Durante a Guerra de Canudos, o ministro Bittencourt foi responsável pela morte de centenas de prisioneiros de guerra, entre homens, mulheres e crianças, inclusive pessoas que haviam se rendido com bandeira branca e que haviam recebido promessas de proteção em nome da República. O marechal estava no Quartel-General em Monte Santo perto do palco das batalhas. Ao ver que canudenses prisioneiros eram trazidos da frente de combate, mandou dizer ao general Artur Oscar "que ele bem sabia que ele, ministro, não tinha onde guardar prisioneiro!" - conforme relata o deputado e escritor César Zama. Acrescenta que "o general Artur Oscar compreendeu bem o alcance da resposta do seu superior hierárquico." Todos os homens presos a partir daquele momento eram degolados, a assim chamada gravata vermelha. [1] "Acontecia (…) estarem dormindo e serem acordados para se lhes dar a morte. Depois de feita a chamada, organizava-se aquele batalhão de mártires, de braços atados, arrochados um ao outro, tendo cada par dois guardas, e seguiam… Eram encarregados desse serviço dois cabos e um soldado, ao mando do alferes Maranhão, os quais, peritos na arte, já traziam seus sabres convenientemente amolados, de maneira que, ao tocarem a carótida, o sangue começava a extravasar num jorro." [2]
Com a Primeira Convenção de Haia, em 1899, o assassinato de rendidos de guerra foi internacionalmente reconhecido como crime de guerra. [3] Já dois anos antes, ao final da guerra de Canudos, em 1897, as ações do Exército Brasileiro sob comando do marechal Bittencourt tiveram grande repercussão e foram fortemente repudiados. Muitos se perguntavam como podia o exército, que dizia estar em Canudos em defesa da civilização, matar seus prisioneiros à facão - homens, mulheres e crianças? Alvim Martins Horcades, médico do exército e testemunha ocular, escreve: "Com sinceridade o digo: em Canudos foram degolados quase todos os prisioneiros. (…) Assassinar-se uma mulher (…) é o auge da miséria! Arrancar-se a vida a criancinhas (…) é o maior dos barbarismos e dos crimes monstruosos que o homem pode praticar!" [2]
Os estudantes da Faculdade de Direito da Bahia publicaram um manifesto denunciando o "cruel massacre que, como toda a população desta capital já sabe, foi exercido sobre prisioneiros indefesos manietados em Canudos e até na cidade de Queimadas; e (…) vêm declarar perante os seus compatriotas - que consideram um crime a jugulação dos míseros "conselheiristas" aprisionados, e francamente a reprovam e condenam como uma aberração monstruosa. (…) Urge que estigmatizemos as iníquas degolações de Canudos." [4][5]
Num texto escrito logo depois da guerra, Rui Barbosa se apresenta como advogado dos prisioneiros mortos "porque a nossa terra, o nosso governo, a nossa consciência estão comprometidos: a nossa terra seria indigna da civilização contemporânea, o nosso governo indigno do país, e a minha consciência indigna da presença de Deus, se esses meus clientes não tivessem um advogado." [6]
Em 1902, Euclides da Cunha lança sua obra-prima Os Sertões. Numa nota preliminar, vinga as ações do exército sob comando do ministro e marechal Bittencourt: "A campanha de Canudos lembra um refluxo para o passado. E foi, na significação integral da palavra, um crime. Denunciemo-lo."
http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Machado_Bittencourt
12/07/2012, 21:32
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