquisa subverte a sacralidade escolar do ensino superior, fazendo-o vir ao
rés-do-chão dos problemas comunitários (e pesquisa exige a presença dos catedráticos
no laboratório) ... Como os catedráticos sempre estiveram mais preocupados com
suas clínicas e escritórios, para eles era um absurdo o tempo integral que a atividade de pesquisa exige: daí ser tão
difícil reformar o ensino superior. No fundo das objeções, por mais mascaradas
que estejam, está o protesto contra a extinção de uma honorífica sinecura...” (p. 280).
“Se lembrarmos por exemplo, que a
BIBLIOTECA foi sempre o núcleo inspirador da ‘alma mater’ da universidade
americana, podemos imaginar que nossa ‘reforma’ universitária não deve ter nada
de reforma, mas de construção [...]”
(p. 280).
“Como os elaboradores da reforma
do ensino médio são os mesmos da reforma universitária [...] temos, pela
primeira vez, um SISTEMA MONOLÍTICO que vai da primeira série primária aos
cursos de pós-graduação, com a mesma estrutura burocrática e a mesma filosofia
pedagógica (profissionalização)” (p. 281).
“A Reforma Capanema [...] não se
aventurou a remanejar o ensino primário e as escolas de formação de professores
primários, competência tradicional dos estados, nem afrontou os latifúndios das cátedras
universitárias, fortaleza medieval em que esbarravam todas as tentativas de
reforma do ensino superior e núcleo atual de resistência passiva na implantação
da reforma” (p. 281).
“A criação dos departamentos e,
principalmente, dos CENTROS, completa esta desfeudalização [..]. A matrícula
por disciplina – quebrando a estrutura tradicional da CLASSE – completa a destruição da faculdade, o próprio símbolo da
profissionalização” (p. 282).
“Se os ‘cursinhos’ não só são
tolerados, mas, de certa forma, estimulados (tipo de prova adotado no
vestibular), é que a política governamental não é desestimular a entrada no
curso superior, como dizem as más línguas. O vestibular ‘classificatório’ é
outra prova de que o máximo de candidatos deve ser matriculado no ensino
universitário para que não pressionem o Poder Público por ‘mais vagas’ ...” (p.
284).
“Quanto aos resultados do
vestibular, a ninguém ilude a mudança de
nomenclatura de ‘excedente’ para ‘não-classificado’, mais um recurso
semântico que só pode enganar a um processualista [...]. A solução
classificatória que visava a eliminar, processualmente, o excedente,
transformou-se num rebaixamento do nível intelectual dos candidatos, segundo as
lamúrias que se ouvem dos que acreditam no poder mágico dos exames para
selecionar os ‘ótimos’ (muito ‘ótimos’!) ...” (p. 285).
A Universidade de Brasília pretendia ser, na sua implantação, o
coração e o cérebro culturais da nação. [...]. Nasceu como ‘fundação’ com o
propósito de subtraí-la ao anacronismo colonial do código dos servidores e do
código de contabilidade públicos: foi, justamente, esta ambição seu
calcanhar-de-aquiles...” (p. 286, 287).
“[...] CICLO BÁSICO, esta
insistente repetição cíclica das frustrações pedagógicas com relação ao ciclo
anterior (o primário é reciclado no ginasial, o ginasial, no colegial e o
colegial, no superior)” (p. 287).
“No ensino superior, pois, a
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA passou a ser o modelo que, com variações
circunstanciais, serviu de referência para a REFORMA UNIVERSITÁRIA (em plena
gestação) [...]” (p. 289).
“O ponto nevrálgico da
reestruturação administrativa é a destruição das velhas cátedras universitárias
e sua substituição pelos DEPARTAMENTOS, a unidade básica de administração
[...]” (p. 290).
“Com a remoção da cátedra, vai de
roldão a congregação das faculdades, esta espécie de senado das corporações
profissionais. [...]. O Departamento que serviu para derrubar as cátedras, vai,
por sua vez, perder a autonomia para os conselhos centrais ... estes, sim, os
substitutos das faculdades” (p. 290).
“A fragmentação das FACULDADES DE
FILOSOFIA, cujos cursos foram dispersos pelos institutos e em algumas
faculdades sobreviventes [...] removeu um núcleo universitário que incomodava
as demais faculdades [...]” (p. 290).
“A idéia de cursos completos,
contudo, matriz da organização em faculdades isoladas, não foi superada, já
pela necessidade de proteção das corporações profissionais’ (privilégios do
diploma), já pela desconfiança do legislador brasileiro nos administradores das
escolas (currículo mínimo) [...]... Fala-se, no Brasil, muito, contra a
estatização, mas dificilmente, encontraremos um país no mundo em que haja tanta
lei regulamentando tudo, o que é a forma mais bizarra de ‘estatizar’: o Estado
não assume compromissos e não têm deveres: condiciona,
permite, proíbe, disciplina e fiscaliza a atividade ‘privada’ (e a sua
própria!), mesmo para que isto (é o caso do ‘sistema’ educacional!) não
disponha de quadros. [...]. A obrigatoriedade escolar é a mais típica e
pitoresca destas ‘estatizações’ burocráticas: obriga-se a escolarização
universal e gratuita mesmo sabendo-se que não há escolas para este ‘dever’ ser
cumprido, nem condições socioeconômicas para que os cidadãos a cumpram, donde a
própria lei criar exceções que redundam na anulação, pura e simples, da
obrigatoriedade” (p. 291)! VIDE AS BRECHAS E FALHAS NO TRANSPORTE ESCOLAR, NA
AINDA POSSIBILIDADE DE PROFESSORES QUE LECIONAM DISCIPLINAS PARA AS QUAIS NÃO
ESTÃO ACADEMICAMENTE HABILITADOS.
“[...] (o ‘humanismo’ aparece
como ‘produto industrial’ do próprio funcionamento, em vista de um ‘consumo
futuro’: preparação para a vida!)” (p. 294).
“[...] a hominização do homem se faz pela cooperação no esforço da construção
do equipamento coletivo [...]. O desaparecimento da ‘turma’, pois,
transforma a universidade num self service
onde não lugar para um almoço com bate-papo: ninguém se encontra com ninguém” (p. 292)!
“A vida do universitário
americano é tribal, apoiando-se no dormitório e no restaurante coletivos, confinada do ponto de vista
do intercâmbio com a comunidade, mas, internamente, rica de atividades sociais,
inclusive do ponto de vista sexual” (p. 293).
“A vocação de autoritarismo que
herdamos da Colônia permanece intacta, tanto dentro da classe (o professor pode
destruir a carreira de qualquer aluno) quanto nas linhas administrativas [...]”
(p. 296, 297).
A CARÊNCIA DE PESQUISA NO SEIO DA
UNIVERSIDADE BRASILEIRA É OCASIONADA POR UMA TRADIÇÃO HISTÓRICA: “ensinar era,
simplesmente, fazer uma retrospectiva do saber acumulado (professor era
sinônimo de erudito!)” (p. 299).
“A autonomia universitária não é concessão que se faça: é a própria
natureza desta instituição que tem suas raízes na noite medieval. Onde a
universidade não for autônoma ... suspeita-se de que se trata de mera
contrafação. A universidade nasceu como um ‘sindicato’ de estudantes (Bolonha)
ou como uma ‘corporação’ de professores (Paris). Fora desta concepção de
autonomia, a universidade se transforma em ‘corporação de ofício’ em que se
preparam os aprendizes para os misteres da produção. [...]. Sem autonomia não
pode haver criatividade: só tem o
privilégio de criar quem tem permissão para errar: onde a preocupação com o
‘erro’ é muito grande ... a criatividade se estiola (por isto os publicitários
usam tanto a chamada ‘tempestade cerebral’ e os artistas quebram todos os
constrangimentos dos ‘bons costumes’ – a criatividade, em moral, chama-se pecado). Como nossa universidade é apenas
um fedelho que não tem ainda quarenta anos de história, não se sente nela esta
necessidade básica de liberdade, limitando-se mestres e alunos à aprendizagem
de ofícios [...]” (p. 301).
O PROBLEMA DA UNIVERSIDADE
DEPENDER DE FINANCIAMENTOS DE EMPRESAS PRIVADAS QUE SUJEITAM INTERFEREM NA
AUTONOMIA DIDÁTICA, DISCPLINAR E FINANCEIRA UNIVERSITÁRIA E NA PRODUÇÃO
ACADÊMICA (p. 302, 303).
“Os cursos de curta duração estão criando sérios problemas nas Associações de Classe encarregadas de
proteger os privilégios dos diplomados, assim como se um novo rico quisesse frequentar as famílias tradicionais... Os
legisladores esqueceram de que o diploma é uma espécie de ordem teutônica que
arma seu dono cavaleiro do Santo Graal” (p. 305)!
Há “muitos brasis, desde o da idade
da pedra lascada, representado pelas tribos sobreviventes do ‘drama da
conquista’, em fase rápida extinção, até uma espécie rara de estufa, alimentada
de ‘champagne’ e caviar [...]” (p. 315).
“Os ‘dois brasis’ a que nos
referimos são os que nasceram, psicossociologicamente, na Colônia, com a
distinção entre ‘reinóis’ e brasileiros (cortadores de pau-brasil), entre
Metrópole e Colônia, entre governo e povo, entre ‘elites’ e ‘zé-povinho’ entre
o donatário (com poderes medievais de fazer justiça e comprar escravos) e os
degredados e órfãs mandados das prisões e asilos da ‘mãe-pátria’ para
constituir o braço produtor que abarrotava de matéria-prima, extraída da terra
ubérrima, os navios da Companhia Mercantil de Navegação a quem cabia o
monopólio do nosso comércio, até 1808. [...] no Brasil, sempre se defendeu o
privatismo escolar como sinônimo de ‘liberdade de ensino’ [...]. Para o povo, a
Metrópole Exploradora e coatora ainda existe encarnada no Poder Público: daí o
privatismo de nosso liberalismo... O povo não consegue admitir que o Poder
Público o representa e vela por seus interesses, garantindo-lhes liberdade e
oportunidade para todos. [...]. A Primeira República (1889-1930) [...] só foi
rompida pelo caudilhismo dos homens dos pampas, acostumados, durante séculos, a
lutar pela autonomia e pela liberdade. O populismo Getuliano – diga-se o que se
disser de seu ESTADO NOVO – foi um reconhecimento público de que existia, além
dos barões imperiais e das famílias tradicionais (donatários)... um espécime
sofrido, analfabeto, mestiço, trabalhador, chamado POVO BRASILEIRO” (p. 316)
“O ser humano é um animal
transitivo. Não nasce acabado. Nasce em estado fetal. Daí o tamanho desmedido
da infância humana [...]” (p. 317).
“Enquanto a nossa irmã
norte-americana, fundava, fundava as cidades com um banco e uma escola,
nossos bandeirantes e exploradores faziam-no com a cruz e o pelourinho
[...]” (p. 318).
“As ‘aulas régias’ e o ‘subsídio
literário’ de Pombal foram monumental fracasso [...] a lei de OUTUBRO de 1927
que mandava criar escolas nas cidade e lugarejos, não passou de mais uma
proclamação, como foram ‘proclamações’ s leis de obrigatoriedade e gratuidade
do ensino elementar que apareceram durante o Império e a Primeira República (as
reformas eram sempre feitas no ‘município da corte’!). [...]. Foi a
Constituição de 1934 (apesar do Ato Adicional) que primeiro falou em educação
popular e determinou que o Poder Público tivesse que gastar (investir, diz-se
hoje) dinheiro com a educação do povo (cota de 20% para os estados e 10% para
os municípios)” (p. 319).
“Assim, o curso primário,
vegetando nos municípios durante séculos, foi a única contribuição pública para a educação popular, apesar de sua
baixa rentabilidade (evasão de 10-1.000 e reprovação de mais de 50%), professorado
sem nenhum prepara (mais de 50% sem curso normal) e com remuneração de até
metade do salário mínimo, duplicação, triplicação, quadruplicação dos turnos
diários... O curso primário – regido por legislação estadual e influenciado
pelas condições municipais – era fluido e precário, sem burocracia e sem rígida
seriação” (p. 320).
“A popularização do ensino médio
(sobretudo, do segundo ciclo) exigiu uma forma de ‘elitização’ expressa pelo vestibular, ao qual não se tem acesso,
senão através dos ‘cursinhos’, uma forma prévia de seleção econômica a que
ninguém se pode furtar. Assim, sempre que a ‘popularização’ do ‘sistema’ atinge
determinado nível perigoso para o equilíbrio das camadas superiores, o
‘sistema’ criava um processo de controle para manter as camadas inferiores em
condições de não poder concorrer...” (p. 321).
“Não havia curso primário noturno: já que o empresariado da educação
jamais se interessou pelo curso primário de baixa rentabilidade econômica
[...]” (p.322).
“A escola primária noturna, é,
pois, a mais recente conquista popular em matéria de educação no Brasil, assim
mesmo, sem uma legislação específica, ficando engatada no ‘sistema regular’ que
é fabricado para ser diurno [...]. Se a legislação do ensino nunca se referiu
ao ensino noturno, é que nunca ocorreu ao legislador criar oportunidades para
os que trabalham.” (p. 323).
“Em 1945, o dec. 19.513, de 25 de
agosto, criou a possibilidade de a União fornecer ‘auxílios federais’ aos
‘sistemas’ estaduais e municipais, determinando-se que 25% destes auxílios
fossem destinados à educação de adultos. Instala-se, assim, 450 anos depois do
descobrimento a primeira tentativa do Poder Público alfabetizar o povo brasileiro... que, segundo o recenseamento de
1940, constava de 55% de indivíduos, com mais de 18 anos, analfabetos! O
DEPARTAMENTO NACIONAL DE EDUCAÇÃO projetou-se no cenário nacional instituindo
‘campanhas’ sucessivas de caráter popular, sobretudo por influência de Lourenço
Filho e de Anísio Teixeira (INEP). O SERVIÇO DE EDUCAÇÃO DE ADULTOS (SEA)
criado pela portaria 57 e 61-A de 30-1-47 ([...] foi assim que se criaram as
INSPETORIAS SECCIONAIS, logo depois, pela ousadia de Armando Hildebrand),
transformou-se, no mesmo ano, em CAMPANHA
NACIONAL DE EDUCAÇÃO DE ADULTOS, dirigida pelo insigne educador LOURENÇO
FILHO, com a pretensão de promover uma mobilização
nacional. [...]. Em dez anos, a campanha chegou a distribuir cerca de cinco
milhões de cartilhas, além de outras publicações de sustentação [...]. Nos
primeiros anos (1948-1949-1950) chegou-se a investir Cr$ 50.000 anuais na
campanha, pagando-se Cr$ 350,00 a cada membro (o que, para a época, era um
salário régio, vez que muito professor primário ganhava menos da metade do
salário mínimo) (p. 324).
O MAU USO DOS RECURSOS FEDERAIS
PARA A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ERA MASCARADO POIS, OS “relatórios que
chegavam ao Ministério da Educação e Saúde eram, simplesmente, fantasia” (p.
325).
“A política de transferência de
fundos corre sempre o perigo de dissolver-se no emaranhado da politiquice
regional [...]” (p. 326).
“O DEPARTAMENTO NACIONAL DE
EDUCAÇÃO, já vinha mantendo escolas radiofônicas (SIRENA) com uma de suas
inúmeras ‘campanhas’, quando, em 1961, DEC 50.370, surgiu no Nordeste, o
MOVIMENTO DE EDUCAÇÃO DE BASE (MEB) da Conferência Nacional dos Bispos,
inspirado em experiências vitoriosas já realizadas em outros países da AMÉRICA
LATINA. Foi a primeira guinada dos bispos e sacerdotes brasileiros para o
‘populismo’. O MEB baseava seu trabalho em escolas
radiofônicas e era financiado pelo Ministério de Educação, com a vantagem
de poder penetrar, profundamente, no território nacional [...] o MEB terminou,
por adotar uma cartilha no estilo de literatura de cordel do Nordeste, uma
iniciativa de popularização [...]. O grande trunfo do MEB, como todos os
movimentos populares de iniciativa da igreja, é a base operacional física das paróquias, vantagem com que jamais
contaram as campanhas de iniciativa governamental [...] através dos vigários e
de suas milícias (associações de
leigos [...]). A descentralização do MEC com a transferência de fundos da união
para os estados e dos estados para os municípios, com suas administrações e
emaranhadas pelos políticos, corrompe qualquer iniciativa de caráter nacional
desmontando as linhas de ação ao longo do percurso. Quando, durante o PLANO DE
EMERGÊNCIA (1962) solicitou-se a colaboração das INSPETORIAS SECCIONAIS na
mobilização nacional contra o analfabetismo [...] a primeira medida que tomaram
foi fazer um apelo a todos os vigários dos 140 municípios do Estado para
organizarem uma COMISSÃO DE ALFABETIZAÇÃO local constituída por ele (vigário) e
por pessoas ‘gradas’ do Município (geralmente, não envolvidas na dura e confusa
política partidária). O apelo produziu amplos efeitos [...] (foram
distribuídos, na ocasião, a célebre BIBLIOTECA DA PROFESSORA PRIMÁRIA e
milhares de cartilhas e cadernos) [...]. A destruição das INSPETORIAS
SECCIONAIS teve como efeito, entre outros, o de privar o MEC de órgãos
regionais de administração direta [...]” (p. 327).
“[...] a política de
‘transferência de fundos’ é fictícia, entregando aos estados uma verba não
orçamentária que não é fiscalizada pelos TRIBUNAIS DE CONTA das regiões, nem
vigiada pelas CÂMARAS ESTADUAIS [...]. O êxito do MEB comparado ao da
iniciativa governamental (SIRENA) em matéria de radiodifusão educativa, é explicado por circunstâncias como esta: o
MEC não tem, no território nacional, suas próprias torres de repetição... As
atuais tentativas de implantação de um sistema de TV-EDUCATIVA sofrem os mesmos percalços. É, mais ou menos, o que
afirma MARIA AMÉLIA SABBAG [..]” (p.
328).
O CAFÉ SULISTA SUPERA O AÇUCAR NORDESTINO:
RUÍNA DE UMA REGIÃO (p. 329).
“A presença da SUDENE e a atuação
da CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS (um exemplo disto é a atuação do MEB –
Movimento de Educação de Base) no NORDESTE, levaram as populações embrutecidas
por séculos de pura vegetatividade a ‘acordarem’ para as realidades do século
XX” (p. 329).
“Foi nesta época (1960-1963) que
começou a surgir o nome de PAULO FREIRE ligado a um ‘método de alfabetização’
milagroso (alfabetizaria em 40 horas, propagava-se por toda parte!) sem a
utilização de cartilha e de material didático. Em NATAL, no Rio
Grande do Norte, logo mais surgia uma campanha popular de alfabetização DE PÉ NO CHÃO TAMBÉM SE APRENDE A LER
(Moacir Góis), enquanto em RECIFE, no Pernambuco, instalavam-se, em todos os
bairros, as ‘praças de cultura’ e os ‘círculos de cultura’ imaginados pelo
MOVIMENTO DE CULTURA POPULAR (MCP). No fulcro desta mobilização estava o ‘guru’
dos alagados (Paulo Freire) que pretendia menos ‘alfabetizar’ que ‘reciclar’,
culturalmente, uma população que ficara para trás, no tempo, com os padrões
socioculturais da época da Colônia. Ficaram populares, pela cobertura que a
imprensa deu, então, as experiências de alfabetização em ’40 horas’ realizadas
em TIRIRI (Pernambuco) e em ANGICOS (R.G. do Norte). O que caracterizava estas
experiências era seu cunho ‘popular’: não dependiam de vastos investimentos dos
dinheiros públicos, como ocorrera na CAMPANHA DE ALFABETIZAÇÃO DE ADULTOS
Liderada por Lourenço Filho e como iria ocorrer depois nas campanhas do MOBRAL.
Pretendeu-se, posteriormente, que o método de Paulo Freire estava conectado,
sub-repticiamente, a uma ideologia. Só quem não conheceu o ‘guru’ pode dar esta
interpretação. Paulo Freire, de fato, é um ‘místico’ (não fosse ele filho do
NORDESTE dos cangaceiros, dos romeiros, dos conselheiros, e dos cantadores!).
Pode-se dizer, inclusive, que é um homem profundamente religioso, se por
religião se entender o sentimento cósmico do mistério da vida (ainda hoje ele
trabalha para o Conselho Internacional das Igrejas, a fórmula ecumênica do
protestantismo internacional). Por isto, quase não dava importância à tecnologia da alfabetização (que era o
método silábico ligado a uma palavra
chave extraída do universo vocabular
do analfabeto a título de figuração de seu estado
sociocultural). Era tão epistemológica sua reflexão (vinda da antropologia
e da fenomenologia) que irritava qualquer ‘homem prático’ [...]” (p. 330).
“O MOBRAL é a prossecução da
Campanha iniciada em 1947 por Lourenço Filho com o fito de eliminar do país
esta velha e vergonhosa mancha cultural denominada ‘analfabetismo... entende-se
analfabetismo dos adultos,
sobretudo, dos adultos na faixa da produtividade (de 18 a 60 anos). Segundo se
proclamava, o MOBRAL vinha cumprindo seu objetivo de maneira espetacular [...].
De repente, o MOBRAL dá uma virada de 1800 e vira ‘sistema escolar primário’ (p. 331).
“DA SILVA é o nome de quem não tem sobrenome (é o nosso Mr. Smith). DA SILVA é o nome do ‘Zé Povinho’. SILVA, em latim, quer dizer ‘mato’: DA SILVA, pois, é ‘BICHO DO
MATO’ ... [...]” (p. 332).
Programa Nacional de
Tele-educação – Prontel (p. 334).
Universidade do Ar (p. 335).
“[...] o parecer de Teixeira
Mendes contra a universidade (1903) [...], o projeto de Universidade de José
Bonifácio (Constituinte de 1823, dissolvida por Pedro I) [...] ... A história
da pedagogia é a história do martírio dos pedagogos, a começar por Sócrates”
(p. 339).
O VALOR DE QUESTIONAR A
INSTITUIÇÃO ESCOLAR E PERCEBER AS CONTINGÊNCIAS DO INTERESSE PÚBLICO (p. 341).
“[...] os privilegiados serão sempre os vencedores num regime de meritocracia.
[...]. O ‘lar’ do homem moderno é o escritório, a usina, os centros de produção
de serviços e de conhecimentos, assim como ‘lar’ do homem antigo foi a fazenda,
a granja, a casa-grande. Profissionalizar a educação do jovem é cria-lo dentro
do ‘lar’ (isto é, dentro do sistema de produção). [...]. O que os educadores
reivindicam é [...] o jovem voltar a conviver
com o sistema de produção, isto é, volte a viver onde vivem os adultos e onde se processa a vida da sociedade (p.
343).
“[...] a automação adia, para
cada vez mais tarde, o engajamento das gerações montantes no sistema de produção.
No momento histórico em que a ciência fornece ao homem todos os meios para
planejar, a seu bel-prazer, sua ecologia,
seria insanidade desligar o desenvolvimento dos jovens da formação do ‘espírito
científico’ em troca de uma fugaz e aleatória profissionalização hic et nuc!” (p. 344).
Falência da escola que gera o
“desempregado com diploma” (GEORGE BONNOT p. 348).
“Os atos de culto, coletivos e
obrigatórios matam, ou ameaçam matar a espontaneidade da prece” (GEORGE BONNOT.
p. 348)
“Não se obriga a beber um cavalo
que não tem sede. Ora, no dia em que a escola se tornou necessária,
obrigatória, matou o desejo de aprender” (GEORGE BONNOT. p. 348).
“A educação deve ser permanente,
e é toda a sociedade, em todas as suas atividades, que deve ser a educadora”
(GEORGE BONNOT. p. 349).
“Tem razão: não temos mais tempo
para nos ocuparmos de nossos filhos. Mas, sem querer, favorecemos assim o
monopólio da Escola e precipitamos sua crise” (GEORGE BONNOT. p. 350).
“[...] cada nova tese é uma
tautologia, ficando o tesista avisado de que é proibido contestar conhecimentos
na Universidade Brasileira. O PESO (OU ALGEMA) DO MÉTODO CIENTÍFICO E DOS
DITAMES DA ACADEMIA (p. 353).
“NÃO EXISTE NEM NUNCA EXIXTIU, UM PROJETO NACIONAL DE EDUCAÇÃO DIRIGIDO
AO POVO BRASILEIRO” (p. 353).
“O título [Estórias da educação
no Brasil], pois, pretende prevenir os tesistas mais incautos (há tanto jovem
desavisado!) de que se trata de uma obra ‘séria’, mas uma provocação para que
os verdadeiros historiadores pesquisem, finalmente, o que foi a educação no
Brasil nestes últimos 400 anos” (p. 354).
“[...] como se o conhecimento não
fosse sempre ‘subversivo’)” (p. 354).
“[...] nem se quer a semana da ‘arte
moderna’ da educação ainda não fizemos” (p. 354)?!
“[...] pela bibliografia
acadêmica, ANCHIETA nunca foi
mestre-escola no Brasil ...” (p. 354).
“[...] a professorinha cabocla
(ela não completou o curso primário, mas o vereador amigo de seu pai conseguiu
sua nomeação com o prefeito) deve ter esquecido de distribuir a merenda escolar [...]” (p. 355)
UMA ESTRATÉGIA DOS CENTROS DE
PESQUISA DO PRIMEIRO MUNDO: FINANCIAR BOLSAS DE ESTUDO PARA PESQUISADORES DE
PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS OU EM DESENVOLVIMENTO – UMA FORMA DE SE ASSENHOREAR DE
CÉREBROS E GARANTIR INOVAÇÃO. DAÍ QUE HAJA TANTOS GANHADORES DO NOBEL NA EUROPA
(p. 355).
“É hora de se nacionalizar a discussão
da educação no Brasil: é hora dos TUPINAMBÁS [...]” (p. 355).
O PROBLEMA DE MUITAS PESQUISAS
PRODUZIDAS E ESTUDIOSOS ESTAREM FORA DA ACADEMIA (p. 357).
O Instituto Superior de Estudos
Brasileiros (ISEB) era um órgão do Ministério da Educação. Os Centros Populares
de Cultura (CPC) seguiam a orientação da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Todos foram extintos em 1964 (p. 359).
RELAÇÃO ENTRE OS PROCESSOS
POLÍTICO E CULTURAL E O PENSAMENTO CRÍTICO (p. 362) ENTRE CULTURA POPULAR E
MASSIFICAÇÃO (p. 363).
LIMA, Lauro de Oliveira. Estórias da Educação no Brasil: de
Pombal a Passarinho. Rio de Janeiro, RJ. Editora Brasília. 19??. 3ª edição
ampliada. Coleção Pedagogia. 374 páginas.
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