terça-feira, 25 de março de 2014

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Ecce homo. Tradução de Antônio Carlos Braga. 2ª edição – São Paulo, SP. Editora Escala. 2009. 132 p. Coleção Grandes obras do Pensamento Universal, volume 57. Título original Ecce homo,Wie man wird, was man ist.


“Não estabeleço ídolos novos; os antigos vão aprender o que significa ter pés de barro. Derrubar ídolos (‘ídolos’ o termo que uso para designar ‘ideais’) isso sim faz parte de um ofício. A realidade foi despojada de seu valor, de seu sentido, de sua veracidade à medida que se fingiu mentirosamente um mundo ideal... O ‘verdadeiro mundo’ e ‘o mundo aparente’ – dito com clareza: o mundo inventado pela mentira e a realidade... Até agora a mentira do ideal constituiu a maldição contra a realidade; a própria humanidade se tornou mentirosa e falsa até em seus instintos mais profundos – até chegar a adorar os valores opostos daqueles que unicamente teriam garantido o florescimento, o futuro, o elevado direito ao futuro” (p. 16).

 

“O erro (a crença no ideal) não é cegueira, o erro é covardia... Cada conquista, cada passo em frente no conhecimento é conseqüência da coragem, da dureza consigo mesmo, da dureza para consigo...” (p. 17).

 

“E como é que se reconhece , no fundo, um pleno restabelecimento? Em que um homem bem estabelecido agrada a nossos sentidos: no fato de ter sido talhado  em madeira que seja ao mesmo tempo dura, tenra e odorífera.Convé-lhe só o que o favorece; seu prazer, sua vontade cessam a partir do momento em que a medida do proveitoso é ultrapassada” (p. 24).

 

 

“[...] a piedade só é chamada virtude entre os decadentes” (p. 27-28).

 

“[...] dominar-se, preservar a altura de sua tarefa, livre de impulsos muito mais baixos e mais míopes que atam nas ações pretensamente desinteressadas, é a prova [...] a verdadeira demonstração de força” (p. 28).

 

“Meu tipo de represália consiste em punir tão rápido quanto possível a asneira pela inteligência [...]” (p. 28).

“Visto que o homem se desgastaria rapidamente se reagisse, não reage mais de modo algum, esta é a lógica” (p. 30).

 

“Minha humanidade é uma constante superação de si” (p. 33).

 

“Ninguém tem a liberdade de viver onde bem lhe aprouver; aquele que desempenha grandes tarefas que exigem toda a sua energia tem inclusive uma escolha muito restrita” (p. 39).

 

“Deve-se evitar o mais possível o acaso, o estímulo externo; fechar-se entre muros de alguma forma faz parte da elementar sabedoria instintiva, da gestação intelectual” (p. 41).

 

“Onde a Alemanha chega, corrompe a cultura” (p. 46)

 

“Chegar a ser o que se é supõe que não se duvide minimamente do que se é” (p. 50).

 

“Não suportar a necessidade somente e muito menos dissimulá-la – todo idealismo é mentira diante da necessidade – mas amá-la” (p. 54).

 

“No final das contas, ninguém pode escutar nas coisas, inclusive nos livros, mais do que já sabe. Não se tem ouvidos para escutar aquilo a que não se tem acesso pela experiência vivida” (p. 56).

 

“[...] a coexistência das forças mais luminosas e fatais, a vontade de poder como homem algum jamais a possuiu, a descontrolada audácia nas coisas do espírito, a ilimitada força sem que a vontade de agir seja oprimida” (p. 70).

 

“[...] uma contra-natureza traz inevitavelmente consigo uma segunda” (p. 79).

 

“[...] sob a capa dos conceitos de avaliação mais sagrados, é justamente o instinto de negação, de corrupção, o instinto de decadência que reinou como agente de sedução. A questão da origem dos valores morais, é, pois, para mim uma questão capital, porque condiciona o futuro da humanidade” (p. 84).

 

“O diabo não é mais que a ociosidade de Deus a cada sete dias...” (p. 102).

 

“Não quero ser um santo, preferiria ser um palhaço... Talvez eu seja realmente um palhaço... E apesar disso, ou melhor, não apesar disso – pois até hoje não houve nada mais mentiroso que os santos – a verdade fala por minha boca. – Mas minha verdade é terrível: pois até hoje a mentira é que foi sendo chamada verdade. – Transvaloração de todos os valores: esta é minha fórmula do ato de suprema tomada de consciência de si da humanidade, que em mim se fez carne e gênio” (p. 115-116).

 

“Considerar em geral as desgraças de toda espécie como objeções, como algo a ser eliminado, é a tolice por excelência e, considerando bem tudo, uma verdadeira calamidade em suas conseqüências, uma fatal estupidez – quase tão estúpido como seria querer eliminar o mau tempo – por exemplo, por compaixão pelos pobres... Na grande economia do todo, os aspectos terríveis da realidade (nos afetos, nos desejos, na vontade de poder) são incomensuravelmente mais necessários que essa forma de pequena felicidade, a pretensa ‘bondade’; é preciso mesmo alguma indulgência para conceder um lugar a esta última, pois ela tem por condição a mentira dos instintos” (p. 118).

 

“A moral cristã foi até agora a Circe de todos os pensadores – eles estavam todos a seu serviço” (p. 120).

 

“A única moral que se ensinou até hoje, a moral da renúncia, traduz uma vontade de aniquilamento, nega radicalmente o fundamento da vida” (p. 122)

 

O problema de uma resposta grosseira e do descompasso entre a ação do metabolismo e a forma/quantidade/freqüência do que se ingere/se desprende.

A questão de uma boa companhia, do idealismo e do dispêndio de energia.

O problema da superabundância de tudo que pode ser sentido, vivenciado, compreendido.

A manipulação que afasta o homem do estar neste mundo, de reconhecer seus instintos, de valorizar a vida e um corpo sadio, de considerar seus ineteresses, de dessacralizar um prazer e uma alegria dionisíaca.

 

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. Ecce homo. Tradução de Antônio Carlos Braga. 2ª edição – São Paulo, SP. Editora Escala. 2009. 132 p. Coleção Grandes obras do Pensamento Universal, volume 57. Título original Ecce homo,Wie man wird, was man ist.

BRAIT, Beth. Bakhtin: conceitos-chave (org.). 5ª edição, 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013.


“Toda pesquisa que envolve o estudo dos atos humanos  envolve dois planos, a saber, o dos atos concretos, irrepetíveis, praticados  por sujeitos concretamente definidos, e o dos atos como atividade, ou seja, daquilo que há  em comum, e o dos atos como atividade, ou seja, daquilo que há em comum, e que é portanto repetível, entre os vários de uma dada atividade (…)”. (SOBRAL, 2013, p. 11).

 

Atitudes distintas na teoria do conhecimento (p. 12-13)

 

Empirismo
Privilégio da “natureza ontológica da realidade”
Racionalismo
Privilégio dos “processos do conhecimento'.
Síntese
Relação entre a “ontologia do existente” e os “processos epistemológicos de apreensão”

 

Bakhtin aborda o dado (físico-material), o postulado (o proposto pela apreensão/compreensão do sujeito), o processo do ato ético, responsável e responsível de maneira histórica e sócio-histórica de constituir novos sentidos a partir daquilo que já existe, de constituir uma unidade de sentido passível de generalização.

 

Para Aristóteles (Metafísica, livro IX, e Física, livro III) ato é a realização da potência, que é a possibilidade de vir a ser. Para Tomás de Aquino, Deus é ato puro e não contingente. Para Husserl, ato relaciona-se à vivências intencionais.

 

Para Bakthin, o ato é envolto por uma arquitetônica responsível e responsável, de caráter estético e ético atrelada a um agir não indiferente, intencional, e situado (perspectiva husserliana) de um sujeito capaz de realizar potencialidades (perspectiva aristotélica) e que deve ir além das aparências (perspectiva platônica).

 

O pensamento bakhtiniano considera, a partir da teoria marxista, a materialidade mediada de uma vida na qual a consciência do sujeito vai se definindo a partir de uma vida vivida ao mesmo tempo singular e generalizante, vida marcada pela força do valor atrelado aos atos concretos e vividos e pelo inacabamento de tal ato humano.

 

“O sensível é o plano de apreensão ‘intuitiva’ do mundo sem elaboração teórica, o plano do dado, das ‘impressões totais’ (ou ‘globais’). O inteligível é o plano da elaboração do apreendido. Enquanto o sensível privilegia o processo o processo de percepção e de ação como criador de impressões, o inteligível privilegia a transformação dessas impressões numa unidade de conteúdo, num conceito. O sensível é, portanto, o plano da multiplicidade, da descontinuidade; e o inteligível, o da busca da unidade, da continuidade” (p. 23-24).

 

Atualização e concretude ideológica e sócio-cultural do ato vivido e consciente.

 

“Portanto, para o círculo, todo ato integra conteúdo e forma, significação e tema, elaboração teórica e materialidade concreta, ser no mundo e categorização do mundo, repetibilidade e irrepetibilidade. A ênfase recai sempre na situação concreta em que ocorrem os atos com a conseqüente recusa da dissociação entre conteúdo e processo” (p. 26).

 

“Evento distingue-se de fato: o evento ocorre num dado lugar e num dado espaço; os fatos por ele gerados permanecem no tempo e no espaço. Se os eventos são individualizáveis, as propriedades que nele se repetem são universalizáveis, o que não implica necessariamente abstração” (p. 27).

 

Para Bakhtin, há atividade-tipo (potência) e atividade-ocorrência (realização), há a necessidade de averiguar o processo e o conteúdo do ato na inteireza contingente de um contexto pleno de sujeitos.

 

REDES DE INTERLOCUÇÃO, FORMAS COMPOSICIONAIS, CENÁRIO ENUNCIATIVO, e IMPERATIVOS DE INTERPELAÇÃO.

 

“A decisão dita ética depende assim da posição, do caráter situado do sujeito, em vez de impor-se a partir de fora e de modo abstrato a um sujeito transcendental, desengajado, sem interesses específicos” (p. 31).

 

“Ética, ato, atividade, ação, avaliação, responsabilidade e participatividade constituem assim, em Bakhtin, bases de uma proposta filosófico-cultural mais ampla, [baseada] no agir situado, não indiferente, ali onde não há álibi na existência” (p. 33).

 

SOBRAL, ADAIL. Ato/atividade e evento. In BRAIT, Beth. Bakhtin: conceitos-chave (org.). 5ª edição, 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013. p. 11-36.

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Para Bakhtin autor-pessoa é o escritor e autor-criador é uma voz sócio-histórica de caráter estético-formal que engendra a unidade de uma obra, é uma posição axiológica e sócio-histórico. “O autor-criador é, assim, uma posição refratada e refratante. Refratada porque se trata de uma posição axiológica conforme recortada pelo viés valorativo do auto-pessoa; e refratante porque é a partir dela que se recorta e se reordena esteticamente os eventos da vida” (p. 39). O “discurso do autor-criador não é a voz direta do escritor, mas um ato de apropriação refratada de uma voz social qualquer de modo a poder ordenar um todo estético” (p. 40).

 

Heteroglossia envolve pluralidade de formações verbo-axiológicas não presas pelo aspecto mítico de uma língua unitária, mas revestidas de uma materialidade verbal de caráter semiótico-cultural.

 

Princípio de exterioridade, de autocontemplação, de alteridade, de complementaridade via o outro, necessidade deslocamento entre as posições do mundo vivido e do possível, e excedente de visão e de conhecimento são necessários para o acabamento estético da obra.

 

A palavra do outro, o ponto de vista inconcluso do outro em interação tensa, situada e axiológica no estabelecimento das imagens, das ações e das consciências do autor, do receptor e do herói que se colocam em relação “por meio do contraponto dialógico com outras consciências plenivalentes” (.p. 47).

 

Hegel: o eu para mim, o eu para o outro.

 

Os índices sociais de valor dominam as formas semântico-léxico-gramaticais.

 

FARACO, Carlos A. Autor e autoria. In BRAIT, Beth. Bakhtin: conceitos-chave (org.). 5ª edição, 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013. p. 37-60.

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Em perspectiva linguístico-enunciativa, enunciação é um processo social ehistórico-culturalmente situado e valorativo de produção de sentidos materializados genericamente como um enunciado concreto, uma realidade translinguística, intersubjetiva e ideológica única marcada pela materialidade de uma teia de relações entre sujeitos com pontos de vista e possibilidades de agência singulares.

 

Aspectos de natureza mais lingüística e outros de natureza metalingüística se relacionam no e pelo processo da enunciação para se materializar em um enunciado vivo repleto do ponto de vista do enunciador e de seu interlocutor, um enunciado que só alcança sua relativa plenitude em cada espaço de circulação que exige o estabelecimento de relações intertextuais para vir a significar, de maneira situada e valorada, potencialidades reiteráveis de maneiras articulares para o eu que enuncia e para o outro que percebe sua condição de destinatário.

 

O destinatário pode ser presumido e não apenas alguém fisicamente concreto.

 

A co-ocorrência do aspecto verbal e de outros aspectos perceptíveis (imagéticos, sonoros etc) alteram e constituem novas semioses, novas relações significatórias, nos enunciados que transitam entre sujeitos marcados por pontos de vista específicos no espaço-tempo de suas vidas ordinárias.

 

“Nessa perspectiva, o enunciado e as particularidades de sua enunciação configuram, necessariamente, o processo interativo, ou seja, o verbal e o não verbal que integram a situação e, ao mesmo tempo, fazem parte de um contexto maior histórico, tanto no que diz respeito a aspectos (enunciados, discursos, sujeitos etc) que antecedem esse enunciado específico quanto ao que ele projeta adiante (...)” (p. 67).

 

A existência material de um enunciado concreto é dependente da interação das trocas entre os enunciadores, do conhecimento que partilham e da situação em que é produzido e para qual prepara o jogo significatório entre o que já foi enunciado e o que ainda poderá a vir enunciado na materialidade de um gênero lingüístico-discursivo.

 

BRAITH, B. &, MELO, R. de. Enunciado/Enunciado concreto/Enunciação. In BRAIT, Beth. Bakhtin: conceitos-chave (org.). 5ª edição, 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013. p. 61-78.

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O estilo está atrelado a unidades temático-composicionais situadas e valorativas e, “longe de se esgotar na autenticidade de um indivíduo, inscreve-se na língua e nos usos historicamente situados” (p. 83).

 

O estilo não é algo próprio apenas do espaço artístico, pois ele está presente nos usos individualizados que os sujeitos realizam em suas interações sócio-semióticas. Bakhtinianamente, “nem todos os gêneros são igualmente propícios ao estilo individual: os mais propícios são os literários, na medida em que o estilo individual faz parte do empreendimento enunciativo. Os menos favoráveis são os gêneros do discurso que, na comunicação cotidiana, requerem forma padronizada, como acontece com a formulação do documento oficial (...) (p. 89)”

 

Por necessidades político-argumentativas singulares, os sujeitos enunciadores podem utilizar gêneros discursivo-enunciativos que assumam acabamentos mestiços de estilo. Daí que a vivacidade expressiva dos enunciados depende da relação do enunciado para com seu objeto, seu destinatário, seu enunciador e para com outros enunciados.

 

O estilo é uma dimensão textual-discursiva e histórico-cultural de acabamento que se materializa verbo-visualmente na e pela cadeia comunicativa sob a forma de elos enunciativos contingentes inseridos em formas genéricas ora mais livres, ora mais convencionais, dimensão que deriva da “relação que se estabelece entre uma pessoa e seu grupo social” (p. 83), da maneira avaliativa como a realidade é apreendida e discursivizada.

 

A concepção bakhtiniana de linguagem “implica sujeitos que instauram discursos a partir de seus enunciados concretos, de suas formas de enunciação, que fazem história e a são a ela submetidos. Assim a singularidade estará necessariamente em diálogo com o coletivo em que textos verbais, visuais ou verbo-visuais, deixam ver, em seu conjunto, os demais participantes da interação em que se inserem e que, por força da dialogicidade, incide sobre o passado e sobre o futuro” (p. 98).

 

BRAITH, B. Estilo. In BRAIT, Beth. Bakhtin: conceitos-chave (org.). 5ª edição, 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013. p. 79-102.

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Bakhtin teoriza sobre “ato-tipo (ou  ato-atividade) e ato-ocorrência, aquele da ordem do geral e do repetível e este da ordem do particular e irrepetível” (p. 104).

 

Ato responsível é sinônimo de ato ético e envolve o conteúdo, o processo e a valoração do ato de um sujeito sem álibi, sem justificativa a priori e sem possibilidade de agência fora de um mundo de relações situadas histórico-culturalmente.

 

O individual em Bakhtin contempla o social e o histórico porque não é subjetivista e autônomo (o cogito cartesiano) nem assujeitado (subsumido ante o social).

 

A arquitetônica identitária do sujeito bakhtiniano é cronotópica, é baseada na investigação dos sentidos que vão surgindo contingente e processualmente no ato concreto composto pela movimentação situada entre o geral e o particular de atos concretos materializados dialogicamente.

 

Filosofia humana do processo.

 

O dialogismo é um princípio composicional geral do agir intersubjetivo de sujeitos banhados em um determinado nível de agência e do processo de produção/compreensão discursivo-enunciativa realizados concretamente em contextos instanciados por uma força de agência não autárquica, não trancendental, não a-histórica, não pré-determinada ou imutável.

 

A “consciência depende da linguagem para formar-se manifestar-se. E como a linguagem se acha imersa no mundo, a consciência não é uma instância que imponha suas categorias ao mundo, precisando, em vez disso, desse mundo para se constituir, ao tempo que também o ‘constrói’. As situações vividas chegam à consciência individual por meio da linguagem, no âmbito do processo de interiorização do signo ideológico.” (p. 107).

 

A apreensão do mundo dado é sempre sócio-historicamente situada e articulada.

 

“Bakthin e seu círculo ressignificam, como foi dito, as ‘razões’ kantianas: a razão pura (o teórico), a razão prática (o ético) e o juízo (o estético)” (p. 108). Em outras palavras, o bakhtinianismo teoriza respectivamente sobre o produto (logos), o processo (métis) e a valoração (mythos).

 

“Assim, à moral, entendida no sentido de conjunto formal de regras aplicáveis a toda situação, ele opõe a ética como conjunto de obrigações e deveres concretos, naturalmente generalizáveis, porém não erigidos em camisa de força. Os eventos de que sou agente trazem minha ‘assinatura’, não a de instâncias que estabelecem leis abstratas ou objetificante, aquelas pretensamente acima da sociedade e da história (...)” (p. 108) e são revestidos de um ponto de vista exotópico a mais.

 

A idéia de arquitetônica para o Círculo pressupõe a harmonia potencial e significatória entre as partes de um todo a partir de uma postura integradora, não relativista ou absolutista que consiga abarcar a natureza avaliativa, relacional e situada de todo ato humano.

 

A base do trabalho estético é o excedente de visão, o fenômeno da exotopia, acerca do material, da forma e do conteúdo.

“(...) forma arquitetônica é a concepção da obra como objeto estético, ao passo que forma composicional é o modo específico de estruturação da obra externa a partir de sua concepção arquitetônica” (p. 112).

 

 

“O momento arquitetônico, do objeto estético, poderia ser comparado à formação/concepção do gênero, ao passo que o momento composicional, da obra exterior, material, poderia ser pensado como a ‘textualização’ do gênero assim formado/concebido” (p. 113).

 

“Em outros termos, a forma arquitetônica define o ‘gênero’ e a forma de composição, a textualização específica desse gênero, num dado tipo de texto” (p. 113).

 

“(...) se a forma arquitetônica (parte do objeto estético) determina a forma composicional (parte da obra externa), só graças a ela vem aquela a existir – assim como se conhece a potência por meio do ato de sua realização” (p. 113).

 

“O agir do sujeito é um conhecer em vários planos que une processo (o agir no mundo), produto (a teorização) e valoração (o estético) nos termos de sua responsabilidade inalienável de sujeito humano, de sua falta de escapatória, de sua inevitável condição de ser lançado no mundo e ter ainda assim de dar contas de como nele agiu” (p. 118).

 

SOBRAL, Adail. Ético e estético – Na vida, na arte e na pesquisa em ciências Humanas. In BRAIT, Beth. Bakhtin: conceitos-chave (org.). 5ª edição, 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013. p. 103-122.

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Hetereglossia no ocidente está mais ligada a contato interlinguistico e plurilinguismo liga-se a presença de vozes no romance.

 

Bakhtin “propõe o diálogo entre os seres humanos (...) não como algo garantido, mas como uma meta a ser buscada, precisamente para vencer a intercomunicação a intercomunicação, a ausência da resposta do outro.” (p. 127).

 

A “compreensão como dependente da situação específica do sujeito na história, nas relações com outros sujeitos (...)” (p. 128).

 

“(...) o mundo fala pela boca do autor (...)” (p. 128).

 

Linguagem como processo e não como produto.

 

Legitimidade e práticas de análise, o “modo de investigação e de discussão teórica do Circulo” (p. 133).

 

A abordagem do objeto.

 

O controle epistemológico das teorias.

 

Pontos cegos na interpretação das teorias do círculo por conta da amplitude de contato com variadas correntes filosóficas, o que permitiu o contato entre “a repetibilidade imposta pelas coerções dos gêneros e a singularidade inovadora da arquitetônica de cada autor, na ‘arte’ assim como de cada sujeito, na vida” (p. 134).

 

O eu-para-si e o eu-para-si envolvem a questão da alteridade.

 

Epistemologia: “modos de conhecer o mundo cientificamente e, portanto, o campo da ‘teoria da ciência’ (p. 135)

 

A análise dos fenômenos concretos inseridos em constante tensão.

 

A deialética hegeliana considera o esquema tese-antítese-síntese. Dialógica bakhtiniana considera a generalidade e a singularidade a partir da investigação da tese-tese-síntese, situação que combate o teoreticismo da dialética tradicional e o sociologismo.

 

A universalidade de Kant e a concretude do real de Husserl.

 

O Círculo trabalha com o dado (o sensível) e o postulado (o inteligível) para abalar as bases por meio de um “método socrático bakhtiniano” (p. 137) para operar uma análise de objetos a partir  de suas relações e não de suas dicotomias, para investigar a relação entre o tempo, o espaço, a duração, a causalidade a percepção que vão sendo organizados ideológico-discursivamente, que vão eticamente e arquitetonicamente constituídos pelas “formas de apreensão  do mundo, histórica e socialmente concebidas” (p. 139).

 

O indivíduo como membro ativo de uma determinada classe laborante.

 

Empirismo: mundo dado. Racionalismo: mundo apreendido (postulado)

 

O cogito cartesiano, a substância spinosiana e a razão suficiente de Leibiniz: racionalistas

 

A tabula rasa e passiva de Locke e a inferência causal de Humes: empiristas.

 

O pensamento humeano considera que “(...) dada a contigência das regularidades, não se pode garantir que o futuro seja semelhante ao presente” (p. 144).

 

A apreensão do mundo por meio de catergorias segundo Kant.

 

Simultaneidade e arquitetônica

 

Monismo é “uma forma de ver as relações entre o indivíduo e o mundo histórico e social que os põe em relação de mútua constituição” (p. 147) influenciados por uma arquitetônica ética do cotidiano.

 

SOBRAL, Adail. Filosofias (e filosofia) em Bakhtin. In BRAIT, Beth. Bakhtin: conceitos-chave (org.). 5ª edição, 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013. p. 123-150.

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Definições de gênero segundo Aristóteles e Platão (a tríade mimética).

 

Dialogismo e manifestação da pluralidade no processo comunicativo que revelam as “manifestações discursivas da heteroglossia, isto é, das diversas codificações não restritas à palavra” no “amplo campo da comunicação mediada” (p. 152).

 

Diferentes realizações discursivas numa cultura letrada onde “as formas discursivas da comunicação interativa em suas combinações favoreçam o avanço da cultura prosaica de valorização das ações cotidianas dos homens comuns e de suas enunciações ordinárias” (p. 153).

 

Prosificação da cultura.

 

A “prosa é uma potencialidade que se manifesta como fenômeno de mediação (...)” (p. 154).

 

“Porque é discurso, a prosa só existe na interação” (p. 154).

 

“(...) práticas significantes de sistemas comunicativos que emergem nas interações dialógicas (...)” (p. 154).

 

“Por ser fenômeno de emergência na linguagem, a prosa não nasceu pronta: ela continua se fazendo, desde o seu surgimento, graças à dinâmica dos gêneros discursivos” (p. 155).

 

“Prosaica é a esfera mais ampla das formas culturais (...)” (p. 155).

 

O contexto da comunicação ordinária em processo dialógico-interativo.

 

Diferentes esferas de atividade comunicacional e de usos situados da linguagem.

 

“Os gêneros discursivos concebidos como uso com finalidades comunicativas expressivas não é ação deliberada, mas deve ser dimensionado como manifestação da cultura. Nesse sentido, não é espécie nem tampouco modalidade de comunicação; é dispositivo de organização, troca, divulgação, armazenamento, transmissão e, sobretudo, de criação de mensagens em contextos culturais específicos” (p. 158).

 

“O gênero não pode ser pensado fora da dimensão espaciotemporal” (p. 158).

 

“Na cultura, tanto a experiência quanto a representação são representações marcadas pela temporalidade” (p. 159).

 

“Não se pode traçar limites absolutos para a cultura” (p. 160).

 

Bakhtin “entende que uma linguagem é sempre uma imagem criada pelo ponto de vista de uma outra linguagem” (p. 161).

 

Os gêneros não se prendem apenas ao verbal porque pertencem à comunicação cultural sócioideológica em um conjunto de relações no espaço-tempo.

 

Interações e expansões sócio-comunicativas dos gêneros enunciativo-discursivos no contexto de espaços, momentos e recursos histórico-culturais únicos e em contato com outros gêneros pelo esforço de sujeitos em contato dialógico-interacional.

 

“(...) as esferas de uso da linguagem podem ser dialogicamente configuradas em função do sistema de signos que as realizam” (p. 165).

 

MACHADO, Irene. Gêneros discursivos. In BRAIT, Beth. Bakhtin: conceitos-chave (org.). 5ª edição, 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013. p. 151-166.

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Segundo o Círculo de Bakhtin, a ideologia não se encontra na consciência, na natureza ou na transcendentalidade e não há uma ligação direta entre as estruturas socioeconômicas e as superestruturas ideológicas. De acordo com as teorizações do Círculo, a ideologia não é subjetiva/interiorizada nem idealista/psicologizada e está na base da constituição dialógica dos signos, da identidade e da subjetividade a partir de uma tomada de posição singularmente determinada no entremeio entre o estável e o instável.

“Objetos materiais do mundo recebem função no conjunto da vida, advindos de um grupo organizado no decorrer de suas relações sociais, e passam a significar além de suas próprias particularidades materiais” (p. 170).

 

“E todo signo, além [da] dupla materialidade, no sentido físico-material e no sentido sócio-histórico, ainda recebe um ‘ponto de vista’, pois representa a realidade a partir de um lugar valorativo, revelando-a como verdadeira ou falsa, boa ou má, positiva ou negativa, o  que faz o signo coincidir com o domínio do ideológico. Logo, todo signo é signo ideológico. O ponto de vista, o lugar valorativo e a situação são sempre determinados sócio-historicamente. E seu lugar de constituição e de materialização é na comunicação incessante que se dá nos grupos organizados ao redor de todas as esferas das atividades humanas. E o campo privilegiado de comunicação contínua se dá na interação verbal, o que constitui a linguagem como o lugar mais claro e completo e completo da materialização do fenômeno ideológico. A representação do mundo é melhor expressa  por palavras, pois que não precisa de outro meio para ser produzida a não ser o próprio ser humano em presença de outro ser humano” (p. 170).

 

“O signo verbal não pode ter um único sentido, mas possui acentos ideológicos que seguem tendências diferentes” porque os “sujeitos interagentes” são “diversamente orientados” (p. 172).

 

“Vozes diversas ecoam nos signos e nele coexistem contradições ideológico-sociais entre o passado e presente [...]” (p. 172).

 

Há “interações já mais definidas e estáveis, e com condições de estabelecer padrões mínimos de estabilidade nos sentidos postos em circulação” (p. 173).

 

Se por um lado existe o “nível oficial da ideologia”, infiltrando-se progressivamente nos níveis nas instituições ideológicas (imprensa, literatura, ciência, leis, religião)” ocorre também “a refração da ideologia” ao mesmo tempo em que as estruturas hegemônicas procuram intencionam que “os sinais contrditórios ocultos em todo signo ideológico sejam mantidos apagados” (p. 173).

 

A ideologia oficial e a ideologia do cotidiano se constituem como “dois níveis distintos de produção, homogeneização e de circulação da ideologia” (p. 173).

 

A ideologia do cotidiano ocorre em um nível inferior (de encontros ocasionais) e em um nível superior (de tessitura organizacional preliminar) ao passo que a ideologia oficial abarca os “conteúdos ideológicos que já passaram por todas as etapas de objetivação social e agora entraram no poderoso sistema ideológico especializado e formalizado da arte, da moral, da religião, do direito, da ciência etc [...] aceitos pelos jogos de poder [...] e [que] dão o tom hegemônico nas relações sociais [...] A durabilidade da ideologia oficial não é maior que o tempo de duração da ideologia do cotidiano” (p. 174).

 

“O sujeito é uma função das forças sociais” (p. 175).

 

As formas concretas e materiais da comunicação – que ocorre pela manipulação valorativa e consciente de elementos sígnicos exercida pelo homem em relação ao mundo e pelo Eu em relação ao Outro – revelam o modus operandi de infinitas interações sócio-ideológicas entre sujeitos/sentidos.

 

MIOTELLO, Valdemir. Ideologia. In BRAIT, Beth. Bakhtin: conceitos-chave (org.). 5ª edição, 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013. p. 167-176.

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Estudos sobre a linguagem centravam-se no estudo da palavra

 

GRAMÁTICA
Secção e organização das palavras em função de paradigmas de flexão e de declinação.
FILOLOGIA
Descrição da “evolução histórico-fonética da palavra com a observação de documentos” (p. 177)
LINGUISTICA
Trabalhos divididos na fase de organização das línguas em família e na fase de descrição sistêmico-estrutural das palavras. Na fase de descrição, a semântica foi dividida em semasiologia e onomasiologia.

 

O bakhtinianismo valoriza a historicidade da palavra, a linguagem em uso.

 

“As entoações são valores atribuídos e/ou agregados àquilo dito pelo interlocutor. Esses valores correspondem a uma avaliação da situação pelo locutor posicionado historicamente frente ao interlocutor. [...] A palavra dita, expressa, enunciada, constitui-se como produto ideológico, resultado de um processo de interação na realidade viva” (p. 178).

 

A palavra “apresenta quatro propriedades definidoras: pureza semiótica, possibilidade de interiorização, participação em todo ato consciente, neutralidade. A pureza semiótica refere-se à capacidade de funcionamento e circulação da palavra como signo ideológico, em toda e qualquer esfera [...]. Quanto à interiorização, a palavra constitui o único meio entre o conteúdo interior do sujeito (a consciência) constituído por palavras, e o mundo exterior construído por palavras” (p. 179).

 

“No que diz respeito à participação em todo o ato consciente, a palavra funciona tanto nos processos internos da consciência, por meio da compreensão e a interpretação do mundo pelo sujeito, quanto nos processos externos de circulação da palavra em todas as esferas ideológicas” (p. 179).

 

A “neutralidade da palavra, por sua vez, se estabelece no sentido de que a palavra [...] pode assumir qualquer função ideológica, dependendo da maneira em que aparece num enunciado concreto [...] como signo, como conjunto de virtualidades disponíveis na língua, recebe carga significativa a cada momento de seu uso” (p. 179).

 

“O termo ‘palavra’ em russo (escreve-se slovo e pronuncia-se [Is’lova]”) [é] “gramático-formalmente” neutro (p. 179).

 

A palavra é uma “entidade de uso concreto” (p. 181) inoculada pelo gênero e pela entoação (p. 183) e marcada pelo contexto histórico de sua produção/circulação (p. 185).

 

“O projeto discursivo refere-se ao esgotamento do objeto de sentido, ou seja, o que eu quero dizer deve ser dito, considerando-se os interlocutores e os contextos de circulação específicos. E as palavras escolhidas para constituírem o projeto discursivo, possuem, em seu bojo, traços que permitem sua utilização, de acordo com determinado gênero, em uma determinada situação. [...] o gênero é extremamente dinâmico, porque tanto funciona imediatamente quanto possui uma historicidade que evolui e se adapta às novas condições de utilização” (p. 181).

 

Problemas na difusão e na recepção da teoria do Círculo são motivados por dificuldades de tradução de termos do original para outras línguas e por dispersão de conceitos elaborados por vários autores em circunstâncias e livros nem sempre metodologicamente organizados (p. 183).

 

A palavra “possui traços mais ou menos estáveis de significação, dando-lhe a possibilidade de ser utilizada e entendida em diferentes contextos [de maneira] quase infinita” (p. 186).

 

A “possibilidade de interiorização acontece no confronto entre o signo internamente circulante e as nuances de sentido, de acordo com os valores entoados externamente pelo locutor” (p. 187).

 

Valores sócio-histórico-ideológicos constituem novas significações e transitam na e pela palavra.

 

STELLA, Paulo R. Palavra. In BRAIT, Beth. Bakhtin: conceitos-chave (org.). 5ª edição, 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013. p. 177-190.

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“À categoria de monológico estão associados os conceitos de monologismo, autoritarismo, acabamento; à categoria de polifônico, os conceitos de realidade em formação, inconclusibilidade, não acabamento, dialogismo, polifonia. [...] O autoritarismo se associa à indiscutibilidade das verdades veiculadas por um tipo de discurso, ao dogmatismo; o acabamento, ao apagamento dos universos individuais das personagens e sua sujeição ao horizonte do autor. [...] O dialogismo e a polifonia estão vinculadas à natureza ampla e multifacetada do universo romanesco, ao seu povoamento por um grande número de personagens [...]” (p. 192).

 

“O monolismo nega a isonomia entre as consciências, não vê nessa relação um meio de chegar à verdade, concebe-a de modo abstrato, como algo acabado, fechado, sistêmico” (p. 192).

 

As categorias bakhtinianas como monologismo, dialogismo e polifonia não são “abstrações desprovidas de conteúdo histórico, social e ideológico” (p. 192).

 

“Mas se, por um laod, o capitalismo reduz os indivíduos à condição de objetos, por outro também provoca a maior estratificação social e o maior número de conflitos da história da sociedade humana, gerando vozes e consciências que resistem a tal redução” (p. 193).

 

A multiplicidade de vozes ou polifonia destaca o ato de o sujeito se tornar senhor “de sua própria consciência” (p. 193) por meio de suas “peculiaridades de falante” (p. 199) em um universo de “convivência e de interação [repleto de] vozes plenivalentes e consciências eqüipolentes” e não um resultado coisificado por um terceiro (p. 194).

 

“No enfoque polifônico, a autoconsciência da personagem é o traço dominante na construção de sua imagem, e isso pressupõe uma posição radicalmente nova do autor na representação da personagem” (p. 193).

 

“O que caracteriza a polifonia é a posição do autor como regente do grande coro de vozes que participam do processo dialógico. (p. 194).

 

No mundo polifônico, a consciência carrega a “marca identitária do indivíduo” e seu não acabamento (p. 195).

 

“A personagem é um dado essencial da relação entre o estético e o real, é um produto da relação de seu criador com a realidade, tem antecedentes concretos e objetivos nessa realidade e é por ela alimentada [...]” (p. 199).

 

BEZERRA, Paulo. Polifonia. In BRAIT, Beth. Bakhtin: conceitos-chave (org.). 5ª edição, 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013. p. 191-200.

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O “herói, [pode ser] nomeado aqui como tópico ou objeto do enunciado. Juntamente com o falante e o interlocutor, o herói é visto como um dos três participantes essenciais da expressão verbal, quer seja oral, quer escrita, quer literária, quer não literária” (p. 201).

 

A “significação é um estágio inferior da capacidade de significar, e o tema, um estágio superior da mesma capacidade. A significação existe como capacidade potencial de construir sentido, própria dos signos lingüísticos e das formas gramaticais da língua. É o sentido que esses elementos historicamente assumem, em virtude de seus usos reiterados. É, portanto, um estágio mais estável dos signos e dos enunciados, já que seus elementos, como fruto de uma convenção, podem ser utilizados em diferentes enunciações com as mesmas indicações de sentido.

Já o tema é indissociável da enunciação, pois, assim como esta, é a expressão de uma situação histórica concreta. Como decorrência, é único e irrepetível. Participam da construção do tema não apenas os elementos estáveis da significação mas também os elementos extraverbais, que integram a situação de produção, de recepção e de circulação. Dessa forma, o instável e o inusitado de cada enunciação se soma à significação, dando origem ao tema, resultado final e global do processo da construção de sentido. O sistema de significação, entretanto, não se configura como fixo e biunívoco: o tema se incorpora à significação, de modo que o sistema é sempre flexível, mutável, renovável. (p. 202).

 

A “palavra é discurso.Mas palavra também é história, é ideologia, é luta social, já que ela é a síntese das práticas discursivas historicamente construídas” (p. 204).

 

A identificação do tema de um signo depende da observação de uma “situação concreta de enunciação. Identificá-lo exige que se leve em conta não apenas o sentido potencial do signo, mas também o sentido que este assume no momento histórico e na situação específica de enunciação, de acordo com os elementos extraverbais que participam da construção do sentido, como, por exemplo, a identidade e o papel dos interlocutores, a esfera de circulação do signo e a finalidade do ato enunciativo” (p. 206).

 

A “significação está para o signo lingüístico assim como o tema está para o signo ideológico; ou, ainda, que a significação está para a língua assim como o tema está para o discurso e para a enunciação” (p. 218).

 

De acordo com o bakhtinianismo, os estudos da linguagem podem exisitir metodologicamente a partir de uma “semântica de base enunciativa” que considere os “elementos que fazem parte da situação extraverbal: identidade dos interlocutores, finalidade da enunciação, momento histórico, ideologia, discursos que circulam nas enunciações, nos enunciados concretos” (p. 218).

 

CEREJA, William. Significação e tema. In BRAIT, Beth. Bakhtin: conceitos-chave (org.). 5ª edição, 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013. p. 201-220.

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domingo, 2 de março de 2014

Terço dos Homens Mãe Rainha da Paróquia do Divino Espírito Santo da cidade de Morada Nova - Ceará: Aniversário de fundação



Diocese de São Miguel Arcanjo de Limoeiro do Norte
Paróquia do Divino Espírito Santo de Morada Nova – Ceará

CONVITE ANIVERSÁRIO
 
 
A coordenação paroquial do Terço dos Homens Mãe Rainha de Morada Nova tem a honra de convidar vossa senhoria e seu grupo para a comemoração em Cristo Jesus do oitavo aniversário do Terço.
Traga Jesus no coração pela intercessão de Maria e vestido com a blusa de seu movimento ou grupo de oração venha se alegrar na Matriz do Divino Espírito Santo de Morada Nova no dia 10/03/2014 (segunda-feira), a partir das 18:00 hs.
Participação especial de “Os filhos de José”
PROGRAMAÇÃO:
18:00 hs - concentração e caminhada a partir da praça da Matriz
19:00 hs – recitação do santo rosário
20:00 hs – testemunhos e parabéns dos aniversariantes
20:30 hs – confraternização de encerramento.
“E Maria disse: Minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo. Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem. Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes. Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre”. Lucas 1, 49-55.
 
 

NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. A Gaia Ciência.


“Toda filosofia que coloque a paz acima da guerra, toda ética com uma concepção negativa da felicidade, toda ética e toda física que conhecem um final, um estado definitivo de uma espécie qualquer, toda aspiração, sobretudo estética ou religiosa, possui um ao-lado, um para-além, um de-fora, um por cima, autorizam a perguntar-se se não foi a doença que inspirou o filósofo.  O inconsciente disfarce das necessidades fisiológicas sob o manto do objetivo, do ideal, da idéia pura vai tão longe que se poderia ficar espantado – e não poucas vezes me perguntei se a filosofia, de uma maneira geral, não foi até agora sobretudo uma interpretação do corpo e um mal-entendido do corpo. Atrás das mais elevadas avaliações que guiaram até agora a história do pensamento se escondem mal-entendidos de conformação física, seja de indivíduos, seja de casta, seja de raças inteiras” (p. 18).

 

Coragem, adaptabilidade, sensibilidade para perceber a realidade como algo diferente do que está posto aos sentidos e interpretações correntes.

 

As leis dominam a natureza e como qualquer obra humana ganham sentidos diferentes a cada esforço intrpretativ. Por isso, aquilo que se registra tem um nível de nitidez específico e sempre dependente de um objetivo acordado entre um ponto que ilumina e um que é iluminado, ambos rodeados por uma escuridão que não deve ser negada mas com a qual se deve interagir.

 

“O homem se tornou aos poucos um animal fantasioso que deve preencer uma condição de existência a mais que todos os outros animais: o homem deve de tempos em tempos acreditar que sabe a razão por que existe, sua espécie não pode prosperar sem uma confiança periódica na vida! Sem a fé na razão da vida (p. 42)”.

 

Aquilo em que o homem acredita, a “desrazão ou a falsa razão (p. 45)”, a influência de bons e de maus instintos para a conservação da espécie humana, a importância de cumprir tarefas e meditar sobre a prática e sobre a vida são elementos importantes para levar o homem a se perceber como “vulcões em atividade que terão sua hora de erupção (p. 51)” em momentos não passíveis de serem determinados.

 

A tarefa da tomada de consciência é um trabalho que se dá em estágios e que absorve erros como forma de ação compreensiva. O desprazer é um preço a ser pago.

 

 “Ao fazer o bem e fazer o mal, exercemos nosso poder sobre os outros – e é o que se quer! Fazemos o mal àqueles a quem somos forçados primeiramente a fazê-los sentir nosso poder, pois a dor é para isso um meio muito mais refinado que o prazer ... (p. 54).”

 

A relação entre o amor e o sentimento de poder sobre o outro.

 

A distância influencia na forma como as pessoas enxergam a si e ao mundo.

 

Tirania da verdade e da ciência.

 

Caráter instrumental das virtudes (aplicação, obediência, castidade, piedade, justiça, tenacidade).

 

A tragédia se alimenta do relaxamento.

 

“Os homens célebres que precisam de sua glória, como por exemplo, os políticos não escolhem seus amigos e seus aliados sem segundas intenções...” (p. 71).

 

Na civilização industrial “estão em vigor somente as leis da necessidade: quer-se vivier e se é obrigado a vender-se, mas se despreza aquele que explora essa necessidade e que compra o operário” (p.76).

 

“Procurar um trabalho para ter um salário – isso é o que torna hoje quase todos os homens iguais nos países civilizados” (p. 77).

 

A “nnossa beatitude se assemelha a do náufrago que alcança a costa e que põe seus pés na velha terra firme – espantado de não senti-la vacilar” (p. 81)

 

“Talvez nada separe os homens e as épocas a não ser os diferentes graus de seu conhecimento da miséria” (p. 82).

 

“Há na generosidade o mesmo grau de egoísmo que na vingança, mas se trata de um egoísmo de outra qualidade” (p. 84).

 

A argumentação de Nietzsch (2008) considera que o limite entre a serenidade e o abatimento, a sensação de bem-estar ou de mau-estar estão associadas ao nível e tipo de conhecimento sobre os fatos da realidade, ao foco em perspectivas e características de um elemento, situação que reforça a influência da ilusão e não da coisa em si mesma. O princípio ideológico-cultural reforça e estabelece contingente e nnconstituivamente uma determinada forma de perceber uma (simulação da) realidade, seus sujeitos, a humanidade como um todo, a multidão em particular e as relações entre os sujeitos e entre os sujeitos, seus grupos e a realidade.

 

“Só podemos destruir criando! – Mas não esqueçamos também isto: basta criar nomes novos, apreciações e probabilidades novas para criar com o tempo ‘coisas’ novas”  (p. 90).

 

“O amor perdoa até o desejo do ser amado” (p. 93).

 

“O maior trabalho da humanidade até agora foi aquele de concordar sobre uma quantidade de coisas e de se impor uma lei do consenso – aquele que representa a verdade ou a falsidade das coisas” (p. 99-101).

 

“De fato, traduzir [é] conquistar” (p. 107).

 

“O que se observa quando do contato entre povos civilizados e bárbaros é que, regularmente, a civilização inferior começar por adotar os vícios e os excessos da superior, depois, partindo disso, enquanto aquela experimenta a sedução, acaba por assimilar, por meio das fraquezas e dos vícios adquiridos, alguma coisa da força que a civilização superior encerra...” (p. 121-122).

 

“A paixão é melhor que o estoicismo e a hipocrisia; ser sincero, mesmo no mal, vale mais que perder-se a si próprio na moralidade da tradição, o homem livre pode escolher ser bom ou mau, mas o homem subjugado é uma vergonha da natureza e não tem direito a nenhuma consolação, nem divina nem terrestre; enfim, que qualquer um que queira se tornar livre só pode sê-lo por si próprios; a liberdade não Cia nos braços de ninguém com um presente milagroso” (Ricardo Wagner em Bayreuth) (p. 125-126)

 

“E é precisamente porque somos no fundo homens pesados e sérios, e mais ainda pesos que homens, que nada nos faz mais bem que o capuz dos loucos: temos necessidade dele diante e nós mesmos – temos necessidade de toda arte petulante, flutuante, dançante, zombeterira, infantil e bem aventurada para não perder essa liberdade que nos coloca acima das coisas e que nosso ideal exige de nós. Seria para nós um recuo cair inteiramente na moral, precisamente com nossa probidade irritável e, por causa das exigências muito severas que nisso temos por nós mesmos, acabar por nos tornarmos nós mesmos monstros e espantalhos de virtude.É preciso também que possamos nos colocar acima da moral: e não somente com a inquieta rigidez daquele que receia a todo instante resvalar e cair, mas também pode planar e brincar por cima dela (p.133-134)!”

 

“A condição geral do mundo é, pelo contrário, desde toda a necessidade, o caos, não pela ausência de uma necessidade, mas no sentido de uma falta de ordem, de estrutura, de forma, de beleza, de sabedoria e de outras categorias estéticas humanas”. (...) “Evitemos de dizer que há leis na natureza. Nela só há necessidades: ninguém manda, ninguém obedece, ninguém desobedece. Quando souberem que não há fins, saberão igualmente que não há acaso: pois é unicamente sob o prisma de um mundo de fins que a palavra “acaso” tem um sentido. Evitemos de dizer que a morte é oposto da vida. A vida não passa de uma variedade da morte e uma variedade muito rara” (p. 136).

 

“Portanto: a força do conhecimento não reside em seu grau de verdade, mas em sua antiguidade, em seu grau de assimilação, em seu caráter de assimilação” (p. 137).

 

“A moralidade é o instinto do rebanho no indivíduo” (p. 143).

 

“Onde se domina, existem massas: onde há massas, há uma necessidade de escravidão. Onde há necessidade de escravidão, há apenas poucos indivíduos e estes têm contra eles os instintos de rebanho e a consciência” (p. 163).

 

“A necessidade metafísica não é a fonte das religiões, como o pretende Schopenhauer; é apenas seu rebento” (p. 163).

 

“O egoísmo é alei da perspectiva no domínio do sentimento. De acordo com essa lei, as coisas mais próximas parecem grandes e pesadas, ao passo que afastando-se delas, tudo decresce em dimensão e em peso” (p. 167).

 

“Quando se vive só, não se fala muito alto, não se escreve também muito alto: pois se receia o vazio do eco, a crítica da ninfa Eco. – Todas a vozes têm outro timbre na solidão” (p. 172).

 

Aquele que te elogia te diz: tu és meu semelhante” (p. 173).

 

“Nunca se ouve senão as perguntas para as quais se é capaz de encontrar uma resposta” (p. 174).

 

“Há aqueles que alcançam o topo de seu caráter quando seu espírito não está à altura desse topo – e há outros com quem ocorre o contrário” (p. 182).

 

“Mesmo o pensamento pode ser traduzido por meio das palavras” (p. 183).

 

“Queremos, até onde for possível, introduzir em todas as ciências a sutileza e o rigor da matemática, sem acreditar que com isso chegaremos a conhecer as coisas, mas somente para determinar nossas relações com elas. A matemática não é mais do que o meio supremo de conhecer os homens” (p. 184).

 

“Nenhum vencedor acredita no acaso” (p. 186).

 

“O que fazemos nunca compreendido, mas sempre e somente louvado ou criticado” (p. 187).

 

“Os antípodas, eles também têm direito à vida! Há ainda outro mundo a descobrir – e mais de um” (p. 200)!

 

“Aquele que está descontente consigo mesmo está sempre pronto a se vingar (...) (p. 201).”

 

“Como é difícil viver quando sentimos contra nós, quando respiramos em nosso ar, o juízo de vários milênios! É provável que durante milhares de anos o conhecimento tenha tido a consciência pesada e que tenha havido muito desprezo de si e misérias secretas na história dos maiores espíritos” (p. 207).

 

Acreditar para criar (p. 209).

 

“Tudo o que tem algum valor no mundo presente não o possui por si mesmo, segundo sua natureza – a natureza nunca tem valor: - foi preciso conferir-lhe um valor, atribuí-lo a ela e fomos nós que o fizemos” (p. 210-211)!

 

“Dei um nome a meu sofrimento e o chamo ‘cão’ – é tão fiel, tão importuno e imprudente, tão divertido, tão esperto, como qualquer outro cão – e posso xingá-lo e descarregar nele meus humores: como fazem outros  com seus cães, com seu criado e com sua mulhe” (p. 217-218).

 

“Na dor há tanta sabedoria quanto no prazer: ambos estão na primeira linha das forças conservadoras da espécie” (p. 220).

 

A gaia ciência a favor do riso e da alegria e contra o preconceito imposto pela seriedade. (p. 224-225). A evolução do conceito de trabalho (de coisa desagradável, coisa de escravo ou de miseráveis, à necessidade social) superou a noção de ócio e de guerra (p. 226-227).

 

“... a guerra é (...) um desvio para o suicídio mas um desvio com boa consciência” (p. 237).

 

“(...) é sempre e ainda numa crença metafísica que baseia nossa fé na ciência (...)” (p. 245).

 

“De fato, o homem é um animal que venera” (p. 248)!

 

“Alguns têm ainda necessidade de metafísica; mas esse impetuoso desejo de certeza que se descarrega hoje ainda sob formas científicas e positivistas nas grandes massas, esse desejo de ter a qualquer custo alguma coisa de sólido (enquanto que o calor desse desejo impede dedar importância aos argumentos em favor da certeza) é também ele o desejo de apoio, de suporte, em resumo, esse instinto de fraqueza que, se não cria religiões, metafísicas e princípios de toda espécie, pelo menos os conserva” (p. 250).

 

“A fé é tanto mais requerida, a necessidade de fé tanto mais urgente quanto mais faltar vontade: de fato, a vontade como paixão do mando é o sinal distintivo da soberania e da força. Isso significa que, quanto menos alguém sabe comandar, mais violentamente aspira a alguém que ordene, que comande com severidade, a um deus, um príncipe, um Estado, um médico, um confessor, um dogma, uma consciência de partido” (p. 250).

 

“De fato, o fatalismo é a única é a única ‘força de vontade’ a que podem ser levados mesmo os fracos e os indecisos, como uma espécie de hipnotização de todo o sistema sensitivo e intelectual em benefício da hipertrofia de um só sentimento, de um só ponto de vista que desde então domina – cristão chama isso sua fé” (p. 251).

 

“A luta pela vida não passa de uma exceção, uma restrição momentânea da vontade de viver; a grande e a pequena luta giram em toda parte em torno da preponderância, do aumento, da extensão do poder, em conformidade com a vontade de poder que é precisamente a vontade da vida” (p. 253).

 

A “consciência só se desenvolveu sob a pressão da necessidade de comunicar, que a princípio só era necessária e útil nas relações de homem para homem (sobretudo nas relações entre aqueles que mandam e aqueles que obedecem) e que só se desenvolveu em função de seu grau de utilidade. A comunicação é apenas uma rede de comunicação entre homens (...) Se nossos atos, pensamentos, sentimentos e movimentos chegam à nossa consciência – pelo menos em parte – é o resultado de uma terrível necessidade que durante muito tempo dominou o homem: uma vez que era o mais ameaçado dos animais, tinha necessidade de ajuda e de proteção, tinha necessidade de seus semelhantes, era obrigado a saber exprimir sua aflição, a saber tornar-se inteligível – e para isso era necessário, em primeiro lugar, a ‘consciência’ (...) (p. 259-260)”

 

O “desenvolvimento da linguagem e o desenvolvimento da consciência(não da razão, mas somente da razão que se torna consciente de si própria) se dão as mãos” (p. 260).

 

“(...) não é senão como animal social que o homem aprende a se tornar consciente de si próprio” (p. 260).

 

“(...) uma igreja é antes de tudo um edifício de dominação que assegura aos homens mais espirituais o plano superior e que acredita no poder da espiritualidade até se proibir todos os meios violentos considerados grosseiros (...)” (p. 274).

 
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm. A Gaia Ciência. Tradução de Antônio Carlos Braga – São Paulo, SP. Editora Escala. 2008. 310p. Coleção Grandes obras do Pensamento Universal, volume 45).