Estudar História –
Das origens do homem à era digital à expansão da América Portuguesa - Patrícia
Ramos Braick
Editora Moderna -
2011
Capítulo 1 – A mineração
no Brasil
As
duas vidas de Ouro Preto
Ouro Preto, antiga Vila
Rica, em Minas Gerais:
Elevação
à vila – 1711.
Elevação
à condição de Capital mineira – 1720.
Recebimento
do título de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade – 1980.
Crise portuguesa
no século XVII
quando Portugal perde a condição de potência marítima após o fim da união
ibérica e por causa de duas guerras
contra a Espanha (1641) e para expulsar a Holanda do Brasil (1654).
O
Palácio Nacional de Mafra, em
Portugal, foi construído entre 1717 e 1730 a mandado de Dom João V. Foi inicialmente
projetado para abrigar frades franciscanos antes de se tornar a residência
oficial de caça da família portuguesa.
O
ouro brasileiro foi a solução para a crise portuguesa.
Descoberta
de jazidas de Prata em Potosí, Bolívia e no Vice-Reinado do Peru, áreas de
domínio da América espanhola, animou a coroa Portuguesa.
O
ouro, além de valioso, era o material de constituição das moedas como o dobrão
português da época de Dom João V.
As primeiras
descobertas de ouro
Séc.
XVI. - São Vicente
Entre
1692 1695 -Região de Minas Gerais
No
começo do século XVIII houve concentração em São João del-Rei, Vila Rica (atual
Ouro Preto), Nossa Senhora do Carmo (atual Mariana) e Nossa Senhora da
Conceição do Sabará (atual Sabará)
1719
– mineração levou à fundação da cidade de Cuiabá, no leito do rio de mesmo nome.
1725
– novas minas em Rio Vermelho, Goiás.
A corrida do ouro
Aumento
exagerado da população da região das minas com mais de 600.000 portugueses
emigrados para a colônia de 1700 a 1760.
Guerra dos
emboabas
(1707-1709)
Paulistas
contra recém-chegados (pejorativamente chamados de emboabas)
O
bandeirante Manuel de Borba Gato, superintendente das minas, chefiava os
paulistas contra os recém-chegados, liderados pelo português Manuel Nunes
Viana.
A
guerra forçou a criação de vilas, capitanias e de uma estrutura para sedimentar
a presença da coroa portuguesa nas zonas auríferas com, por exemplo, câmaras
municipais.
Outro
resultado da guerra foi a saída dos paulistas derrotados em busca de novas
jazidas em Mato Grosso (1718-1734) e em
Goiás (1725)
1709
– criação da capitania de São Paulo, Minas Gerai, Goiás e Mato Grosso.
1711-
os núcleos de Nossa Senhora da Conceição do Sabará e Nossa Senhora do Carmo são
elevados à condição de vila.
1720
– criação da capitania das Minas Gerais, desligada em definitivo da capitania
de São Paulo.
O controle sobre a
mineração
1603
– estabelecimento do quinto (20% da
extração para a coroa).
1702
– o regimento criou a Intendência das
Minas que prestava contas diretamente ao Conselho Ultramarino situado em Lisboa e dividiu as jazidas em
lotes chamados datas (uma da coroa,
uma do descobridor e duas leiloadas com prioridade para quem possuía mais
escravos para extrair mais ouro em menos tempo).
1719
e 1719 – instituição das casas de
fundição para recolher o quinto
do ouro da coroa, “quintá-lo” (marca-lo). Isso era uma estratégia para impedir
a circulação do ouro em pó e evitar o contrabando.
1740
– queda da arrecadação de ouro e instituição da capitação (17 gramas de ouro por escravo maior de 14 anos).
1751
– abolição da capitação e
instituição da cobrança de 100 arrobas
de ouro anuais ou, em caso
extremo, da derrama, uma cobrança
forçada dos impostos em atraso.
Revolta de Filipe
dos Santos
1720
– Filipe dos Santos e 2.000 mineiros se revoltaram contra os altos impostos.
Por isso foi enforcado pela coroa portuguesa na pessoa do Conde de Assumar, governador da capitania entre 1717 e 1721.
1725
– instalação de casas de fundição.
A descoberta de
diamantes
1715
descoberta de diamantes na região isolada de Arraial do Tejuco, atual Diamantina.
1734
– criação da Demarcação Diamantina,
também chamada Distrito Diamantino e de Intendência dos Diamantes. Nesta área a
maior e única autoridade era o intendente.
1740
– instalação do regime de concessão,
um contrato de extração autorizado pela Coroa portuguesa.
1771
– criação da Real Extração de
diamantes sob o monopólio da Real Fazenda portuguesa.
Especialmente
com a escassez de ouro houve um aumento no contrabando de ouro sob meios
engenhosos: imagens religiosas ocas (santos do pau oco), falsificação do selo
português em barras.
O trabalho de
mineração
1700-1740
– o auge da mineração exigia o trabalho de enormes contingentes de escravos.
Lavras - grandes áreas
de mineração
Ouro de aluvião – metal extraído
à beira dos rios, área que propiciou a formação de grandes quantidades pela
ação do tempo.
Ferramentas
de mineração: almocrafe (pequena
enxada) e bateia (peneira de
madeira).
Faiscações – pequenas lavras
de ouro operadas por homens livres ou por escravos de ganho que deviam entregar
uma porcentagem para a Coroa.
O abastecimento
das minas.
O
aumento das atividades de extração ocasionou um aumento populacional que
demandava um comércio de abastecimento dificultado pela escassez de mão de obra
para a agricultura, pelas restrições impostas pela Coroa para o trânsito de
comércio e pela dificuldade de locomoção por falta de estradas e de comunicação
entre as vilas e localidades.
A
falta de estradas e de conhecimento acerca da rota dificultava e atrasava as
viagens. O primeiro caminho do ouro já existia desde o século XVII e durava
dois meses (do Rio e São Paulo até as minas). A partir de 1698, o segundo foi
chamado de Caminho Novo e durava
apenas doze dias para o mesmo destino.
1763
– a sede do vice-reino do Brasil foi transferida de Salvador para o Rio de
Janeiro. Estrategicamente, esta cidade serviu como ponto de passagem das
mercadorias que transitavam entre as regiões das minas, do sul e do nordeste e
o continente europeu.
Tropas e monções
O
comércio interno no Brasil no século XVIII abastecia os núcleos urbanos com o
que as fazendas não conseguiam suprir. Apesar dos riscos e da demora no
deslocamento, graças a esse comércio rotas de contato entre os núcleos
populacionais do país foram estabelecidos.
Tropas – comércio
realizado por tropeiros em lombo de mulas.
Monções – comércio
realizado em batelões (grandes barcos) saídos de São Paulo e que navegavam
pelos rios Tietê, Paraná e Rio Grande.
A sociedade
mineira
Havia
artesãos, profissionais liberais, funcionários da Coroa e senhores de escravos,
por exemplo.
As
desigualdades socioeconômicas trouxeram problemas: ladrões, prostituição e
desocupados.
A
abundância de ouro e diamantes permitiu que a sociedade mineira experimentasse
manifestações culturais como o barroco mineiro e se engajasse em movimentos de
ruptura com a metrópole.
A elite mineira
Proprietários
de grandes lavras (possuíam poder econômico e político).
Altos
funcionários da Coroa e contratadores de negócio.
Grandes
comerciantes.
A camada
intermediária
Faiscadores
(mineradores sem posse de lavra), padres, profissionais liberais, artistas e
artesãos.
A população pobre
livre e os escravos
Muitos
escravos eram livres, mas diante do abismo socioeconômico da sociedade mineira
acabavam ingressando na mendicância, na criminalidade, na marginalidade.
Os
escravos correspondiam a 70% da população mineira de 266.000 habitantes em
1742.
A
vida útil de um escravo era de 07 a 12 anos porque as condições de trabalho.
Um
escravo podia pagar sua liberdade alforriada em parcelas, bem como acumular
alguma posse ou riqueza.
Muitos
escravos fugiam e formavam Quilombos,
comunidades situadas próximas a vilas e arraiais com as quais mantinham um
comércio vantajoso em virtude dos produtos quilombolas serem mais baratos por
não serem tributados pela coroa.
Escravos
oriundos diretamente da África eram alcunhados por sua nação de origem como congo, cabinda, benguela, monjolo e angola.
Vida cotidiana das
cidades mineiras
Havia
uma imensa maioria de homens em relação às mulheres e uma diminuta quantidade
de mulheres brancas em relação às negras.
Essa
situação contribuiu para a miscigenação entre homens brancos e mulheres negras.
Casamentos
eram uma forma de projeção social. Eram mais comuns entre as camadas mais ricas
da sociedade. As camadas mais pobres realizavam a união por meio concubinato
(uma relação estável sem oficialização).
Irmandades e
ordens terceiras
1705
– a Coroa Portuguesa proíbe as ordens religiosas de entrarem na região das
minas sob a acusação de causarem tumulto e incentivarem a população a não pagar
impostos e contrabandear ouro e diamantes.
Essa
situação levou à formação pela população local de confrarias, ordens terceiras
e irmandades para cultuar um santo e prestara auxílio aos congregados
(enterros, manutenção de igrejas e outras ações).
Havia
grupos frequentados por brancos e grupos frequentados por mulatos, negros,
alforriados que veneravam santos negros com Elesbão, Ifigênia e, Benedito).
Era
comum haver um oratório (pequeno altar dedicado a um santo ou a Jesus Cristo).
Arte e cultura
mineira
O
barroco mineiro foi uma expressão
artística patrocinada pela riqueza das minas. Utilizava pedra-sabão, abundante
na região e misturava o dourado ao colorido do cenário mineiro.
Seus
artistas produziram suas obras entre a segunda metade do século XVIII e o começo
do século XIX.
O
maior artista do brroco mineiro foi Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814), filho de
arquiteto português e de uma escrava.
Música popular no
Brasil do séc. XVIII
O
lundu (inicialmente ligado à pratica religiosa dos escravos), a modinha e a
cantiga são as expressões dessa época.
Nesta
época, Domingos Calda Barbosa (filho de uma angolana e de um portugueês) foi um
poeta e compositor que fez sucesso no Rio de Janeiro e na corte durante o
reinado de D. Maria I.