terça-feira, 24 de maio de 2011

Manifesto em prol dos professores

Manifesto em prol dos professores

Excelentíssimo Senhor Ministro da Educação Fernando Haddad:

A educação é a base da sociedade. Os especialistas atestam isso e a sociedade em geral corrobora essa opinião. Tive a felicidade de alcançar o título de mestre em Linguística Aplicada pela Universidade Estadual do Ceará, apesar de todo um histórico de dificuldades a serem superadas. Sou filho de um técnico agrícola e de uma doméstica, ambos com pouca formação escolar. Estudei em escola pública durante meu antigo primeiro grau. Cursei a graduação, a especialização e o mestrado pela UECE. Não sou melhor ou mais inteligente do que meus companheiros de magistério. Apenas tive uma oportunidade que muitos não tiveram pelo menos até agora.
Mas como alcançar patamares maiores de formação acadêmica quando a única coisa que um professor pode e deve fazer é lecionar? Como alcançar o título de mestre ou doutor se o professor é encarado como uma espécie de salvador da pátria solitário e quase quixotesco em seu ofício cotidiano? Como ser um professor melhor se nossas necessidades pessoais e profissionais ficam em segundo plano na agenda de nosso executivo e de nosso legislativo?
A quem interessar possa: a questão salarial é um fator que interfere na prática docente de qualquer professor. No último concurso do estado do Ceará, os professores que foram convocados e nomeados, assinaram seus contratos no dia 01/10/2010 para receberem um salário líquido inicial de R$ 1.100 por quarenta hortas semanais de trabalho até o fim do estágio probatório em 01/10/2013. Esse valor inclui o salário-base e todas as gratificações. Tal quantia não faz jus ao esforço físico, psicológico e emocional que um professor empreende em salas repletas de histórias de vida, corações e mentes diversos. Tal quantia não é justa para quem dedica toda uma vida a estudar e a aperfeiçoar-se para formar os pilares sociais e históricos de toda uma sociedade.
Senhor ministro, nós não podemos legislar sobre nossos proventos e sobre nosso regime previdenciário de maneira direta como um deputado eleito pode fazer em benefício próprio. Tampouco, podemos editar medidas provisórias para melhorarmos nossas condições de trabalho. Embora nossas escolas tenham recebido melhorias infraestruturais e tecnológicas diversas, embora as escolas profissionalizantes estejam sendo construídas e sejam importantes instrumentos para a melhoria de nossos indicadores educacionais, falta melhorarmos um aspecto mais subjetivo e de maior relevância: o professor que está em contato com a escola, espelho da sociedade.
Queremos que o senhor saiba que:
Repudiamos a ação impetrada por cinco governadores contra a lei nacional do piso.
Exigimos a ampliação do acesso aos cursos de mestrado e de doutorado e que sejam criados mecanismos para que os professores da educação básica consigam aperfeiçoar-se.
Exigimos a remuneração por deslocamento para professores que trabalham longe de suas casas e/ou que lecionam em distritos da zona rural ou em macro-regiões.
Consideramos aviltante o reduzido tempo dedicado para nosso planejamento semanal e aperfeiçoamento acadêmico-profissional.
Exigimos, em caráter retroativo, todas as progressões salariais já aprovadas, mas negadas pelo governo estadual cearense.
Necessitamos de equipes multidisciplinares com psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, fisioterapeutas e/ou terapeutas para cuidar da saúde de nossos alunos.
Exigimos que toda decisão sobre professores envolva professores na mesa de discussão, de fato e de direito.
Somos pessoas de bem e profissionais conscientes de nossas responsabilidades. Só pedimos as condições infraestruturais e trabalhistas necessárias para exercermos devidamente e a contento nossa função histórico-social e para podermos planejar nossa vida.

Respeitosamente:
Educadores da Escola Egídia Cavalcante Chagas
Morada Nova – Ceará, 25 de maio de 2011.

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