quarta-feira, 19 de junho de 2013

Psicanálise e educação

Material para estudos em Psicanálise:


CONTRIBUIÇÃO DA PSICANÁLISE PARA A EDUCAÇÃO - MÁRCIA MARIA

Introdução

"Nenhuma das aplicações da psicanálise excitou tanto interesse e despertou tantas esperanças (...) quanto seu emprego na teoria e na prática da educação" (Freud, 1925).
A psicanálise é constituída de duas partes: As teorias sobre o funcionamento humano em termos psicológicos, e as técnicas de tratamento. Da mesma forma que a anatomia e a fisiologia, conhecimentos fundamentais, dão uma base sólida a todas aquelas especialidades acima mencionadas, o conhecimento psicanalítico também fornece fundamentos para uma série de atividades, tais como a educação, a psicologia (individual e social), agora a psicopedagoga, etc. Vamos demonstrar as relações entre psicanálise e educação, possíveis elementos que ultrapassem a psicologização dos problemas educacionais essencialmente de origem social, política e econômica. (…) procuramos mostrar a importância da psicanálise para a reflexão sobre a produção do conhecimento, sobre a relação professor-aluno e para a denúncia de posturas pedagógicas meramente adaptativas e não emancipa tórias. Se a ambigüidade da formação cultural, e, em sentido estrito, da educação, não pode ser eliminada simplesmente com um esclarecimento terminológico, é tarefa de a Teoria Crítica contrapor os conceitos à realidade. Portanto, formação cultural é a negação do que vivenciamos até então: semiformação socializada (Halbbildung) possível de ser apreendida na educação por meio de parâmetros pedagógicos que não têm aprofundado sua reflexão sobre a cultura e a teoria do conhecimento, sobre a democratização do ensino, a indústria cultural e os processos inconscientes existentes na relação escola-sociedade.

Referencial teórico

A obra de Sigmund Freud, centrada inicialmente na terapia de doenças emocionais, também veio contribuir em muito na área social e na pedagogia, pois o ato de educar está intimamente relacionado com o desenvolvimento humano, especialmente do aparelho psíquico.
Através das reflexões feitas pelo psicanalista, podemos entender melhor enquanto educadores, como se processa em nossos educando o desenvolvimento emocional e mental, pois o ser humano constitui-se como um todo, razão e emoção.
As maiores contribuições da Psicanálise com a educação em geral se dão através do estudo do funcionamento do aparelho psíquico e dos processos mentais, onde ocorre a aprendizagem, do estudo dos vários tipos de pensamento, da aprendizagem através dos processos de identificação e dos processos de transferência que ocorrem na relação professor- aluno.
Segundo Freud, os estudos psicanalíticos devem direcionar-se mais a auxiliar o educador na difícil tarefa de educar, missão quase impossível de ser realizada plenamente, pois o ser humano vive numa constante luta entre suas forças internas, regidas pelo princípio do prazer (id) e as forças externas que impõem juízos de valor (superego) sobre esses desejos. O educador precisa ajudar o educando a buscar esse equilíbrio na construção do eu (ego) para que a aprendizagem possa ocorrer de forma eficaz.
Revelando que o ser humano possui vários tipos de pensamento (prático, cogitativo e crítico), o estudo freudiano lembra a importância que tem a escola poder proporcionar o desenvolvimento de todas as suas dimensões, alargando assim a capacidade do sujeito buscar alternativo por si próprio e desenvolva o prazer de aprender.
Uma grande contribuição diz respeito à aprendizagem por identificação, pois mostra que através de modelos de pessoas que lhes foram significativas o ser humano motiva-se no sentido de equiparar a elas sua auto-imagem.
A teoria de Freud destaca a importância da relação professor-aluno. É necessário que o professor saiba sintonizar-se emocionalmente com seus alunos, pois depende muito desse relacionamento, dessa empatia, estabelecer um clima favorável à aprendizagem. Os estudos psicanalíticos revelam que o ser humano transfere situações vivenciadas anteriormente, bem como demonstra resistências a experiências uma vez reprimidas.
(…) Ainda temos uma educação que infelizmente trata os alunos como iguais, usando metodologias que ignoram as diferenças e o professores muitas vezes não conseguem analisar mais profundamente os porquês de determinados fracassos escolares, que certamente estão ligados a problemas emocionais ou a metodologias equivocadas que não respeitam a forma de construção do pensamento e as etapas evolutivas dos educando.
Eric Hobsbawn, historiador inglês do século XX, escreve que “A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa experiência pessoal à das gerações passadas – é um dos fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínua, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no fim do milênio. Por esse motivo, porém, eles têm de ser mais que simples cronistas, memorialistas e compiladores."(HOBSBAWN:1995,13) A citação de Hobsbawn nos alerta para os significados da História e da construção sócio-cultural deste significado, já que cada época pode rediscutir, ressignificar sua concepção e seu fazer histórico. Mas, por outro lado nos direciona o olhar sobre os aprendizes da História, ou seja, os jovens. Quem é nosso jovem adolescente? Como afetá-lo com as experiências do passado? O fracasso escolar do aluno e o fracasso da própria escola tem sido objeto de reflexão e da análise crítica da sociedade e de estudiosos.
A competência profissional duvidosa dos docentes, o modelo institucional-autoritário, perverso e ultrapassado, e o indivíduo, ainda em formação, sujeitado em sua fragilidade a esse meio - compõe, infelizmente, o retrato da educação em nosso país.
Refletir sobre esta questão requer, a princípio, uma postura política. Ideológica e, essencialmente, uma postura de humildade, a saber-se sempre no papel de aprendiz da construção do conhecimento, de aprendiz da aquisição dos saberes que fundamentam a relação ensino-aprendizagem.
Para além de prédios, de novas tecnologias e de todas as inovações que o porvir possa incorporar ao processo pedagógico a grande meta é, e sempre será, o sujeito. A qualidade da pedagogia é uma tarefa humana que prescinde de uma visão ampla e crítica em constante evolução, nutrindo-se da interdisciplinaridade e compondo uma visão holística sobre o ato de ensinar e qualificar o sujeito para ser um agente de transformações do seu tempo - e, não adaptá-lo destruindo assim sua subjetividade; qualificando-o, então, a ser escravo do seu tempo. Portanto, mais que ensinar ou mais que transmitir conhecimento; ou ainda fazer parte do processo de construção cognitiva; os que se colocam no lugar da transmissão de um suposto saber têm a responsabilidade de aceitarem para si o desafio - do lugar ocupado - vazio por excelência; já que ainda não concluído (quiçá nunca!),que é preenchido pela expectativa, pela esperança de ascender-se à esse espaço privilegiado onde se supõe haver um instrumento, uma ferramenta que abrirá portas - internas e externas a esse sujeito - Aprendiz por natureza nomeado: Aluno. Até que todas as grades escolares sejam derrubadas libertando as diferenças e a subjetividade; até que construir o saber seja permitido e louvado; até que a afetividade seja um ingrediente necessário e trabalhado - O professor há de ocupar esse lugar. Entretanto. Se estiver consciente da impossibilidade de preenchê-lo (mas da necessidade de ocupá-lo) sua função será com certeza exercida sem hipocrisia e arrogância, mantos que vestem os espaços destinados ao poder.
Essa concepção exige do professor um amplo domínio tanto do conteúdo a ser ensinado quanto um conhecimento pedagógico para que possa selecionar estratégias mais adequadas para colaborar com a reorganização dos conceitos do aluno. Requer, também, um aprofundamento do saber das relações humanas e suas vicissitudes. Pois, no processo ensino aprendizagem, acima de métodos e técnicas, interagem pessoas de diferentes formações, afetos, carências e demandas. Onde se insere, na maioria das vezes, totalmente despreparado, a figura do educador como mediador e continente de todos os possíveis conflitos que surgem nos relacionamentos dessa natureza.
Esta visão holística do processo ensino-aprendizagem pressupõe uma reorganização dos conteúdos a ser trabalhados, exigindo uma visão mais ampla do conceito de “disciplinas” A interdisciplinaridade é, sem dúvida, uma meta a ser buscada, na medida em que o conhecimento não deve ser fragmentado em disciplinas isoladas, mas sim trabalhado numa visão globalizante e integracional.
Gusdorf citado por Fazenda (1991), afirma que o que se designa por interdisciplinaridade é uma atitude epistemológica que ultrapassa os hábitos intelectuais estabelecidos ou mesmo os programas de ensino() A idéia de interdisciplinaridade é uma ameaça à autonomia dos especialistas, vítimas de uma restrição de seu campo mental. “Eles não ousam suscitar questões estranhas à sua tecnologia particular, e não lhes é agradável que outros interfiram em sua área de pesquisa” (p.24).
(…) a reflexão pedagógica sobre a crise educacional deve voltar-se para toda importação conceitual que beneficie a abordagem do sujeito dentro do processo ensino- aprendizagem: e que avalie, simultaneamente, a posição do educador e sua formação como indivíduo e técnico.
As escolas públicas brasileiras apresentam um alto índice de reprovação, principalmente nas classes de alfabetização: este fracasso escolar é atribuído aos alunos de baixa renda. E, justificado pelas suas condições precárias de sobrevivência que resultavam num grau diferenciado e prejudicado de inteligência. Nas escolas particulares e nas universidades há um esvaziamento dos saberes que colabora com o desemprego, com a ignorância e com a formação de um cidadão de terceira categoria sem autonomia e senso crítico - Nesse espaço de falência transita- o professor, diante de uma demanda sem fim, onde ele próprio já é um subproduto acabado e com poucas chances de alterar o quadro da Educação Nacional. Mal remunerado, na maioria das vezes sem condições ideais de produzir - esse sujeito sofre a angústia de estar participando de uma farsa, sofre a frustração de não ver o resultado de seu trabalho - solitário por excelência, já que a escola, enquanto tal é uma instituição impossível.
A escola passa por um momento grave de transição - onde a falência do modelo vigente reflete-se no conflito entre o que foi e o que há de vir. Entre o velho e o novo. Equivocadamente pouco se discute em profundidade as verdadeiras causas conflitam. No afã de conservar-se o modelo falido, fala-se em novas tecnologias educacionais. em mais eficiência, produtividade, adaptação dos sistemas educacionais para os tempos de intensa competição internacional, da necessidade do uso do computador como uma nova metodologia redentora de um passado distante - “ de cartilhas, quadro-negro, giz e palmatória” - que, contudo, perpetua-se ideologicamente sob a máscara da modernidade.
Enfim, corremos o risco de mumificarmos o cadáver com novas tecnologias (...). Sem tomarmos o rumo da história, assumindo as rédeas de nosso próprio destino e todas as transformações que realmente tragam o novo - contanto que o novo seja adequado para o nosso processo de evolução, sem vivermos o conflito da mudança e suas vicissitudes em profundidade; não há chance de sairmos do momento de estagnação e da falência em que nos encontramos enquanto educadores e instituição. E a escola, enquanto tal, continuará a produzir, em série, sujeitos aptos à se adaptarem as rodas da engrenagem - asujeitados e alienados à uma ordem - sem condição de reflexão e de transformação. Sofremos assim, nos tempos de hoje, do apelo Faustiniano: mantermos viva a qualquer preço - num pacto com forças poderosas - o que já se encontra em seu último fôlego de vida – A escola; eternificando-a com a máscara da modernidade, mantendo a sua ação destruidora da subjetividade criativa. - “Ou a deixamos morrer e re-criamos um novo e genuíno sistema de transmissão do saber e construção do conhecimento”.
(...)
Há, no entanto, grandes diferenças na maneira de conceber o processo de desenvolvimento. As principais delas, em resumo, são as seguintes:
A) QUANTO AO PAPEL DOS FATORES INTERNOS E EXTERNOS NO DESENVOLVIMENTO
Piaget privilegia a maturação biológica; Vygotsky, o ambiente social, Piaget, por aceitar que os fatores internos preponderam sobre os externos, postula que o desenvolvimento segue uma seqüência fixa e universal de estágios. Vygotsky, ao salientar o ambiente social em que a criança nasceu, reconhece que, em se variando esse ambiente, o desenvolvimento também variará. Neste sentido, não se pode aceitar uma visão única, universal, de desenvolvimento humano.
B) QUANTO À CONSTRUÇÃO REAL
Piaget acredita que os conhecimentos são elaborados espontaneamente pela criança, de acordo com o estágio de desenvolvimento em que esta se encontra. A visão particular e peculiar (egocêntrica) que as crianças mantêm sobre o mundo vai, progressivamente, aproximando-se da concepção dos adultos: torna-se socializada, objetiva. Vygotsky discorda de que a construção do conhecimento proceda do individual para o social. Em seu entender a criança já nasce num mundo social e, desde o nascimento, vai formando uma visão desse mundo através da interação (...)
C) QUANTO AO PAPEL DA APRENDIZAGEM
Piaget acredita que a aprendizagem subordina-se ao desenvolvimento e tem pouco impacto sobre ele. Com isso, ele minimiza o papel da interação social. Vygotsky, ao contrário, postula que desenvolvimento e aprendizagem são processos que se influenciam reciprocamente, de modo que, quanto mais aprendizagem, mais desenvolvimento.
D) QUANTO AO PAPEL DA LINGUAGEM NO DESENVOLVIMENTO E Á RELAÇÃO ENTRE LINGUAGEM E PENSAMENTO
Segundo Piaget, o pensamento aparece antes da linguagem, que apenas é uma das suas formas de expressão. A formação do pensamento depende, basicamente, da coordenação dos esquemas sensorimotores e não da linguagem. Esta só pode ocorrer depois que a criança já alcançou um determinado nível de habilidades mentais, subordinando-se, pois, aos processos de pensamento. A linguagem possibilita à criança criar um objeto ou acontecimento ausente na comunicação de conceitos. Piaget, todavia, estabeleceu uma clara separação entre as informações que podem ser passadas por meio da linguagem e os processos que não parecem sofrer qualquer influência dela. Este é o caso das operações cognitivas que não podem ser trabalhadas por meio de treinamento específico feito com o auxílio da linguagem. Por exemplo, não se pode ensinar, apenas
usando palavras, a classificar, a seriar, a pensar com responsabilidade.
Já para Vygotsky, pensamento e linguagem são processos interdependentes, desde o início da vida. A aquisição da linguagem pela criança modifica suas funções mental superiores: ela dá uma forma definida ao pensamento, possibilita o aparecimento da imaginação, o uso da memória e o planejamento da ação. Neste sentido, a linguagem, diferentemente daquilo que Piaget postula, sistematiza a experiência direta das crianças e por isso adquire uma função central no desenvolvimento cognitivo, reorganizando os processos que nele estão em andamento.

Síntese das idéias da Vygotsky

Para Vygotsky, a cultura molda o psicológico, isto é, Determina a maneira de pensar. Pessoas de diferentes culturas têm diferentes perfis psicológicos. As funções psicológicas de uma pessoa são desenvolvidas ao longo do tempo e mediadas pelo social, através de símbolos criados pela cultura. A linguagem representa a cultura e depende do intercâmbio social. Os conceitos são construídos no processo histórico e o cérebro humano é resultado da evolução. Em todas as culturas, os símbolos culturais fazem a mediação. Os conceitos são construídos e internalizados de maneira não linear e diferente para cada pessoa. Toda abordagem é feita de maneira de maneira holística (ampla) e o cotidiano é sempre em movimento, em transformação. È a Dialética. A palavra é o microcosmo, o início de tudo e tem vários significados, ou seja, é polissêmica; a mente vai sendo substituída historicamente pala pessoa, que é
sujeito do seu conhecimento.
Vygotsky (…) {t}rabalha com a idéia de zonas de desenvolvimento. Todos têm uma zona de desenvolvimento real, composta por conceitos que já dominamos. Vamos imaginar que numa escala de zero a 100, estamos-nos 30; esta é a zona de desenvolvimento real nossa. Para os outros 70, sendo o nosso potencial, Vygotsky chama de ZONA de DESENVOLVIMENTO PROXIMAL. Se uma pessoa chega aos 100, a sua Zona de Desenvolvimento Proximal será ampliada, porque estamos sempre adquirindo conceitos novos. Estabelece três estágios na aquisição desses conceitos. O 1º é o dos Conceitos Sincréticos, ainda psicológicos evolui em fases e a escrita acompanha. Uma criança de,aproximadamente, três anos de idade escreve o nome da mãe ou do pai, praticando a Escrita Indecifrável, ou seja, se o pai é alto, ela faz um risco grande, se a mãe é baixa, ela risca algo pequeno.Aproximadamente aos 4 anos de idade, a criança entra numa nova fase, a Escrita Pré-silábica, que pode ser Uni gráfica: semelhante ao desenho anterior, mas mais bem elaborado; Letras Inventadas: não é possível ser entendido, porque não pertence a nenhum sistema de signo; Letras Convencionais: jogadas aleatoriamente sem obedecer a nenhuma seqüência lógica de escrita.
No desenvolvimento, aos 4 ou 5 anos, a criança entra na fase da Escrita Silábica, quando as letras convencionais representam sílabas, não separa vogais e consoantes, faz uma mistura e às vezes só maiúsculas ou só minúsculas.
Com aproximadamente 5 anos, a criança entra em outra fase, a Escrita Silábica Alfabética. Neste momento a escrita é caótica, faltam letras, mas apresenta evolução em relação
à fase anterior.
Com mais ou menos 6 anos de idade, a criança entra na fase da Escrita Alfabética: já conhece o valor sonoro das letras, mas ainda erra.Somente com o hábito de ler e escrever que esses erros vão sendo corrigidos.Ferreiro aconselha não corrigir a escrita da criança durante as primeiras fases. No início, ela não tem estrutura e depois vai adquirindo aos poucos. Nesse instante o erro deve ser trabalhado, porque a criança está adquirindo as estruturas necessárias.
Sobre educação de adultos, considera que as fases iniciais já foram eliminadas, porque mesmo sendo analfabeta, a pessoa conhece números e letras.
Considera a Zona de Desenvolvimento Proximal de Vygotsky, a lei de equilíbrio e desequilíbrio de Piaget e a internalizarão do conhecimento. Trabalha com hipóteses, no contexto, com visão de processo, aceitando a problematização, dentro da visão Dialética holística.

Teoria Piagetiana

A Psicologia de Piaget está fundamentada na idéia de equilibração e desequilibração. Quando uma pessoa entra em contato com um novo conhecimento, há naquele momento um desequilíbrio e surge a necessidade, de voltar ao equilíbrio. O processo começa com a assimilação do elemento novo, com a incorporação às estruturas já esquematizadas, através da interação. Há mudanças no sujeito e tem início o processo de acomodação, que aos poucos chega à organização interna. Começa a adaptação externa do sujeito e a internalização já aconteceu. Um novo desequilíbrio volta a acontecer e pode ser provocada por carência, curiosidade, dúvida etc. O movimento é dialético (de movimento constante) e o domínio afetivo acompanha sempre o cognitivo (habilidades intelectuais), no processo endógeno.
Piaget trabalhou o desenvolvimento humano em etapas, períodos, estágios etc.

Erro na teoria Piagetiana

Se uma pessoa erra e continua errando, uma das três situações está ocorrendo: Se a pessoa não tem estrutura suficiente para compreender determinado conhecimento, deve-se criar um ambiente melhor de trabalho, clima, diálogo, porque é impossível criar estruturas necessárias. (…) Se a pessoa possui estruturas em formação, o professor deve trabalhar com a idéia de que o erro é construtivo, deve fazer a mediação, ajudando o aluno a superar as dificuldades; Se a pessoa possui estruturas e não aprende, os procedimentos estão errados. (...) Em muitos casos quem deve mudar os seus procedimentos é o professor "Freud concebe a educação bem sucedida como sendo aquela que luta para dar voz aos sonhos infantis. Trata-se de uma técnica humana que assegure a permeabilidade entre realidade psíquica e realidade externa, um processo que substitua os instintos, que busque o ponto ideal que permita atingir o máximo com um mínimo de dano. A criação, num sentido genérico."(OLIVEIRA, 2003,10)

Conclusão

Muito se tem falado sobre os problemas da educação: professores insatisfeitos, alunos desinteressados, drogas nas escolas, violência de alunos a colegas e professores, defasagem escolar, índices de analfabetismo, promessas de melhores salários e muito mais. A que se deve a instalação desse caos (…) tornando a escola também vítima da violência? (…) a instituição se apresenta à mercê da transgressão, do descrédito e desrespeito de discentes e docentes. Não se pode esquecer que a educação busca ignorar a realidade da condição humana, quando procura enquadrar o aluno a normas que acredita o façam aprender, tornar-se um ser ideal. A educação é por si só normativa, violenta, repressiva porque visa adaptar a criança à aceitação social, o que vai de encontro a tudo que ela viveu no ambiente familiar. A relação com a educação é ambígua, contraditória, antagônica podendo-se falar numa relação de amor e ódio, uma vez que a amamos porque dela necessitamos e ao mesmo tempo a odiamos pelo fracasso que às vezes nos traz. Os educadores deveriam conhecer toda influência que sofre a formação psíquica da criança desde seus primeiros anos de vida no ambiente familiar (...). Influências estas que vão se refletir na sua personalidade e que irão perdurar por toda sua vida adulta. (…) O único ponto que pode nos articular a psicanálise e educação são a análise do educador e a análise da criança. Pois a criança em análise trabalhando seu sintoma terá possibilidade de uma melhor posição no mundo, melhor aprendizagem na vida. E o educador trabalhando seu sintoma se desprenderá do poder de seu narcisismo; e não mais fará da criança seu ideal. O educador reconhecendo a existência do inconsciente pode renunciar a toda fantasia de domínio e de adestramento. (...)
Que a educação seja o processo através do qual o indivíduo toma a história em suas próprias mãos, (...).
Como? Acreditando no educando, na sua capacidade de aprender, descobrir, criar soluções, desafiar, enfrentar, propor, escolher e assumir as conseqüências de sua escolha.
Mas isso não será possível se continuarmos bitolando os alfabetizando com desenhos pré-formulados para colorir, com textos criados por outros para copiarem, com caminhos pontilhados para seguir, com histórias que alienam, com métodos que não levam em conta a lógica de quem aprende. (FUCK, 1994, p. 14 - 15)
(…)
Disponível em http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/artigos/contribuicao-da-psicanalise-para-educacao.php. Acesso em 19/06/2013, 08:01.
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PSICANÁLISE E EDUCAÇÃO: UM DIÁLOGO INDISPENSÁVEL - MARCELA DECOURT

Como sabemos, os laços sociais modernos dispensaram as famílias desta sua função mais essencial - a transmissão da castração - de modo que, contemporaneamente, parece não haver mais nenhuma razão legítima para que uma criança esteja sob a orientação dos pais. Não há, no discurso social, nada que autorize que os valores de pai e mãe sejam de fato referenciais para seus próprios filhos. Ora, aprendemos com Freud que é a intervenção paterna que divide o sujeito entre desejo e gozo, de modo que todos os sintomas que decorrem daí são, na realidade, defesas contra este mal-estar radical. Desse modo, o que fazer quando o pai de família supostamente não é mais a causa do mal-estar dos sujeitos?
Na fala da equipe pedagógica, os efeitos experimentados por estes sujeitos (alunos) diante desta inoperância da função paterna no âmbito da família se traduzem nas mais diversas manifestações de fracasso escolar: crianças com dificuldades de trabalhar em grupo, com rendimento escolar insuficiente, indisciplinadas, desatentas... Enfim, o fracasso se faz presente em todas as atividades escolares que exigem destes sujeitos (alunos) autonomia, divisão de tarefas, disciplina e responsabilidade do sujeito. De acordo com esta nossa orientação podemos então dizer que o fracasso escolar pode ser compreendido como uma das novas modalidades de sintoma de uma cultura marcada pelo fracasso da função paterna.
Assistimos hoje ao crescimento de famílias que pretendem repassar para a escola suas funções mais elementares como, por exemplo, a de transmitir a ética, a moral, as boas regras de convivência social e de alimentação, bem como o respeito e a integridade. Com este movimento de terceirização, todavia, uma dicotomia se apresenta. Ao mesmo tempo em que elas delegam esta função à escola, não suportam qualquer ação educativa que evidencie a insuficiência e a inoperância da função paterna na esfera familiar. Desse modo, se por um lado a família contemporânea elege a escola como sua representante, por outro recusa frontalmente suas intervenções, esvaziando desta forma qualquer possibilidade de operatividade da função paterna terceirizada.
Com isso, os sujeitos contemporâneos, ao desconhecerem o exercício da castração no interior da própria família (esfera privada), acabam esvaziados da função de responsabilidade na esfera pública. Os efeitos desta des-responsabilização dos sujeitos podem ser verificados, por exemplo, nas dificuldades que crianças e adolescentes encontram atualmente em se engajar em qualquer atividade escolar que exija autonomia (estudar para avaliações, realizar deveres de casa), divisão de tarefas (trabalhos em grupo) e disciplina (comportamento em sala de aula, respeito às autoridades).
O que temos verificado é que os sujeitos contemporâneos (e aqui estão incluídos pais e filhos) não se responsabilizam por seus deveres, estando a todo instante exigindo seus direitos. Na realidade, é como se o mundo estivesse permanentemente em dívida com eles, sem que eles pudessem reconhecer nesta reivindicação um dos efeitos da falência da função paterna. Atravessada por esta falência, a família contemporânea parece não encontrar outra saída na contemporaneidade que não seja denegar ou terceirizar a sua função ao preço de produzir sujeitos fracassados.
Disponível em http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/0112.html. Acesso em 19/06/2013, 08:21
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Subvertendo o conceito de adolescência - Cecília Coimbra; Fernanda Bocco; Maria Livia do Nascimento
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Em suas pesquisas, Margaret Mead (1951) já nos apontava, com sua experiência em Samoa, que a adolescência nada mais é que um "fenômeno cultural" produzido pelas práticas sociais em determinados momentos históricos, manifestando-se de formas diferentes e nem sequer existindo em alguns lugares. Apesar da difusão massiva da figura do adolescente como o grande ícone dos tempos contemporâneos, aprendemos com Mead que ela é totalmente engendrada pelas práticas sociais. De acordo com Lepre (2005), por exemplo, foi no século XVIII que surgiram as primeiras tentativas de definir, claramente, suas características. No século XX, embasado em pressupostos científicos, o adolescente moderno típico estabeleceu-se como um objeto natural com características e atributos psicológicos bem demarcados.
(…)
Dentro do princípio desenvolvimentista, a adolescência surge como um objeto exacerbado por uma série de atributos psicologizantes e mesmo biologizantes. Práticas baseadas nos conhecimentos da medicina e da biologia, em especial, vêm afirmando, por exemplo, que determinadas mudanças hormonais, glandulares, corporais e físicas pertencentes a essa fase seriam responsáveis por algumas características psicológico-existenciais próprias do adolescente. Tais características passam a ser percebidas como uma essência, em que "qualidades" e "defeitos" como rebeldia, desinteresse, crise, instabilidade afetiva, descontentamento, melancolia, agressividade, impulsividade, entusiasmo, timidez e introspecção passam a ser sinônimos do ser adolescente6, constituindo uma "identidade adolescente".
(…)
Quando se aceita a construção de uma identidade do sujeito na adolescência, além da produção de uma "identidade adolescente" - como referido no início deste artigo -,, afirma-se um determinado jeito correto de ser e de estar no mundo, uma natureza intrínseca a essa fase do desenvolvimento humano. Ao colarmos uma etiqueta referendada por leis previamente fixadas e embasada nos discursos científico-racionalistas, pode-se criar um território específico e limitado para o jovem, uma identidade que pretende aprisioná-lo e localizá-lo, dificultando possíveis movimentos. Ao se reafirmar a homogeneidade, nega-se a multiplicidade e a diferença.
(…)
Disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1809-52672005000100002&script=sci_arttext. Acesso em 19/06/2013 08:49
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CULTURA - PROFESSOR ISRAEL MARTINS - . E. E. F. E M. TANCREDO DE ALMEIDA NEVES

Para antropólogos e sociólogos, a palavra cultura passou a indicar o conjunto dos modos de vida criados e comunicados de uma geração para outra, entre os membros de determinada sociedade. Nesse sentido, abrange conhecimentos, crenças, artes, moral, lei, costumes e quaisquer outras capacidades adquiridas socialmente pelos homens.
A cultura pode ser considerada, portanto, como amplo conjunto de conceitos, de símbolos, de valores e de atitudes que modelam uma sociedade. A cultura engloba o que pensamos, fazemos e temos enquanto membros e temos enquanto membros de um grupo social.
Nesse sentido o termo cultura é aplicável tanto a uma civilização tecnicamente evoluída quanto às formas de vida social mais rústicas. Todas as sociedades humanas, da pré-história aos dias atuais, possuem uma cultura. E cada cultura tem seus próprios valores e sua própria verdade.
Para a filosofia cultura é a resposta oferecida pelos grupos humanos aos desafios da existência. Uma resposta que se manifesta em termos de conhecimento, paixão e comportamento. Ou seja, em termos de razão, sentimento e ação.
Disponível em http://israelmartins.blogspot.com.br/. Acesso em 19/06/2013. 08:51
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TRECHO DE “A NORMALISTA” DE ADOLFO CAMINHA
A luzinha da vela de carnaúba agonizava numa poça de cera derretida.
E essa! Era a segunda vez que sonhava com o Romão, sem quê nem p’ra quê... Com certeza estava para lhe suceder alguma desgraça. Que esquisitice! hum, hum,...
A porta do quarto, que se conservava entreaberta, rangeu nas dobradiças, como se alguém a empurrasse de manso. Apoderou-se de Maria um pavor terrível; arrepiaram-se-lhe os cabelos, e uma extraordinária sensação de frio percorreu-lhe o sangue. Ficou assombrada, sem se mexer, com o ouvido alerta e os olhos fechados, numa prostração de quem está sem sentido.
Pareceu-lhe ouvir chamar pelo seu nome e então subiu um ponto o terror que lhe tapava a boca como uma mordaça de ferro. Abriu os olhos para verificar se com efeito estava acordada e tornou a fechá-los mais que depressa. Instintivamente fez um esforço supremo para gritar, para chamar alguém, mas não podia abrir a boca, estarrecida.
Maria? repetiu a mesma voz, que ela julgava ouvir, uma voz fina, mas abafada, como se saísse das entranhas da terra.
E logo:
Sou eu, Maria. É o padrinho...
Disponível em http://www.mundovestibular.com.br/articles/516/1/A-NORMALISTA---Adolfo-Caminha-Resumo/Paacutegina1.html. Acesso em 19/06/2013.
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A Carta Testamento de Getúlio Vargas é um documento endereçado ao povo brasileiro escrito por Getúlio Vargas horas antes de seu suicídio, em 24 de Agosto de 1954.

Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.
Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.
Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.
Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.
Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.
E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.
Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Carta-testamento_de_Get%C3%BAlio_Vargas. Acesso em 19/06/2013, 09:21.
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O SERMÃO DA MONTANHA (Mateus 5, 3-12)
Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o Reino dos Céus! Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus! Bem-aventurados os Defensores da Paz, porque serão chamados filhos de Deus! Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus! Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de Mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.
Disponível em https://pt.wikipedia.org/wiki/Serm%C3%A3o_da_Montanha. Acesso em 19/06/2013, 09:28

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