Voloshinov
morreu em 1936, “vitimado pela Tuberculose; e Medvedev, provavelmente em 1940,
vítima dos expurgos políticos que varreram a URSS no fim da década de 1930” (FARACO,
2009. p. 13).
Faraco
(2009) atribui as dificuldades de recepção da força e da grandeza das obras e
do pensamento do Círculo a problemas referentes à ordem cronológica de
publicação de obras do Círculo, à tradução de termos e de obras, ao
inacabamento de algumas obras e à banalização de aspectos da teoria levaram o
trabalho do Círculo a uma tardia divulgação para além de seu berço soviético,
um ambiente politicamente cerceador das liberdades.
Para
Faraco (2009), dois grandes projetos intelectuais do Círculo envolvem a
intenção de construção de uma Filosofia baseada na questão axiológica e não em
teoreticismo abstrato – por parte de Bakthin – e a construção de uma teoria das
manifestações superestruturais, ou seja, das manifestações ideológicas a partir
de uma base não mecanicista e não dogmática que estivesse lastreada
centralmente pelo fenômeno da linguagem.
Para
Faraco (2009), a unicidade, a eventicidade e a axiologia do existir concreto do
Ser em relação concreta com um outro
fundamentam a concepção de linguagem do Círculo. Uma relação sem álibi, ética, cotidiana,
heteroglótica, responsável, valorativa e jamais indiferente à presença do
outro.
A
verdade (istina) em relação a uma
verdade (pravda).
Questão
neokantiana: a axiologia.
Questão
Heideggeriana: a questão do Ser, do sentido do Ser, do Ser da linguagem e do
duplo incotornável.
Questão
diltheyniana: o estatuto das ciências humanas e sociais.
Questão
hegeliana: eu-para-mim e eu-para-os-outro.
Questão
de Feuerbach: razão intersubjetiva.
Questão
de Levinás: a inter-relação é irredutível à objetificação porque deve ser
vivida.
Questão
Humboldt: enunciação como realidade, substância ideológico-linguageira e linguagem
estratificada em múltiplas cosmovisões e como processo (energeia) interacional,
não como produto (ergon).
Voloshinov:
conceitual sociológico sobre a natureza da consciência e consideração de uma
sinalidade como algo reiterável.
Medvedv:
estudo de base materialista e sócio-histórica do universo da criação
ideológica.
Positivismo:
Postura empiricista e atomística
Idealismo:
Postura individualista e transcendental.
Superação
da limitação gramatical do pensamento humboldtiano pelo esforço bakhtiniano.
Efeitos
(múltiplos e potenciais) de sentido das interações dialógicas.
Heterogeneidade
discursiva.
O
não-verbal: o presumido.
A
reiteração gera transformação.
Há,
segundo o bakhtinianismo, gêneros primários (do cotidiano) e gêneros
secundários (de elaboração histórico-sócio-ideológica mais elaborada e
abrangente).
Pré-construídos
sócio-históricos: ações, representações, valores, atitudes.
Psicanálise
estuda o desejo.
O
papel constitutivo da intersubjetividade.
Análise
sócio-ideológica das manifestações linguageiro-axiológicas revela que o
bakhtinianismo não se reduz a um monismo marxista de base reducionista e
mecanicista causador de uma cisão dual entre o aspecto formal e o sociológico
da linguagem, materialidade das forças ideológicas.
A
ciência bakhtiniana supera a cisão entre o aspecto empírico-investigativo da
ciência e o aspecto interpretativo-conceitual da filosofia, para não cair no
pecado de se resumir ao método e esquecer a reflexão.
Faraco
(2009) explica que “Bakhtin era, antes de mais nada, um filósofo, face à
abrangência de sua temática e os objetivos de sua reflexão” (p. 35) e assevera
que “o pensamento científico não é a única forma rigorosa de exercício da
razão” (p. 37).
Faraco
(2009, p. 42) explica que “compreender não é ato passivo (um mero
reconhecimento), mas uma réplica ativa, uma resposta, uma tomada de posição
diante do texto”e sua argumentação se dirige para uma distinção entre os
fundamentos das ciências da natureza (voltadas para a explicação do necessário)
e das ciências do espírito (voltadas para a compreensão de uma significação
possível e ligadada a um contexto singular e evêntico).
O
fundamento da ideologia é um processo semiótico de base material e contingente
que se dá no mundo da produção cultural/espiritual, mundo da consciência social
marcada pela teia das posições axiológico-enunciativas de cada sujeito nas
muitas áreas de atividade reflexivo-intelectual.
De
acordo com Faraco (2009, p. 52), “o material semiótico pode ser o mesmo, mas
sua significação no ato social concreto da enunciação, dependendo da voz social
em que está ancorado, será diferente. Isso faz da semiose humana uma realidade
aberta e infinita”. Daí porque o universo da criação ideológica é material,
histórico e sócio-semiótico e sua materialidade é a linguagem, uma realidade
axiologicamente saturada que transcende a perspectiva reducionista de um
sistema abstrato de regras.
Acabamento estético é aquilo que
“materializa escolhas composicionais e de linguagem que resultam também de um
posicionamento axiológico” (FARACO, 2009, p. 89).
Autor-criador é uma posição axiológica e
sócio-ideologicamente marcada por posições socioavaliativas e responsivas
únicas. Seu discurso “não é voz direta do escritor (do autor pessoa), mas um
ato de apropriação refratada de uma voz social qualquer de modo a poder ordenar
um todo estético” (FARACO, 2009, p. 92).
Bivocalização pressupõe dialogização interna.
Carnavalização diz respeito a relativização do
já-dado em prol de um estado possível.
De
acordo com Faraco (2009, p. 70): “O processo dialógico é concebido como
infindo, inesgotável. As forças centrífugas – das quais o riso e a
carnavalização sejam as mais fortes – corroem continuamente todos os esforços de
centralização discursiva. Assim, na lógica de Bakhtin, não há (nem nunca
haverá) um ponto de ‘síntese dialética’, de ‘superação definitiva das
contradições’”
Dialogização de vozes sociais é o encontro de
vozes e a dinâmica que o demarca.
Diálogo é o simpósio universal entre pontos de
vista que se aproximam ou que se distanciam dentro de uma arena de lutas em
virtude da ação de forças centrípetas e centrífugas, o momento em que ocorre a
pluralidade dialogizada de vozes.
Enunciação é um ato sócio-histórico e ético
materialmente marcado por uma dimensão axiológica singular que envolve, por um
lado, a linguagem como atividade e, por outro lado, o enunciado como ato
singular sob as mais variadas formas genérico-materiais. A língua envolve
pensamento participativo na materialidade de atos objetivamente realizados
enquanto que a palavra concreta possui um aspecto semântico-conceitual
axiologicamente modificado a cada realização.
Esferas de criação ideológica, segundo
Voloshinov, compreendem os sistemas das ideologias do cotidiano e os sistemas
ideológicos constituídos sócio-historicamente e melhor elaborados (artes,
ciências, religião...).
Estilística envolve a atualização individual
do sistema ou a expressão criativa do psiquismo individual.
Filosofia do riso diz respeito à
luta contra processos de reificação e de monologização.
Gêneros do discurso, segundo
Bakhtin, são formas materializadas de comunicação sócio-ideológica.
Heteroglossia ou Plurilinguismo envolve a
relação eu/outro e, por isso, a multidão de vozes enunciativas – sócio-historicamente
axiologizadas, isto é, saturadas por índices contingentes de valor – são
continuamente estratificadas. Heteroglossia e plurivocidade caracterizam a
natureza heterogênea da linguagem.
Heteroglossia dialogizada envolve o embate
entre vozes enunciativa.
Linguagem é heteroglossia, isto é, “um conjunto
múltiplo e heterogêneo de vozes ou línguas sociais, isto é, um conjunto de
formações verbo-axiológicas” (FARACO, 2009, p. 92) que comporta um sentido
gramatical, um sentido político-cultural e um sentido heteroglótico. Na
linguagem podemos identificar os traços conflitivos da heterogeneidade, da
alteridade e da singularidade. Linguagem é um fenômeno sócio-interacional de
caráter heterogêneo, dinâmico e material que transita no universo da cognição e
da subjetividade.
O sujeito dialógico envolve a
alteridade e ainteração heterogênea de pontos de vista diversos.
Palavra é um signo refratador do mundo, dos
sujeitos e das verdades em diferentes graus por força do plurilinguismo dialogizado
responsável pela criação de uma realidade sócio-semiótica sempre renovada por
causa do jogo da interação entre sujeitos com pontos de vista que se
complementam através do excedente de visão do outro, uma visão externa ao eu
somente possível através do exercício do diálogo (que não significa consenso)
espaço-tempo em que se estruturam a criação ideológica, a interação social nas e entre suas muitas e possíveis esferas, a compreensão responsiva, o
funcionamento da consciência e da enunciação, o pensamento verbal e a linguagem
racional.
Polifonia é uma categoria ético-filosófica de
Bakhtin que se refere à plenivalência e eqüipolência de vozes em um mundo
radicalmente democrático.
Receptor imanente “é a função
estético-formal que permite transpor para o plano da obra manifestações do coro
social de vozes” (FARACO, 2009, p. 97).
Relações dialógicas são relações
responsivas e significatórias entre índices sócio-ideológicos de valor que vão
sendo constituídos e constituem práxis humana, enquanto fenômeno social,
histórico e cultural, por isso, ideológico.
Singularidade é o resultado constitutivo da
exploração do espaço contingente e infinito da tensão responsiva e dialógica
derivada da tensão dialógica.
Tríplice dimensão da dialogicidade é todo dizer se
orienta para algo já-dito, para uma resposta futura e para o diálogo
heterogêneo e interno (nem sempre visível) de vozes.
Índices
sócio-históricos de valor dominam a léxico-gramática e a semântica e refratam a
percepção e a compreensão da realidade e dos sujeitos no ato de constituir um
todo estético em forma de gênero. Assim, a semiotização sociologizada da
realidade é um ato responsivo e dialógico. De outra forma, a realidade
sociointeracional da linguagem afeta o processo de compreensão ativo e
responsivo da realidade e de seus sujeitos.
Quando
a linguagem é analisada, podemos adotar o viés da linguagem em si e/ou o viés
da linguagem situada, a linguagem bifurcada em valor e significado. A linguagem
é um fenômeno marcado por uma especificidade, por uma virtualidade e por uma
operacionalidade que se misturam no espaço-tempo da enunciação realizada.
Faraco
(2009, p. 126) nos recorda que os enunciados (orais ou escritos) têm “conteúdo
temático, organização composicional e estilos próprios correlacionados às condições
específicas e às finalidades de cada esfera de atividade”. Tais enunciados se
materializam como gêneros lingüístico-discursivos que podem se hibridizar em
situações e contextos específicos de acordo com as condições concretas
(sócio-históricas) de enunciação.
“Não
podemos escapar nem contornar. Devemos atravessar, abraçar, tornar-se parte de
um todo e acrescentar, de maneira responsiva e responsável, nosso excedente de
visão” (ALFRANSBE).
FARACO,
Carlos A. Linguagem e diálogo: As idéias
lingüísticas do Círculo de Bakhtin. São Paulo. Parábola Editorial, 2009.
168 páginas. Coleção Lingua[gem]; 33.
olá td bem? desculpe incomodar mandando esta mensagem
ResponderExcluirgostaria de uma informação sobre o livro se você tem em pdf
LINGUAGEM E DIALOGO. AS IDEIAS LINGÜÍSTICAS DO CIRCULO DE BAKHTIN
Agradeço mais uma vez e desculpe o incomodo