“Chama-se mecânico ao todo se
alguns de seus elementos estão unificados apenas no espaço e no tempo por uma
relação externa e não os penetra a unidade interna do sentido. As partes desse
todo, ainda que estejam lado a lado e se toquem, em si mesmas são estranhas
umas às outras.
Os três campos da cultura humana –
a ciência, a arte e a vida – só adquirem unidade no indivíduo que os incorpora
à sua própria unidade. Mas essa relação pode tornar-se mecânica, externa” (p.
XXXIII).
“O que garante o nexo interno entre
os elementos do indivíduo? Só a unidade da responsabilidade” (p. XXXIII).
“O indivíduo deve tornar-se
inteiramente responsável [...] na unidade da culpa e da responsabilidade” (p.
XXXIV).
“Arte e vida não são a mesma coisa,
mas devem tornar-se algo singular em mim, na unidade da minha responsabilidade
. (p. XXXIV).
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O
AUTOR E A PERSONAGEM NA ATIVIDADE ESTÉTICA
Capítulo
I – O autor e a
personagem (página 01-20)
Definições “traduzem a posição
prático-vital que assumimos em relação” ao observado (p. 03).
“[...] na vida não nos interessa o
todo do homem mas apenas alguns de seus atos com os quais operamos na prática e
que nos interessam de uma forma ou de outra. [...] Já na obra de arte, a
resposta do autor às definições isoladas da personagem se baseiam numa resposta
única ao todo ao todo da personagem,
cujas manifestações particulares são todas importantes para caracterizar esse
todo como elemento da obra. É especificamente estética essa resposta ao todo da
pessoa-personagem, e essa resposta reúne todas as definições e avaliações
ético-cognitivas e lhes dá acabamento em um todo concreto-conceitual singular e
único e também semântico. Essa resposta total a personagem tem um caráter
criador, produtivo e de princípio. De um modo geral, toda relação de princípio
é de natureza produtiva e criadora. O que na vida chamamos, na cognição e no
ato chamamos de objeto definido só adquire determinidade na nossa relação com
ele: é nossa relação que define o objeto e sua estrutura e não o contrário; só
onde a relação se tornar aleatória de nossa parte, meio caprichosa [...]
perdemos a nós mesmos e perdemos também a determinidade estável do mundo”
“O autor não encontra de imediato
para a persnoangem uma visão não aleatória, sua resposta não se torna
imediatamente produtiva e de princípio, e do tratamento axiológico único
desenvolve-se o todo da personagem: esta exibirá muitos trejeitos, máscaras
aleatórias, gestos falsos e atos inesperados em função das respostas
volitivo-emocionais e dos caprichos de alma do autor; através do caos de tais
respostas ele terá de inteirar-se, ela terá de inteirar-se amplamente da sua
verdadeira diretriz axiológica, até que sua feição finalmente se constitua em
um todo estável e necessário (p. 04).
“[...] a resposta total, que cria o
todo do objeto, realiza-se de forma ativa, mas não é vivida como algo
determinado, sua determinidade reside justamente no produto que ela cria, isto
é, no objeto enformado; o autor reflete a posição volitivo-emocional da
personagem e não o processo interno psicologicamente determinado. São
igualmente assim todos os vivenciamentos criadores ativos: estes vivenciam o
seu objeto e a si mesmos no objeto e não no processo de seu vivenciamento
[...]” (p. 05).
O ATO DE CRIAR E O ATO DE REFLETIR
SOBRE O CRIADO (p. 05, 06).
“[...] caráter criativamente
produtivo do autor e sua resposta total à personagem; ele é a única energia
ativa e formadora, dada não na consciência psicologicamente agregativa, mas em
um produto cultura de significação estável, e sua reação ativa é dada na
estrutura – que ela mesma condiciona – da visão ativa da personagem como um
todo, na estrutura da sua imagem, no ritmos do seu aparecimento, na estrutura
da entonação e na escolha dos elementos semânticos” (p. 06).
“Só depois de compreender essa
resposta total e essencialmente criadora do autor à personagem, de compreender
o próprio princípio da visão da personagem [...], pode-se pôr uma ordem rigorosa na definição da
forma-conteúdo das modalidades de personagem, dar um sentido unívoco e criar
para elas uma definição sistemática não aleatória. Neste sentido, reina até
hoje pleno caos na estética da criação verbal e particularmente na história da
literatura. [...] a personagem e o autor acabam não sendo elementos do todo artístico
da obra mas elementos de uma unidade prosaicamente concebida da vida
psicológica e social” (p. 07).
VOLTAR-SE PARA O BIOGFRÁFICO E
ESQUECER “a forma do tratamento do acontecimento, a forma do seu vivenciamento
na totalidade da vida e do mundo. [...] ignora-se a refutação estética. É claro que às vezes o autor põe suas idéias
diretamente nos lábios da personagem tendo em vista a significação teórica ou
ética (polítca, social) dessas idéias, visando a convencer quanto à sua
veracidade ou a propaga-la, mas aí já não estamos diante de um princípio
esteticamente produtivo do tratamento da personagem” (p. 08).
“[...~] acontecimento ético e
social da vida [...]” (p. 09).
“[...] a idéia da empatia
(Einfühlung)) como princípio de conteúdo-forma que sedimenta a relação do
autor-contemplador com o objeto em sentido geral e com a personagem [...] a
idéia do amor estético [...]” (p. 10).
“[...] a estética da criação verbal
ganharia muito caso se definisse por uma filosofia estética de âmbito geral em
vez das generalizações genéticas pseudocientíficas da história da literatura
[...]”
“Autor: é agente da unidade
tensamente ativa do todo acabado, do todo da personagem e do todo da obra, e
este é transgrediente a cada elemento particular desta” (p. 10).
“Não posso viver do meu próprio
acabamento e do acabamento do acontecimento, nem agir; para viver preciso ser
inacabado, aberto para mim – ao menos em todos os momentos essenciais –,
preciso ainda me antepor axiologicamente a mim mesmo, não coincidir com a minha
existência presente” (p. 11).
“A consciência da personagem, seu
sentimento e seu desejo de mundo – diretriz volitivo-emocional concreta –, é
abrangida de todos os lados, como em um círculo, pela consciência concludente
do autor a respeito dele e do seu mundo; [...] o interesse vital
(ético-cognitivo) pelo acontecimento da personagem é abarcado pelo interesse
ético-artístico do autor. [...]; para a objetividade estética, o centro
axiológico é o todo da personagem e o acontecimento a ela referente, ao qual
devem estar subordinados todos os valores éticos e coginitivos” (p. 11).
TRANSGREDIÊNCIA E NÃO ACABAMENTO
DOS VALORES ÉTICOS E COGNITIVOS (p. 12).
“[...] acontecimento ético aberto e
singular da existência [...]” (p. 13).
“[...] tornar-se outro em relação a
si mesmo, olhar para si mesmo com os olhos do outro; é verdade que até na vida
procedemos assim a torto e a direito, avaliamos a nós mesmos do ponto de vista
dos outros, através do outro procuramos compreender e levar em conta os
momentos transgredientes à nossa própria consciência: desse modo, levamos em
conta o valor da nossa imagem externa do ponto de vista da possível impressão
que ela venha a causar [...]” (p. 13).
“[...] captamos os reflexos da
nossa vida no plano da consciência dos outros [...]”
“[...] o todo da personagem deve
permanecer o último todo para o autor-outro, deve separar o autor da personagem
– em si mesma de modo total e absoluto [...] combinação estética da consciência
da personagem com o fundo [...] a minha própria imagem estética, refletida
através do outro, não é a imagem externa imediatamente artística da personagem”
(p. 15).
Primeiro caso: a personagem assume
o domínio sobre o autor. A diretriz volitivo-emocional e concreta e a posição
ético-cognitiva da personagem no mundo têm tamanha autoridade para o autor que
este não pode perceber o mundo concreto apenas pelos olhos da personagem nem
deixar de vivenciar apenas de dentro os acontecimentos da vida dela, fora da
personagem o autor não consegue encontrar um ponto de apoio axiológico
convincente e sólido” (p. 15).
“[...] elementos de acabamento
[...]” (p. 17).
Segundo caso: o autor se apossa da
personagem, introduz-lhe no interior elementos concludentes [...]” (p. 17).
Terceiro caso: a personagem é
autora de si mesma, apreende sua própria vida esteticamente, parece representar
um papel; essa personagem, à diferença da personagem infinita do romantismo e
da personagem não redimida de Dostoiévski, é auto-suficiente e acabada de forma
segura” (p. 18).
HEROIFICAÇÃO: “diretriz volitvo-emocional
concreta da personagem [...]” (p. 19).
“Cada elemento concludente,
transgrediente à autoconsciência da personagem, pode ser empregado em todas
essas tendências (satírica, heroica, humorística, etc)” (p. 19).
POSSIBILIDADE DE AUTOVIVENCIAMENTO
E GRAU DE TRANSGREDIÊNCIA DA SÁTIRA E DA IRONIA (p. 19).
“[...] transgrediência axiológica
de todos os elementos que asseguram a própria personagem o acabamento estético
[...]” (p. 19).
DEPENDENDO DO TIPO E DA INTENSIDADE
DO CONTATO ENTRE AUTOR E PERSONAGEM O ACONTECIMENTO PODE SER ESTÉTICO, ÉTICO,
COGNITIVO OU RELIGIOSO (p. 20).
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Capítulo
II – A forma espacial da personagem
1
– O excedente da visão estética
“Quando contemplo no todo um homem
situado fora e diante de mim, nossos horizontes concretos efetivamente
vivenciáveis não coincidem. Porque em qualquer situação ou proximidade que esse
outro que contemplo possa estar em relação a mim, sempre verei e saberei algo
que ele, da sua posição fora e diante de mim, não pode ver: as partes de seu
corpo inacessíveis ao seu próprio olhar. [...]. Quando nos olhamos, dois
diferentes mundos se refletem na pupila dos nossos olhos” (p. 21).
Esse excedente da minha visão, do
meu conhecimento, da minha posse [...] é condicionado pela singularidade e pela
insubstitutibilidade do meu lugar no mundo [...]” (p. 21).
“[...] na vida, a relação eu outro
[...]” (p. 22).
“VIVENCIMENTO: “[...] seja na
categoria do eu-para-mim, seja na
categoria do outro-para-mim [...]”
(p. 22).
EXCEDENTE DE VISÃO E
CONTEMPLAÇÃO-AÇÃO, AXIOLOGIA E TONS VOLITIVO-EMOCIONAIS (p. 23).
“O primeiro momento da atividade
estética é a compenetração: eu devo vivenciar – ver e inteirar-me – o que ele
vivencia, colocar-me no lugar dele, como que coincidir com ele [...]” (p. 23).
“Quando me compenetro dos
sofrimentos do outro, eu os vivencio precisamente como sofrimentos dele, na categoria do outro, e minha reação a ele não é um
grito de dor e sim uma palavra de consolo e um ato de ajuda. Relacionar ao
outro o vivenciado é condição obrigatória de uma compenetração de uma
compenetração eficaz e do conhecimento tanto épico quanto estético. A atividade
estética começa propriamente quando retornamos a nós mesmos e ao nosso lugar
fora da pessoa que sofre, quando enformamos e damos acabamento ao material da
compenetração; tanto essa enformação quanto esse acabamento transcorrem pela
via em que preenchemos o material da compenetração, isto é, o sofrimento de um
dado indivíduo, através dos elementos transgredientes a todo o mundo material
da sua consciência sofredora, elementos esses que agora têm uma nova função,
não mais comunicativa e sim de acabamento
[...]” (p. 24, 25).
VONTADE, SENTIMENTO E EXCEDENTE DE
VISÃO.
“[....] valores plástico-picturais
e espaciais que são transgredientes à consciência e ao mundo da personagem, à
sua diretriz ético-cognitiva no mundo, e o concluem de fora, a partir da
consciência do outro sobre ele, da consciência do autor-contemplador” (p. 25).
2.
A imagem externa
“[...] minha imagem externa não
integra o horizonte real concreto de minha visão, salvo os casos raros em que
eu, como Narciso, contemplo meu reflexo na água ou no espelho. Minha imagem
externa, isto é, todos os elementos expressivos do meu corpo, sem exceção, é
vivenciada de dentro por mim; é apenas sob a forma de extratos, de fragmentos
dispersos, que se agitam nas cordas da auto-sensação interna [...]” (p. 26).
“A diversidade de planos das
personagens no sonho é particularmente clara se o sonho é de natureza erótica
[...]. Mas, quando começo a contar o meu sonho a outra pessoa, tenho de
transferir a personagem central para um plano com outras personagens (mesmo
quando a narração é feita na primeira pessoa), em todo caso devo levar em conta
que todas as personagens da narração, inclusive eu, serão percebidas em um
plano plástico-pictural pelo ouvinte, para quem todas elas são outros” (p. 27).
“Todas as minhas reações
volitivo-emocionais, que apreendem e organizam a expressividade externa do
outro [...] estão orientadas para o mundo adiante de mim [...]” (p. 28).
ELEMENTO VIVIFICADOR DA
“arquitetônica do mundo do sonho” [é] “a possibilidade de afirmação
volitivo-emocional da minha imagem a partir do outro e para o outro [...]” (p.
28, 29).
“[...] o pensamento desconhece as
dificuldades éticas e estéticas da auto-objetivação” (p. 29).
PRIMADO DO ACONTECIMENTO E DA
INTERAÇÃO.
“[...] tentamos vivificar e
enformar a nós mesmos a partir do outro” (p. 30).
“[...] eu não estou só quando me
contemplo no espelho, estou possuído por uma alma alheia” (p. 31).
“Porque a imagem externa deve
englobar, conter e concluir o todo da alma – o todo da minha diretriz
volitivo-emocional e ético-cognitiva no mundo; essa função, a imagem externa
comporta para mim apenas no outro [...]” (p. 32).
“Na categoria do eu, minha imagem
externa não pode ser vivenciada como um valor que me engloba e me acaba, ela só
pode ser assim vivenciada na categoria do outro, e eu preciso me colocar a mim
mesmo sob essa categoria para me ver como elemento de um mundo exterior plástico-pictural
e único” (p. 33).
O OUTRO “é o único capaz de criar
para [o eu] uma personalidade externamente acabada; tal personalidade não
existe se o outro não a cria” (p. 33).
“[...] o homem tem uma necessidade
estética absoluta do outro, do seu ativismo que vê, lembra-se, reúne e unifica,
que é o único capaz de criar para ele uma personalidade externamente acabada
[...]” (p. 33).
...........................................................
3.
O vivenciamento das fronteiras externas do homem
“Um elemento especial e sumamente
importante na visão plástico-pictural do homem é o vivenciamento das fronteiras
externas que o abarcam. [...]. Vivencia-se essa fronteira externa na
autoconsciência, isto é, em relação a si mesmo, de modo essencialmente diverso
do que se vivencia em relação a outro indivíduo. De fato, só no outro indivíduo
me é dado experimentar de forma viva, estética e (e eticamente), convincente a
finitude humana, a materialidade empírica limitada. O outro me é todo dado no
mundo exteriror a mim como elemento deste, inteiramente limitado em termos
espaciais; em cada momento dado eu vivencio nitidamente todos os limites dele
[...]” (p. 34).
“O modo como vivencio o eu do outro
difere inteiramente do modo como vivencio o meu próprio eu; isso entra na categoria do outro
como elemento integrante [...]” (p. 35).
“O outro indivíduo está todo no
objeto para mim, e está , e o seu eu é apenas objeto para mim” (p. 36).
“A imagem externa pode ser
vivenciada como uma imagem que conclui e esgota o outro, mas eu não a vivencio
como algo que me esgota e me conclui” (p. 37).
“O outro [il.] está intimamente vinculado ao mundo, eu, ao meu ativismo interior extramundo”
(p. 38).
“Porque só o outro podemos abraçar,
envolver de todos os lados, apalpar todos os seus limites: a frágil finitude, o
acabamento do outro, sua existência-aqui-e-agora são apreendidos por mim e
parecem enformar-se com um abraço; nesse ato o ser exterior do outro começa uma
vida nova, adquire algum sentido novo, nasce em um novo plano da existência”
(p. 38, 39).
4.
A imagem externa da ação
AÇÃO E ESPAÇOS VIVENCIADOS NA
AUTOCONSCIÊNCIA (p. 39).
“Devo vivenciar de dentro todo
fragmento externamente dado do meu corpo, e só por esse meio ele pode ser
incorporado a mim, à minha unidade singular [...]” (p. 40).
“A consciência está voltada para um
fim, as vias de realização e todos os meios de atingi-lo são vivenciados de
dentro” (p. 40).
“O presente, o dado, o definido na
imagem visual do objeto situado no raio da ação é separado e decomposto,
durante a realização da ação, pela minha ação iminente, futura, ainda a ser
realizada em relação a dado objeto: eu vejo o objeto da ótica do futuro
vivenciamento interior, e essa é a ótica mais injusta para com o acabamento
exterior do objeto” [...] (p. 41).
“A fixação da minha imagem externa
no empreendimento de uma ação pode vir a ser até uma força fatal que destrói
essa ação” (p. 41).
“[...] concepção puramente plástico-pictural
de ação” (p. 42).
O HORIZONTE DO AGENTE E O HORIZONTE
DO CONTEMPLADOR DISTANCIADO (p. 42).
ATIVIVISMO E COMPLEMENTARIDADE DE
HORIZONTES (p. 43).
................................................................
5.
O corpo como valor: o corpo interior
“[...] originalidade do
vivenciamento da imagem externa na autoconsciência e em relação a outra pessoa
[...]” (p. 44).
“Meu corpo, em seu fundamento, é um
corpo interior; o corpo do outro, em seu fundamento, é um corpo exterior” (p.
44).
“[...] todos os tons
volitivo-emocionais diretos, que em mim estão ligados ao corpo, dizem respeito ao
seu estado interior e às suas possibilidades como sofrimentos, gozos, paixões,
satisfações, etc. [...] não posso amar a mim mesmo como se amasse o outro, de
forma imediata” (p. 44).
“Não posso amar o próximo como amo
a mim mesmo, ou melhor, não posso amar
a mim mesmo como amo o próximo, posso apenas transferir para ele todo o
conjunto de ações que costumo realizar para mim mesmo. [...]. A autopreservação
é uma diretriz volitivo emocional fria, totalmente desprovida de quaisquer
elementos de amor-carinho e estética” (p. 45).
“[...] (porque uma coisa é defender
de fato a própria vida contra um ataque real – até os animais fazem assim – e
outra coisa inteiramente distinta é vivenciar seu próprio direito à vida e à segurança e a obrigação de que os outros respeitem
esse direito) [...]” (p. 45).
“Os diversos atos de atenção, amor
e reconhecimento do meu valor a mim dispensados por outras pessoas e
disseminados em minha vida como que esculpiram para mim o valor plástico do meu
corpo exterior” (p. 46).
TONS VOLITIVO-EMOCIONAIS DE
ACABAMENTO E ENFORMAÇÃO (p. 46).
“Eu experimento uma necessidade
absoluta do amor, que só o outro pode realizar interiormente a partir de seu
lugar singular fora de mim; é verdade
que essa necessidade fragmenta de dentro a minha autonomia, mas ainda não me
enforma afirmativamente de fora. Sou
profundamente frio comigo mesmo,
inclusive na autopreservação” (p. 47).
“O corpo do outro é um corpo
exterior, cujo valor eu realizo de modo intuitivo-manifesto e que me é dado
imediatamente. O corpo exterior está e enformado por categorias cognitivas,
éticas e estéticas, por um conjunto de elementos visuais externos e táteis que
nele são valores plásticos e picturais. Minhas reações volitivo-emocionais ao
corpo exterior do outro são imediatas, e só em relação ao outro eu vivencio
imediatamente a beleza do corpo
humano, ou seja, esse corpo começa a viver para mim em um plano axiológico
inteiramente diverso e inacessível à auto-sensação interior e à visão exterior
fragmentária. Só o outro está personificado
para mim em termos ético-axiológicos. Neste sentido, o corpo não é algo que se
baste a si mesmo [...]” (p. 47).
“No enfoque sexual meu corpo e o
corpo do outro se fundem numa só carne, mas essa carne única só pode ser
interior. É verdade que essa fusão numa carne interior única é o limite a que
aspira a minha relação sexual em sua pureza; na realidade, ela é sempre
complexificada quer por elementos estéticos de deleite com o corpo exterior,
quer, consequentemente, por energias formadoras, criadoras; no entanto, o valor
artístico que elas criam é aqui apenas um meio e não atinge autonomia e
plenitude” (p. 48).
“Em todas as concepções
ético-religioso-estéticas do corpo historicamente significativas, desenvolvidas
e acabadas, ele costuma ser generalizado e não diferenciado [...], ora na base
da experiência viva, de onde brota a idéia de homem, está o autovivencimento,
ora no vivenciamento do outro [...]”
(p. 48).
“Assim era o homem na Antiguidade
na época do seu florescimento. Todo o corpóreo era consagrado pela categoria de
outro, vivenciado como valor
imediato, e a autodeterminação significativa, internamente axiológica,
subordinava-se à determinação externa através do outro e para o outro, o eu-para-mim dissolvia-se no eu-para-o-outro” (p. 49).
ESTOICISMO, EPICURISMO,
NEOPLATONISMO E CRISTIANISMO: FORMAS DE PERCEBER A RELAÇÃO EU-OUTRO A PARTIR DE
UMA REFLEXÃO SOBRE O CORPO PARA A CONSCIÊNCIA E IDENTIDADE DO HOMEM:
MUNDANIDADE E SACRALIZAÇÃO (p. 50, 51).
CRISTIANISMO: “[...] Deus se
fazendo homem (Zielinski) e o homem se fazendo Deus (Harnack) [...]” (p. 51,
52).
Daí que em todas as normas de
Cristo contrapõem-se o eu ao outro: o sacrifício absoluto para mim e
o perdão para o outro. No entanto o eu-para-mim
é o outro para Deus” (p. 52).
“O homem mesmo pode apenas
arrepender-se, só o outro pode perdoar” (p. 53).
“O ego individualista na idéia de
homem no Renascimento. Só a alma pode isolar-se, o corpo, não. A idéia de glória é uma apropriação parasitária do
outro carente de autoridade” (p. 53).
“Só na vida assim percebida, na
categoria de outro, meu corpo pode
tornar-se esteticamente significativo, não, porém, no contexto de minha vida
para mim mesmo, não no contexto de minha autoconsciência” (p. 54).
“Na falta dessa posição de
autoridade para a visão axiológica concreta – a percepção de mim mesmo como
outro – minha imagem externa – meu ser para os outros – procura vincular-se à
minha autoconsciência, dá-se um retorno a mim mesmo com vistas a usar proveito
próprio meu ser para os outros. Neste caso, meu reflexo no outro, aquilo que
sou para o outro, torna-se meu duplo, que irrompe em minha autoconsciência,
turva-lhe a pureza e desvia da atitude axiológica direta para comigo. O medo do
duplo” (p. 55).
“No vivenciamento do corpo a partir
de si mesmo, o corpo interior da personagem é abarcado por seu corpo exterior
para o outro, para o autor, em cuja resposta axiológica, ganha encorpamento
estético. Cada elemento desse corpo exterior, que abarca o interior, tem, como
manifestação estética, uma dupla função – uma impressiva e outra expressiva –,
à qual corresponde uma dupla diretriz ativa do autor e do contemplador” (p.
56).
6.
O corpo exterior
VIVENCIAMENTO EMPÁTICO É UMA
APREENSÃO ESTÉTICA DE UM OBJETO CONTEMPLADO (p. 56).
“O vivenciamento empático exprime
maior clareza o sentido real do vivencimento (fenomenologia do vivenciamento
(fenomenologia do vivenciamento), ao passo que a empatia procura explicar a
gênese psicológica desse vivenciamento” (p. 57).
A ATIVIDADE ESTÉTICA NÃO DEFINE,
VIVENCIA (p. 57).
“Para a estética expressiva, o
objeto estético é o homem e tudo o mais se personifica, humaniza-se [...]” (p.
58).
“[...] contraposição axiológica do
eu (contemplador) ao outro (contemplado) e a imiscibilidade de princípio dos
dois” (p. 59).
“[...] (As categorias de estrutura
do objeto estético – o belo, o sublime, o trágico – se tornam formas possíveis
de autovivenciamento [...])” (p. 59).
“1. A estética expressiva é incapaz
de explicar o todo de uma obra” (p.
59).
“[...] cada participante ocupa sua
posição única na totalidade do acontecimento, e essa totalidade não pode ser
compreendida mediante o vivenciamento empático com os participantes mas
pressupõe um ponto de distância em relação a cada um e a todos juntos. Em casos
desse tipo recorre-se ao auxílio do autor: ao vivenciar empaticamente com ele,
dominamos o todo da obra. Cada personagem expressa a si mesma, o todo da obra é
uma expressão do autor. Desse modo, porém, colocamos o autor ao lado de suas
personagens [...]” (p. 60).
“[...] valores transgredientes ao
seu possível autovivenciamento [...] acessível ao vivenciamento empático [...].
O todo estético não se co-vivencia mas é criado de maneira ativa [...]” (p.
61).
ACABAMENTO É UM ELEMENTO ESTÉTICO
(p. 62).
“2. A estética expressiva não pode
fundamentar a forma. [...] A forma é mímica e e fisiognomônica, expressa
unicamente o sujeito [...]. A forma não baixa sobre o objeto mas emana do
objeto como sua expressão, como sua extrema autodeterminação. A forma deve nos
levar a um ponto: ao vivenciamento interior do objeto [...]” (p. 62).
“[...] a unidade na diversidade é
apenas um apêndice da significação manifesta da expressão. Essa função
secundária da forma assume inevitavelmente um colorido hedonístico [...]
fruição do próprio processo de
vivenciamento empático formalmente interpretado e independentemente do seu
conteúdo [...]. O conteúdo, enquanto vida interior, cria para si mesmo a forma
como sua expressão” (p. 63).
“[...] contexto
semântico-axiológico dessa vida; sua diretriz volitivo-emocional em cada, em
cada momento dado, encontra sua expressão no ato (ato-ação e ato-palavra)
[...]; só na medida em que eu saia do âmbito da alma que vivencia a vida, que
ocupe uma posição firme fora dela, revista-a de carne exteriormente significatica,
cerque-a de valores transgredientes à sua tendência concreta (o fundo, o
ambiente como meio e não como campo de ação – horizonte), a vida dessa alma me
aparecerá numa luz trágica, assumirá uma expressão cômica, tornar-se-á bela e
sublime” (p. 64).
“E é precisamente nesse mundo do
próprio Édipo que deve realizar-se seu valor estético [...] a contemplação
estética deve levar-me a recriar o mundo da vida, do sonho comigo mesmo ou do
sonho na forma como eu mesmo o vivencio, e nos quais eu, seu herói, não estou
exteriormente expresso [...] construído somente por categorias estético-cognitivas
[...]” (p. 65).
“[...] a atividade estética do
autor-espectador será um vivenciamento empático com a personagem, que visa ao
limite da coincidência entre eles [...]” (p. 66).
AMBIENTE PURO VERSUS HORIZONTE (p.
67).
“[...] vidas vivenciadas
empaticamente não poderão ser encaixadas num acontecimento total único se não
houver aí uma posição de princípio e não aleatória fora de cada uma delas, mas
isso é excluído pela teoria expressiva” (p. 68,69).
“O garoto que brinca de chefe de
bandidos vivencia de dentro sua vida de bandido, pelos olhos do bandido [...]
seu horizonte é o horizonte do bandido representado [...] a interpretação é
semelhante ao sonho consigo mesmo e à leitura não artística de um romance,
quando nos compenetramos da personagem central para vivenciar na categoria do eu o seu ser e sua vida interessante”
(p. 68).
“Assim, não existe elemento
estético imanente à própria interpretação, ele pode ser aí inserido por um
espectador por um espectador que observa com ativismo [...]” (p. 69).
“[...] o todo da peça já não é
percebido de dentro da personagem – como acontecimento de sua vida – nem como seu horizonte vital,
mas do ponto de vista do autor contemplador ativo esteticamente distanciado,
como ambiência deste, e aqui se inserem elementos transgredientes à consciência
da personagem” (p. 70, 71).
“[...] ativismo estético visa a
enformar a enformar a pessoa-personagem e sua vida. [...] elementos
artisticamente significativos na consciência do contemplador [...]. O ator
tanto imagina a vida quanto a representa em sua interpretação” (p. 71).
“[...] plano vital ético-cognitivo
[...] plano da vida concebida como acontecimento ético aberto e único [...]”
(p. 72).
“O prazer estético é um sentimento
real, ao passo que o vivenciamento empático dos sentimentos da personagem é
apenas um sentimento ideal. [...]. A arte me dá a possibilidade de vivenciar,
em vez de uma, várias vidas, e assim enriquecer a experiência de minha vida
real [...]” (p. 73).
“A empatia simpática [...] já não é
a empatia pura ou a empatia de si mesmo com o objeto, com a personagem” (p.
74).
“A simpatia pode efetivamente ser
uma das condições da empatia, mas não única nem obrigatória; [...]. A vida
objeto da empatia simpática não se enforma na categoria do eu mas na categoria de outro,
como vida do outro, de outro eu, é a
vida do outro vivenciada essencialmente de fora,
tanto a vida exterior quanto a interior
[...]” (p. 75).
“O homem integral é produto de um
ponto de vista estético criador e só deste; a cognição é indiferente aos
valores e nãos nos oferece um homem singular concreto; o sujeito ético, por
princípio, não é único (o imperativo propriamente ético é vivenciado na
categoria do eu), o homem integral
pressupõe um sujeito esteticamente ativo e situado fora dele (abstraímos a
vivência religiosa do homem). Desde o início, a empatia simpática introduz na
vida objeto da empatia valores a ela transgredientes, desde o início transfere
essa vida para um novo contexto de valores e de sentidos, desde o início pode
dar-lhe um ritmo temporal e uma forma espacial (Bilden, Gestalten)”. A
pura empatia com a vida é isenta de quaisquer outros pontos de vista além
daqueles que só são possíveis do interior da própria vida objeto da empatia, e
entre eles não há pontos de vista esteticamente produtivos. Não é de dentro da
vida que se constrói e se justifica a forma estética como sua expressão
adequada voltada para o limite de sua pura auto-enunciação (a enunciação da
relação imanente da consciência isolada consigo mesma); ela é criada de fora pela simpatia que lhe vai ao
encontro, pelo amor esteticamente produtivo [...]” (p. 76).
“Essa necessidade interior imanente
da vida concretamente orientada da personagem deve ser compreendida e
vivenciada por nós em toda a sua força coatora e sua significação, no que tem
razão a teoria expressiva, mas numa imagem – transgrediente a essa vida – de
forma esteticamente significativa, que está para essa vida não como expressão mas como acabamento” (p. 77).
“O ativismo estético opera o tempo
todo nas fronteiras (a forma é uma fronteira) da vida vivenciada do interior, ali onde essa vida está
voltada para fora, ali onde ela
termina (o fim do sentido, do espaço e do tempo) e começa outra, na qual se
encontra, inacessível a ela mesma, a esfera de ativismo do outro. O
autovivenciamento e autoconsciência da vida e, consequentemente, sua
auto-expressão (expressão expressiva) como algo unificado, possuem fronteiras
inabaláveis: antes de mais nada, essas fronteiras se estendem diante do meu
corpo exterior: este, enquanto valor esteticamente notório, que pode
combinar-se harmoniosamente com o propósito interior de vida, situa-se além das
fronteiras de um autovivenciamento único; no meu vivenciamento da vida, meu
corpo exterior não pode ocupar o lugar que ele ocupa para mim na empatia
simpática com a vida do outro, no conjunto da sua vida para mim [...]. Eu mesmo
estou dentro de minha vida, e, se de
algum modo vejo pessoalmente a imagem
externa de minha vida, no mesmo instante essa imagem se torna um elemento
dessa vida {vivenciada} de dentro, enriquece-a de modo imanente, isto é, deixa
de ser efetivamente uma imagem exterior que de fora conclui minha vida, deixa
de ser a fronteira que pode ser submetida à elaboração estética, que me conclui
de fora” (p. 78).
“[...] o ativismo propriamente
estético manifesta-se no momento do amor criativo pelo conteúdo empaticamente
vivenciado, do amor que cria a forma
estética da vida empaticamente vivenciada, forma transgrediente a essa vida.
[...] o acontecimento estético não pode ter apenas um participante que vivencia
a vida e externa seu vivenciamento em forma artisticamente significativa, o
sujeito da vida e o sujeito do ativismo estético, que enforma essa vida, por
princípio não podem coincidir. Há acontecimentos que, em essência não podem não
podem desenvolver-se no plano de uma só e única consciência mas pressupõem duas consciências imiscíveis,
acontecimentos que têm como componente essa relação de uma consciência com outra
consciência precisamente como outra – e assim são todos os acontecimentos
criativamente produtivos, que veiculam o novo, são únicos e irreversíveis” (p.
79).
“A eficácia do acontecimento não
está na fusão de todos em um todo mas na tensão da minha distância e da minha
imiscibilidade, no uso do privilégio do meu lugar único fora dos outros
indivíduos.
Essas teorias empobrecedoras, que
tomam por base da criação cultural a rejeição ao lugar único que ocupo e à
minha contraposição aos outros, a incorporação a uma consciência única, a
solidariedade e até a fusão – todas essas teorias, e sobretudo a teoria
expressiva em estética, encontram explicação no gnosiologismo de toda a cultura
filosófica dos séculos XIX e XX; [...]” (p. 80).
“Entretanto, a consciência
estética, consciência que ama e acredita em valor, é a consciência da
consciência, a consciência do eu autor da consciência do herói-outro; no acontecimento estético há o encontro de duas
consciências que, por princípio, não se fundem, verificando-se que a consciência
do autor não encara a consciência da personagem do ponto de vista de sua
composição concreta, da sua significação objetiva concreta, mas do ponto de
vista da sua unidade subjetiva vital, e essa consciência da personagem se
localiza concretamente (é claro que o grau de concretude varia), personifica-se
e recebe acabamento amoroso. Já a consciência do próprio autor é inacabável
como a consciência gnosiológica. {...}” (p. 81).
“a forma [estética] é fundamentada
do interior do outro – do autor, como
sua resposta criadora à personagem e sua vida, resposta que cria valores que
por princípio são transgredientes à personagem e à sua vida mas mantém com elas
uma relação essencial” (p. 82).
“A forma é uma fronteira esteticamente elaborada [...]. É esse
encontro de dois momentos que na superfície do homem que dá consistência às
suas fronteiras axiológicas, que acende a centelha do valor estético” (p. 83).
“Para a teoria impressiva, existe
tão-somente o autor sem personagem, cujo ativismo, voltado para o material,
transforma-se em atividade meramente técnica” (p. 84).
7.
O todo espacial da personagem e do seu mundo. Teoria do “horizonte” e do
“ambiente”
“[...] o significado ambíguo da
forma estética” (p. 84).
“[...] o objeto estético é
multifacetado, concreto como a realidade ético-cognitiva (o mundo vivenciável)
que nele se justifica e se conclui artisticamente [...] o próprio objeto
estético, representado pela palavra, evidentemente não se constitui só de
palavras, embora haja nele muito de puramente verbal, e esse objeto da visão estética possui uma forma
espacial interna artisticamente significativa [...]” (p. 85).
“[...] deve-se reconhecer e
compreender o elemento plástico-pictural
da criação artística verbal” (p. 86).
“A obra de criação é criada de fora
para cada personagem, e, quando a lemos, é de fora e não de dentro que devemos
seguir as personagens. [...] a linguagem como material não é suficientemente
neutra em face da esfera ético-cognitiva, onde é empregada como auto-expressão
e comunicação, ou seja, como recurso expressivo, e nós transferimos essas
habilidades expressivas da linguagem (de traduzir a si mesmo e designar o
objeto) para a percepção das obras de arte verbal” (p. 87).
“[...] tons volitivo-emocionais
criadores do autor-contemplador podem ser facilmente absorvidos pelos tons
puramente vitais da personagem. [...] fronteiras de duas consciências; [...] o
homem integral como valor único” (p. 88).
“Só (permanecendo dentro de mim
mesmo) nas categorias cognitivas, éticas e prático-técnicas (de bem, verdade e
clareza de fins práticos) consigo orientar-me nesse mundo nesse mundo como
acontecimento, pôr-lhe ordem na composição material, condicionando-se desse
modo a imagem de cada objeto para mim, sua tonalidade volitivo-emocional, seu
valor, seu significado. De dentro da minha consciência participante da
existência, o mundo é o objeto do ato [...] seu centro de gravidade situa-se no
futuro [...] Minha relação com os objetos do meu horizonte nunca é concluída
mas sugerida, pois o acontecimento da existência é aberto em seu todo; [...]. A
contraposição espacial e temporal do objeto – eis o princípio do meu horizonte;
[...] mas a mim se contrapõem como objetos do meu propósito de vida
ético-cognitivo no acontecimento aberto e ainda arriscado da existência, cujos
sentido, valor e unidade não são dados mas sugeridos” (p. 89).
“Se examinamos o mundo material de
uma obra de arte, [...] o próprio princípio de sua estruturação e de seu
ordenamento é transgrediente à consciência real e possível da própria
personagem” (p. 89).
“É claro que esse princípio
puramente plástico-pictural de ordenamento e informação do mundo material
externo é inteiramente transgrediente à consciência viva da personagem [...]
onde o objeto está voltado para fora de si mesmo, onde ele existe
axiologicamente apenas no outro e para o outro, é partícipe desse mundo em que
ele não existe dentro de si mesmo. {...}” (p. 90).
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Capítulo
III – O todo temporal da personagem (A questão do
homem interior – da alma)
1.
A personagem e sua integridade na obra de arte
“[...] a alma como um todo interior
em processo de formação no tempo,
como um dado, um todo presente, constrói-se à base de
categorias estéticas; é o espírito em sua aparência por fora, no outro” (p. 91).
“[...] (a metafísica só pode ser
religiosa). [...]; a alma desce sobre mim como a graça ao pecador, como uma
dádiva imerecida e não esperada. No espírito eu apenas posso e devo perder
minha alma, esta só pode ser protegida por forças que não são minhas” (p. 92).
2.
A relação volitivo-emocional com a determinidade interior do homem. O problema
da morte (da morte por dentro e da morte por fora)
“Todos os vivenciamentos interiores
do outro indivíduo [...] são por mim encontrados fora de meu próprio mundo interior [...] fora de meu eu-para-mim; eles são para mim na existência, são momentos da
existência axiológica do outro” (p. 93).
“[...] a refração do sentido na
existência e a condensação do sentido [...]” (p. 93).
“Costuma-se denominar compreensão simpática esse meu ativismo
que vem de fora e visa ao mundo interior do outro. Cumpre salientar o caráter
absolutamente proveitoso, excedente, produtivo e enriquecedor da compreensão
simpática. [...] a compreensão simpática recria todo o homem interior em
categorias esteticamente afagantes para uma nova existência em um novo plano do
mundo” (p. 94).
“[...] é necessário estabelecer o
caráter da relação volitivo-emocional com minha própria determinidade e com a
determinidade interior do outro indivíduo e, acima de tudo, com a própria
existência dessas determinidades, isto é, no que tange ao lado da alma, é
necessário fazer a mesma descrição fenomenológica da empatia e do vivenciamento
do outro, já verificada em relação ao corpo como valor” (p. 94).
“A alma é algo essencialmente
enformado” (p. 95).
“[...] enfoque axiológico ativo
[...] o nascimento e a morte em seu significado axiológico concludente (de
enredo, lírico, caracterológico, etc.)” (p. 95).
“O peso emocional de minha vida em seu conjunto não existe para mim mesmo”
(p. 96).
“[...] minha vida é a existência
que abarca no tempo as existências dos outros” (p. 96).
“Eu mesmo sou a condição de
possibilidade de minha vida, mas não sou seu herói no plano dos valores” (p.
97).
“A memória é um enfoque construído
do ponto de vista do acabamento axiológico; em certo sentido ela é inviável,
mas por outro lado só ela é capaz de julgar a vida finda e toda presente,
independentemente do objetivo e do sentido” (p. 98)
“Quando as fronteiras estão dadas,
a vida pode ser disposta e enformada nelas de modo inteiramente distinto, da
mesma forma que a exposição do fluxo do nosso pensamento pode ser construída de
maneira diferente quando a conclusão já foi encontrada e dada (foi dado o
dogma) e quando e quando ainda está sendo procurada” (p. 99).
“O sentido não nasce nem morre;
[...]. Todo acabamento é um deus ex
machina para a série vital orientada de dentro para a significação do
sentido” (p. 99).
“[...] (em linhas gerais, o homem é
uma equação do eu e do outro, um desvio em face das
significações axiológicas), [...]” (p. 99).
“Eu não estou para mim mesmo
inteiramente no tempo, mas ‘minha maior parte’ é vivenciada intuitivamente por
minha própria pessoa fora do tempo, eu disponho de um apoio imediatamente dado
no sentido. [...]. Como sujeito do ato que pressupõe o tempo, estou fora do
tempo. O outro sempre se contrapõe a mim como objeto, sua imagem externa está
no espaço, sua vida interior, no tempo. Como sujeito, jamais coincido comigo
mesmo [...]” (p. 100).
“A alma é o espírito que não se
realizou, refletido na consciência amorosa do outro (do homem, de Deus); é
aquilo com que eu mesmo nada tenho a fazer, em que sou passivo, receptivo
(dentro de si mesma, a alma pode apenas envergonhar-se de si mesma, de fora
pode ser bela e ingênua)” (p. 100).
“É preciso sentir-se em casa no
mundo dos outros para passar da confissão para a contemplação estética
objetiva, das questões atinentes ao sentido e à busca do sentido para o dado
maravilhoso do mundo. [...]. Só no mundo dos outros é possível o movimento
estético, movimento do enredo, dotado de valor próprio [...]” (p. 102).
3.
O ritmo
“[...] devo sair dos limites do
contexto axiológico em que transcorreu a minha vivência para fazer da própria
vivencialidade, da carne de minha alma o meu objeto, devo ocupar outra posição
em outro horizonte axiológico, cabendo observar que a reconstrução dos valores
é de natureza essencialíssima. Devo tornar-me outro em face de mim mesmo, que
vivo essa minha vida nesse mundo de valores [...]” (p. 103).
“Preciso de um ponto de apoio
semântico fora do contexto da minha vida, um ponto de apoio vivo e criador –
logo, de direito – para tirar o
vivenciamento do acontecimento singular e único da minha vida e,
consequentemente, da existência como acontecimento único, pois este só me é
dado do meu interior [...]” (p. 104).
“[...] peso axiológico do eu e do outro [...]” (p. 104)
“O sentido se submete ao valor da
existência individual, à carne mortal da vivência” (p. 105).
“Para conseguir densidade estética,
definir-se positivamente, a vivência deve ser purificada de todas as impurezas
indissolúveis dos sentidos, de todo o transcendentalmente significativo, de
tudo o que ela assimila não no contexto
axiológico de um indivíduo objetivo e da vida concluída mas no contexto
objetivo e sempre antedado do mundo e da cultura: todos esses elementos devem
tornar-se imanentes ao vivenciamento, reunidos numa alma essencialmente final e
concluída, ajustados e fechados nesta, em sua unidade individual e internamente
manifesta; [...]” (p. 105).
“O vivenciamento deve afastar-se
para o passado absoluto dos sentidos [...]. Só sob essa condição
o vivenciamento da aspiração pode atingir certa extensão, [...]; só sob essa
condição a via interior da ação pode ser fixada, determinada, amorosamente
condensada e mensurada pelo ritmo, e
isso só pode ser realizado pelo ativismo de outra alma, em seu contexto
semântico-axiológico abrangente. Para mim mesmo, nenhum vivenciamento ou
aspiração minha pode afastar-se para o passado absoluto [...]” (p. 106).
“O ritmo é um ordenamento
axiológico do dado interior, da presença. Não é expressivo no sentido exato do
termo, não exprime o viveciamento, não é fundamentado de dentro dele, não é uma
relação voltivo-emocional ao objeto e ao sentido mas uma reação a essa reação.
O ritmo é vago no sentido de que não opera imediatamente com um objeto mas com
o vivenciamento do objeto, é uma reação a ele, por isso rebaixa a significação
concreta dos elementos da série” (p. 107).
“[...] o ato criador (o
vivenciamento, a aspiração, a ação), que enriquece o acontecimento da
existência [...] e cria o novo, é essencialmente extra-rítmico (em sua
realização, evidentemente [...])” (p. 108).
“O livre-arbítrio e o ativismo são
incompatíveis com o ritmo. [...]. Posso apenas ser possuído pelo ritmo, no
ritmo, como sob anestesia, não tomo consciência de mim” (p. 109).
“Na existência interior do outro
vivenciada por mim (vivenciada ativamente na categoria de alteridade), a existência e o imperativo não estão rompidos nem são
hostis mas estão organicamente vinculados, situados no mesmo plano axiológico;
o outro cresce organicamente no
sentido” (p. 109, 110).
“Onde há ritmo, há duas almas (mais
exatamente, alma e espírito), há dois ativismos; a vida que vivencia e a que se
tornou passiva para a outra, que a enforma e celebra ativamente” (p. 110)
“[...] no coro eu não canto para
mim, sou ativo apenas em relação ao outro e passivo na relação do outro para
comigo [...]” (p. 110).
“O dado imediato das significações
semânticas, fora das quais não posso criar nada ativamente como meu, inviabiliza o acabamento axiológico
positivo da temporalidade. Na empatia viva, o sentido extratemporal ideal não e
indiferente ao tempo mas se contrapõe a ele como futuro semântico, como algo
que deve ser, em contraposição ao que já é. Toda a temporalidade, toda a
durabilidade se contrapõe ao sentido como uma ainda-inexequebilidade, como algo ainda não definitivo, como um ainda-não-é-tudo: só assim é possível
vivenciar a temporalidade, o dado da existência em si em face do sentido” (p.
110, 111).
“Nenhum momento da já presença pode
tornar-se auto-suficiente, já justificado para mim; minha justificação está
sempre no futuro, e essa justificação, sempre à minha frente, revoga o meu
passado e o meu presente para mim em sua pretensão à já-presença contícnua, ao
repouso no dado, à auto-suficiência, à realidade verdadeira da existência em
sua pretensão a seu eu essencialmente em tudo, a me definir completamente na
existência [...]. O que no outro é
aperfeiçoamento (categoria estética), em mim é novo nascimento” (p. 111).
“Assim que tento definir-me para mim mesmo (não para o outro e a
partir do outro), encontro a mim mesmo apenas nele, nesse mundo do antedado,
fora da minha já-presença temporal, encontro a mim mesmo como algo ainda
vindouro em seu sentido e valor; já no tempo (se abstraio totalmente do
antedado), encontro apenas um propósito disperso, um desejo e uma aspiração
irrealizados – os membra disjecta de
minha integridade possível; [...]” (p. 112).
“E, se o ser interior se separa do
sentido contraposto e vindouro – com o qual só ele criou absolutamente tudo e o
assimilou em todos os seus momentos –, contrapõe-se a ele como valor autônomo e
torna-se auto-suficiente diante do sentido; desse modo ele cai numa contradição
profunda consigo mesmo, na autonegação, nega com a existência da sua presença o
conteúdo do seu ser, torna-se mentira: existência da mentira ou mentira da
existência” (p. 113).
“[...] eu sou em mim mesmo uma
mentira para mim” (p. 114).
“[...] unidade do meu
ainda-não-ser” (p. 115).
“[...] eu me determino em termos de
futuro” (p. 115).
“[...] só no futuro está o centro
real de gravidade da minha determinação de mim mesmo” (p. 115).
“A vida temporalmente concluída é
inviável do ponto de vista é inviável do ponto de vista do sentido que a move.
Por dentro de si mesma ela é inviável, só de fora pode lhe chegar a
justificação absolvente, salvo o sentido não atingido. [...] o dado se finda na
carência [...]” (p. 116).
“[...] eu e o outro nos
encontramos mutuamente na contradição absoluta do acontecimento: onde o outro
nega a si mesmo dentro de si e ao seu dado-existência, de meu lugar único no
acontecimento da existência eu afirmo e consolido axiologicamente a presença
dele que ele mesmo nega, e para mim essa mesma negação é apenas um momento
dessa sua presença. [...] Ninguém pode ocupar uma posição neutra em relação a mim e ao outro; o ponto de vista abstrato-cognitivo carece de um enfoque
axiológico, a diretriz axiológica necessita de que ocupemos uma posição
singular no acontecimento único da existência, de que nos encarnemos. Todo
juízo de valor é sempre uma tomada de posição individual na existência; até
Deus precisou encarnar-se para amar, sofrer e perdoar; teve, por assim dizer, de abandonar o ponto de vista
abstrato sobre a justiça” (p. 117, 118).
“No acontecimento singular e único
da existência, é impossível ser neutro” (p. 118).
“A antecipação da morte tem
essencial importância para o acabamento estético da pessoa” (p. 119).
“A memória começa a agir com força
aglutinante e conclusiva desde o primeiro momento de surgimento da personagem
[...]” (p. 119).
“O ritmo abrange a vida vivenciada [...]” (p. 120).
4. A alma
“É esse o todo esteticamente significativo
da vida interior do homem, a sua alma; esta é ativamente criada e só se enforma
positivamente e se conclui na categoria de outro”
(p. 120, 121).
“O momento da já-presença em todo o
ser, a face do ser – o ser-aí (étost) da existência –, que já se definiu conteudisticamente,
necessita de justificação fora do sentido, pois ele é apenas factual
(teimosamente presente) em relação à plenitude antedada do sentido do
acontecimento” (p. 121).
CONCRETUDE DA PALAVRA ENUNCIADA. “A
palavra já dita soa no impasse de sua já-proferição; a palavra proferida é a
carne mortal do sentido. A existência, já presente no passado e na atualidade,
é mera carne mortal do sentido vindouro do acontecimento da existência – do
futuro absoluto; ela é inviável (fora de uma realização futura)” (p. 122).
Para “a alma e todas as formas de
encarnação estética da vida interior (ritmo) e as formas do mundo dado [...]
transgrediência cria para elas a força e a significação [...]” (p. 123).
ATIVISMO, ACABAMENTO, PRODUTIVIDADE
E EXISTÊNCIA (p. 123).
“Mas para que a existência se
revele perante mim em sua passividade feminil, devo colocar-me inteiramente
fora dela e ser totalmente ativo” (p. 124).
“A alegria é estranha a uma atitude
ativa em face da existência; devo tornar-me ingênuo para me alegrar. Só a
existência é ingênua e alegre, não o ativismo; este é desoladamente sério. A
alegria é o estado da existência mais passivo, porém desamparadamente
deplorável. Até o sorriso mais sábio é deplorável e feminil (ou é impostor ou
auto-suficiente). A alegria só é possível para mim em Deus e no mundo, isto é,
só onde me familiarizo de forma justificada com a existência através do outro e
para o outro, onde sou passivo e aceito a dádiva. Minha alteridade se alegra
para mim, mas não o eu para mim” (p. 124).
“O ativismo passivo nada transforma
em termos formais” (p. 125).
“Pode haver conflito entre alma o
espírito e o corpo interior, mas não pode haver conflito entre alma e corpo,
uma vez que estes são construídos à base das mesmas categorias, traduzem uma
relação única e criativamente ativa com o dado do homem” (p. 126).
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Capítulo
IV – O todo semântico da personagem
“[...]; a forma não é só espacial e
temporal, mas também do sentido” (p. 127).
1.
O ato e o auto-informe-confissão
MUNDOS E VALORES QUE DETERMINAM OS
ATOS (p. 128).
A respeito da “liberdade ética do
ato: este é determinado pelo ainda-não-ser, pelo antedado dos objetos, pelo
antedado dos objetos, dos fins; suas fontes estão no porvir e não no passado,
não estão no que existe mas no que ainda não existe” (p. 129).
“[...] o enfoque estético e a
justificação do outro podem penetrar em minha relação axiológica comigo mesmo e
turvar-lhe a pureza [...]” (p. 130).
“O auto-informe-confissão por
princípio não pode ser concluído por não haver para ele elementos
transgredientes que lhe dêem acabamento; [...]” (p. 131).
“O auto-informe-confissão não se
isola [do] acontecimento único, daí ser potencialmente infinito [...]” (p.
132).
“É impossível o auto-informe puro,
isto é, o apelo axiológico só para si mesmo na solidão absoluta; esse é um
limite contrabalançado por outro limite – pela confissão, ou seja, por um apelo
súplice para fora de si, para Deus. Com os tons de arrependimento se entrelaçam
os tons de súplica-oração” (p. 132).
“Não se pode viver e ter
consciência de si nem na garantia, nem no vazio (garantia e vazio axiológicos),
mas tão-somente na fé. A vida (e a
consciência) de dentro de si mesma não é senão a realização da fé (ou seja), da
necessidade e da esperança, da não auto-satisfação e da possibilidade). É
ingênua a vida que ignora o ar que respira. Assim se implantam nos tons de
arrependimento e súplica do auto-informe-confissão os novos tons da fé e da
esperança que tornam possível a disposição da prece” (p. 133).
“[...] o ritmo que acaricia e
sublima a imagem, [...]” (p. 134).
“No auto-informe-confissão não há
personagem nem autor por não haver uma posição para realizar a inter-relação
dos dois, uma posição de distância axiológica; personagem e autor estão
fundidos em um todo único [...]” (p. 135).
“[...] posição axiológica de
distância [...] a perfeição e a profundidade da estetização [...]” (p. 136).
“[...] o futuro em perspectiva do
acontecimento [...] nosso ato responsivo não deve isolá-lo” (p. 137).
2.
A autobiografia e a biografia
“Nem na biografia, nem na
autobiografia o eu-par-si (a relação
consigo mesmo) é elemento organizador constitutivo da forma” (p. 138).
O valor biográfico pode organizar
não só a narração sobre a vida do outro, mas também o vivenciamento da própria
vida e a narração sobre a minha própria vida, pode ser forma de
conscientização, visão e enunciação da minha própria vida” (p. 139).
“Os valores biográficos são valores
comuns na vida e na arte, isto é, podem determinar os atos práticos como
objetivos das duas; são as formas e os valores da estética da vida” (p. 140).
“[...] posição axiológica do outro
[...]” (p. 141).
“A aspiração à glória organiza a
vida do herói ingênuo; a glória organiza também a narração da sua vida: sua
glorificação” (p. 143).
“[...] aquilo que eu gostaria de
ser na consciência amorosa do outro, por minha imagem antecipável, que deve ser
criada de modo axiológico nessa consciência [...]” (p. 144).
“No amor, o homem procura como que
superar a si mesmo em determinado sentido axiológico na tensa possessão
emocional pela consciência amorosa do outro [...]” (p. 145).
“[...] existência axiológica da
alteridade em mim [...]” (p. 146).
“[...] força organizadora da vida;
[...] concepção histórica de sociedade humana [...]” (p. 147).
“[...] contexto axiológico da
biografia social [...] função de ordenamento e de informação dos detalhes e minúcias
situadas fora do sentido da vida, no plano da consciência axiológica do outro
(porque no plano da autoconsciência não podem ser assimilados nem ordenados)”
(p. 148).
“[...] traços transgredientes [...]
posição de distância [...] autoridade da posição axiológica do outro. [...]
tipicidade extra-semântica, o colorido. [...] contexto axiológico da atualidade
do passado ao futuro” (p. 149).
“[...]; o autor não é artista puro,
assim como a personagem não é sujeito ético puro. [...] A biografia é produto
orgânico de épocas orgânicas” (p. 150).
“A criação do autor não é um ato
mas uma existência, e por isso ela mesma é carente de recursos e necessitada. O
ato de biografia é um ato unilateral: aí há duas consciências e não duas
posições valorativas, há dois indivíduos mas não um eu e um outro e sim dois outros. A natureza essencial da
alteridade da personagem não está expressa: a tarefa de salvação
extra-semântica do passado não foi levantada com toda a sua clareza forçada.”
(p. 151).
ATIVIVISMO, ALTERIDADE, DISTÂNCIA
AXIOLÓGICA E VALOR BIOGRÁFICO (p. 152).
EXCEDENTE, EMPATIA, HORIZONTE (p.
153).
“[...]; o momento de empatia tem a
máxima importância. Assim é a biografia” (p. 153).
3.
A personagem lírica e o autor
A objetivação lírica do homem
interior pode tornar-se auto-objetivação” (p. 153).
POSIÇÃO AXIOLÓGICA E AUTORIDADE (p.
154).
“[...] acontecimento em perspectiva”
(p. 155).
“Para fazer meu vivenciamento ecoar
liricamente, preciso sentir nele não a minha responsabilidade solitária mas a
minha natureza axiológica, o outro em mim, minha passividade no coro possível
dos outros, no coro que me envolveu de todos os lados e como que bloqueou o
antedado imediato e antedado imediato
e indiferente do acontecimento único e singular da existência” (p. 156, 157).
“[...] determinadade dos elementos
estilísticos e das peculiaridades técnico-formais; [...]” (p. 157).
“[...] onde a personagem encontra
subitamente a si mesma no acontecimento único e singular da existência à luz do
sentido antedado, aí os extremos do círculo lírico deixam de confluir, a
personagem começa a não mais coincidir consigo mesma, começa a perceber a sua
nudez [...]” (p. 158).
“[...] a diferença entre lírica
declamatória e lírica melódica; a diferença não é de princípio mas de graus de
independência da personagem em relação ao sentido e aos objetos” (p. 158).
4.
O caráter como interação personagem-autor
“[...]; a personagem é importante
como portadora de uma vida determinada, rica e plena, historicamente
significativa; é essa vida que ocupa o centro axiológico da visão e não o todo
da personagem, cuja vida pessoal apenas a caracteriza em sua determinidade” (p.
159).
“Denominamos caráter uma forma de correlação entre o autor e a personagem, que
realiza o desígnio de criar o todo da personagem como indivíduo determinado,
[...]” (p. 159).
CONTEXTO E DIRETRIZ AXIOLÓGICOS (p.
160).
“O destino é a transcrição
artística do vestígio que deixou na existência a vida regulada de seu interior
por seus objetivos, é a expressão artística do sedimento deixado na existência pela vida assimilada inteiramente de seu interior. Esse sedimento na
existência também deve ter sua lógica; [...]” (p. 160, 161).
“Não compreendemos a lógica da
providência divina, apenas cremos nela, ao passo que compreendemos
perfeitamente a lógica do destino de uma personagem e de modo algum aceitamos
como fé [...]” (p. 161).
“O destino não é o eu-para-mim da
personagem mas o seu ser, aquilo que lhe é dado, aquilo que ela veio a ser; não
é a forma do seu antedado, mas a forma do seu dado. [...]. O destino é a forma
de ordenamento do passado do sentido; [...]” (p. 162)
As “forças axiológico-naturais do
ser da alteridade [não são como] grandezas físicas nem psicológicas” (p. 163).
“Eu não começo a vida, eu não sou o seu iniciador axiologicamente
responsável [...]; eu posso agir e emitir juízo de valor com base na vida já
dada e valorada; a série de meus atos não
parte de mim, eu apenas lhe dou continuidade (como a dou também aos
atos-pensamentos, aos atos-sentimentos e aos atos-feitos); [...]” (p. 163,
164).
“Um eu-para-si moral é agenealógico [...]” (p. 164).
“A distância do autor em relação à
personagem romântica é, sem dúvida, menos estável do que se verificava na
personagem clássica” (p. 165).
“No sentimentalismo, a posição de
distância é usada tanto em termos artísticos quanto morais (em detrimento do
artístico, é claro)” (p. 166).
“[...] o caráter como forma da
relação recíproca entre autor e personagem” (p. 167).
5.
O tipo como forma de interação personagem-autor
“Se em todas as suas variedades o
caráter é plástico – é particularmente plástico o caráter clássico,
evidentemente –, o tipo, por sua vez, é pictural. [...]. O caráter está no
passado, o tipo, no presente; o ambiente do caráter é um tanto simbolizado, o
mundo material em volta do tipo tem foros de inventário. O tipo é a posição passiva de um indivíduo coletivo” (p.
167).
“[...] uso do excedente cognitivo
[...]” (p. 169).
“Além d o elemento de
generalização, ainda há o elemento de dependência funcional considerada
intuitivamente. O tipo tanto está profundamente entrelaçado com o mundo que o
rodeia (com o ambiente dos objetos) quanto é representado como condicionado por
esse mundo em todos os seus momentos; ele é o elemento necessário de um dado
ambiente (não é um todo mas somente parte de um todo). Aqui o elemento
cognitivo da distância pode atingir grande força, [...]” (p. 169).
6.
A hagiografia
“A hagiografia se realiza
diretamente no mundo do divino” (p. 169, 170).
“[...] a forma hagiográfica é
tradicionalmente convencional, cimentada por uma autoridade indiscutível, [...]
a hagiografia evita a transgrediência restritiva e excessivamente
concretizante, pois esses elementos sempre reduzem a autoridade; deve excluir
tudo o que é típico de uma dada época, de uma dada nacionalidade (por exemplo,
a tipicidade nacional de Cristo na pintura de ícones) [...], as indicações precias
do tempo e do espaço da ação – tudo o que reforça a determinidade no ser de um dado indivíduo (o típico, o
característico e até a concretude biográfica) e assim lhe diminui a autoridade
( a vida do santo como que transcorre desde o início na eternidade). Cabe
observar que a tradicionalidade e o convencionalismo dos elementos
transgredientes do acabamento contribuem ao máximo para reduzir seu significado
restritivo” (p. 170).
“[...] todo semântico da personagem
[...] plenitude do acabamento da obra [...]” (p. 171).
Capítulo
V – O problema do autor
1.
O problema da personagem
“Essa orientação axiológica e essa
condensação do mundo em torno do homem
criam para ele uma realidade estética diferente da realidade cognitiva e ética
(da realidade do ato, da realidade ética do acontecimento único e singular do
existir), mas, evidentemente, não é uma realidade indiferente a elas” (p. 173).
“[...] só o outro como tal pode ser
o centro axiológico da visão artística e, consequentemente, também o herói de
uma obra, que só ele pode ser essencialmente enformado e concluído, pois todos
os elementos do acabamento axiológico – do espaço, do tempo, do sentido – são
axiologicamente transgredientes à autoconsciência ativa, estão fora da linha de
uma relação axiológica consigo mesmos: [...]. A relação axiológica comigo mesmo
é absolutamente improdutiva em termos estéticos, eu para mim sou esteticamente
irreal. Posso ser apenas portador da tarefa da informação e do acabamento
artísticos mas nunca o seu objeto – a personagem” (p. 174).
“O autor se torna próximo da
personagem apenas onde não há pureza da autoconsciência axiológica, onde, sob o
poder da consciência do outro, ele toma consciência de si no outro [...]” (p.
175).
“[…] posição do autor, portador do
ato da visão artística e da criação no acontecimento do existir, único ponto em
que, em linhas gerais, qualquer criação pode ser ponderável em termos sérios,
significativos e responsáveis. O autor ocupa uma posição responsável no
acontecimento do existir, opera com elementos desse acontecimento e por isso a
sua obra é também um momento desse acontecimento” (p. 175, 176).
“A relação esteticamente criadora
com a personagem e o seu mundo é uma relação com quem tem de morrer (moriturus), é sua contraposição à tensão
semântica do acabamento salvador; [...]” (p. 176).
“A atividade estética reúne no
sentido o mundo difuso e ocondensa em uma imagem acabada e auto-suficiente,
encontra para o transitório no mundo (para o seu aí presente, o passado e a sua
existência presente) o equivalente emocional que o vivifica e protege, encontra
a posição axiológica a partir da qual esse transitório ganha peso axiológico de
acontecimento, significação e determinidade estável. O ato estético dá à luz o
existir em um novo plano axiológico do mundo, nascem um novo homem e um novo
contexto axiológico – o plano do pensamento sobre o mundo humanizado.
O autor deve estar situado na
fronteira do mundo que ele cria como seu criador ativo, pois se invadir esse
mundo ele lhe destrói a estabilidade estética” (p. 177).
2.
O conteúdo, a forma, o material
“O autor visa ao conteúdo (tensão
vital, ou seja, ético-cognitiva da personagem), enforma-o e o conclui usando
para isso um determinado material, no nosso caso verbalizado, subordinando esse
material ao seu desígnio artístico, isto é, à tarefa de concluir uma dada
tensão ético-cognitiva” (p. 177).
“[...] (o dado linguístico das
palavras), [...]” (p. 179).
“Contudo, precisamos compreender
não o dispositivo técnico mas a lógica
imanente da criação, e antes de tudo precisamos compreender a estrutura dos
valores e do sentido em que a criação transcorre e toma consciência de si mesma
por via axiológica, compreender o contexto em que se assimila o ato criador”
(p. 179).
“Portanto, a consciência criadora
do autor não é uma consciência linguística no mais amplo sentido desse termo, é
apenas um elemento passivo da criação – um material a ser superado por via
imanente” (p. 180).
3. A substituição do contexto
axiológico do autor pelo contexto literário do material
A PALAVRA COMO RELAÇÃO: “expressão
do mundo dos outros e expressão da relação do autor com esse mundo” (p. 180).
O ESTILO ARTÍSTICO “pode ser
definido como um conjunto de procedimentos de informação e acabamento do homem
e do seu mundo, e determina a relação também como o objeto enquanto momento do
acontecimento do mundo – e isso determina posteriormente (aqui, é claro, não se
trata de ordem cronológica mas de hierarquia de valores) a sua relação como
significado concreto da palavra [...]” (p. 180).
“A substituição do conteúdo pelo
material (ou apenas a tendência para tal substituição) destrói o desígnio
artístico ao reduzi-lo a um momento secundário e totalmente condicionado – à
relação como a palavra [...]” (p. 181).
“[...]; a arquitetônica do mundo
artístico determina a composição da obra (a ordem, a disposição e o acabamento,
o encadeamento das massas verbais) e não o contrário” (p. 182).
“Duas leis guiam uma obra de arte:
a lei da personagem e a lei do autor, uma lei do conteúdo e uma lei da forma. [...].
O autor não pode inventar uma
personagem desprovida de qualquer independência em relação ao ato criador do
autor, ato esse que a afirma e enforma” (p. 183).
“[...] sentido da ponderabilidade axiológica, [...] verossimilhança
artística [...]” (p. 184).
“No acontecimento artístico há dois
participantes: um passivo-real, outro ativo (autor-contemplador) a saída de um
desses participantes destrói o acontecimento artístico , restando-nos apenas
uma ilusão precária do acontecimento artístico – o falseamento (o embuste
artístico de si mesmo); o acontecimento artístico é irreal, não se realizou de
verdade” (p. 185).
“[...] tensão ético-cognitiva
[...]” (p. 185).
“[...] a realidade do acontecimento
[...]” (p. 186).
4.
A tradição e o estilo
“Chamamos estilo à unidade de
procedimento de informação e acabamento da personagem e do seu mundo e dos
procedimentos, por estes determinados, de elaboração e adaptação (superação
imanente) do material” (p. 186).
“A unidade segura do estilo (grande
e vigoroso) só é possível onde existe unidade da tensão ético-cognitiva da
vida, indiscutibilidade do antedado guiado por ela: esta é a primeira condição.
A segunda são a indiscutibilidade e a convicção da posição de distância [...]”
(p. 186).
“[...] interpretar significa compenetrar-se
do objeto, olhar para ele com os próprios olhos dele, renunciar à
essencialidade da nossa própria distância em relação a ele; [...]” (p. 187).
“O emprego negativo dos elementos
transgredientes (o excedente de visão, de conhecimento e juízo de valor), que
se verifica na sátira e no cômico (não no humor, evidentemente), é determinado
consideravelmente pela excepcional ponderabilidade da vida (moral, social,
etc.) axiologicamente vivenciada de dentro e pela redução do peso (ou até por
sua plena desvalorização) da distância axiológica, pela perda de tudo que
fundamentava e consolidava a posição de distanciamento e, consequentemente, da
imagem externa extra-semântica da vida; [...]” (p. 188).
“Não há uma posição de distância
segura, tranquila, inabalável e rica” (p. 189).
“Não podemos mostrar o nosso álibi
no acontecimento do existir. Onde esse álibi se torna premissa de criação e
enunciado não pode haver nada responsável, sério nem significativo” (p. 190).
“O autor deve ser entendido, antes
de tudo, a partir do acontecimento da obra como participante dela, como
orientador autorizado do leitor. Compreender o autor no universo histórico de
sua época, no seu lugar no grupo social, a sua posição de classe” (p. 191).
“[...] o autor é para o leitor o conjunto
dos princípios criativos que devem ser realizados, a unidade dos elementos
transgredientes da visão, que podem ser ativamente vinculados à personagem e ao
seu mundo. Sua individuação como homem já é um ato criador secundário do
leitor, do crítico, do historiador, independentemente do autor como princípio
ativo da visão – um ato que o torna pessoalmente passivo” (p. 192).
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A
RESPEITO DE PROBLEMAS DA OBRA DE DOSTOIÉVSKI
“[...] toda obra literária é
interna, imanentemente sociológica. Nela se cruzam forças sociais vivas,
avaliações sociais vivas penetram cada elemento da sua forma. Por isso a
análise puramente formal deve tomar cada elemento da estrutura artística como
ponto de vista da refração de forças sociais vivas, [...]” (p. 195).
INSUFICIÊNCIA DO “enfoque
formalista” E DO “ideologismo estreito” PARA ABORDAR A OBRA DE DOSTOIÉVSKI (p.
196).
1.
Funções do enredo e da aventura nas obras de DostoiévskI
CRUZAMENTO DE HORIZONTES E
COMBINAÇÃO DE VOZES EM DOSTOIÉVSKI (p. 197).
MONOLOGISMO NÃO PODE CARACTERIZAR A
OBRA DE DOSTOIÉVSKI (p. 198).
2.
Acerca do capítulo “o diálogo em Dostoiévski”
“[...] a realização do tema em muitas e diferentes vozes, a multiplicidade
essencial e, por assim dizer, inalienável de vozes e a sua diversidade (p.
199).
CARACTERÍSTICAS DO DIÁLOGO EM
PLATÃO, JÓ E DOSTOIÉVSKI (p. 200).
“De fato, as personagens de
Dostoiévski são movidas por um sonho utópico de fundação de alguma comunidade
de seres humanos fora das formas sociais existentes. [...]. Uma voz monológica
firme pressupõe um apoio social firme, pressupõe um nós, independentemente de haver ou não consciência disso. Para um
solitário, sua própria voz se torna instável, sua própria unidade e sua
concordância interior consigo mesmo se tornam postulado” (p. 201).
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O
ROMANCE DE EDUCAÇÃO E SUA IMPORTÂNCIA NA HISTÓRIA DO REALISMO
Capítulo
I – Tipologia histórica do romance
Nenhuma modalidade histórica
concreta mantém o o princípio em forma pura mas se caracteriza pela prevalência
desse ou daquele princípio de enformação da personagem” (p. 205).
1.
O romance de viagens
“[...] ausência do tempo histórico
[...]” (p. 206).
“[...] caráter naturalista dessa
modalidade romanesca: [...]”
2.
O romance de provação
“Trata-se da modalidade mais
difundida de romance na literatura europeia, [...]. O mundo desse romance – a
arena de luta e provação da personagem, acontecimentos, aventuras – é a pedra
de toque da personagem” (p. 207).
MODALIDADES DO ROMANCE DE PROVAÇÃO:
VERTENTE GREGA, HAGIOGRÁFICA, DE CAVALARIA, BARROCA (p. 208, 209).
“[...] patos jurídico-retórico
[...]” (p. 209).
“O romance de provação sempre
começa onde começa o desvio em relação ao curso normal e biográfico da vida, e
termina onde a vida volta ao curso normal” (p. 210, 211).
“Uma conquista substancial do
romance de provação no campo da elaboração da categoria de tempo é o tempo psicológico (particularmente no
romance barroco)” (p. 211).
“O problema da interação do sujeito
e do objeto, do homem e do mundo não se coloca no romance de provação” (p.
212).
“[...] o romance russo de provação
do homem em sua utilidade social e plenivalência (o tema do ‘homem supérfluo’)
(p. 213).
3.
O romance biográfico
O ROMANCE BIOGRÁFICO “não é
construído com base nos desvios em relação ao curso normal e típico da vida,
mas precisamente nos elementos basilares e típicos de toda a trajetória vital
[...]” (p. 213).
“A vida biográfica é impossível
fora de uma época, cuja durabilidade, que vai além dos limites de uma vida
única, é representada antes de tudo pelas gerações.
As gerações não têm lugar nem no romance de viagens nem no romance de provação”
(p. 214).
NO ROMANCE BIOGRÁFICO “na
representação do mundo supera-se tanto a dispersividade naturalista do romance
de viagens quanto o seu exotismo e a idealização abstrata do romance de
provação” (p. 215).
“[...] para o romance realista
(particularmente o romance histórico) é de especial importância o romance de
educação, que surgiu na Alemanha na segunda metade do século XVIII” (p. 216).
Capítulo
II – O problema do romance de educação
“O tema central do nosso trabalho
são o espaço-tempo e a imagem do homem no romance. [...] Mas toda tarefa
teórica só pode ser resolvida com base em um material histórico concreto” (p.
217).
“A imensa maioria dos romances (e
das modalidades romanescas) conhece apenas a imagem da personagem pronta” (p. 218).
“Paralelamente a esse tipo
dominante e maciço, existe outro tipo de romance incomparavelmente mais raro,
que produz a imagem do homem em formação. Em contraposição à unidade
estatística, aqui se fornece o a unidade dinâmica da imagem da personagem.
[...] Esse tipo de romance pode ser designado no sentido mais amplo como romance de formação do homem” (p. 219,
220).
ROMANCE DE FORMAÇÃO SOB MUITAS
VERTENTES: CÍCLICO, “experiência,
como escola”, BIOGRÁFICO,
DIDÁTICO-PEDAGÓGICO, REALISTA (p. 220, 221, 222).
O ROMANCE DE RABELAIS CONSTITUI-SE
NA “mais grandiosa tentativa de construção da imagem do homem em crescimento com base no tempo folclórico histórico-popular
[...]. Por essa razão, em nosso trabalho nós lhe concedemos uma atenção
especial ao lado de Goethe” (p. 224).
Capítulo
III – O tempo e o espaço nas obras de Goethe
“[...] a capacidade de ler os indícios do curso do tempo em tudo,
começando pela natureza e terminando pelas regras e idéias humanas (até
conceitos abstratos)” (p. 225).
“[...] as contradições
socioeconômicas – essas forças motrizes do desenvolvimento – englobam dos
contrastes elementares imediatamente visíveis (a diversidade social da pátria
na estrada real) às suas manifestações mais profundas e sutis nas relações e
idéias humanas. Essas contradições deslocam necessariamente o tempo visível
para o futuro” (p. 226).
“[...] cronótopo e a assimilação do
tempo na literatura” (p. 227).
“Quem nunca esteve cercado pelo mar
por todo os lados não tem uma idéia do mundo e da correlação com o mundo”
(GOETHE apud BAKHTIN, 2003, p. 228).
ATUALIDADE COMO DIVERSIDADE (p.
229).
“De fato, as montanhas nada têm de
mortas, são apenas imóveis; [...]” (p. 230).
“[...] habilidade de Goethe para
ver o tempo no espaço” (p. 231).
“[...] tempo rotineiro do dia-a-dia
em Goethe, [...]” (p. 232).
“[...] vestígio de uma vontade humana única que agia de modo planejado,
[...]” (p. 233).
“[...] a marca essencial e viva do
passado no presente” (p. 234).
“Esse passado criativamente eficaz,
que determina o presente, fornece com este uma determinada direção também para
o futuro, que em certo sentido antecipa o futuro. Desse modo, obtém-se a plenitude do tempo, e ademais uma
plenitude evidente, visível” (p. 235).
“[...] todos os critérios de
avaliação, todas as medidas e todas as proporções humanas vivas da região podem
ser entendidas apenas do ponto de vista do homem
construtor, [...]” (p.236, 237).
“O sentimento de fusão do passado
com o presente em um todo [...]” (p. 237).
“[...] estrutura cronotópica da
visão de região, de paisagem em Goethe. Seu olhar perspicaz satura o local de
tempo, e tempo criador historicamente eficaz. [...] o ponto de vista do homem-construtor determina a
contemplação e a compreensão da paisagem em Goethe” (p. 238).
“[...] potências da vida histórica”
A PARTIR DE ASPECTOS DA NATUREZA E DA GEOGRAFIA (p. 239).
REGIÃO E PAISAGEM NATURAL
“iluminadas pela atividade humana e pelos acontecimentos históricos; (p. 240).
PARA GOETHE “importava não a
justeza moral abstrata (a justiça abstrata, a idealidade, etc.), mas a necessidade da criação e de que qualquer
ato histórico” (p. 241).
A INTEGRAÇÃO ENTRE O TEMPO E O
ESPAÇO A PARTIR DE UMA VISÃO HUMANA EM GOETHE (p. 242).
“O sincronismo, a coexistência dos
tempos em um ponto do espaço, do espaço de Roma, revela para Goethe a ‘plenitude
do tempo’ como ele o percebeu em seu período clássico [...]” (p. 243).
“[...] visão do tempo em Goethe
[...]: a plenitiude e a precisão da visibilidade do tempo no espaço, a
inseparabilidade entre o tempo do acontecimento e o lugar concreto de sua
realização (Localität und Geschichte),
a relação essencial visível entre os
tempos (o presente e o passado), o caráter criador-ativo do tempo (do passado
no presente e do próprio presente), a necessidade que penetra o tempo
localizado vincula-o ao espaço e vincula os tempos entre si; por último, com
base na necessidade que penetra o local, a inclusão do futuro que conclui a
plenitude do tempo nas imagens de Goethe” (p. 244, 245).
“[...] necessidade histórica
humanamente criadora” EM GOETH (p. 245).
“[...] natureza cronotópica
excepcional da visão e do pensamento de Goethe em todos os campos da sua
múltipla atividade. [...]. Tudo nesse mundo é tempo-espaço, cronótopo
autêntico” (p. 245).
“No romance, o mundo todo e a vida
toda são apresentados em um corte da totalidade
da época” (p. 246).
“Na época do Renascimento, o ‘mundo
todo’ começou a condensar-se em um todo real e compacto. (p. 247).
“O século XVIII, o mais abstrato e
anti-histórico, em realidade foi a época da concretização e da visualização do
mundo novo e real [...]” (p. 247).
“Esse processo de arredondamento
conclusivo e integralização do mundo real pode ser observado na biografia
criadora de Goethe” (p. 248).
“É enciclopédico Gargântua e Pantagruel, é enciclopédico Dom Quixote, é enciclopédico o grande
romance barroco (já sem falar de Amadis
e Palmerins). Entretanto, nos
romances do Renascimento, nos romances de cavalaria tardios (Amadis) e nos romances do barroco, o que
há é precisamente um enciclopedismo de natureza abstratamente livresca, sem um modelo de totalidade mundial por trás”
(p. 249).
“[...] configuração cronotópica da
imaginação criadora de Goethe” (p. 250).
“A relação da imagem artística com
o mundo novo geográfica e historicamente concreto e visualizado surge aqui em
forma elementar mas, por outro lado, precisa e também evidente” (p. 251).
“[...] romance infantil plurilíngue
de Goethe, [...]” (p. 251).
“O ambiente [...] saturado de tempo
histórico” (p. 252).
“[...] diversidade social e
caracterológica das massas populares” (p. 253).
“O mundo de Goethe é uma semente germinante, definitivamente
real, presentemente visível e ao mesmo tempo plena de um futuro real que medra
de dentro dela” (p. 254).
“A imaginação criadora de Rousseau
era igualmente cronotópica. Ele descobriu para a literatura (e precisamente
para o romance) um cronótopo específico e muito importante: a ‘natureza’ (é
verdade que essa descoberta, como aliás todas as verdadeiras descobertas, foi
preparada por séculos de desenvolvimento anterior)” (p. 254).
“[...] elemento utópico na
imaginação criadora de Rousseau:” (p. 255).
“O folclore costuma ser saturado de
tempo; todas as suas imagens são profundamente cronotópicas” (p. 256).
“O folclore local assimila e satura
o espaço de tempo, incorpora-o à história” (p. 257).
“[...] assimilação do tempo
histórico real pela literatura, a etapa representada antes de tudo pela
poderosa figura de Goethe. [...] assimilação do tempo na literatura e
particularmente no romance” (p. 258).
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ADENDO
Os
gêneros do discurso
1.
O problema e sua definição
“Todos os diversos campos da
atividade humana estão ligados ao uso da linguagem. Compreende-se perfeitamente
que o caráter e as formas desse uso sejam tão multiformes quanto os campos da
atividade humana, o que, é claro, não contradiz a unidade nacional de uma
língua. O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos)
concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da
atividade humana. Esses enunciados refletem as condições específicas e as
finalidades de cada referido campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo
estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos lexicais, fraseológicos
e gramaticais da língua mas, acima de tudo, por sua construção composicional”
(p. 261).
“[...] cada campo de utilização da
língua elabora seus tipos relativamente
estáveis de enunciados, os quais denominamos gêneros do discurso” (p. 262).
“A riqueza e a diversidade dos
gêneros do discurso são infinitas porque são inesgotáveis as possibilidades da
multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o
repertório de gêneros do discurso que cresce e se diferencia à medida que se
desenvolve e se complexifica um determinado campo. Cabe salientar a extrema
heterogeneidade dos gêneros do discurso (orais e escritos) [...]. A
heterogeneidade funcional, como se pode pensar, torna os traços gerais dos
gêneros discursivos demasiadamente abstratos e vazios” (p. 262).
“Os gêneros discursivos secundários
(complexos – romances, dramas, pesquisas científicas de toda espécie, os
grandes gêneros publicísticos, etc.) surgem nas condições de um convívio
cultural mais complexo e relativamente muito desenvolvido e organizado
(predominantemente o escrito) – artístico, científico, sociopolítico, etc. No
processo de sua formação eles incorporam e reelaboram diversos gêneros
primários (simples), que se formaram nas condições da comunicação discursiva
imediata. Esses gêneros primários, que integram os complexos, aí se transformam
e adquirem um caráter especial: perdem o vínculo imediato com a realidade
concreta e os enunciados reais alheios: [...]” (p. 263).
“O estudo da natureza do enunciado
e da diversidade de formas de gênero dos enunciados nos diversos campos da
atividade humana é de enorme importância para quase todos os campos da
linguística e da filologia. Porque todo trabalho de investigação de um material
linguístico concreto – seja de história da língua, de gramática normativa, de
confecção de toda espécie de dicionários ou de estilística da língua, etc. –
opera inevitavelmente com enunciados concretos (escritos e orais) relacionados
a diferentes campos da atividade humana e da comunicação [...] de onde os
pesquisadores haurem os fatos linguísticos de que necessitam” (p. 264).
“Ora, a língua passa a integrar a
vida através de enunciados concretos (que a realizam); (p. 265).
“Todo estilo está indissoluvelmente
ligado ao enunciado e às formas típicas de enunciados, ou seja, aos gêneros do
discurso. Todo enunciado – oral e escrito, primário e secundário e também em
qualquer campo da comunicação discursiva (rietchevóie
obschênie) – é individual e por isso pode refletir a individualidade do
falante (ou de quem escreve), isto é, pode ter estilo individual. [...] As
condições menos propícias para o reflexo da individualidade na linguagem estão
presentes naqueles gêneros do discurso que requerem uma forma padronizada, por
exemplo, em muitas modalidades de documentos oficiais, de ordens militares, nos
sinais verbalizados da produção, etc” (p. 265).
“O estilo é indissociável de
determinadas unidades temáticas e – o que é de especial importância – de
determinadas unidades composicionais [...]. O estilo integra a unidade de
gênero do enunciado como seu elemento. Isto não significa, evidentemente, que o
estilo de linguagem não possa se tornar objeto de um estudo especial
independente” (p. 266).
“Os autores das classificações
frequentemente deturpam a principal exigência lógica da classificação – a
unidade do fundamento. As classificações são sumamente pobres e não diferenciadas”
(p. 267).
“Os enunciados e seus tipos, isto
é, os gêneros discursivos, são correias de transmissão entre a história da
sociedade e a história da linguagem” (p. 268).
“Onde há estilo há gênero. A
passagem do estilo de um gênero para outro não só modifica o som do estilo nas
condições do gênero que não lhe é próprio como destrói ou renova tal gênero”
(p. 268).
“Pode-se dizer que a gramática e a
estilística convergem e divergem em qualquer fenômeno de linguagem: [...]” (p.
269).
“[...] enunciado como unidade real da comunicação discursiva
[...]” (p. 269).
2.
O enunciado como unidade da comunicação discursiva. Diferença entre essa
unidade e as unidades da língua (palavras e orações)
A FUNÇÃO COMUNICATIVA DA LINGUAGEM
– HUMBOLDT – E A FUNÇÃO EXPRESSIVA – VOSLER (p. 270).
“Até hoje ainda existem na
linguística ficções como o ‘ouvinte’ e o ‘entendedor’ [...] representações
evidentemente esquemáticas dos dois parceiros da comunicação discursiva – o
falante e o ouvinte (o receptor do discurso) [...]. Não se pode dizer que esses
esquemas sejam falsos e que não correspondam a determinados momentos da
realidade; contudo, quando passam ao objetivo real da comunicação discursiva
eles se transformam em ficção científica. Neste caso, o ouvinte, ao perceber e compreender
o significado (linguístico) do discurso, ocupa simultaneamente em relação a ele
uma ativa posição responsiva: concorda ou discorda dele (total ou
parcialmente), [...]; essa posição responsiva do ouvinte se forma ao longo de
todo o processo de audição e compreensão desde o seu início, [...]. Toda
compreensão da fala viva, do enunciado vivo é de natureza ativamente responsiva
(embora o grau desse ativismo seja bastante diverso); toda compreensão é prenhe
de resposta, e nessa ou naquela forma a gera obrigatoriamente: o ouvinte se
torna falante. A compreensão passiva do significado do discurso ouvido é apenas
um momento abstrato da compreensão ativamente real e plena, que se atualiza na
subsequente resposta em voz real alta” (p. 271).
“Os gêneros da complexa comunicação cultural, na maioria dos casos,
foram concebidos precisamente para essa compreensão ativamente responsiva de
efeito retardado” (p. 272).
“Portanto, toda compreensão plena
real é ativamente responsiva e não é senão uma fase inicial preparatória da
resposta (seja qual for a forma em que ela se dê). O próprio falante está
determinado precisamente a essa compreensão ativamente responsiva: [...]. O
empenho em tornar inteligível a sua fala é apenas o momento abstrato do projeto
concreto e pleno do discurso do falante. Ademais, todo falante é por si mesmo
um respondente em maior ou menor grau: porque ele não é o primeiro falante, o
primeiro a ter violado o eterno silêncio do universo, [...]. Cada enunciado é
um elo na corrente complexamente organizada de outros enunciados” (p. 272).
POR CAUSA DE UMA ABSTRAÇÃO
CIENTÍFICA “o papel ativo do outro no processo de comunicação discursiva sai
extremamente enfraquecido” (p. 273).
“[...] real unidade da comunicação discursiva – o enunciado. Porque o discurso
só pode existir de fato na forma de enunciações concretas de determinados
falantes, sujeitos do discurso”. O discurso sempre está fundido em forma de
enunciado pertencente a um determinado sujeito do discurso, e fora dessa forma
não pode existir. Por mais diferentes que sejam as enunciações pelo seu volume,
pelo conteúdo, pela construção composicional, elas possuem como unidades da
comunicação discursiva peculiaridades estruturais comuns [...]” (p. 274).
“O enunciado não é uma unidade
convencional, mas uma unidade real, precisamente delimitada da alternância dos
sujeitos do discurso, a qual termina com a transmissão da palavra ao outro, por
mais silencioso que seja o ‘dixi’ percebido pelos ouvintes [como sinal] de que
o falante terminou” (p. 275).
“Por sua precisão e simplicidade, o
diálogo é a forma é a forma clássica de comunicação discursiva. [...]. Cada
réplica, por mais breve e fragmentária que seja. [...]. Cada réplica, por mais
revê e fragmentária que seja, possui uma conclusibilidade específica ao
exprimir certa posição do falante que suscita resposta, em relação à qual se
pode assumir uma posição responsiva” (p. 275).
RELAÇÕES ENTRE RÉPLICAS “só são
possíveis entre enunciações de diferentes sujeitos do discurso, [...]. Essas
relações entre enunciações plenas não se prestam a gramaticalização, uma vez
que, reiteremos, não são possíveis entre unidades da língua, e isso tanto no
sistema da língua quanto no interior do enunciado” (p. 276).
“[...] gêneros secundários
(artísticos e científicos) [...]” (p. 276).
“[...] oração como unidade da língua
em sua distinção em face do enunciado
como unidade da comunicação discursiva”
(p. 276).
“Se, porém, a oração não está
cercada pelo contexto do discurso do mesmo falante, ou seja, se ela é um
enunciado pleno e acabado (uma réplica do diálogo), então ela estará
imediatamente (e individualmente) diante da realidade (do contexto extraverbal
do discurso) e de outras enunciações dos
outros; [...]” (p. 277).
“[...] no contexto, a oração carece
de capacidade de determinar a resposta; ela ganha essa capacidade (ou melhor,
familiariza-se com ela) apenas no conjunto do enunciado” (p. 278).
“[...] a alternância dos sujeitos
do discurso [...] emoldura o enunciado e cria para ele a massa firme,
rigorosamente delimitada [...]” (p. 279).
“A conclusibilidade do enunciado é
uma espécie de aspecto interno da alternância dos sujeitos do discurso. [...].
O primeiro e mais importante critério de conclusibilidade do enunciado é a
possibilidade de responder a ele, em
termos mais precisos e mais amplos, de ocupar em relação a ele uma posição
responsiva [...]” (p. 280).
POSSIBILIDADE DE RESPOSTA: “[...]
1) exaurabilidade do objeto e do sentido; 2) projeto de discurso ou vontade de
discurso do falante; 3) formas típicas composicionais e de gênero de
acabamento” (p. 281).
“[...] intenção discursiva de discurso ou a vontade discursiva do falante, que determina o todo do enunciado, o
eu volume e as suas fronteiras” (p. 281).
“[...] aspecto semântico-objetivo,
[...] uma situação concreta (singular) de comunicação discursiva, com todas as
suas circunstâncias individuais, com seus participantes pessoais, com as suas
intervenções – enunciados antecedentes” (p. 282).
“A vontade discursiva do falante se
realiza antes de tudo na escolha de um
certo gênero de discurso” (p. 282).
“[...] nossos enunciados possuem
formas relativamente estáveis e típicas de construção
do todo” (p. 282).
“As formas de gênero, na quais
moldamos o nosso discurso, diferem substancialmente, é claro, das formas da
língua no sentido da sua estabilidade e da sua coerção (normatividade) para o
falante. Em linhas gerais, elas são bem flexíveis, plásticas, e livres que as
formas da língua. [...] A diversidade desses gêneros é determinada pelo fato de
que eles são diferentes em função da situação, da posição social e das relações
pessoais de reciprocidade entre os participantes da comunicação: há formas,
rigorosamente oficiais e respeitosas desses gêneros, [...]” (p. 283).
GÊNEROS MAIS PADRONIZADOS E GÊNEROS
MAIS LIVRES (p. 284).
HABILIDADE/INABILIDADE NO MANUSEIO
DOS GÊNEROS DISCURSIVOS (p. 285).
“Por isso um enunciado singular, a
despeito de toda a sua individualidade e do caráter criativo, de forma alguma
pode ser considerado uma combinação absolutamente livre de formas da língua,
como o supõe, por exemplo, Saussure (e muitos outros linguistas que o secundam),
[...]” (p. 285).
“Saussure define a enunciação (La parole) como ‘ato individual da
vontade e da compreensão, no qual cabe distinguir: 1) combinações [...] e 2)
mecanismo psicofísico que lhe permite objetivar essas combinações. [...].
Assim, Saussure ignora o fato de que, além das formas da língua, existem ainda
as formas de combinações dessas
formas, isto é, ignora os gêneros do discurso. (N. da ed. Russa)” (p. 285).
HETEROGENEIDADE COMPOSICIONAL E
DIMENSÃO “das formas de enunciado” TORNAM OS GÊNEROS DO DISCURSO
“incomensuráveis e inaplicáveis na condição de unidades do discurso” (p. 286).
“A oração enquanto unidade da
língua é desprovida da capacidade de determinar imediata e ativamente a posição
responsiva do falante. Só depois de tornar-se um enunciado pleno, uma oração
particular adquire essa capacidade. [...] Consequentemente, ela atinge o grau
de conclusibilidade que lhe permite suscitar resposta” (p. 287).
“Como a palavra, a oração é uma
unidade significativa da língua. [...]. Entretanto, não é possível ocupar uma
posição uma posição em relação a uma posição isolada se não sabemos que o
falante disse com essa oração tudo o que quis dizer, que essa oração não é
antecedida nem sucedida por outras orações do mesmo falante” (p. 287).
A “atitude responsiva – impressão
artístico-ideológica e avaliação – pode referir-se apenas a uma paisagem em seu
conjunto” (p. 288).
“Como a palavra, a oração possui
conclusibilidade de significado e conclusibilidade de forma gramatical, mas
essa conclusibilidade de significado é de índole abstrata e por isso mesmo tão
precisa: [...]” (p. 288).
“Todo enunciado é um elo na cadeia
da comunicação discursiva. É a posição ativa do falante nesse ou naquele campo
do objeto e do sentido. Por isso cada enunciado se caracteriza, antes de tudo
por um determinado conteúdo semântico-objetal” (p. 289).
“A língua como sistema possui,
evidentemente, um rico arsenal de recursos linguísticos – lexicais,
morfológicos e sintáticos – para exprimir a posição emocionalmente valorativa
do falante, mas todos esses recursos enquanto recursos da língua são
absolutamente neutros em relação a
qualquer avaliação [...]” (p. 289).
“As palavras não são de ninguém, em
si mesmas nada valorizam, mas podem abastecer qualquer falante e os juízos de
valor mais diametralmente opostos dos falantes” (p. 290).
“A oração enquanto unidade da
língua também é neutra e em si mesma não tem aspecto expressivo; ela o adquire
(ou melhor, comunga com ele) unicamente em um enunciado concreto. [...] A
entonação expressão é um traço constituivo do enunciado. No sistema da língua,
isto é, fora do enunciado, ela não existe. Tanto a palavra quanto a oração
enquanto unidades da língua são
desprovidas de entonação expressiva” (p. 290).
“[...] a entonação expressiva
pertence aqui ao enunciado e não à palavra” (p. 291).
“[...] só o contato da língua com a
realidade, o qual se dá no enunciado, gera a centelha da expressão: esta não
existe nem no sistema da língua nem na realidade objetiva existente fora de
nós” (p. 292).
“O colorido expressivo só se obtém
no enunciado, e esse colorido independe do significado de tais palavras,
isoladamente tomado de forma abstrata; [...]” (p. 292).
“Quando escolhemos as palavras no
processo de construção de um enunciado, nem de longe as tomamos sempre do
sistema da língua em sua forma neutra, lexicográfica.
Costumamos tirá-las de outros enunciados
e antes de tudo de enunciados congêneres com o nosso, isto é, pelo tema, pela
composição, pelo estilo;” (p. 292).
“Os gêneros correspondem a
situações típicas da comunicação discursiva, a temas típicos, por conseguinte,
a alguns contatos típicos dos significados
das palavras com a realidade concreta em situações típicas. [...]. Os gêneros
do discurso, no geral, se prestam de modo bastante fácil a uma reacentuação;
[...]” (p. 293).
“As palavras da língua não são de
ninguém, mas ao mesmo tempo nós as ouvimos apenas em determinadas enunciações
individuais, [...]” (p. 293).
“[...] qualquer palavra existe para
o falante em três aspectos: como palavra da língua neutra e não pertencente a
ninguém; como palavra alheia dos outros, cheia de ecos de outros enunciados; e,
por último, como a minha palavra,
porque, uma vez que eu opero com ela em uma situação determinada, com uma
intenção discursiva determinada, ela já está compenetrada a minha expressão”
(p. 294).
CADA ESPAÇO-TEMPO “existem
determinadas tradições expressas e conservadas em vestes verbalizadas” (p.
294).
“[...] a experiência discursiva
individual de qualquer pessoa se forma e se desenvolve em uma interação
constante e contínua com os enunciados individuais dos outros” (p. 294).
A PALAVRA É “uma espécie de
representante da plenitude do enunciado do outro como posição valorativa
determinada” (p. 295).
“A oração só adquire entonação
expressiva no conjunto do enunciado” (p. 296).
“[...] o enunciado, seu estilo e
sua composição são determinados pelo elemento semântico-objetal e por seu
elemento expressivo, isto é, pela relação valorativa do falante com o elemento
semântico-objetal do enunciado.” (p. 296).
“Todo enunciado concreto é um elo
na cadeia da comunicação discursiva de um determinado campo” (p. 296).
“Cada enunciado é pleno de ecos e
ressonâncias e ressonâncias de outros enunciados com os quais está ligado pela
identidade da esfera de comunicação discursiva. Cada enunciado deve ser visto
antes de tudo como uma resposta aos
enunciados precedentes de um determinado campo (aqui concebemos a palavra
‘respostas’ no sentido mais amplo): [...]; os enunciados dos outros podem ser
recontados com um variado grau de reassimilação; [...], aos quais respondemos,
com os quais polemizamos;; [...] o destaque dado a determinados elementos, as
repetições [...] o tom. A expressão do enunciado nunca pode ser entendida e
explicada até o fim levando-se em conta apenas o seu conteúdo centrado no
objeto e no sentido” (p. 297).
“Por mais monológico que seja o
diálogo [...] não pode deixar de ser em certa medida também uma resposta àquilo
que já foi dito sobre dado objeto, [...]. O enunciado é pleno de tonalidades dialógicas, e sem leva-las
em conta é impossível entender até o fim o estilo de um enunciado” (p. 298).
“Cada enunciado isolado é um elo na
cadeia da comunicação discursiva. Ele tem limites precisos, determinados pela
alternância dos sujeitos do discurso (dos falantes), [...]” (p. 299).
“O falante não é um Adão bíblico.
[...] o enunciado é um elo na cadeia da comunicação discursiva e não pode ser
separado dos elos precedentes que o determinam tanto de fora quanto de dentro,
gerando nele atitudes responsivas diretas e ressonâncias dialógicas” (p. 300).
“Um traço essencial (constitutivo)
do enunciado é o seu direcionamento a
alguém, o seu endereçamento. À
diferença das unidades significativas da língua – palavras e orações –, que são
impessoais, de ninguém e a ninguém estão endereçadas, o enunciado tem autor (e,
respectivamente, expressão, do que já falamos) e destinatário. Esse
destinatário pode ser um participante-interlocutor direto do diálogo cotidiano,
pode ser uma coletividade diferenciada de especialistas de algum campo especial
da comunicação cultural, pode ser um público mais ou menos diferenciado, um
povo, os contemporâneos, os correligionários, os adversários, [...], um outro totalmente indefinido, não
concretizado (em toda sorte de enunciados monológicos de tipo emocional). [...]
pelo campo da atividade humana e da vida a que tal enunciado se refere” (301).
“O destinatário do enunciado pode,
por assim dizer, coincidir pessoalmente
com aquele (ou aqueles) a quem responde o enunciado” (p. 301).
“A consideração do destinatário e a
antecipação da sua atitude responsiva [...]” (p. 302).
“Matizes mais sutis do estilo são
determinados pela índole e pelo grau de proximidade pessoal do destinatário em
relação ao falante [...]” (p. 303).
“Os gêneros e estilos familiares e
íntimos (até hoje muito mal estudados) revelam de maneira excepcionalmente
clara a dependência do estilo em face de uma determinada sensação e compreensão
do destinatário pelo falante (em face do seu enunciado e da antecipação da sua
ativa compreensão responsiva pelo falante. [...]. Os estilos neutro-objetivos
pressupõem uma espécie de triunfo do destinatário sobre o falante, uma unidade
dos seus pontos de vista, mas essa identidade e essa unidade custam quase a
plena recusa à expressão” (p. 304).
“A imensa maioria dos gêneros
literários é constituída de gêneros secundários, complexos, formados por
diferentes gêneros secundários, complexos, formados por diferentes gêneros
primários transformados” (p. 305).
“Portanto, o direcionamento, o
endereçamento do enunciado é sua peculiaridade constitutiva sem a qual não há
nem pode haver enunciado. As várias formas típicas de tal direcionamento e as
diferentes concepções típicas de destinatários são peculiaridades constitutivas
e determinantes dos diferentes gêneros do discurso” (p. 305).
“À diferença dos enunciados (e dos
gêneros do discurso), as unidades significativas da língua – a palavra e a
oração por sua própria natureza são desprovidas de direcionamento, de
endereçamento – não são de ninguém e a ninguém se referem. [...]. Envolvida
pelo contexto, a oração só se incorpora ao direcionamento através de um
enunciado pleno como sua parte constituinte (elemento)*” (p. 305, 306).
“*Observemos que os tipos
exclamatórios e indutivos de orações costumam figurar como enunciados acabados
(nos respectivos gêneros do discurso). (Nota da ed. russa.) (p. 306).
“A escolha de todos os recursos linguísticos é feita pelo falante pelo falante
sob maior ou menor influência do destinatário e da sua resposta antecipada” (p.
306).
“A análise estilística, que abrange
todos os aspectos do estilo, só é possível como análise de um enunciado pleno e só naquela cadeia da comunicação
discursiva da qual esse enunciado é um elo
inseparável” (p. 306).
O
problema do texto na linguística, na filologia e em outras ciências humanas
Uma
experiência de análise filosófica
“[...] o texto no sentido amplo
como qualquer conjunto coerente de signos [...]. São pensamentos sobre
pensamentos, vivências das vivências, palavras sobre palavras, textos sobre
textos Nisto reside a diferença essencial entre as nossas disciplinas (humanas)
e naturais (sobre a natureza), embora aqui não haja fronteiras absolutas,
impenetráveis” (p. 307).
“Dois elementos que determinam o
texto como enunciado: a sua idéia (intenção) e a realização dessa intenção)”
(p. 308).
“O texto como enunciado incluído na
comunicação discursiva (na cadeia textológica) de dado campo. O texto como
mônada original, que reflete todos os textos (no limite) de um dado campo do
sentido” (p. 309).
“É claro, todo texto (seja ele oral
ou escrito) compreende um número considerável de elementos naturais diversos,
desprovidos de qualquer configuração semiótica, que vão além dos limites da
investigação humanística (linguíitica, filológica, etc.) mas são por esta
levados em conta (a deterioração de um manuscrito, uma dicção ruim, etc). Não
há nem pode haver textos puros. Além disso, em cada texto existe uma série de
elementos que podem ser chamados de técnicos (aspecto técnico do gráfico, da
obra, etc.).
Portanto, por trás de cada texto
está o sistema da linguagem. A esse sistema corresponde no texto tudo o que é
repetido e reproduzido [...]” (p. 309).
“A singularidade natural (por
exemplo, as impressões digitais) e a unicidade significante (semiótica) do
texto” (p. 310).
“Todo sistema signos (isto é,
qualquer língua), por mais que sua convenção se apoie em uma coletividade
estreita, em princípio sempre pode ser decodificado, isto é, traduzido para
outros sistemas de signos (outras linguagens); [...]” (p. 311).
“O acontecimento da vida do texto,
isto é, a sua verdadeira essência, sempre se desenvolve na fronteira de duas consciências, de dois sujeitos” (p. 311).
“E uma palavra pode tornar-se
bivocal se vier a ser uma abreviatura de enunciado (isto é, se ganhar autor). A
unidade fraseológica não foi criada pela primeira mas pela segunda voz” (p.
312).
“Do ponto de vista dos objetivos
extralinguísticos do enunciado todo, o linguístico é apenas um meio” (p. 313).
A IMAGEM DO AUTOR E A TAREFA DO
FALANTE (p. 314).
“[...] bivocalidade na comunicação
discursiva da conversa do dia-a-dia, dos diálogos e discussões sobre temas
científicos e outros temas ideológicos. [...] Uma forma igualmente grosseira e
pouco generalizadora são as diferentes variedades da estilização paródica (p.
315, 316).
“Na explicação existe apenas uma
consciência, um sujeito; na compreensão, duas consciências, dois sujeitos. Não
pode haver relação dialógica com o objeto, por isso a explicação é desprovida
de elementos dialógicos (além do retórico-formal). Em certa medida, a
compreensão é sempre dialógica” (p. 316).
“Os sujeitos dos estilos de
linguagem (o burocrata, o comerciante, o cientista, etc.). As máscaras do autor
(as imagens de autor) e o próprio autor)” (p. 316).
“Para a compreensão é ainda
necessário sobretudo estabelecer limites essenciais e precisos do enunciado. A
alternância dos sujeitos do discurso. A capacidade de definir a resposta. A
responsividade de princípio de qualquer compreensão” (p. 317).
“Em Dostoiévski há estenogramas de
uma discussão inacabada e inacabável. [...]. Depois de Dostoiévski, a polifonia
cresce soberanamente em toda a literatura universal” (p. 318).
“Nenhum fenômeno da natureza tem
‘significado’, só os signos (inclusive as palavras) têm significado. Por isso,
qualquer estudo dos signos, seja qual for o sentido em que tenha avançado,
começa obrigatoriamente pela compreensão” (p. 319).
“O texto é o dado (realidade)
primário e o ponto de partida de qualquer disciplina nas ciências humanas.
[...]. O objeto real é o homem social (inserido na sociedade), que fala e
exprime a si mesmo por outros meios. [...]. Quando estudamos o homem,
procuramos e encontramos signos em toda parte e nos empenhamos em interpretar o
seu significado” (p. 319).
“As relações dialógicas entre os
enunciados, que atravessam por dentro também enunciados isolados, pertencem à
metalinguística” (p. 320).
“Os elementos lingüísticos são
neutros em face da divisão em enunciados, movem-se livremente ignorando as
fronteiras ignorando (sem respeitar) a soberania das vozes” (p. 320).
DOIS ENUNCIADOS “se tocam no
território do tema comum, do pensamento comum” (p. 320).
“Até o discurso direto do autor é
cheio de palavras conscientizadas dos outros” (p. 321).
“[...] (a compreensão nunca é uma
tautologia ou uma dublagem, pois aí, há sempre dois e um potencial terceiro)”
(p. 221).
“[...] os planos dos discursos das
personagens e do discurso do autor podem cruzar-se, isto é, entre eles são
possíveis relações dialógicas” (p. 222).
AS RELAÇÕES DIALÓGICAS “são de
índole específica: não podem ser reduzidas a relações meramente lógicas (ainda
que dialéticas) nem meramente lingüísticas (sintático-composicionais). Elas só
são possíveis entre enunciados integrais de diferentes sujeitos do discurso
[...]” (p. 323).
“Onde não há palavras não há
linguagem e não pode haver relações dialógicas; [...]” (p. 323).
“As relações dialógicas são
relações (semânticas) entre toda espécie de enunciados na comunicação
discursiva” (p. 323).
“Quando o enunciado é tomado para
fins de análise linguística, sua natureza dialógica é repensada, é tomada no
sistema da língua (como sua realização) e não no grande diálogo da comunicação
discursiva” (p. 323).
“A diversidade de gêneros de rua
(cf. Rabelais), [...]” (p. 324).
“A língua, a palavra são quase tudo
na vida humana” (p. 324).
“A linguística estuda apenas as
relações entre os elementos no interior do sistema da língua, mas não as
relações entre os enunciados e nem as relações dos enunciados com a realidade e
com a pessoa falante (o autor)” (p. 324).
“É original a natureza das relações
dialógicas. A questão do dialogismo interior. O limiar das fronteiras entre os
enunciados. A questão da palavra bivocal. A compreensão como diálogo. Aqui
chegamos ao extremo da filosofia da linguagem e do pensamento das ciências
humanas em geral, às terras virgens. Nova colocação do problema da autoria (do
indivíduo criador)” (p. 325).
“O enunciado nunca é apenas um
reflexo, uma expressão de algo já existente fora dele, dado e acabado. Ele
sempre cria algo que não existia antes dele, absolutamente novo e singular, e
que ainda por cima tem relação com o valor (com a verdade, com a bondade, com a
beleza, etc)” (p. 326).
“A palavra usada entre aspas, isto
é, sentida e empregada como palavra do outro, e a mesma palavra (como alguma
palavra do outro sem aspas. As gradações infinitas no grau de alteridade (ou
assimilação) entre as palavras, as suas várias posições de independência em
relação ao falante. As palavras distribuídas em diferentes planos e diferentes
distâncias em face do plano da palavra do autor” (p. 327).
“A relação com o sentido é sempre
dialógica. A própria compreensão já é dialógica” (p. 327).
“A palavra é um drama do qual
participam três personagens (não é um dueto mas um trio)” (p. 328).
“Só o enunciado tem relação imediata com a realidade e com a pessoa
viva falante (o sujeito). [...] Só o enunciado pode ser verdadeiro (ou não verdadeiro),
correto (falso), belo, justo, etc.
A compreensão da língua e a
compreensão do enunciado (que envolve responsividade e, por conseguinte, juízo
de valor)” (p. 328).
“Esses valores dos enunciados
também [...] são determinados [...] por diferentes formas de relação com a
realidade, com o sujeito falante e com outros (alheios) enunciados [...]” (p.
329, 330).
“Em cada palavra há vozes às vezes
infinitamente distantes, anônimas, quase impessoais [...]” (p. 330).
RELAÇÕES DIALÓGICAS EM ENUNCIADOS
INTEGRAIS (p. 330).
“Contudo, as relações dialógicas
não coincidem, de maneira nenhuma, com as relações entre as réplicas do diálogo
real; são bem mais amplas, diversificadas e complexas” (p. 331).
“A concordância é uma das formas mais importantes de relações
dialógicas” (p. 331).
“A compreensão dos enunciados
integrais e das relações dialógicas entre eles é de índole inevitavelmente
dialógica (inclusive a compreensão do pesquisador de ciências humanas); [...].
Um observador não tem posição fora do
mundo observado, e sua observação integra como componente o objeto observado”
(p. 332).
“O entendedor se torna
inevitavelmente um terceiro no
diálogo (é claro [...] que pode haver um número ilimitado de participantes do
diálogo a ser compreendido), entretanto a posição dialógica desse terceiro é
uma posição absolutamente específica” (p. 333).
O ENUNCIADO TOTAL POSSUI AUTOR,
DESTINATÁRIO E SUPRADESTINATÁRIO (p. 333).
“Para a palavra (e consequentemente
para o homem) não existe nada mais terrível do que a irresponsividade” (p. 333).
“A audibilidade como tal já é uma
relação dialógica” (p. 334).
“O enunciado (produção de discurso)
como um todo individual singular e historicamente único” (p. 334).
“Os gêneros do discurso são modelos
tipológicos de construção da totalidade discursiva” (p. 334).
“As unidades da língua, estudadas
pelo linguista, são, por princípio, reprodutíveis um número infinito de vezes
em um número ilimitado de enunciados (são reprodutíveis inclusive os modelos de
orações). É verdade que a frequência da reprodução em unidades distintivas
varia (é maior nos fonemas e menor nas frases). Só graças a essa
reprodutibilidade é que elas podem ser unidades da língua e cumprir a sua
função” (p. 234).
“As unidades da comunicação
discursiva – enunciados totais – são irreprodutíveis (ainda que se possa
citá-las) e são ligadas entre si por relações dialógicas” (p. 235).
Reformulação
do livro sobre Dostoiévski.
“O problema da posição do autor. O
problema do terceiro no diálogo: [...]” (p. 337).
“O problema da polifonia como
centro” (p. 338).
“O que é monologismo em sentido
superior? Negação da isonomia entre as consciências em relação à verdade
(compreendida de maneira abstrata e sistêmica)” (p. 339).
“[...] consciência viva e isônoma do outro” (p. 339).
“Relações dialógicas autênticas só
são possíveis com a personagem que é portadora de sua verdade, ocupa uma posição significativa (ideológica). Se uma
vivência ou ato não visa à significação (acordo - desacordo) mas apenas à realidade (avaliação), a relação dialógica
pode ser mínima” (p. 340).
EM DOSTOIÉVSKI “[...] o indivíduo
em convívio, entre uma multiplicidade de consciências, o indivíduo em processo
de construção dialógica” NOTA DO TRADUTOR) (p. 340).
“Ser significa conviver. [...]. Ser
significa ser para o outro e, através dele, para si. O homem não tem um
território interior soberano, está todo e sempre na fronteira, olhando para
dentro de si ele olha o outro nos olhos
ou com os olhos do outro” (p. 341).
“Eu não posso passar sem o outro,
não posso me tornar eu mesmo sem o outro; eu devo encontrar a mim mesmo no
outro, encontrar o outro em mim mesmo (no reflexo recíproco, na percepção
recíproca)” (p. 342).
“Nenhum nirvana é possível para uma
só consciência. Uma só consciência é um contradictio
in adjecto. A consciência é essencialmente plural. Pluralia tantum” (p. 342).
“Não é outro homem que permanece
objeto da minha consciência, é outra consciência no gozo dos plenos direitos
que está ao lado da minha e só em relação à qual minha própria consciência pode
existir” (p. 343).
“A representação da morte em
Dostoiévski e Toltói” (p. 344).
“No mundo de Dostoiévski a morte
nada conclui” (p. 345).
LINGUAGEM, ESTILO, POSIÇÃO E EMOÇÃO
DO AUTOR (p. 346).
“O homem se separa por via
carnavalesca da bitola comum, normal da vida, do ‘seu meio’, perde seu lugar
hierárquico [...]” (p. 347).
“O monologismo nega ao extremo,
fora de si, a existência de outra consciência isônoma e isônomo-responsiva, de
outro eu (tu) isônomo. No enfoque monológico (em forma extrema ou pura), o
outro permanece inteiramente apenas objeto da consciência e não outra
consciência” (p. 348).
“Natureza dialógica da consciência,
natureza dialógica da própria vida humana. A única forma adequada de expressão
verbal da autêntica vida do homem é o diálogo inconcluso. A vida é dialógica
por natureza. Viver significa participar do dialogo: [...]. Nesse diálogo o
homem participa inteiro e com toda a vida: [...]. Aplica-se totalmente na
palavra e essa palavra entre no tecido dialógico da vida humana, no simpósio
universal” (p. 348).
“A dialética é o produto abstrato
do diálogo” (p. 348).
“O homem entra no diálogo como voz
integral. Participa dele não só como seus pensamentos mas também com seu
destino, com toda a sua individualidade” (p. 349).
“A imagem de mim mesmo para mim
mesmo e minha imagem para o outro. O homem existe em realidade nas formas do eu e do outro [...]” (p. 349).
“É extraordinariamente aguda a
sensação do seu eu e do outro na palavra, no estilo, nos matizes
e meandros mais sutis do estilo, na entonação, no gesto verbalizado, no gesto
corporal (mímico), na expressão dos olhos, do rosto, das mãos, de toda a
aparência física, no modo de conduzir o próprio corpo” (p. 350).
“A posição neutra em
relação ao eu e ao outro é impossível na imagem viva e na idéia ética. Não
podemos equipará-los [...]. Cada homem é um eu
para si, mas no acontecimento concreto e singular da vida o eu para si é apenas eu único, porque todos os demais são outros para mim. E essa
posição única e insubstituível no mundo não pode ser revogada através de uma
interpretação conceitual generalizante (e abstrativa)” (p. 351).
“Os momentos concludentes [...] na
cadeia de sua consciência, [...]” (p. 352).
“Quanto mais perto está a imagem da
zona do eu-para-si, quanto menos há
nela objetificação e conclusibilidade, tanto mais ela se torna imagem da
individualidade livre e inacabável” (p. 353).
“A reificação do homem na sociedade
de classe, levada ao extremo nas condições do capitalismo” (p. 354).
“[...] desenvolvimento concreto-material
e sistêmico [...]”
“O significado final é um
significado limitado” (p. 356).
“Minha palavra permanece no diálogo
contínuo, no qual ela será ouvida, respondida e reapreciada” (p. 356).
“[...] romance homofônico e
polifônico” (p. 357).
Os
estudos literários hoje (resposta a uma pergunta da revista Novi Mir
“No fundo, os estudos literários
ainda são uma ciência jovem, ainda não possuem métodos elaborados e verificados
na experiência como existem nas ciências naturais; por isso a ausência de uma
luta entre correntes e o temor de levantar hipóteses ossadas acarretam
necessariamente o domínio de truísmos e chavões; destes, lamentavelmente não há
carência entre nós” (p. 360).
“O chamado processo literário de
uma época, estudado isoladamente de uma análise profunda da cultura, reduz-se a
uma luta superficial entre as correntes literárias e, para a modernidade
(particularmente para o século XIX), em essência, reduz-se ao sensacionalismo
das revistas e jornais, que não exerce influência de peso sobre a grande, a
autêntica literatura de uma época. As correntes poderosas e profundas da
cultura (particularmente as de baixo, populares), que efetivamente determinam a
criação dos escritores, continuam aguardando descobertas e às vezes permanecem
totalmente desconhecidas dos pesquisadores” (p. 361).
“Se não se pode estudar a
literatura isolada de toda a cultura de
uma época, é ainda mais nocivo fechar o fenômeno literário apenas na época de
sua criação, em sua chamada atualidade” (p. 362).
A QUESTÃO DO “grande tempo” – VÍNCULO PRESENTE, PASSADO, FUTURO. “Tudo o que
pertence apenas ao presente morre juntamente com ele” (p. 363).
“Os fenômenos semânticos podem
existir em forma latente, em forma potencial, e revelar-se apenas nos contextos
dos sentidos culturais das épocas posteriores favoráveis a tal descoberta.
[...]. Shakespeare, como qualquer artista, não construía suas obras a partir de
elementos mortos nem de tijolos mas de formas já saturadas, já plenas de
sentido” (p. 363).
“Ao longo de séculos de sua vida,
os gêneros (da literatura e do discurso) acumulam formas de visão e assimilação
de determinados aspectos do mundo” (p. 364).
DISTÂNCIA NO TEMPO TRAZ OUTROS
SENTIDOS (p. 365).
“A grande causa para a compreensão
é a distância do indivíduo que compreende
– no tempo, no espaço, na cultura – em relação aquilo que ele pretende
compreender de forma criativa. Isso porque o próprio homem não consegue
perceber de verdade e assimilar integralmente nem a sua própria imagem externa,
nenhum espelho ou foto o ajudarão; sua autêntica imagem externa pode ser vista
e entendida apenas por outras pessoas, graças à distância espacial e ao fato de
serem outras” (p. 366).
“No campo da cultura, a
distância é a alavanca mais poderosa da compreensão. A cultura do outro só se
revela com plenitude e profundidade (mas não em toda a plenitude, porque virão
outras culturas que a verão e compreenderão ainda mais) aos olhos de outra cultura. Um sentido só revela as
suas profundidades encontrando-se e contactando com outro, com o sentido do
outro: entre eles começa uma espécie de diálogo que supera o fechamento e a
unilateralidade desses sentidos, dessas culturas. Colocamos para a cultura do
outro novas questões que ela mesma não se colocava; nela procuramos resposta a
essas questões, e a cultura do outro nos responde, revelando-nos seus novos
aspectos, novas profundidades do sentido. Sem levantar nossas questões não podemos compreender nada do outro de modo
criativo (é claro, desde que se trate de questões sérias, autênticas). Nesse
encontro dialógico de duas culturas elas não se confundem; cada uma mantém a
sua unidade e a sua integridade aberta,
mas elas se enriquecem mutuamente” (p. 366).
Apontamentos
de 1970-1971
“A ironia existe em toda parte – da
ironia mínima, imperceptível, à ruidosa, limítrofe com o riso” (p. 367).
ESTILO E SITUAÇÃO (p. 367).
“[...] gêneros elevados e
proclamadores [...]” (p. 367).
“A palavra com as suas fronteiras
inexpugnáveis, sagradas, é uma palavra inerte, com possibilidades limitadas de
contatos e combinações” (p. 368).
“Pertencem ao campo da
metalinguística os diferentes tipos e graus de alteridade da palavra alheia e
as diferentes formas de relação com ela (estilização, paródia, polêmica, etc.),
os diversos meios da sua exclusão da vida do discurso. [...]. A estilística
deve ser orientada para o estudo metalinguístico dos grandes acontecimentos
[...]” (p. 368).
“O mutismo só é possível no mundo
humano (e só para o homem). É claro que tanto o silêncio como o mutismo são
sempre relativos” (p. 369)
“Através do enunciado a língua
comunga na não-repetitividade histórica e na totalidade inacabada da logosfera”
(p. 369).
“O discurso interpretativo pertence
ao reino dos fins. A palavra como fim último (supremo)” (p. 369).
O PODER LIBERTDOR DO RISO (p. 370)
E O ENUNCIADO COMO ELO ENTRE OS QUE O SUCEDERAM E O SUCEDERÃO. (p. 371).
A SEGUNDA CONSCIÊNCIA E O “ser no
outro” (p. 372).
“A princípio eu tomo consciência de
mim através dos outros [...]” (p. 373).
“Três tipos de relações:
1) Relações entre os objetos [...]
2) Relações entre o sujeito e o
objeto.
3) Relações entre sujeitos [...]”
(p. 374).
“A literatura é parte inalienável
da integridade da cultura, ela não pode ser estruturada fora do contexto
integral da cultura” (p. 375).
“Esses fatores [socioeconômicos]
agem sobre a cultura em sua integridade, e só através dela, e com ela sobre a
literatura. O processo literário é parte inalienável do processso cultural” (p.
376).
“O mundo da cultura e da literatura
é, em essência, tão ilimitado quanto o universo” (p. 376).
“A falsa tendência para a redução
de tudo a uma única consciência, para dissolução da consciência do outro (do
sujeito da compreensão) nela. [...]. Não se pode interpretar a compreensão como
empatia e colocação de si mesmo no lugar do outro (a perda do próprio lugar).
Isto só é exigido para os elementos periféricos da interpretação. Não se pode
interpretar a compreensão como passagem da linguagem do outro para a minha
linguagem” (p. 377).
“É impossível uma compreensão sem
avaliação. Não se pode separar compreensão e avaliação: elas são simultâneas e
constituem um ato único integral. [...]. O sujeito da compreensão não pode
xcluir a possibilidade de mudança e até de renúncia aos seus pontos de vista e
posições já prontos. No ato da compreensão desenvolve-se uma luta cujo
resultado é a mudança mútua e o enriquecimento” (p. 378).
“A concordância-discordância ativa
(quando não resolvida dogmaticamente de antemão) estimula e aprofunda a
compreensão, torna a palavra do outro mais elástica e mais pessoal, não admite
dissolução mútua e mescla. Separação precisa de duas consciências, da sua
contraposição e da sua inter-relação” (p. 378).
“Esses dois momentos (o
reconhecimento do repetível e a descoberta do novo devem estar fundidos
indissoluvelmente no ato vivo da compreensão: porque a não-repetitividade do
todo está refletida também em cada elemento repetível, co-participante do todo
(por assim dizer, é repetível-não-repetível). A diretriz exclusiva no
reconhecimento, na busca apenas do conhecido (do que já existiu) não permite
descobrir o novo (isto é, o principal, a totalidade não-repetível)” (p. 378).
“Neste sentido, todas as palavras
(enunciados, produções de discurso e literárias), além das minhas próprias, são
palavras do outro. Eu vivo em um mundo de palavras do outro. E toda a minha
vida é uma orientação nesse mundo; é reação à palavra do outro (uma reação
infinitamente diversificada), a começar pela assimilação delas (no processo de
domínio inicial do discurso) e terminando na assimilação das riquezas da
cultura humana (expressas em palavras ou em outros materiais semióticos). A
palavra do outro coloca diante do indivíduo a tarefa especial de compreendê-la
(essa tarefa não existe em relação à minha própria palavra ou existe em seu
sentido outro). Para cada indivíduo, essa desintegração de todo o expresso na
palavra em um pequeno mundinho das suas palavras (sentidas como suas) e o
imenso e infinito mundo das palavras do outro são o fato primário da
consciência humana e da vida humana, que, como tudo o que é primário e natural,
até hoje tem sido pouco estudado (conscientizado), pelo menos não foi
conscientizado em seu imenso significado essencial. A enorme importância disto
para o indivíduo, para o eu do homem
(em sua índole ímpar)” (p. 379).
Para cada indivíduo, todas as
palavras se dividem nas suas próprias palavras e nas do outro, mas as
fronteiras entre elas podem confundir-se e nessas fronteiras desenvolve-se uma
luta dialógica. [...]. Na vida enquanto objeto do pensamento (abstrato) existe
o homem em geral, existe o terceiro, mas na própria vida vivenciável existimos
apenas eu, tu, ele e só nela se
revelam (existem) realidades primárias como minha
palavra e a palavra do outro e,
em geral, aquelas realidades primárias que ainda não se prestam ao conhecimento
(abstrato, generalizador) e por isso não são percebidas por ele” (p. 379, 380).
“O complexo acontecimento do
encontro e da interação com a palavra do outro tem sido quase totalmente
ignorado pelas respectivas ciências humanas (e acima de tudo pelos estudos
literários)” (p. 380).
“A palavra do outro deve
transformar-se em minha-alheia (ou alheia-minha). A distância (vnienakhodímost) e o respeito. No
processo da comunicação dialógica com o objeto, este se transforma em sujeito
(o outro eu)” (p. 381).
“Chamo sentidos às respostas a
perguntas. Aquilo que não responde a nenhuma pergunta não tem sentido para nós”
(p. 381).
“É possível não só a compreensão de
uma individualidade única e ímpar, é possível a compreensão também de uma
causalidade individual” (p. 381).
“A índole responsiva do sentido. O
sentido sempre responde a certas perguntas. Aquilo que a nada responde se
afigura sem sentido para nós, afastado do diálogo. Sentido e significado. O
significado está excluído do diálogo, mas abstraído dele de modo deliberado e
convencional. Nele existe uma potência de sentido” (p. 381).
“O universalismo do sentido, sua
universalidade e perenidade” (p. 381).
“O sentido é potencialmente
infinito, mas pode atualizar-se somente em contato com outro sentido (do
outro), ainda que seja com uma pergunta do discurso interior do sujeito da
compreensão. Ele deve sempre contatar com outro sentido para revelar os novos
elementos da sua perenidade. (como a palavra revela os seus significados
somente no contexto). Um sentido atual não pertence a um (só) sentido mas tão
somente a dois sentidos que se encontraram e se contactaram. Não pode haver
‘sentido em si’ – ele só existe para outro sentido, isto é, só existe com ele.
Não pode haver um sentido único (um). Por isso, não pode haver nem o primeiro
nem o último sentido, ele está sempre situado entre os sentidos, é um elo na
cadeia dos sentidos, a única que pode existir realmente em sua totalidade. Na
vida histórica essa cadeia cresce infinitamente e por isso cada elo seu isolado
se renova mais e mais, como que torna a nascer” (p. 382).
“Minha imagem de mim mesmo. [...] Eu-para-mim, eu-para-o-outro, o outro-para-mim”
(p. 382).
“A composição heterogênea da minha
imagem. O homem no espelho. O não-eu
em mim, isto é, o ser em mim, algo maior do que eu em mim. [...]. Os
sentimentos só são possíveis em relação ao outro (por exemplo, o amor) e os
sentimentos só são possíveis por mim mesmo (por exemplo, o amor-próprio, a
auto-abnegação, etc)” (p. 383).
“O eu se esconde no outro e
nos outros, quer ser apenas outro
para os outros, entrar até o fim no mundo dos outros como outro, livrar-se do
fardo de eu único (eu-par-si) no
mundo
“A semiótica se ocupa
predominantemente da transmissão da comunicação pronta com o auxílio de um
código pronto” (p. 383).
“O contexto é potencialmente
inacabável, o código deve ser acabado. O código é apenas um meio técnico de
informação, não tem significado criador cognitivo. O código é um contexto
deliberadamente estabelecido, amortecido” (p. 383).
“A palavra de qualquer pessoa
dirigida a qualquer pessoa” (p. 384).
“A procura da própria palavra pelo
autor é, basicamente, procura do gênero e do estilo, procura da posição do
autor” (p. 385).
“[...] diferentes formas de
mutismo” (p. 386).
“[...] a mentira como caminho para
a verdade” (p. 387).
“Só um polifonista como Dostoiévski
foi capaz de sondar na luta entre opiniões e ideologias (de várias épocas) o
diálogo inacabado em torno das últimas questões (no grande tempo). Outros se
ocupam de questões solucionáveis no âmbito de uma época” (p. 388).
“O jornalista é acima de tudo um
contemporâneo” (p. 388).
MÁSCARA E AUTORIA (p. 389).
“Quem fala e a quem se fala. Tudo
isso determina o gênero, o tom e o estilo do enunciado [...]” (p. 390).
“A infinita diversidade de gêneros
do discurso e de formas de autoria na comunicação discursiva do cotidiano [...]
Esses gêneros diferem segundo as esferas hierárquicas: a esfera íntima, a
esfera oficial e suas variedades” (p. 390).
“Não se vai do objeto à palavra,
mas da palavra ao objeto, a palavra cria o objeto” (p. 390).
“O cotidiano humano é sempre
enformado, e essa informação é sempre ritual (ainda que ‘esteticamente’) (p.
391).
“A unidade de uma idéia em formação
(em desenvolvimento)” (p. 392).
Metodologia
das ciências humanas
A COISA E O SUJEITO SÃO PASSÍVEIS
DE ESTUDO E DE SEREM CONHECIDOS.
“[...] ao abrir-se para o outro, o
indivíduo sempre permanece também para si[...] o critério não é a exatidão do
conhecimento mas a profundidade de penetração (p. 394).
“O indivíduo não tem apenas meio e
ambiente, tem também horizonte próprio. A interação do horizonte do cognoscente
com o horizonte do cognoscível” (p. 394).
A penetração no outro (fusão com
ele) e a manutenção da distância (do meu lugar) [...]” (p. 394).
EXATIDÃO, PRÁTICA, LIBERDADE (p.
395).
“A configuração dialógica da
compreensão” (p. 396).
“O riso suprime o peso do futuro (do porvindouro) livra
das preocupações do futuro; o futuro deixa de ser uma ameaça” (p. 397).
C0MPREENSÃO É UM FATO PSICOFISIOLÓGICO,
DA LÍNGUA, DO CONTEXTO E ATIVO-DIALÓGICO (p. 398).
“O verdadeiro autor não pode
tornar-se imagem, pois é o criador de toda imagem, de todo o sistema de imagens
da obra” (p. 399).
“As ciências exatas são uma forma
monológica do saber [...]” (p. 400).
“A avaliação como momento
indispensável do conhecimento dialógico” (p. 400).
“O lugar da filosofia. Ela começa
onde termina a cientificidade exata e começa a heterocientificidade. Pode ser
definida como metalinguagem de todas as ciências (e de todas as modalidades de
conhecimento e consciência)” (p. 400).
“A interpretação como
correlacionamento com outros textos e reapreciação em um novo contexto (no meu,
no atual, no futuro). [...] Etapas do movimento dialógico da interpretação [...]” (p. 401).
“Se transformarmos o diálogo em um
texto contínuo, isto é, se apagarmos as divisões das vozes (a alternância de
sujeitos falantes), o que é extremamente possível (a dialética monológica de
Hegel), o sentido profundo (infinito) desaparecerá (bateremos contra o fundo,
poremos um um ponto morto)” (p. 401).
“O pensamento que, como um peixe no
aquário, choca-se com o fundo e as paredes, não pode ir além e mais fundo. O
pensamento dogmático” (p. 401).
O PROBLEMA DA “historicidade
despersonalizada” (p. 402) E DA “monologização da consciência” EM CHOQUE COM A
“complexa tonalidade da nossa
consciência, tonalidade que serve de contexto axiológico-emocional na nossa
interpretação (plena e centrada nos sentidos) do texto que lemos (ou ouvimos),
bem como em uma forma mais complexa e no processo de criação (de geração) do
texto (p. 403, 404).
“O sentido não quer (e não pode)
mudar os fenômenos físicos, materiais e outros, não pode agir como força
material. Aliás ele nem precisa disso: ele mesmo é mais forte que qualquer
força, muda o sentido total do acontecimento e da realidade sem lhes mudar uma
vírgula na composição real (do ser); tudo continua como antes mas adquire um
sentido inteiramente distinto (a transfiguração do ser centrada no sentido).
Cada palavra do texto se transfigura em um novo contexto” (p. 404).
“[...] excedente definível pela alteridade”
(p. 405).
“O conteúdo como novo, a forma como
conteúdo velho (conhecido), estereotipado, estagnado. A forma serve de ponte
necessária para um conteúdo novo, ainda desconhecido” (p. 405).
Os símbolos são os elementos mais
estáveis e, ao mesmo tempo, mais emocionais; referem-se à forma e não ao
conteúdo” (p. 406).
“O significado das exclamações
axiológico-emocionais na vida discursiva dos povos” (p. 406).
“O contexto axiológico-entonacional
extratextual pode ser realizado apenas parcialmente no processo de leitura
(execução) de um dado texto, porém em sua parte mais geral, particularmente em
suas camadas mais substanciais e profundas, permanece fora de dado texto como
fundo dialogizante de sua percepção. A
isso se reduz, até certo ponto, o problema do condicionamento social (extraverbal) da obra” (p. 406).
O processo de coisificação e o
processo de personalização. Todavia, a personalização não é, de maneira nenhuma,
uma subjetivação. O limite aqui não é o eu,
porém o eu em relação de reciprocidade com outros indivíduos, isto é, eu e o outro, eu e tu” (p. 407).
“Se a resposta não gera uma nova
pergunta, separa-se do diálogo e entra no conhecimento sistêmico, no fundo
impessoal” (p. 408).
Diferentes cronótopos de quem
pergunta e de quem responde e diferentes universos do sentido (eu e o outro)” (p. 408).
“[...] o problema da minha palavra
e da palavra do outro” (p. 408).
“Renovação interminável dos
sentidos em todos os contextos novos. O pequeno
tempo – a atualidade, o passado imediato e o futuro previsível [desejado] –
e o grande tempo – o diálogo infinito
e inacabável em que nenhum sentido morre” (p. 409).
“No estruturalismo, existe apenas
um sujeito: o próprio pesquisador. As coisas se transformam em conceitos (de um
grau variado de abstração); o sujeito nunca pode tornar-se conceito (ele mesmo
fala e responde). O sentido é
personalista; nele há sempre uma pergunta, um apelo e uma antecipação da
resposta, nele sempre há dois (como mínimo dialógico). Esse personalismo não é
um fato psicológico mas de sentido” (p. 410).
“Não existe a primeira nem a última
palavra, e não há limites para o contexto dialógico (este se estende ao passado
sem limites e ao futuro sem limites). [...]. Não existe nada absolutamente
morto: cada sentido terá sua festa de renovação. Questão do grande tempo” (p.
410).
..............................
Conferência
sobre história da literatura russa
Viatcheslav
Ivánov
As fontes poéticas de Viatcheslav
Ivanóv são a “Antiguidade, a Idade Média e o Renascimento” (p. 411). Para o
autor há três princípios de ação: “o do ascenso, o do descenso e o caos” –
princípio dionisíaco” (p. 412). O caos “constitui o fundamento da arte” (p.
413).
.................................
Peculiaridades
formais da poesia de Viatcheslav Ivánov
“A técnica dos sons em Vitcheslav
Ivánov é muito expressiva, no entanto não é um fator independente de impressão
estética” (p. 414).
“A linguagem da poesia de
Viatcheslav Ivánov é comedida em um plano. [...] o frio é uma qualidade
estética tanto quanto o calor, a intimidade” (p. 415).
Diafaneidade, e imagem da cruz e do
coração em Ivánov (p. 416, 417).
Absolutismo do sol, dor e
sofrimento, vida e morte, a inacessibilidade da morte à experiência humana (p.
418, 419).
O ato de unir-se, de fundir-se e de
individuar-se (p. 420).
O símbolo da rosa para a igreja
católica e para Dante (p. 421).
.................................
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NOTAS
Arte
e responsabilidade
Na cidade de Nevel Bakhtin morou e
trabalhou em 1918-1920. (p. 423).
..............
O
autor e a personagem na atividade estética
O trabalho foi conservado no
arquivo de Bakhtin sem indicação do título (p. 423).
O acontecimento, a polifonia, a
interação, a axiologia, as consciências isônomas (p. 424)
Ativismo, distância, excedente de
visão, horizonte e ambiente (p. 425).
Método formal é o termo russo para
o termo ocidental “Formalismo Russo” (p. 425).
Bakthin não preparou para
publicação o texto de “O autor e a personagem na atividade estética” (p. 426).
O problema das inter-relações entre
os eus em Dostoiévski (p. 427).
“A índole irônica é o signo da
plena voluntariedade de qualquer estado do espírito [...]” (p. 428).
ESTAR NO MUNDO E SER COPARTÍCIPE DO
NASCIMENTO (p. 429).
Raízes do cristianismo: judaísmo,
helenismo gnoticismo (p. 430).
“A ‘corporeidade’ do Antigo
Testamento é descrita predominantemente como ‘interior’, isto é, não
contemplável de fora mas empatizada por dentro no modus da necessidade, no modus
do prazer, mas não como corporeidade individual de um homem e sim como
corporeidade coletiva da comunidade ético-sagrada – ‘unidade do organismo
popular’” (p. 431).
União de corpos, fusão sexual e
pureza (p. 432).
Pureza, amor espiritual, natureza e
vivenciamento da fraternidade (p. 433).
A figura de Francisco de Assi. E o
realismo de Giotto (p. 434).
“[...] mística esotérica do sexo e
em geral da vida orgânica em Novalis [...]” (p. 435).
A relação entre obras e o mundo (p.
436).
Problemas da poética de
Dostoiévski: estudo do sujeito, da moral e do direito (p. 437).
“[...] forma arquitetônica do
objeto estético axiologicamente orientada e a forma composicional da ‘produção
material’ [...]” (p. 438)
Folclore carnavalesco e Rabelais
(p. 439).
Heterodiscursividade e cronotopia
(p. 440).
Goethe e Dostoiévski (p. 441).
A substância do sujeito e do objeto
(p. 442).
“[...] ativa contemplação
co-participativa [...]” (p. 443).
A “consciência madura” e
“compreensão enriquecida” (p. 444).
A “objetividade da realidade
representada” (p. 445).
O atrito da palavra enunciada com a
palavra do outro e com o contexto extraverbal (p. 446).
Gêneros divergem de correntes e
escolas literárias (p. 447).
Bakhtin se apropria de conceitos de
Vossler mas reafirma o caráte r social da linguagem (p. 448).
Enunciado é realidade concreta da
vida da linguagem, na forma de gêneros discursivos enquanto fato sócio-cultural
e socializador, jamais individual (p. 448).
O diálogo como fundamento de frases
(p. 449).
A entonação é expressão da
avaliação. É determinada pelo público e pela situação e situa-se entre o verbal
e o não-verbal (p. 449).
Tema é irrepetível, Significado é
repetível (p. 450).
O viés extralinguístico da
teorização de discurso em Bakhtin se materializa na ciência Transliguística (p.
451).
Glossemática: Escola linguística de
Compenhague.
“As variadas formas de transmissão
do discurso do outro em construções da língua russa [...]” (p. 453).
Posição axiológica do autor, o
micro e o grande diálogo (p. 454).
Sistema de língua é como um jogo de
xadrez segundo Saussure (p. 455).
A cultura está em fronteiras (p.
456).
“39. Man (pronome pessoal substantivado indefinido na língua alemã) é
uma categoria da filosofia de Martn Heidegger. Man é uma força impessoal, que
determina a existência cotidiana do homem” (p. 457).
O discurso do outro como objeto de
estudo (p. 458).
Encontro e comunicação (p. 459).
Atividade criadora e ativismo (p.
460).
A palavra na linguagem do ser (p.
461).
O mundo como palco (p. 462).
O teatro de Shakespeare se baseia no “colorido
cósmico-axiológico” da idade média (p. 463).
Bilateralidade entre ouvinte e
autor (p. 464).
Arquitetônica de construção (p.
465).
Diálogo extasiado (p. 466).
Influências da idade média e do
catolicismo nas reflexões bakhtinianas (p. 467, 468).
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. (Estétika
sloviésnovo tvórtchestva) Introdução e tradução do russo Paulo Bezerra:
prefácio à edição francesa Tzvetan Todorov. 4ª edição. São Paulo: Martins
Fontes, 2003. Coleção biblioteca universal.
................................
Introdução
por Paulo Bezerra. Página IX a XII.
“A terminologia, o acervo de
categoria de uma obra é a medula do pensamento aí exposto. [...] Se um conceito
ou categoria aparece empregado de forma diferente, perde-se o sentido de
unidade e organicidade do pensamento, e a obra se torna ininteligível” (p. X).
...............................
Prefácio
à edição Francesa por Tzvetan Todorov – tradução de
Maria Ermantina de Almeida Prado Galvão. Página XIII a XXXII.
Para os formalistas (russos) “o
essencial não está na relação da obra com outras entidades – o mundo, ou o
ator, ou os leitores –, mas na relação de seus próprios elementos constituivos
entre si” (p. XVI).
FORMALISTAS E POSITIVISTAS NÃO
RELFETREM “sobre fundamentos teóricos e filosóficos da sua própria doutrina”
(p. XVI).
O FORMALISTAS NÃO CONSIDERAM
DEVIDAMENTE A ARQUITETÕNICA (p. XVI).
“A estética romântica valoriza a
imanência, não a transcendência” (p. XVIII).
EXTERIORIDADE E SUPERIORIDADE,
TRANSGREDIÊNCIA E EXOTOPIA (p. XIX).
“[...] uma vida encontra um sentido
[...] se é vista do exterior [...] completamente englobada no horizonte de
alguma outra pessoa [...]” (p. XIX).
“O autor não tem nenhuma vantagem
sobre o herói, não há nenhum excedente semântico que o distinga dele, e as duas
consciências têm direitos perfeitamente iguais” (p. XX).
O DIALOGISMO ACIMA DO BEM E DO MAL,
DO VERDADEIRO E DO FALSO (p. XX).
MULTIPLICIDADE E RELATIVISMO SEM
PRIVILÉGIOS OU HIERARQUIAS (p. XXI).
A ESCUTA DO OUTRO NÃO TRAZ O JUÍZO
ABSOLUTO, MAS O COMPLEMENTAR (p. XXI).
VERDADE DIVERGE DE HONESTIDADE
(FIDELIDADE ÀS CONVICÇÕES (p. XXIII).
“[...]: a multiplicidade dos homens
é a verdade do próprio ser do homem” (p. XXIV).
TENTATIVA DE BAKHTIN EM REALIZAR A
SÍNTESE ENTRE OS CAMPOS OU PERÍODOS “fenomenológico; sociológico; linguístico;
histórico-literário” (p. XXVI).
NO PERÍODO FENOMENOLÓGICO “o
acabamento só pode vir do exterior, através do olhar do outro [...]” (p. XXVI).
NO PERÍODO SOCIOLÓGICO “a linguagem
e o pensamento, constitutivos do homem, são necessariamente inter-subjetivos”
(p. XXVII). BAKHTIN CRITICOU “a lingüística estrutural e a poética formalista,
que reduzem a linguagem a um código e esquecem que o discurso é acima de tudo
uma ponte lançada entre duas pessoas, elas próprias socialmente determinadas
[...]” (p. XXVII).
O PERÍODO HISTÓRICO-LITERÁRIO SOBRE
O CRONÓTOPO E A “diversidade do discurso” (p. XXVIII e XXIX).
“[...] saber que o outro pode
ver-me determina radicalmente a minha condição. A sociabilidade do homem
funda-lhe a moral: não na piedade, nem na abstração da universalidade, mas no
reconhecimento do caráter constitutivo do inter-humano. Não só o indivíduo não
é redutível ao conceito, mas também o social é irredutível aos indivíduos,
ainda que numerosos” (p. XXVIII).
POSIÇÕES DE BAKHTIN, CRISTÃO
ORTODOXO: DEUS FORA DE MIM E CRISTO SUBLIMADO, O ABSOLUTO NÃO COMO ESSÊNCIA,
MAS COMO POSIÇÃO (p. XXIX).
PREFERÊNCIA DE BAKHTIN POR GÊNEROS
PRIMÁRIOS, CONVERSAÇÃO (p. XXX).
PERIGO DO RELATIVISMO E DO
DOGMATISMO (p. XXXI).
“[...] a interpretação como
diálogo, a única que permite recobrar a liberdade humana” (p. XXXII).
“O sentido é liberdade e a
interpretação é o seu exercício: este parece ser o último preceito de Bakhtin”
(p. XXXII).
..................................................
Vocabulário
russo traduzido por Paulo Bezerra
1.
Aktivno
aktíven: “[sou] ativamente ativo” (p. 114).
2. Aktívnost:
“significa atividade enérgica, ação intensa do sujeito sobre o objeto” (p.
XII). Ativismo (p. 339).
3. Bespredmiétnoe iskusstvo:
“o conceito [...] arte sem objeto pode ser traduzido também como arte abstrata.
Como Bakhtin não emprega o termo latino, mantivemos a expressão ‘sem objeto’
(p. 185).
4. Bogobórstvo:
teomaquia (p. 134).
5. Dánnie (substantivo
plural): dados, índices de caracterização de alguém ou algo” (p. 16).
6. Dánnost (substantivo
extensivo singular): dado (p. 16).
7. Deiátielnost:
“aparece muito em Bakhtin como o exercício de alguma ação, o desempenho de uma
função – atividade estética, por exemplo, sem a idéia necessária de intensidade”
(p. XII).
8. Dialoguítchnost:
“potencialidade dialógica” (p. 338).
9. Diêstvie:
ação. “Bakhtin define a ação como conjunto dos ‘atos externos do homem’ (p.
39).
10. Diêstvuischii
(particípio ativo): agente (p. 39).
11. Dojenstvovánie:
imperativo (imperativ) (p. XI).
12. Dostoévschina:
“Termo geralmente utilizado para designar os aspectos política e
ideologicamente negativos da obra de Dostoiévski” (p. 198).
13. Ebbinghaus:
“individualidade possível” (p. 104).
14. Einfühlung:
empatia (p. 10).
15. Étost:
“ser-aí” (p. 121).
16. Igrá:
interpretação, “jogo, brincadeira, execução” (p. 43).
17. Iuródstvo:
“Comportamento de pedinte ou louco com dons de profecia” (p. 131).
18. Izobrajênie:
representação, “imagem, reflexo, etc” (p. 43).
19. Koniétcho-nalitchni:
“terminal-presente” (p. 100).
20. Kontsipírovanni:
termo utilizado por Bakhtin e correspondente ao “verbo latino concipio em forma russificada de
particípio [...] para designar uma consciência
mais tendente a juntar, reunir, daí o termo agregativo” (p. 06).
21. Literaturoviédenie:
“termo empregado por Bakhtin, é o mais usual na exegese literária russa e
compreende história da literatura, teoria da literatura e crítica literária. Na
falta de um similar em português, optamos pela categoria abrangente ‘estudos
literários’.” (NOTA DO TRADUTOR).
22. Nalitchnii:
existente, presente (p. XI).
23. Nalítchost:
existência, presença (p. XI).
24. Naprávlienni:
propósito, “voltado para um objetivo, para um fim” (p. 76)
25. Narúrjost:
imagem externa (p. 25).
26. Neopredeliónnost:
“indeterminidade” (p. 106).
27. Neuspokóennost:
“não-repouso” (p. 106).
28. Otviét:
resposta (p. 280).
29. Otviétnaia reáktsiya:
reação responsiva (p. 280).
30. Pliaska:
“dança no sentido mais popular, mais restrito e também a música para essa
dança” (p. 125).
31. Pótchva:
solo (p. 387)
32. Potchvienítchestvo:
“significa algo enraizado no solo. O potchvienítchestvo foi uma tendência que
influenciou profundamente a literatura russa nos anos 60 do século XIX,
enfatizando a importância do elemento genuinamente nacional na formação
socioeconômica e cultural russa” (p. 387).
33. Rasnorietchívii:
“adjetivo derivado do substantivo russo raznoriétchie,
que significa divergência nas palavras, nos sentidos, diferença de opiniões,
avaliações, juízos de valor, divergência, diversidade de discursos, em suma,
dissensões que se dão no plano do uso da linguagem do discurso. O termo tem
sido traduzido como ‘heteroglossia’, uma notória impropriedade, uma vez que
reduz a amplitude discursiva do termo bakhtiniano a mera questão de
linguística” (p. 440).
34. Refleks:
termo russo para o latino reflexo (p. XI).
35. Rietchevóie:
“é derivação de riétch, que é
discurso, fala, em alguns aspectos linguagem, [...]” (p. 265).
36. Rietchevóie obschênie:
comunicação discursiva (p. 265).
37. Sloviésnii:
termo derivado de “sloviésnost, que por sua vez significa literatura de ficção,
arte popular oral e ainda o conjunto de produções da literatura e do folclore
de um povo” (p. IX).
38. Smisl:
sentido
39. Smislovíe znátchimosti:
“significações do sentido” (p. 101).
40. Smislovói:
“adjetivo russo de sentido” traduzido como “semântico” (p. XI).
41. Sobítie:
(p. 118) Acontecimento (substantivo)
42. Sobitiínnoe dvijénie:
“movimento-acontecimento” (p. 118).
43. Sobitiínost:
“acontecência”. Termo que em Bakhtin significa o processo ou as potencialidades
do acontecer” (p. 108).
44. Soperejivánie:
“fusão do prefixo de contiguidade so (correspondente ao latino cum e ao português co de co-autor, companhia) com o substantivo perejivánie, que
significa vivência ou vivenciamento; [traduzido] como ‘vivenciamento empático’”
para exprimir o vivenciamento e não a “gênese psicológica desse vivenciamento”
(p. XI).
45. Tánietz:
“dança no sentido amplo” (p. 125).
46. Tcheloviekobórstvo:
antropomaquia (p. 134).
47. Viskázivanie:
enunciação, enunciado, termo assemelhado a parole saussureana (p. XI e 161).
48. Vnienakhodímost:
“Categoria fundamental do distanciamento bakhtiniano, que o próprio autor [...]
define como distância e usa para
tanto a palavra latina distantia,
grafada em russo como distantsyia, e
usa. Na tradução anterior deste livro [Estética da criação verbal], feita do
francês, o termo aparece como ‘exotoia’ (p. 93). Distância (p. 425). Distância
(p. 381).
49. Vtchuvstvovánie:
termo “correspondente do alemão Einfühlung” não utilizado por Bakhtin para
referir-se à categoria “empatia” (p. X).
50. Zádanni
(adjetivo): “dado antecipadamente, preestabelecido, antedado” (p. 16).
51. Zádannost (substantivo):
“condição, potencialidade ou possibilidade de algo a ser dado antecipadamente”
(p. 16).
52. Zaverchónnost:
concludibilidade (p. 353).
53. Znatchénie smisla:
significado do sentido (p. XI).
54. Znatchénie:
significado (p. XI).
55.
Znatchimii
smisl: sentido significativo (p. XI)
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