Valorizar os saberes que se dão
nos mais variados lugares de interação como instrumento de reconhecimento dos
processos opressores e alienantes que atrapalham a formação humana
sóciopolítica e emancipatória de indivíduos e grupos mais oprimidos. A partir
dessa perspectiva, trabalhar a conscientização em torno da formação de saberes
parceiros, enquanto ato de estar desperto ser capaz de orientar-se num
espaço-tempo de características materiais e subjetivas só apreensíveis pelo
mundo da cultura e pelo ato responsável.
Política de suplementação e
prática compensatória que caracterizam práticas educacionais despolitizadas e
forçam os sujeitos a se integrarem a um sistema de naturalizações que se
afastam diametralmente de uma vontade e de uma possibilidade de emancipação e
de libertação de significados estrategicamente estabilizados ao longo da
história e dos grupos humanos. Liberdade e emancipação se relacionam com
politização e dialogicidade e dependem de vontade consciente e de luta
constante por parte de todos indivíduos, já que um indivíduo sozinho não possui
o s recursos suficientes para tanto. Dessa forma, a categoria do ser mais de
Freire se assemelha ao conceito de incompletitude de Bakhtin e relacionam.
A desconsideração da riqueza e
diversidade dos conhecimentos e práticas presentes no mundo sócio-cultural de
sujeitos concretos é exemplo de elitismo e de uma visão monoglótica ainda
presentes nos bancos escolares. É um ato de colonizar porque acaba se
apoderando do capital cultural e material alheio e é um ato de colonializar
porque acaba impondo uma visão de mundo e seu discurso correspondente
responsáveis por provocar fraturas e separações que articulam uma dominação
ideológica do homem a partir do binômio entre saber/poder. A ideologia da
“gestão por resultados” e da naturalização de práticas de enquadramento que se
materializam no discurso escolar revelam a carência de um paradigma relacional
e heteroglótico baseado numa episteme de resistência às hegemonias e de
valorização de práticas intelectuais e afetivas passíveis de serem encontradas
em discursos assumidos ao longo das muitas formas de cultura social.
Segundo Figueiredo & Silva
(2012), colonialismo é um projeto político de exploração ao passo que a
colonialidade é a extração do ato humano de ser em si o que impossibilita o
indivíduo de compreender-se como parte agentiva de um todo. Tais categorias são
manipuladas por sujeitos em posição de dominação para impedir o ato de
identificar, os sujeitos, recursos e processos responsáveis pela nominalização
semântico-pragmático da realidade em termos de validade, importância, valor e
significância. O esquema se baseia em atos reducionistas de sectarização que
gera mitos a partir das escolhas condizentes com a vontade de sujeitos em
posições privilegiadas de poder e de verdade e que tentam congelar o ato
responsível como mecanismo de síntese cultural dos sentidos do cotidiano.
Sentidos são singulares e
pessoais, enquanto significados são sociais. Quando há interação entre ambos, o
diálogo resultante possibilita processos formativos e modos políticos de
organização e de constituição de identidades e de verdades que caracterizam um
sujeito.
A partir dos mecanismos de
constituição de identidades valorizados pela sociedade atual, os indivíduos
cultivam modos de gerar igualdades ou desigualdades. Nesse ponto, a oralidade
funciona como repositório sócio-histórico tão pertinente quanto registros
escritos, desenhados ou esculpidos, embora tenha sido desmerecida em sua função
de constituir identidades. Por isso, adaptar-se ao contexto desta modernidade
não basta. É importante assumir uma postura de reflexão e de intervenção sobre
ela.
A ação significatória e
potencializadora de uma educação de caráter popular, presente em meio à lógica
vigente de significação de determinados padrões culturais e ideológicos, marca
os limites e características das formas de resistência ao ideário capitalista e
ocidental e estabelece novas relações sistêmico-funcionais de complexificação
das relações humanas.
Paralelismo
de monólogos que não se entrelaçam harmonicamente e não conseguem ou não querem
integrar a voz do outro.
Paz
não como ausência de guerra e conflitos, mas como a habilidade para gerenciar
conflitos através de uma postura dialógica que reconhece os sujeitos como
cultural e ideologicamente marcados dentro de um processo de constituição de
subjetividades e de realidades.
Modelo
escolar oficial é cartesiano, colonializante, fragmentador e alheio aos
movimentos que surgem entre os sujeitos e as ideologias do cotidiano. Não
favorece o processo reflexivo decorrente do diálogo entre sujeitos com
histórias de vida únicas, processo que amplia o objeto refletido o qual já não
é mais o mesmo porque torna-se algo mais, algo ressignificado.
Pensar
e realizar a educação como um conjunto de atos políticos preenchidos por
demandas sociais potenciais presentes, inclusive, nas manifestações populares
mais simples e resultantes de uma reflexão conjunta.
Numa
relação alienante e assimetrizante, não há como ressignificar a realidade se
não houver novas formas de apreciá-la.
As
condições imediatas da vida dos sujeitos em uma realidade cada vez mais plural
influenciam os espaços de diálogo e as etapas de processo de mudança, processo
sempre dependente de um ato consciente, voluntário e político, ou seja, de uma
práxis engajada ideologicamente e responsiva, algo ausente da escola ou de
qualquer outra instituição social e/ou governamental quando travestida como
projeto de governo e não de povo.
Educação
como exercício dialógico de cidadania e como processo cultural que conduz a uma
libertação de posições estrategicamente naturalizadas.
FIGUEIREDO,
João B. de A. & SILVA, Maria E. H. Formação
humana e dialogicidade III: encantos que se encontram nos diálogos que
acompanham Freire. Fortaleza: Edicções UFC, 2012. 212 p.
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