“Não há educação fora das
sociedades humanas e não há homem no vazio” (p. 35).
O conceito de relações, da esfera
puramente humana, guarda em si, [...] conotações de pluralidade, de
transcendência, de criticidade, de consequência e de temporalidade. [...] o
homem, ser de relações e não só de contatos, não apenas está no mundo, mas com o mundo.” (p. 39).
“Existir ultrapassa viver porque é
mais do que estar no mundo. É estar nêle (sic) e com êle (sic). [...]. O
existir é individual, contudo só se realiza em relação em relação com outros
existires” (p. 40, 41).
“[...] lança-se o homem num domínio
que lhe é exclusivo – o da História e o da Cultura” (p. 41).
“A integração resulta da capacidade
de ajustar-se à realidade acrescida da de transformá-la a que se junta a de
optar, cuja nota fundamental é a criticidade” (p. 42).
“Os contatos, por outro lado, modo
de ser próprio da esfera animal, implicam, ao contrário das relações, em
respostas singulares, reflexas e não reflexivas e culturalmente inconsequentes.
Dêles (sic) resulta a acomodação, não
a integração. Portanto, enquanto o animal é um ser da acomodação e do
ajustamento, o homem o é da integração. A sua grande luta vem sendo, através
dos tempos, a de superar os fatôres (sic)
que o fazem acomodado ou ajustado. É a luta por sua humanização, ameaçada
constantemente pela opressão que o esmaga, quase sempre até sendo feita – e
isso é o mais doloroso - em nome de sua
própria libertação” (p. 43).
“Uma das grandes, se não a maior,
tragédia do homem moderno, está em que é hoje dominado pela força (sic) dos
mitos e comandado pela publicidade organizada, ideológica ou não, e por isso
vem renunciando cada vez, sem o saber, à sua capacidade de decidir. Vem sendo
expulso da órbita das decisões. As tarefas de seu tempo não são captadas pelo
homem simples, mas a êle (sic) apresentadas por uma ‘elite’ que as interpreta e
lhas entrega em forma de receita, de prescrição a ser seguida. E, quando julga
que se salva seguindo as prescrições, afoga-se no anonimato nivelador da massificação,
sem esperança e sem fé, domesticado e acomodado: já não é sujeito. Rebaixa-se a puro objeto”
(p. 43).
“[...] o homem simples esmagado,
diminuído e acomodado, convertido em espectador, diminuído pelo poder dos mitos
que fôrças (sic) sociais poderosas
criam para êle (sic)” (p. 45).
“Porque dramática, desafiadora, a
fase de trânsito se faz então um tempo enfaticamente de opções” (p. 46)
“Nutrindo-se de mudanças, o tempo
de trânsito é mais do que simples mudança. Êle (sic) implica realmente nesta marcha acelerada que faz a sociedade à
procura de novos temas e de novas tarefas. E se todo Trânsito é mudança, nem
toda mudança é trânsito. As mudanças se processam numa mesma unidade de tempo
histórico e qualitativamente invariável, sem afetá-la profundamente. É que elas
se verificam pelo jogo (sic) normal
de alterações sociais resultante resultantes da própria busca de plenitude que
o homem tende a dar aos temas. Quando, porém, êstes (sic) temas iniciam o seu esvaziamento e começam a perder
significação e novos temas emergem, é sinal de que a sociedade começa a
passagem para outra época” (p. 46).
“As alterações econômicas, mais
fortes neste século, e que começaram incipientemente no século passado, com os
primeiros surtos de industrialização, foram os principais fatôres (sic) da rachadura da nossa sociedade”
(p. 49).
“O homem radical na sua opção, não
nega o direito ao outro de optar. Não pretende impor a sua opção. Dialoga sobre
ela. Está convencido de seu acêrto (sic),
mas respeita no outro o direito de julgar-se certo. Tenta convencer e
converter, e não esmagar o seu oponente. Tem o dever, contudo, por uma questão
mesma de amor, de reagir à violência dos que lhe pretendam impor silêncio” (p.
50).
“Tôda relação de dominação, de
exploração, de opressão já é, em si, violenta. Não importa que se faça através
de meios drásticos ou não. É a um tempo, desamor e óbice ao amor. Óbice ao amor
na medida em que dominador e dominado, desumanizando-se o primeiro, por
excesso, o segundo, por falta de poder, se fazem coisas. E coisas não se amam.
De modo geral, porém, quando o oprimido legitimamente se levanta contra o
opressor, em quem identifica a opressão, é a êle (sic) que se chama de violente, de bárbaro, de desumano, de frio. É
que, entre os incontáveis direitos que se admite a si a consciência dominadora
tem mais estes: o de definir a violência. O de caracterizá-la. O de localizá-la.
E se êste (sic) direito lhe assiste, com exclusividade, não será nela mesma que
irá encontrar a violência. Não será a si própria que chamará de violenta. Na
verdade, a violência do oprimido, ademais de ser mera resposta em que revela o
intento de recuperar sua humanidade, é, no fundo, ainda, a lição que recebeu do
opressor” (p. 50).
“E a sectarização tem um matiz
preponderantemente emocional e acrítica É arrogante, antidialógica e por isso,
anticomunicativa. É reacionária, seja assumida por direitista, que para nós é
sectário da ‘nascença’, ou esquerdista” (p. 51).
“Só na convicção permanente do
inacabado pode encontrar o homem e as sociedades o sentido da esperança. Quem
se julga acabado está morto. Não descobre sequer sua indigência” (p. 53).
Conscientização é o
“desenvolvimento da tomada de consciência [que] ameaça as elites detentoras de
privilégios [e que consideram como] ‘idéias exóticas’, em última análise, tudo
que possa contribuir para a presença atuante do povo no seu processo histórico”
(p. 55) e que consideram “os que se integram no trânsito e se fazem
representantes dêle (sic) de
subversivos” (p. 56).
O clima emocional, alongado em
irracionalismos, é que gerava, alimentava e faziam crescer as posições
sectárias” (p. 56).
“O grande perigo do
assistencialismo está na violência do seu antidiálogo, que, impondo ao homem
mutismo e passividade, não lhe oferece condições especiais para o
desenvolvimento ou a ‘abertura’ de sua consciência que, nas democracias
autênticas, há de ser cada vez mais crítica.
Sem esta consciência cada vez mais
crítica não será possível ao homem brasileiro integrar-se à sua sociedade em
transição, intensamente cambiante e contraditória.
Daí as relações do assistencialismo
com a massificação, de que é a um tempo efeito e causa” (p. 57).
“O que importa, realmente, ao
ajudar-se o homem é ajuda-lo a ajudar-se (E aos povos também. É, fazê-lo agente
de sua própria recuperação. É, repitamos, pô-lo numa postura conscientemente
crítica diante de seus problemas
O assistencialismo, ao contrário, é
uma forma de ação que rouba ao homem condições à consecução de uma das
necessidades fundamentais de sua alma – a responsabilidade” (p. 58).
“Uma educação que [...] propiciasse
a reflexão sobre (sic) seu próprio
poder de refletir e que tivesse sua instrumentalidade, por isso mesmo, no
desenvolvimento dêsse (sic) poder, na
explicitação de suas potencialidades, de que decorreria sua capacidade de
opção” (p. 59).
“O homem qualquer que seja o seu
estado, é um ser aberto. O que pretendemos significar com a consciência
‘intransitiva’ é a limitação de sua esfera de apreensão. É a sua
impermeabilidade a desafios situados fora da órbita vegetativa. Neste sentido e
só neste sentido, é que a intransitividade representa um quase incompromisso do
homem com a existência. O discernimento se dificulta” (p. 60).
“Por isso mesmo que, existir, é um
conceito dinâmico. Implica numa dialogação eterna do homem com o homem. Do
homem com o mundo. Do homem com o seu Criador. É essa dialogação do homem sôbre
(sic) o mundo e com o mundo mesmo,
sôbre (sic) os desafios e problemas,
que o faz histórico” (p. 60).
“A criticidade para nós implica na
apropriação crescente pelo homem de sua posição no contexto. Implica na sua
inserção, na sua integração, na representação objetiva da realidade. Daí a
conscientização ser o desenvolvimento da tomada de consciência” (p. 61).
“A passagem da consciência
preponderantemente intransitiva para a predominantemente transitivo-ingênua
vinha paralela à transformação dos padrões econômicos da sociedade brasileira”
(p. 62).
“O que caracteriza o comportamento
comprometido é a capacidade de opção. Esta exige [...] um teor de criticidade
inexistente ou vagamente existente na consciência intransitiva. [...]. Na
medida, realmente, em que o homem, transitivando-se, não consegue a promoção da
ingenuidade à criticidade, em têrmos (sic)
obviamente preponderantes, e chega à transitividade fanática, seu incompromisso
com a existência é ainda maior que o verificado no grau da intransitividade.
[...]. Se o sentido mágico da intransitividade implica numa preponderância de
alogicidade, o mítico de que se envolve a consciência fanática implica numa
preponderância de irracionalidade. A possibilidade de diálogo se suprime ou
diminui intensamente e o homem fica vencido e dominado sem sabê-lo, ainda que
se possa crer livre. Teme a liberdade, mesmo que fale dela” (p. 63).
“A nossa colonização foi,
sobretudo, uma empreitada comercial. Os nossos colonizadores não tiveram – e
dificilmente poderiam ter tido – intenção de criar na terra descoberta, uma
civilização. Interessava-lhes a exploração comercial da terra” (p. 67).
“Faltou-nos, na verdade, com o tipo de colonização que tivemos, vivência
comunitária. Oscilávamos entre o poder do senhor das terras e o poder do
governador, do capitão-mor” (p. 70).
Mandonismo, dependência,
protecionismo, soluções paternalistas são marcas da colonização brasileira na
sociedade atual (p. 69) que colocaram o privado sobre o público (p. 73), que
ocasionaram a fundação de cidades urbanas a partir de um princípio
verticalizado de contato entre os sujeitos (p. 79) e que permitiram o processo
de europeização do Brasil após a vinda da corte portuguesa para o Brasil no
século XIX (p. 78).
“O mutismo não é propriamente
inexistência de resposta. É resposta a que falta teor marcadamente crítico” (p.
69).
“A dialogação implica numa
mentalidade que não floresce em áreas fechadas, autarquizadas. Estas, pelo
contrário, constituem um clima ideal para o antidiálogo” (p. 69).
“A dialogação implica na
responsabilidade social e política do homem” (p. 70)
“É que em todo o nosso background cultural, inexistiam
condições de experiência, de vivência da participação popular na coisa pública.
Não havia povo” (p. 71).
“Nas circunstâncias de nossa
colonização, de nosso povoamento, ao contrário, tudo nos levava a um
fechamento, extremamente individualista” (p. 71).
“Por outro lado, a enormidade das
terras, a rala população de Portugal, dificultando tentativas de povoamento, o
espírito comercial da colonização [...] sem relações a não ser com Portugal,
fixariam a exploração da colônia, nas já citadas bases do trabalho escravo.
Trabalho escravo de que haveria de decorrer uma série de obstáculos, de
estrangulamentos à formação de uma mentalidade democrática. De uma consciência
permeável. De experiência de participação. De autogovêrno (sic) (p. 72).
“Em verdade, o que caracterizou,
desde o início, a nossa formação, foi, sem dúvida, o poder exacerbado. [...] a
que foi se associando submissão. Submissão de que decorria, em consequência, ajustamento, acomodação e não integração”
(p. 74).
“Não se fale, por exemplo, como
tentativa de negação de nossa experiência democrática, das coloniais Câmaras
municipais, dos seus Senados, dos seus vereadores [que] revelam antes a
ausência de participação do homem comum na sua vida, no seu funcionamento” (p.
75).
“Importamos a estrutura do estado
nacional democrático, sem nenhuma prévia consideração a nosso contexto” (p. 79)
“Superpúnhamos a uma estrutura
economicamente feudal e a uma estrutura social em que o homem vivia vencido,
esmagado e ‘mudo’, uma forma política e social cujos fundamentos exigiam, ao
contrário do mutismo, a dialogação, a participação, a responsabilidade,
política e social” (p. 79).
“[...] restrições no tráfico de
escravos e, depois, com a abolição da escravatura. E isto porque capitais que
se destinavam à compra de escravos se viram, de um momento para outro, sem
destinação” (p. 81).
“E grande parte do povo, emergente
mas desorganizado, ingênuo e despreparado, com fortes índices de analfabetismo
e semi-analfabetismo, passava a joguête (sic)
dos irracionalismos.
E a classe média, sempre em busca
de ascensão e privilégios, temendo naturalmente sua proletarização, ingênua e
emocionalizada, via na emersão popular, no mínimo, uma ameaça ao que lhe
parecia sua paz. Daí a sua posição reacionária diante da emersão popular” (p.
87, 88).
“A produção em série, como
organização de trabalho humano é, possivelmente, dos mais instrumentais fatôres
(sic) de massificação do homem no
mundo altamente técnico atual. [...] Não exige atitude crítica total diante de
sua produção. Desumaniza-o. Corta-lhe os horizontes com a estreiteza da
especialização exagerada. Faz dele um ser passivo. Medroso. Ingênuo” (p. 89).
“A rebelião é fartamente ingênua e,
por isso mesmo, carregada de teor emocional. Daí a necessidade de ser
transformada em inserção” (p. 92).
“Na verdade, se há saber que só se
incorpora ao homem experiencialmente, existencialmente, êste (sic) é o saber democrático” (p. 92).
“De teoria, na verdade, precisamos nós. De
teoria que implica numa inserção na realidade, num contato analítico com o
existente, para comprová-lo, para vivê-lo e vive-lo plenamente, praticamente.
Neste sentido é que teorizar é contemplar. Não no sentido destorcido que lhe
damos, de oposição à realidade. De abstração. Nossa educação não é teórica
porque lhe falta êsse (sic) gosto da
comprovação, da invenção, da pesquisa. Ela é verbosa. Palavresca. É ‘sonora’. É
‘assistencialista’. Não comunica. Faz comunicados, coisas diferentes” (p. 93).
“Nada ou quase nada existe em nossa
educação, que desenvolva no nosso estudante o gôsto (sic) da pesquisa, da constatação, da revisão dos ‘achados’ – o que
implicaria no desenvolvimento da consciência transitivo-crítica” (p. 94).
“Quanto mais crítico um grupo
humano, tanto mais democrático e permeável, em regra. Tanto mais democrático,
quanto mais ligado às condições de sua circunstância. [...] Quanto menos
criticidade em nós, tanto mais ingênuamente (sic) tratamos os problemas e discutimos superficialmente os
assuntos” (p. 95).
“A educação é um ato de amor, por
isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não
pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa” (p. 96).
“[...] assim como não podemos
perder a batalha do desenvolvimento [...] não podemos perder a batalha da
humanização do homem brasileiro” (p. 97).
“[...] um saber autêntico, por isso
comprometido” (p. 99)
“Assim em lugar de escola, que nos
parece um conceito, entre nós, demasiado carregado de passividade, em face de
nossa própria formação (mesmo quando se lhe dá o atributo de ativa)
contradizendo a dinâmica fase de transição, lançamos o Círculo de Cultura. Em lugar de professor, com tradições fortemente
‘doadoras’, o Coordenador de Debates.
Em lugar de aula discursiva, o diálogo.
Em lugar de aluno, com tradições passivas, o participante de grupo. Em lugar de ‘pontos’ e de programas
alienados, programação compacta,
‘reduzida’ e ‘codificada’ em unidades de aprendizado” (p. 103). “[...] um
método ativo, dialogal, participante [...]” (p. 107).
“A consciência crítica ‘é a
representação das coisas e dos fatos como se dão na existência empírica. Nas
suas correlações causais e circunstanciais’. ‘A consciência ingênua (pelo
contrário) se crê superior aos fatos, dominando-os de fora e, por isso, se
julga livre para entende-los conforme melhor lhe agradar.
A consciência mágica, por outro
lado, não chega a acreditar-se ‘superior aos fatos, dominando-os de fora, nem
‘se julga livre para entende-los como melhor lhe agradar. Simplesmente os
capta, emprestando-lhes um poder superior, que a domina de fora [...]” (p.
105).
“Ninguém ignora tudo. Ninguém tudo
sabe. A absolutização da ignorância, ademais de ser a manifestação de uma
consciência ingênua da ignorância e do saber, é instrumento de que se serve a
consciência dominadora para a manipulação dos chamados ‘incultos’. Dos
‘absolutamente ignorantes’ que, ‘incapazes de dirigir-se’, necessitam da
‘orientação’, da ‘direção’, da ‘condução’ dos que se consideram a si mesmos
‘cultos e superiores’” (p. 105).
“[...] a toda compreensão de algo
corresponde, cedo ou tarde, uma ação” (p. 106).
Uma educação “[i]dentificada com as
condições de nossa realidade” (p. 106).
O diálogo “é uma relação de A com
B. [...]. E quando os dois pólos do diálogo se ligam assim, com amor, com
esperança, com fé um no outro, se fazem críticos na busca de algo. Instala-se,
então, uma relação de simpatia entre ambos. Só aí há comunicação” (p. 107).
“Tôda (sic) vez que se converta o ‘tu’ desta relação em mero objeto, se terá
pervertido o diálogo e já não se estará educando, mas deformando” (p. 115).
“[...] dimensão da cultura como
aquisição sistemática da experiência humana. [...] debate da democratização da
cultura, com que se abrem as perspectivas para o início da alfabetização” (p.
110)
A experiência freireana “se
fundamenta no aprendizado da informação através de canais múltiplos de
comunicação” (p. 111).
“Palavras geradoras são aquelas
que, decompostas em seus elementos silábicos, propiciam, pela combinação dêsses
(sic) elementos, a criação de novas
palavras” (p. 112).
Critério sintático, semântico e
pragmático para seleção das palavras no método freireano (p. 114).
“[...] educação como um esforço de
libertação do homem e não como um instrumento a mais de sua dominação” (p.
122).
Alfabetização e
reflexão/conscientização (p. 142).
“[...] visualização da palavra [e]
sua vinculação semântica” (p. 145) (ATO DE CORPO/FALA/MATERIAL)
“O sentido altamente catártico que
tem o Método [...]” (p. 150).
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 9ª edição. Rio de Janeiro, Paz
e Terra, 1979. 150 páginas.
............................................
“Porque
no campo da significação geral do movimento brasileiro de educação popular
interessam-nos sobretudo suas implicações sociais e políticas” (p. 04, 05).
“[...]
coordenar, jamais influir ou impor” (p.
05)
“As
palavras não existem independentemente de sua significação real, de sua
referência às situações” (p. 06).
“[...]
a alfabetização e a conscientização jamais se separam. [...] todo
aprendizado deve encontrar-se intimamente associado à tomada de consciência da
situação real vivida pelo educando” (p. 06).
“A liberdade é concebida como o modo de ser o destino do Homem, mas por
isto mesmo só pode ter sentido na história que os homens vivem” (p. 06,
07).
“O tema da educação como afirmação da liberdade tem antigas
ressonâncias, anteriores mesmo ao pensamento liberal. Persiste desde os gregos
como uma das idéias mais caras ao humanismo ocidental e encontra-se amplamente
incorporado a várias correntes da pedagogia moderna” (p. 07).
O problema da restrição “ao estrito aprendizado de técnicas ou de
noções abstratas” (p. 07).
“O ponto de partida para o trabalho no círculo de cultura está em
assumir a liberdade e a crítica como o modo de ser do homem” (p. 07).
“A compreensão desta pedagogia em sua dimensão prática, política ou
social, requer, portanto, clareza quanto a este (sic) aspecto fundamental: a
idéia da liberdade só adquire plena significação quando comunga com a luta
concreta dos homens por libertar-se” (p. 09).
“[...] o fantasma do comunismo, que as classes dominantes agitam contra
qualquer govêrno (sic) democrático da américa Latina [...]. Não obstante, os reacionários não podiam
compreender que um educador católico se fizesse expressão dos oprimidos e menos
ainda podiam compreender que a cultura levada ao povo pudesse conduzir à dúvida
sôbre (sic) a legitimidade de seus privilégios” (p. 11)
“Conscientizar não significa, de nenhum modo ideologizar ou propor
palavras de ordem” (p. 12).
“Tôda a separação entre os que sabem e os que não sabem, do mesmo modo
que a separação entre as elites e o povo, é apenas fruto de circunstâncias
históricas que podem e devem ser transformadas” (p. 12).
“O estado e as palavras são igualmente expressões da prática dos homens,
e conscientizar é assumir a consciência dêste (sic) fato” (p. 13).
“Uma pedagogia da liberdade pode ajudar uma política popular, pois a
conscientização significa uma abertura à compreensão das estruturas sociais
como modos da dominação e da violência” (p. 16).
“A democracia e a liberdade encontram-se esboçadas nesta etapa de
transição como possibilidades históricas. Elas não se efetivam sem luta”
(p. 17). A LUTA ENTRE AS FORÇAS CENTRÍFUGAS E AS CENTRÍPETAS.
RELATO ELABORADO NA DÉCADA DE 60 DO
SÉC. XX: “Do ponto de vista das elites, a
questão se apresenta de modo claro: trata-se de acomodar as classes populares
emergentes, domesticá-la em algum esquema de poder ao gôsto (sic) das classes
dominantes” (p. 17)
“O critério segundo o qual só os alfabetizados podem votar é muito
semelhante, em certo sentido, aos critérios censitários vigentes na Europa do
século XIX” (p. 18).
RELATO ELABORADO NA DÉCADA DE 60 DO
SÉC. XX: “Em face da exclusão da maioria
da massa rural, a parcela mais significativa dos votos do interior vem, sem
dúvida, da pequena burguesia urbana das pequenas cidades, onde o poder do
latifundiário é decisivo e dos setores que se assimilam à condição de
dependentes pessoais ou de agregados das grandes famílias” (p. 19).
“[...] populismo também quer dizer autoritarismo e manipulação [...]” (p.
20).
As massas “como principal fonte de legitimidade do regime” (p. 21).
“A manipulação populista não poderia deixar de trazer consigo algum grau
efetivamente real de uma autêntica mobilização democrática que se expressa,
entre outros resultados, no relativo deslocamento dos interesses oligárquicos e
na preservação do nível de vida das massas urbanas. E pareceria estar aí a raiz
da ambiguidade característica do comportamento populista: intermediários entre
as elites e as massas, oscilam sempre a manipulação e a mobilização
democrática, entre a defesa das reinvindicações populares e a manutenção de um status
quo onde é decisiva a ponderação dos
interesses dominantes” (p. 22).
“Tôda (sic) prática implica em algum perigo de transfiguração de suas
intenções originais [...]” (p. 23).
“[...] o movimento de educação
popular serviu em conjunto muito mais à mobilização que à manipulação, que
sempre criticou de maneira bastante clara” (p. 23).
“Os políticos populistas nem sempre compreenderam claramente a mobilização
que eles (sic) próprios estimulavam. [...] jamais puderam entender tôda (sic) a
celeuma criada pelos grupos de direita em tôrno (sic) da pedagogia de Paulo
Freire. Os políticos percebiam o movimento de educação popular, como todas as
demais formas de mobilização de massas, de modo muito coerente com seu estilo
de pensamento e de ação: cada homem um voto. [...]. Não puderam perceber que
suas palavras vagas e abstratas tinham vida real para as massas e as
estimulavam a esperar mais do que êles (sic) podiam dar” (p. 24).
“Os políticos apesar de serem homens práticos por definição,
reduziram-se muitas vêzes (sic), às funções de ideólogos, da difusão dos
princípios, da propaganda” (p. 26).
WEFFORT, Francisco C. Educação e política (Reflexões sociológicas
sobre uma pedagogia da liberdade) in FREIRE,
Paulo. Educação como prática da
liberdade. 9ª edição. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979. 150 páginas.
........................................
“Uma educação como prática da
liberdade só poderá se realizar se realizar plenamente numa sociedade onde
existem as condições econômicas, sociais e polítcas de uma existência em
liberdade” (PIERRE FURTER, 2ª orelha do livro).
“Não basta que o povo imerso no seu
silêncio secular emerja dando voz às suas reinvindicações. Ainda deve torna-se
capaz de elaborar de maneira crítica e prospectiva a sua conscientização de
maneira a ultrapassar um comportamento de rebelião para uma integração
responsável e ativa numa democracia a fazer, num projeto coletivo e nacional de
desenvolvimento” (PIERRE FURTER, 2ª orelha do livro).
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