segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Austin - How to do things with words: a linguagem enquanto atos de fala


“How to do things with words” foi uma obra, publicada pela primeira vez em 1962 como resultado de um conjunto de 12 conferências proferidas em 1955 na Universidade de Harvard que trataram das seguintes questões:

 

I – Perfomativos e constatativos

II – Condições para performativos felizes

III – Infelicidades: desacertos

IV – Infelicidades: Maus usos

V – Critérios possíveis de performativos

VI – Performativos explícitos

VII – Verbos performativos felizes

VIII – Atos Locucionários, Ilocucionários e Perlocucionários

IX – Distinção entre atos Ilocucionários e Perlocucionários

X – “Ao dizer...” versus “Por dizer...”

XI – Declarações, Performativos e Força Ilocucionária

XII – Classes de Força Ilocucionária

 

“A filosofia analítica surge como uma dupla reação às correntes do pensamento filosófico então dominantes na Grã-Bretanha ao final do século passado: o idealismo absoluto de F. H. Bradley e T. H Green e o empirismo, influenciado sobretudo por J. S. Mill” (FILHO, 1990, p. 07).

 

John Langshaw Austin (Lancaster, 28 de Março de 1911 — Oxford, 8 de Fevereiro de 1960), pensador (ligado à vertente da Filosofia Analítica da linguagem) que “introduziu de maneira definitiva os conceitos de performativo, ilocucionário e de ato de fala”. (OTTONI, 2002, p 120).

 

Para Austin o ato de fala é composto de três partes, três atos simultâneos: um ato locucionário, que produz tanto os sons pertencentes a um vocabulário quanto a articulação entre a sintaxe e a semântica, lugar em que se dá a significação no sentido tradicional; um ato ilocucionário, que é o ato de realização de uma ação através de um enunciado, por exemplo, o ato de promessa, que pode ser realizado por um enunciado que se inicie por eu prometo..., ou por outra realização; por último, um ato perlocucionário, que é o ato que produz efeito sobre o interlocutor” (OTTONI, 2002, p. 128).

 

Podemos dizer que por detrás de cada afirmação há uma forma não explicitada de um performativo, um performativo mascarado”. (OTTONI, 2002, p. 129).

 


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George Edward Moore (Londres, 4 de novembro de 1873 — Cambridge, 24 de outubro de 1958): filósofo britânico e um dos fundadores da Filosofia analítica.



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Bertrand Arthur William Russell (Ravenscroft, País de Gales, 18 de Maio de 1872 — Penrhyndeudraeth, País de Gales, 2 de Fevereiro de 1970): matemático, filósofo, lógico e político liberal.

 


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Ludwig Joseph Johann Wittgenstein (Viena, 26 de Abril de 1889 — Cambridge, 29 de Abril de 1951): filósofo austríaco, naturalizado britânico, e um dos responsáveis pela virada linguística na filosofia do século XX.


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Francis Herbert Bradley (1846 – 1924), representante do idealismo britânico, concebe um sistema que encara o conjunto da realidade como produto da mente.

Francis Herbert Bradley.jpg

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Thomas Hill Green (1836 - 1882) contribuiu para a instalação do idealismo de Kant e Hegel no mundo acadêmico e cultural da Inglaterra.

File:Thomashillgreen.jpg

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John Stuart Mill (1806 – 1873), pensador liberal e defensor do utilitarismo, cujo trabalho afirmava que a experiência é a base das associações mentais.


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Constituição da significação e do sentido.

 

Crítica ao estudo da lógica formal de sentenças regidas pelo caráter referencial e verificacionista.

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(A. I) There must exist an accepted conventional procedure having a certain conventional effect, that procedure to include the uttering of certain words by certain persons in certain circumstances, and further,

(A. 2) the particular persons and circumstances in a given case must be appropriate for the invocation of the particular procedure invoked.

(B. I) The procedure must be executed by all participants both correctly and

(B. 2) completely.

(r.I) Where, as often, the procedure is designed for use by persons having certain thoughts or feelings, or for the inauguration of certain consequential conduct on the part of any participant, then a person participating in and so invoking the procedure must in fact have those thoughts or feelings, and the participants must intend so to conduct themselves,= and further

(r. 2) must actually so conduct themselves subsequently.

(AUSTIN, 1962. p. 15)

 

(A.1) Deve ser existir um procedimento convencionalmente aceito, que apresente um determinado efeito convencional e que inclua o proferimento de certas palavras, por certas pessoas, e em certas circunstâncias: e, além disso, que

(A.2) as pessoas e circunstâncias particulares, em cada caso, devem ser adequadas ao procedimento específico invocado.

(B.1) O procedimento tem de ser executado, por todos os participantes, de modo correto e

(B.2) completo.

(τ.1) Nos casos em que como ocorre com freqüência, o procedimento visa às pessoas com seus pensamentos e sentimentos, ou visa à instauração de uma conduta correspondente por partes de alguns dos participantes, então aquele que participa do procedimento, e os participantes devem ter a intenção de se conduzirem de maneira adequada, e alem disso,

(τ.2) devem realmente conduzir-se dessas maneira subseqüentemente.

Tradução de FERREIRA 2011, p. 07)

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No processo de significação, o sentido está atrelado a uma atualização contextual, a uma circunstância, a uma ética e uma responsabilidade por parte de quem enuncia. Gramaticalidade por si só, não é suficiente para o sentido da e na enunciação

 

Uma teoria geral dos atos de fala possui caráter empírico, descritivo e analítico.

 

Filho (1990, 21) em nota de rodapé (in AUSTIN, 1990), distingue sentença (como uma estrutura gramática dotada de significado e de caráter abstrato), declaração (uma sentença em uso sob critérios de verdade/falsidade) e proferimento (a pronunciação concreta e singular de uma sentença).

 

Uma perspectiva pragmática que encara a linguagem como realização e não como representação, como um complexo maior que o aspecto gramatical.

 

Condições de validade e circunstância de realização do ato de fala.

 

Fatores exteriores ao aspecto formal da linguagem caracterizam a performatividade do ato de fala e se associam ao contexto de realização da enunciações e às relações interlocutiva.

 

Caráter simbólico-comportamental e institucional das ações humanas e dos atos performativos.

 

Insucessos (falha das regras A e B) e Abusos (falhas das regras T) envolvem tipos distintos de infelicidade.

Falhas em regras A: Ato Indevido ou interdito (“misinvocation” ou “Act disallowed”).

Falhas em B: Ato Viciado (“Misexecution” ou “Act vitiated”).

O Ato Interdito pode ocorrer por Emprego não convencionado ou por Emprego Indevido (“misapplication”).

A relação entre a interpretação do ato e a intenção do enunciador.

A performatividade como um ato de comprometimento perante a enunciação.

 

O ato locucionário é composto de um ato fonético (emissão de sons), um ato fático (proferimento de certas palavras características de um vocabulário e de uma gramática) e um ato rético (ato de utilizar tais palavras com um certo sentido e uma referência).

 

I PALESTRA - Perfomativos e constatativos

 

“(…) many traditional philosophical perplexities have arisen through a mistake-the mistake of taking as straightforward statements of fact utterances which are either (in interesting non-grammatical ways) nonsensical or else intended as something quite different” (AUSTIN, 1962. p. 02).

 

“(...) Muitos dos problemas que embaraçaram tradicionalmente os filósofos surgiram a partir de um erro: o de considerar como puras e simples afirmações de factos, enunciações que são (em um ou mais sentidos não gramaticais e que têm o seu interesse) ou absurdas ou expressões cuja intenção é completamente diferente” (Tradução de FLORES s/d. p. 03).

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(E. a) 'I do (sc. take this woman to be my lawful wedded wife)'-as uttered in the course of the

marriage ceremony.

(E. b) 'I name this ship the Queen Elizabeth'—as uttered when smashing the bottle against the

stem.

(E. c) 'I give and bequeath my watch to my brother' as occurring in a will.

(E. d) 'I bet you sixpence it will rain tomorrow.'

(AUSTIN, 1962, p. 05).

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In these examples it seems clear that to utter the sentence (in, of course, the appropriate circumstances) is not to describe my doing of what I should be said in so uttering to be doing or to state that I am doing it: it is to do it. None of the utterances cited is either true or false: I assert this as obvious and do not argue it. It needs argument no more than that 'damn' is not true

or false (…) I propose to call it a perfornative sentence or a performative utterance, or, for short, 'a performative'. it indicates that the issuing of the utterance is the performing of an action - it is not normally thought of as just saying something.

(AUSTIN, 1962, p. 06-07)

 

“Nestes exemplos parece claro que enunciar a frase (nas condições apropriadas, evidentemente), não é nem descrever aquilo que supostamente eu estou a fazer ao falar assim, nem afirmar que o faço: é fazê-lo. Nenhuma das enunciações citadas é verdadeira ou falsa (...).

Proponho chamar-lhe frase performativa ou enunciação performativa, ou, para abreviar, um performativo (...): Indica que produzir uma enunciação é realizar uma acção - normalmente,

não se considera que essa produção seja apenas dizer alguma coisa”.

(Tradução de FLORES s/d. p. 04).

 

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Para Austin (1962, p.10) “Accuracy and morality alike are on the side of the plain saying that our word is our bond”.

“A exatidão e a moralidade estão, ambas, do lado da simples afirmativa de que nossa palavra é nosso penhor” (AUSTIN, 1962, p. 27)

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“In conclusion, we see that in order to explain what can go wrong with statements we cannot just concentrate on the proposition involved (whatever that is) as has been done traditionally. We must consider the total situation in which the utterance is issued-the total speech-act if we are to see the parallel between statements and performative utterances, and how each can go wrong. Perhaps indeed there is no great distinction between statements and performative utterances. AUSTIN, 1962, p. 52)”.

 

“Vemos que para explicar aquilo que pode funcionar mal nas Afirmações não basta, como sempre se fez tradicionalmente, concentrar a nossa atenção apenas na frase em causa (se é verdade que tal coisa existe). Se queremos compreender o paralelismo que existe entre as afirmações e as enunciações performativas, e como umas e outras são afectadas por certos defeitos, é necessário considerar a situação total - o acto de fala por inteiro. Assim, o acto de fala total, na situação enunciativa total está a tornar-se tão importante como tem sido a lógica: e assim, estamos a assimilar a enunciação constatativa à performativa” (FLORES, s/d, p. 13).

 

Referências Bibliográficas

 

AUSTIN, John L. HOW TO DO THINGS WITH WORDS. The William James Lectures delivered at Harvard University Oxford. Grat Britain. 1962. 174 pág.

 

AUSTIN, John L. Quando dizer é fazer – palavras e ação. Tradução de Danilo Marcondes de Souza filho. Porto Alegre. Artes Médicas: 1990. 136 pág.

 

FERREIRA, Renato Luiz Atanazio TEORIA DOS ATOS DE FALA: ASPECTOS SEMÂNTICOS, PRAGMÁTICOS E NORMATIVOS. Orientador: Prof. Ludovic Soutif. PUC, 2011.

 

FILHO, Danilo Marcondes de Souza. A filosofia da linguagem de J. L. Austin. in AUSTIN, John L. Quando dizer é fazer – palavras e ação. Tradução de Danilo Marcondes de Souza filho. Porto Alegre. Artes Médicas: 1990. 136 pág.

 

FLORES, Teresa M. Agir com Palavras: A Teoria dos Actos de Linguagem de John Austin. Escola Superior de Comunicação Social. Portugal. Email: mflores@escs.ipl.pt. Disponível em http://www.bocc.ubi.pt/pag/flores-teresa-agir-com-palavras.pdf. Acesso em 09/08/2013. 10:19.

 

OTTONI, Paulo. John Langshaw Austin E A Visão Performativa Da Linguagem. D.E.L.T.A., 2002 (117-143). Disponível em http://www.scielo.br/pdf/delta/v18n1/a05v18n1.pdf. Acesso em 11/08/2013, às 18:39. 27 páginas.

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