quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Artigo sobre leitura

COMPREENSÃO DA LEITURA COMO
FATOR DETERMINANTE PARA
O RENDIMENTO ESCOLAR:
APLICAÇÃO DA TÉCNICA DE CLOZE
EM ESTUDANTES NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Maria Lúcia Francisco Damásio*
RESUMO:
Este artigo foi criado a partir de um relatório bimestral e aborda
algumas estratégias utilizadas no projeto de pesquisa: a compreensão
da leitura como fator determinante para o rendimento escolar:
aplicação da técnica de cloze em estudantes na Educação Básica,
desenvolvido pelas alunas voluntárias do curso de Pedagogia da
Universidade Estadual Vale do Acaraú-UVA com os alunos e alunas
da 3ª e 4ª séries do Ensino Fundamental, tendo como ponto principal
o objeto de conhecimento em si mesmo como instrumento necessário
para a realização de novas aprendizagens, no sentido de ampliar os
horizontes das séries iniciais do Ensino Fundamental. O ato de ler
ativa uma série de ações na mente do leitor, por meio das quais ele
extrai informações. Essas ações são denominadas “estratégias de
leitura” e, na sua maioria, passam despercebidas pela consciência.
Elas ocorrem simultaneamente, podendo ser mantidas, modificadas
ou desenvolvidas durante a apropriação do conteúdo.
Palavras-chave: Compreensão em leitura; Técnica de Cloze;
Educação Básica.
* Mestre em Educação pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Professora da
Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA).
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124 Maria Lúcia Francisco Damásio
REVISTA NOVAS IDÉIAS, RECIFE, V.1, N.1, P. 123-128, JAN. JUN. 2008
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Há quase duas décadas atuando em escola pública estadual, sempre
me incomodaram as queixas dos colegas de profissão do Ensino
Fundamental, isto é de Português, Geografia, História, Ciências, enfim;
de que os alunos chegam à 3ª série e/ou 4ª série e não sabem ler,
não compreendem e, muito menos, sabem interpretar.
De acordo com LDB Lei 9.394, o professor de todas as áreas tem
o compromisso de promover a produção da leitura e da escrita.
Segundo Maria da Graça Val (2002), em depoimento no
documentário “Salto para o Futuro”, diz: o professor de português é
o ser mais desamparado do planeta, pois é culpabilizado por toda
não-habilidade lingüística do estudante para, pelo menos, ser um razoável
leitor e produtor de texto.
Como educadora, venho observando ao longo dos anos as práticas
educativas em escolas públicas e particulares, com tendências
mais tradicionais ou construtivistas, que as professoras do Ensino
Fundamental responsabilizam sempre a série anterior a que ela se
encontra e não reflete que cabe a cada professor construir suas práticas
pedagógicas embasadas em teorias; porém, elas são elementos
norteadores, e não receitas prontas.
Neste contexto, é muito difícil o aluno gostar de ler, se o professor
não o faz; porém, este é um tema que envolve outras questões que
poderão ser desenvolvidas em outro momento.
Examinaremos, a seguir, algumas estratégias utilizadas pelas alunas
voluntárias que participaram do projeto de pesquisa da Universidade
Estadual Vale do Acaraú – UVA sobre o tema: Compreensão da
leitura como fator determinante pra o rendimento escolar: Aplicação
da técnica de cloze em estudantes na Educação Básica, que tem, como
objetivo geral, analisar a relação entre a compreensão em leitura e o
rendimento escolar dos alunos do Ensino Fundamental, com base no
teste de cloze na disciplina específica de Português.
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1.1 Algumas Estratégias de Leitura Utilizadas pelas Alunas
Voluntárias do Projeto
Segundo alguns estudiosos, estratégias de leitura são técnicas ou
métodos que os leitores usam para adquirir a informação, ou ainda
procedimentos ou atividades escolhidas para facilitar o processo de
compreensão em leitura. São planos flexíveis, adaptados às diferentes
situações, que variam de acordo com o texto a ser lido e a abordagem
elaborada previamente pelo leitor para facilitar a sua compreensão
(Pellegrini, 1996; Kopke, 2001). Eis:
Identificamos seis tipos de estratégias de leitura realizadas durante
o projeto como auxiliares no processo de compreensão: visita à
biblioteca, predição, leitura silenciosa, pensar em voz alta, resumo,
questionamento.
• A predição: as voluntárias sempre iniciavam a aula com um
bate-papo informal antes da leitura, tentando ativar o conhecimento
prévio que implica antecipar, prever fatos ou conteúdos
do texto, utilizando o conhecimento já existente para
facilitar a compreensão.
• Leitura silenciosa: foi aplicada esta estratégia durante vários
encontros nos quais a professora solicitava às crianças que circulassem
com as palavras que não conheciam, deixando-os bem
à vontade, para, logo após, a professora voluntária explicar o
significado das palavras circuladas e promover uma sessão de
perguntas e respostas básicas, fazendo com que os alunos voltassem
a ler o texto. Nessa ida e vinda, os alunos se apropriavam
de outras estratégias embutidas, conduzindo à releitura.
• Leitura em voz alta é quando o leitor verbaliza seu pensamento
enquanto lê. Tem sido demonstrada melhora na compreensão
dos alunos quando, eles mesmos, se dedicam a esta
prática durante a leitura, e também quando professores usam
rotineiramente esta mesma estratégia durante suas aulas.
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Maria Lúcia Francisco Damásio
REVISTA NOVAS IDÉIAS, RECIFE, V.1, N.1, P. 123-128, JAN. JUN. 2008
• Resumir foi outra estratégia desenvolvida durante o projeto. Após
a leitura individual dos alunos, a professora debatia as informações
do texto, facilitando a compreensão global do mesmo, pois
“resumir” implica seleção e destaque das informações mais relevantes
do texto julgadas pelo aluno a princípio.
• Questionamento foi uma estratégia na qual as professoras
voluntárias sempre instigavam os alunos e alunas, fazendo
com que eles participassem de uma leitura compartilhada; o
que é extremamente importante. Pesquisas indicam também
que a compreensão global da leitura é melhor quando alunos
aprendem a elaborar questões sobre o texto.
• Visita à biblioteca é extremamente importante. No caso, houve
uma visita à biblioteca improvisada, onde as voluntárias estabeleceram
para os alunos o chamado “cantinho da leitura”,
no qual eles ficaram à vontade, familiarizando-se com o ambiente
e até manuseando espontaneamente os livros ali distribuídos,
sob a orientação da professora, que, após esse primeiro
momento, introduziu a pré-leitura de alguns textos.
É importante lembrar que as estratégias de leitura também auxiliam
no estudo, favorecendo a obtenção de um nível de compreensão
melhor. Exigem participação ativa do leitor, podendo ser aplicadas a
qualquer tipo de texto e em qualquer momento da leitura, com ou
sem ajuda externa (Oakhill e Garnham, 1988).
Dentre as estratégias de leitura que professores podem ensinar, uma
delas é focar a atenção dos alunos nas idéias principais; perguntar aos
alunos questões sobre seu entendimento para ajudá-lo a monitorar sua
compreensão; relacionar o conhecimento prévio dos alunos com nova
informação; professores podem questionar e designar feedback para
ajudar os alunos a aplicarem técnicas e estratégias de estudo apropriadas;
podem treinar os alunos a usarem essas estratégias e técnicas de
maneira mais efetiva; utilizar reforços positivos verbais e de escrita
com os alunos que apresentam baixa compreensão; podem-se fazer
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questões aos alunos para ajudar a reconhecer a contradição entre o que
ele realmente conhece e o que ele pensou conhecer, mas não conhece;
além de considerarem a variedade dos textos estruturados na preparação
dos textos para alunos e plano de aula.
Considerando-se esses aspectos, o ensino de estratégias de leitura
abre novas perspectivas para uma potencialização da leitura, possibilitando
aos alunos ultrapassarem dificuldades pessoais e
ambientais, de forma a conseguir obter um maior sucesso escolar.
Essas estratégias podem e devem ser ensinadas nas séries iniciais do
Ensino Fundamental.
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante os últimos dois meses, o projeto vem sendo executado
duas vezes por semana por duas alunas voluntárias de Pedagogia em
escola da rede estadual. Lá, mensalmente, nos reunimos para planejar
os encontros seguintes.
É preciso entender que ler não é um ato mecânico de
decodificação; é muito mais que isso. É o estabelecimento de relações
dentro de contextos, de vivências de mundo; não são frases ou
palavras soltas, mas são as lidas proficientemente que nos levam a
entender que isso seja o ato de ler.
Conforme SOLÉ (2001), ler é compreender, e não apenas
decodificar. Pelo menos, do ponto de vista teórico, esse novo conceito
está incorporado aos conhecimentos da maioria dos professores.
Ler é um ato complexo que exige sacrifício, é ir e voltar pelo texto.
Ler é descobrir e descobrir-se; não é simplesmente passar os olhos
por cima das palavras.
É também criar mecanismos para que a palavra tenha vida, significado,
emoção e prazer. Enfim, ler é bom, desde que se leve em conta
o contexto de uma escola e de uma sociedade comprometida com a
leitura, com a formação de leitores para toda a vida e não somente
com leitores escolares, leitores de momento, leitores da moda.
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Maria Lúcia Francisco Damásio
REVISTA NOVAS IDÉIAS, RECIFE, V.1, N.1, P. 123-128, JAN. JUN. 2008
O que nós, professores, esperamos é que todos os alunos e alunas
interpretem o mesmo texto; porém, isto não acontece existindo ainda
alunos e alunas com nível de leitura só na decodificação de símbolos
gráficos. Segundo SOLÉ (1998), a compreensão que cada um realiza
depende do texto que tem a sua frente, mas também depende muito
de outras questões, próprias do leitor, entre as quais ressalta pelo
menos as seguintes: o conhecimento prévio para abordar a leitura, os
seus objetivos e a motivação com respeito a essa leitura.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BROWN, D. (1994). Principles of language learning and teaching.
Prentice – Hall Anglewood Cliffs.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2001.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. 5. ed. Campinas:
Pontes, 1997.
KOPKE, H. F. (2001). Estratégias em compreensão da leitura: conhecimento
e uso por professores de língua portuguesa. Tese de doutorado
em lingüística. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade
de São Paulo. São Paulo.
PELLEGRINI, M. C. K. (1996). Avaliação dos níveis de compreensão e atitudes
frente à leitura em universitários. Dissertação de Mestrado. Faculdade
de Ciências Humanas, Universidade São Francisco, Bragança Paulista.
SALTO PARA O FUTURO. Ministério da Educação. Secretaria de educação
a Distância. 2002.
SOLÉ, Isabel. Estratégias de leitura. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
OAKHILL, J. & Garnham, A. Becoming a skilled Reader. NY: Basil
Blackwell Ltd. 1988.
PELLEGRINI, M. C. K. (1996). Avaliação dos níveis de compreensão e atitudes
frente à leitura em universitários. Dissertação de Mestrado. Faculdade
de Ciências Humanas, Universidade São Francisco, Bragança Paulista.

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19/01/2011, 16:51
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