sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Egídia -Semana da Cultura Negra - 19 a 24 de novembro de 2018 - textos para reflexão em sala


ESCOLA Egídia Cavalcante Chagas – Morada Nova, Ceará

Seis estatísticas que mostram o abismo racial no Brasil

por Tory Oliveira* — publicado 20/11/2017 00h30, última modificação 17/11/2017 17h55

 

A população negra é a mais afetada pela desigualdade e pela violência no Brasil. É o que alerta a Organização das Nações Unidas (ONU). No mercado de trabalho, pretos e pardos enfrentam mais dificuldades na progressão da carreira, na igualdade salarial e são mais vulneráveis ao assédio moral, afirma o Ministério Público do Trabalho.

De acordo com o Atlas da Violência 2017, a população negra também corresponde a maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios.

[…] o racismo brasileiro, sustentado em três séculos de escravidão e muitas vezes minimizados pela branquitude nativa, revela-se sem meias palavras.

"Esse é um país que convive com uma desigualdade estrutural, especialmente em relação à questão racial", afirma Kátia Maia, diretora executiva da Oxfam, em entrevista à CartaCapital. 

[…] o preconceito social no País passa também pelo racismo. "Só não concorda quem não acompanha o dia a dia da vida brasileira. Um negro que dirige um carro médio, por exemplo, é parado diversas vezes pela polícia, ou quando vai a um restaurante, avisam a ele que a entrada de serviço é do outro lado. Para curar qualquer doença, é preciso reconhecer a doença", afirma.

Segundo o IBGE, mais da metade da população brasileira (54%) é de pretos ou pardos, sendo que a cada dez pessoas, três são mulheres negras.

Igualdade salarial só em 2089

Apenas em 2089, daqui a pelo menos 72 anos, brancos e negros terão uma renda equivalente no Brasil. A projeção é da pesquisa "A distância que nos une - Um retrato das Desigualdades Brasileiras" da ONG britânica Oxfam, dedicada a combater a pobreza e promover a justiça social.

Em média, os brasileiros brancos ganhavam, em 2015, o dobro do que os negros: R$1589, ante R$898 mensais.

"Só alcançaremos uma equiparação salarial entre negros e brancos em 2089, 200 anos depois da abolição da escravidão no Brasil. Isso se a desigualdade continuar diminuindo no ritmo que está", alerta a diretora-executiva da Oxfam. 

A conta é feita com base em dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), considerando rendimentos como salários, benefícios sociais, aposentadoria, aluguel de imóveis e aplicações financeiras, entre outros.

Ainda segundo o relatório, 67% dos negros no Brasil estão incluídos na parcela dos que recebem até 1,5 salário mínimo (cerca de R$1400). Entre os brancos, o índice fica em 45%.

Feminicídio de mulheres negras aumentou, […]

O feminicídio, isto é, o assassinato de mulheres por sua condição de gênero, também tem cor no Brasil: atinge principalmente as mulheres negras. Entre 2003 e 2013, o número de mulheres negras assassinadas cresceu 54%, ao passo que o índice de feminicídios de brancas caiu 10% no mesmo período de tempo. Os dados são do Mapa da Violência 2015, elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Estudos Sociais. Uma evidência de que os avanços nas políticas de enfrentamento à violência de gênero não podem fechar os olhos para o componente racial.

As mulheres negras também são mais vitimadas pela violência doméstica: 58,68%, de acordo com informações do Ligue 180 - Central de Atendimento à Mulher, de 2015.

Elas também são mais atingidas pela violência obstétrica (65,4%) e pela mortalidade materna (53,6%), de acordo com dados do Ministério da Saúde e da Fiocruz.

Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/seis-estatisticas-que-mostram-o-abismo-racial-no-brasil

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Seis estatísticas que mostram o abismo racial no Brasil

por Tory Oliveira* — publicado 20/11/2017 00h30, última modificação 17/11/2017 17h55

 

Jovens e negros: as maiores vítimas da violência

Homens, jovens, negros e de baixa escolaridade são as principais vítimas de mortes violentas no País. A população negra corresponde a maioria (78,9%) dos 10% dos indivíduos com mais chances de serem vítimas de homicídios, de acordo com informações do Atlas da Violência 2017, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Atualmente, de cada 100 pessoas assassinadas no Brasil, 71 são negras. De acordo com informações do Atlas, os negros possuem chances 23,5% maiores de serem assassinados em relação a brasileiros de outras raças, já descontado o efeito da idade, escolaridade, do sexo, estado civil e bairro de residência.

“Jovens e negros do sexo masculino continuam sendo assassinados todos os anos como se vivessem em situação de guerra”, compara o estudo.

Maioria dos presos

O Brasil abriga a quarta maior população prisional do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, da China e da Rússia. Tratam-se de 622 mil brasileiros privados de liberdade, mais de 300 presos para cada 100 mil habitantes. Mais da metade (61,6%) são pretos e pardos, revela o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen).

Na contramão dos demais países, porém, a taxa de aprisionamento no Brasil não está diminuindo. Entre 2004 e 2014, o índice cresceu 67%. A taxa de superlotação por aqui também é maior: 147% no Brasil, ante 102% nos [EUA] e 82% na Rússia.

Baixa representatividade no cinema e na literatura

Só 10% dos livros brasileiros publicados entre 1965 e 2014 foram escritos por autores negros, afirma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB) que também analisou os personagens retratados pela literatura nacional: 60% dos protagonistas são homens e 80% deles, brancos.

Já a pesquisa "A Cara do Cinema Nacional", da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, revelou que homens negros são só 2% dos diretores de filmes nacionais. Atrás das câmeras, não foi registrada nenhuma mulher negra. O fosso racial permanece entre os roteiristas: só 4% são negros.

O levantamento da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) considerou as produções brasileiras que alcançaram as maiores bilheterias entre 2002 e 2014. Dentre os filmes analisados, 31% tinham no elenco atores negros, quase sempre interpretando papeis associados à pobreza e criminalidade.

Crise e desemprego

A crise e a onda de desemprego também atingiu com mais força a população negra brasileira: eles são 63,7% dos desocupados, o que corresponde a 8,3 milhões de pessoas. Com isso, a taxa de desocupação de pretos e pardos ficou em 14,6% - entre os trabalhadores brancos, o índice é menor: 9,9%.

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgada nesta sexta-feira 17 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, no terceiro trimestre de 2017 o rendimento médio de trabalhadores negros foi inferior ao dos brancos: 1,5 mil ante 2,7 mil reais.

*Colaborou Rodrigo Martins e Miguel Martins

 

Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/seis-estatisticas-que-mostram-o-abismo-racial-no-brasil

 

 

 

 

ESCOLA Egídia Cavalcante Chagas – Morada Nova, Ceará

Eugenia: a alienação do preconceito pelos discursos da ciência e por políticas de governo é um problema histórico

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As cinco ideias por trás do Nazismo - Eduardo Szklarz

 

A eugenia surgiu sob o impacto da publicação, em 1859, de […] A Origem das Espécies, de Charles Darwin. Darwin mostrou que as espécies […] evoluem gradualmente a partir de um antepassado comum à medida que os indivíduos mais aptos vivem mais e deixam mais descendentes. […].

Darwin restringiu sua teoria ao mundo natural, mas outros pensadores a adaptaram […]. O mais destacado […] foi o matemático inglês Francis Galton, primo de Darwin. Em 1865, ele postulou que a hereditariedade transmitia características mentais [...] ele dizia que, se os membros das melhores famílias se casassem com parceiros escolhidos, poderiam gerar uma raça de homens mais capazes. A partir das palavras gregas para “bem” e “nascer”, Galton criou o termo “eugenia” para […]  nova teoria.

Galton se inspirou nas obras […] de Gregor Mendel, um monge checo morto 12 anos antes que passaria à história como fundador da genética. Ao cruzar pés de ervilhas, Mendel havia identificado características que governavam a reprodução, chamando-as de dominantes e recessivas. […].

Os eugenistas viram na genética o argumento para justificar seu racismo. Eles interpretaram as experiências de Mendel assim: […]. Misturar genes bons com “degenerados”, para eles, estragaria a linhagem. Para evitar isso, só mantendo a raça “pura” [...]. O eugenista Madison Grant, […], advertia em 1916: “O cruzamento entre um branco e um índio faz um índio, entre um branco e um negro faz um negro, entre um branco e um hindu faz um hindu, entre qualquer raça européia e um judeu faz um judeu”.

As ideias eugenistas fizeram sucesso entre as elites […] primeiro […] os EUA. Não tardou até que os eugenistas de lá começassem a querer transformar suas teorias em políticas públicas. A miscigenação deveria ser proibida.

Programas de engenharia humana começaram a surgir, inspirados por técnicas advindas de estábulos e galinheiros. O zoólogo Charles Davenport, líder do movimento nos EUA, acreditava que os humanos poderiam ser criados e castrados como trutas e cavalos. Instituições de prestígio, como a Fundação Rockefeller e o Instituto Carnegie, doaram fundos para as pesquisas, universidades de primeira linha, como Stanford, ministraram cursos. Os eugenistas americanos ergueram escritórios de registros de “incapazes”, criaram testes de QI para justificar seu encarceramento e conseguiram que 29 estados fizessem leis para esterilizá-los.

As primeiras vítimas foram pobres da Virgínia, e depois negros, judeus, mexicanos, europeus do sul, epiléticos e alcoólatras. Segundo Black, 60 mil pessoas foram esterilizadas à força nos EUA. Em seguida, países como a Suécia e a Finlândia começaram programas parecidos.

[…] a Alemanha de Hitler começou a esterilizar pessoas com deficiência física e mental, em 1934 […]. Em 1939, os alemães começaram a matar pessoas com deficiência, em um programa de “eutanásia forçada”. Médicos usaram o gás inseticida Zyklon B para eliminar 70 mil pessoas “indignas de viver”. O programa foi suspenso após protestos, mas serviu de ensaio para os campos de concentração, onde Zyklon B exterminaria qualquer um que ameaçasse o projeto da raça pura e […] “melhora da humanidade”.

“Hitler conseguiu recrutar mais seguidores entre alemães equilibrados ao afirmar que a ciência estava a seu lado”, diz Black. “Seu vice, Rudolf Hess, dizia que o nacional-socialismo não era nada além de biologia aplicada.”

Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/nazismo/

 

 

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A questão da raça

A origem da palavra “raça” é obscura. Alguns estudiosos entendem que a sua etimologia provém da palavra latina “radix”, que signif ica raiz ou tronco; enquanto outros acham que ela tem origem na palavra italiana “razza”, que significa linhagem ou criação. Seja qual for a sua origem, ela foi introduzida na literatura científica há cerca de 200 anos e desde então tem aparecido em tantos diferentes contextos que até hoje a palavra “raça” não teve o seu significado exatamente claro. Ela tem sido usada para designar qualquer agregado de pessoas que podem ser identificados como pertencentes a um grupo. De acordo com este entendimento, as pessoas que possuem os mesmos ancestrais, ou compartilham com as mesmas crenças ou valores, mesma linguagem ou qualquer outro traço social ou cultural são considerados como uma raça. Por si mesmo, esta ampla definição talvez não seja de todo uma coisa má, contudo abre a porta para muitos e sérios desentendimentos sobre pessoas que a utilizam para caracterizar preconceito e discriminação. Este panfleto, portanto, é de muita utilidade pois tem o propósito de esclarecer o sentido científico da definição da palavra, até então de uso restrito naquelas ocasiões onde o seu significado é apropriado.

“Raça tem somente um significado científico e é biológicamente única. Refere-se a uma única subdivisão das espécies conhecidas, membros de uma herança física, a qual visa distinguir-se de outras populações da mesma espécie. Apesar desta definição ser precisa tanto quanto possível, os cientistas entendem que não existem claras subdivisões na única espécie chamada homem, isto é, o homo sapiens. A maior parte das pessoas pertencem a categorias entre subdivisões do que propriamente àquela da qual pertencem, ou de que um mesmo indivíduo pode ter características que o colocam em diversas categorias simultaneamente.

 

COMO AS RAÇAS SÃO DESCRITAS ?

Os antropólogos tem, tradicionalmente, descrito várias raças colhendo um ou mais traços de evidencia física , por meio do qual o homem pode ser classificado. Entre os mais comuns traços utilizados estão: forma da pálpebra, cor e forma do cabelo, o formato do nariz, a forma da cabeça, a pele e a cor dos olhos e altura.

A descrição de diferentes raças tem sido originadas da média das medidas de vários traços em comum por um grande número de tipos similares de pessoas. Não há, contudo, ninguém que possa calcular a média do ajuste como sendo a “ideal” de uma determinada raça, em face da existência de muitos pontos coincidentes. Por exemplo, os indivíduos mais altos de uma raça de pessoas pequenas são maiores do que as pessoas mais baixas de uma raça de pessoas altas.

As pessoas de pele muito escura, de uma raça de pele clara, pode, freqüentemente, ser mais escura do que uma pessoa mais clara de uma raça de pele escura. Estes pontos coincidentes ocorrem com tanta extensão que se torna impossível estabelecer claramente subdivisões de tipos raciais.

 

Disponível em: https://www.geledes.org.br/o-que-e-raca/

 

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QUANTAS SÃO AS RAÇAS ?

A despeito do mau uso do palavra “raça”, e pela dificuldade em aplica-la precisamente, seria absurdo dizer-se que as pessoas não fazem nenhuma observação sobre as diferenças de grupos. Tem havido, contudo, uma pequena concordância sobre um número de raças dentro da espécie humana. Desde que muitos dos traços acima mencionados são independentes um do outro, entre as populações diferentes do mundo, o número de raças varia de acordo com o número de traços utilizados para definir a raça.

Se, por exemplo, a cor do olho for usada para definir uma raça, as pessoas que forem classificadas nesta categoria terão uma larga variedade de cores de peles; variações de tamanho de cabeças que aparecem entre os membros de qualquer grupo da humanidade; cabelo preto não é uma propriedade exclusiva de nenhuma grupo particular de pessoas.

Portanto, quanto maior os traços usados como uma base para classificação, tanto maior um número de raças iremos encontrar. O número de raças declarado pelas autoridades varia entre duas e duzentas.

A UNESCO tem sugerido o uso destas três classificações básicas:

Cada uma manifesta algum traço físico comum, sendo que o principal é a cor da pele. Aceitando-se esta simples classificação, deve ser lembrado que o vasto número de pessoas caem simultaneamente dentro de dois ou mesmo três destas categorias raciais.

O QUE A RAÇA NÃO É:

Raça tem sido comumente confundida com nacionalidade, ( lugar de nascimento ) herança lingüística e religião. No seu sentido biológico apropriado, ela não se refere obviamente a nenhuma destas classificações.

Por exemplo, a palavra “Americano” se refere a uma pessoa que nasceu na América. Isto é uma identificação de nacionalidade e, portanto, não deveria ser usada para classificar uma pessoa pela raça. Uma nação é muitas vezes formada por pessoas de muitas raças. Alaskianos, Esquimós, Índios de Oklahoma, Negros do Mississipi, Caucasianos da Nova Inglaterra e diversos povos do Havaí são todos Americanos. Muita da confusão entre raça e nacionalidade advém do fato de que as pessoas das nações conhecidas são freqüentemente da mesma raça e, em muitos casos, a mesma palavra tem sido usada para designar a língua e a nacionalidade, bem como a raça.

Os Latinos também não são uma raça. Eles são pessoas que falam uma língua, cuja herança lingüística é o Latim. Não é uma herança característica falar uma língua particular; todas as línguas são aprendidas. Uma pessoa de qualquer raça pode aprender a falar qualquer língua.

Enquanto é verdade que pessoas de uma identidade racial particular podem ser adeptos somente de uma religião particular, as categorias de raça e religião não devem ser confundidas. Assim, a Fé Judaica não deveria ser usada para identificar racialmente os seus adeptos. As pessoas que pertencem a esta fé são tão fisicamente diversos como as múltiplas populações entre as quais eles viveram e casaram entre si. A distinção dos Judeus como um grupo está ligado mais às suas crenças religiosas, seus costumes e suas tradições, do que a herança das suas características físicas. Obviamente , é possível que alguém mude de sua própria religião, porém não pode mudar de sua raça.

Disponível em: https://www.geledes.org.br/o-que-e-raca/

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Religiosidade: As religiões de matriz africana e a escola

 

As religiões de matriz africana foram incorporadas a cultura brasileira desde há muito, quando os/as primeiros/as escravizados/as desembarcaram no país e encontraram em sua religiosidade uma forma de preservar suas tradições, idiomas, conhecimentos e valores trazidos da África.
E assim como tudo que fazia parte deste universo, tais religiões – apesar de sua influência e importância na construção da cultura nacional – também foram perseguidas e, em determinados momentos históricos, até proibidas. Atualmente, os ataques mais expressivos às religiões de matriz africana vêm das chamadas religiões ‘neopentecostais’, que comumente as rotulam de ‘culto aos demônios’, ‘crendices’ e ‘feitiçarias’.

Toda essa ignorância com relação a essas culturas gera um ambiente propício para intolerância, proporcionando sofrimento aos praticantes e a todos/as aqueles/as que fazem parte da população negra, que tem os seu direito de pertença e identidade racial muitas vezes negado em função do racismo.

A ministra religiosa e Iyalorisá, Carmen Prisco, defende que para combater o racismo e a intolerância religiosa o governo brasileiro precisa reconhecer a contribuição dos africanos na construção da alma brasileira e tombar o candomblé como Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade.

O Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade é uma distinção criada em 1997 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura para a proteção e o reconhecimento do patrimônio cultural imaterial, abrangendo as expressões culturais e as tradições que um grupo de indivíduos preserva em respeito da sua ancestralidade, para as gerações futuras.
“O candomblé representa o espaço onde a cultura dos escravizados que vieram para o Brasil está guardada, está sendo preservada e transmitida. Se as leis municipais continuarem fechando terreiros, não reconhecendo o lugar do sagrado que o nosso culto possui, em 50 anos não teremos mais candomblé e as pessoas não vão nem saber da história dos escravizados no Brasil”, destaca Carmen.

Para ela é função dos/as educadores/as levar estes conhecimentos para a sala de aula e contribuir para perpetuação dos valores civilizatórios de tradição africana. Ela inicia esse resgate histórico distiguindo a origem e história dos ancestrais africanos que vieram na diáspora.

Os Bantus eram o grupo mais numeroso, dividiam-se em angola-congoleses e moçambiques. Sua origem estava ligada ao que hoje representa Angola, Zaire e Moçambique, os principais destinos deste grupo eram Maranhão, Pará, Pernambuco, Alagoas, Rio de Janeiro e São Paulo. Eles foram os primeiros a chegarem no Brasil e a fundarem com os indígenas o candomblé de cabloco, primeira manifestação religiosa com origem africana do país.

Já os Iorubas ou Nagôs-Sudaneses eram formados  por: iorubas, jejes e fanti-ashantis, trazidos do sudoeste do continente africano, do que hoje é representado pela Nigéria, Daomei e Costa do Ouro, seu destino geralmente era a Bahia. Entre eles tinham os mulçumanos, que de acordo com Carmen, eram os não-escravizados e também muitos guerreiros, que em sua maioria foram para os engenhos de cana-de-açúcar. No final da Diáspora, aqui chegaram os Fon, cuja maior expressão histórica, política e social se expressou no Benin, através do Reino do Dahomey.

 


 

 

 

 

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OS 10 MITOS SOBRE AS COTAS

 1- as cotas ferem o princípio da igualdade, tal como definido no artigo 5º da Constituição, pelo qual “todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza”. São, portanto, inconstitucionais.  Na visão, entre outros juristas, dos ministros do STF, Marco Aurélio de Mello, Antonio Bandeira de Mello e Joaquim Barbosa Gomes, o princípio constitucional da igualdade, contido no art. 5º, refere-se a igualdade formal de todos os cidadãos perante a lei. A igualdade de fato é tão somente um alvo a ser atingido, devendo ser promovida, garantindo a igualdade de oportunidades como manda o art. 3º da mesma Constituição Federal. As políticas públicas de afirmação de direitos são […] constitucionais e absolutamente necessárias.

2- as cotas subvertem o princípio do mérito acadêmico, único requisito que deve ser contemplado para o acesso à universidade.  Vivemos numa das sociedades mais injustas do planeta, onde o “mérito acadêmico” é apresentado como o resultado de avaliações objetivas e não contaminadas pela profunda desigualdade social existente. O vestibular está longe de ser uma prova equânime que classifica os alunos segundo sua inteligência. As oportunidades sociais ampliam e multiplicam as oportunidades educacionais.

3- as cotas constituem uma medida inócua, porque o verdadeiro problema é a péssima qualidade do ensino público no país. É um grande erro pensar que, no campo das políticas públicas democráticas, os avanços se produzem por etapas seqüenciais: primeiro melhora a educação básica e depois se democratiza a universidade. Ambos os desafios são urgentes e precisam ser assumidos enfaticamente de forma simultânea.

4- as cotas baixam o nível acadêmico das nossas universidades. Diversos estudos mostram que, nas universidades onde as cotas foram implementadas, não houve perda da qualidade do ensino. Universidades que adotaram cotas (como a Uneb, Unb, UFBA e UERJ) demonstraram que o desempenho acadêmico entre cotistas e não cotistas é o mesmo, não havendo diferenças consideráveis. […] o estímulo e a motivação são fundamentais para o bom desempenho acadêmico.

5- a sociedade brasileira é contra as cotas. […] houve um progressivo e contundente reconhecimento da importância das cotas na sociedade brasileira. Mais da metade dos reitores e reitoras das universidades federais […] já é favorável às cotas. Pesquisas realizadas pelo Programa Políticas da Cor, na ANPED e na ANPOCS, duas das mais importantes associações científicas do Brasil, bem como em diversas universidades públicas, mostram o apoio da comunidade acadêmica às cotas, inclusive entre os professores dos cursos denominados “mais competitivos” (medicina, direito, engenharia etc). Alguns meios de comunicação e […] jornalistas têm fustigado as políticas afirmativas e, particularmente, as cotas. Mas isso não significa, obviamente, que a sociedade brasileira as rejeita.

6- as cotas não podem incluir critérios raciais ou étnicos devido ao alto grau de miscigenação da sociedade brasileira, que impossibilita distinguir quem é negro ou branco no país.  Somos, sem dúvida nenhuma, uma sociedade mestiça, mas o valor dessa mestiçagem é meramente retórico no Brasil. Na cotidianidade, as pessoas são discriminadas pela sua cor, sua etnia, sua origem, seu sotaque, seu sexo e sua opção sexual. Quando se trata de fazer uma política pública de afirmação de direitos, nossa cor magicamente se desmancha. Mas, quando pretendemos obter um emprego, uma vaga na universidade ou, simplesmente, não ser constrangidos por arbitrariedades de todo tipo, nossa cor torna-se um fator crucial para a vantagem de alguns e desvantagens de outros. A população negra é discriminada porque grande parte dela é pobre, mas também pela cor da sua pele. No Brasil, quase a metade da população é negra. E grande parte dela é pobre, discriminada e excluída. […].

Disponível em: https://www.ufmg.br/inclusaosocial/?p=53

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OS 10 MITOS SOBRE AS COTAS

7- as cotas vão favorecer aos negros e discriminar ainda mais aos brancos pobres.

Esta é, quiçá, uma das mais perversas falácias contra as cotas. O projeto atualmente tramitando na Câmara dos Deputados, PL 73/99, já aprovado na Comissão de Constituição e Justiça, favorece os alunos e alunas oriundos das escolas públicas, colocando como requisito uma representatividade racial e étnica equivalente à existente na região onde está situada cada universidade. Trata-se de uma criativa proposta onde se combinam os critérios sociais, raciais e étnicos. É curioso que setores que nunca defenderam o interesse dos setores populares ataquem as cotas porque agora, segundo dizem, os pobres perderão oportunidades que nunca lhes foram oferecidas. O projeto de Lei 73/99 é um avanço fundamental na construção da justiça social no país e na luta contra a discriminação social, racial e étnica.

8- as cotas vão fazer da nossa, uma sociedade racista.

O Brasil esta longe de ser uma democracia racial. No mercado de trabalho, na política, na educação, em todos os âmbitos, os/as negros/as têm menos oportunidades e possibilidades que a população branca. O racismo no Brasil está imbricado nas instituições públicas e privadas. E age de forma silenciosa. As cotas não criam o racismo. Ele já existe. As cotas ajudam a colocar em debate sua perversa presença, funcionando como uma efetiva medida anti-racista.

9- as cotas são inúteis porque o problema não é o acesso, senão a permanência.

Cotas e estratégias efetivas de permanência fazem parte de uma mesma política pública. Não se trata de fazer uma ou outra, senão ambas. As cotas não solucionam todos os problemas da universidade, são apenas uma ferramenta eficaz na democratização das oportunidades de acesso ao ensino superior para um amplo setor da sociedade excluído historicamente do mesmo. É evidente que as cotas, sem uma política de permanência, correm sérios riscos de não atingir sua meta democrática.

10- as cotas são prejudiciais para os próprios negros, já que os estigmatizam como sendo incompetentes e não merecedores do lugar que ocupam nas universidades.

Argumentações deste tipo não são freqüentes entre a população negra e, menos ainda, entre os alunos e alunas cotistas. As cotas são consideradas por eles, como uma vitória democrática, não como uma derrota na sua auto-estima, ser cotista é hoje um orgulho para estes alunos e alunas. Porque, nessa condição, há um passado de lutas, de sofrimento, de derrotas e, também, de conquistas. Há um compromisso assumido. Há um direito realizado. Hoje, como no passado, os grupos excluídos e discriminados se sentem mais e não menos reconhecidos socialmente quando seus direitos são afirmados, quando a lei cria condições efetivas para lutar contra as diversas formas de segregação. A multiplicação, nas nossas universidades, de alunos e alunas pobres, de jovens negros e negras, de filhos e filhas das mais diversas comunidades indígenas é um orgulho para todos eles. Fonte: Laboratório de Políticas Públicas/ UERJ

Disponível em: https://www.ufmg.br/inclusaosocial/?p=53

 

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Permanência e mudanças: mulheres negras no trabalho - Cida Bento — publicado 18/04/2017 00h31,

 

Os dados sobre as desigualdades que atingem a população negra são abundantes, e embora necessitem ser ampliados e aperfeiçoados quanto à perspectiva interseccional com gênero, ainda sim mostram uma inequívoca segmentação racial e de gênero no mercado de trabalho, apontada por pesquisadoras do IBGE, já há quase 40 anos.

Este cenário vem sendo agravado por iniciativas governamentais, tais como as reformas da Previdência, a terceirização e o congelamento dos gastos públicos por 20 anos, as quais terão impacto diferenciado sobre grupos historicamente vulneráveis, o que vem provocando fortes reações dos movimentos sociais, em particular do movimento de mulheres negras.

Por outro lado, também neste cenário, despontam alguns dos resultados das lutas do povo negro, na última década, a exemplo de sua presença expressivamente maior no contingente de estudantes de nível superior e nas respostas ainda isoladas, mas importantes, de grandes corporações com o escopo de ampliar a equidade racial no trabalho.

Assim, cumpre retomar brevemente alguns marcos importantes do processo contemporâneo de combate ao racismo e sexismo no mercado de trabalho, que remontam ao final da década de 80, período significativo no desenvolvimento de ações neste território. 

Marcos na luta por direitos

Nos anos 1980 e 1990, importantes textos sobre a mulher negra no mercado de trabalho foram publicados, como Mulher Negra (1985), de Sueli Carneiro e Tereza Santos; O lugar do negro na força de trabalho (1981), de Tereza Cristina Araújo, Lucia Helena Oliveira e Rosa Maria Porcaro; Desigualdade racial no Brasil contemporâneo (1991), escrito por Luiza Bairros e por mim; e Instrução, rendimento, discriminação racial e de gênero (1987), de Fúlvia Rosemberg, dentre tantas outras companheiras.

[…].

Esta denúncia deflagrou uma série de iniciativas que envolveram o Estado brasileiro, por meio do Ministério do Trabalho, com a criação do Grupo de Trabalho sobre Discriminação no Emprego e Ocupação (GTDEO), em 1996. Envolveu, ainda, o movimento sindical, destacando-se a elaboração de Cláusula de Promoção da Igualdade Racial, nos acordos coletivos de trabalho, além da realização de Conferências Internacionais com centrais sindicais dos EUA, África do Sul e Brasil e a criação do Instituto Interamericano Sindical pela Igualdade Racial (Inspir), que encomendou o Mapa do negro no mercado de trabalho brasileiro à Fundação Seade e ao Dieese, documento amplamente disseminado, na ocasião.

Também ocorreram, neste período, as primeiras iniciativas de debate com empresas sobre experiências de promoção da igualdade racial em seus quadros de pessoal. […].

Ainda neste período, por iniciativa de membros do movimento negro, foi realizado o contato com empresas norte-americanas que implementavam políticas de ação afirmativa, ou as chamadas políticas de diversidade, em suas matrizes, mas discriminavam negros nas filiais brasileiras.

Assim é que, entre final da década de 80 e meados de 2000, muitas ações ocorreram, pressionando o Estado e os órgãos ligados ao movimento sindical e as grandes corporações. […].

 

Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/economia/permanencia-e-mudancas-mulheres-negras-no-trabalho

 

 

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Permanência e mudanças: mulheres negras no trabalho - Cida Bento — publicado 18/04/2017 00h31,

 

O tamanho da desigualdade

[…] não há tendência de melhora na participação de negras e negros em posições de liderança das grandes empresas e apenas 3,6% delas têm políticas para inserção de afrodescendentes no quadro de funcionários. Em 2010, negros eram 5,3% dos executivos. Em 2015, 4,7%. Em 2007, eram 17% dos gerentes, e em 2015 sua proporção caiu para 6,3%.

No que diz respeito à ocupação de cargos executivos, por exemplo, as mulheres negras permanecem sub-representadas (0,6%),  além de possuírem a menor taxa empregabilidade, segundo estudo do Instituto Ethos.

De outro lado, a questão da trabalhadora doméstica negra merece um destaque particular, já que 63% das trabalhadoras domésticas são mulheres negras, segundo a Pnad/2012. Não há como negar o avanço legislativo consubstanciado na aprovação da PEC das Domésticas (PEC 72/13) e da Lei Complementar 150/15, que melhoraram a estrutura de proteção social do emprego doméstico.

[…] somente quatro em cada dez trabalhadoras domésticas estavam protegidas, e seus rendimentos médio se revelaram inferiores ao salário mínimo. Cresceu a proporção de trabalhadoras que prestam serviços em mais de um domicílio, de 21,4% há dez anos, para 31,1% atualmente, […] um aumento da composição das trabalhadoras diaristas ante as de emprego fixo.

Historicamente este grupo encontra-se em situação de maior precarização e vulnerabilidade frente ao desemprego. O seu nível de informalidade atual está acima da taxa da informalidade de brancos, de dez anos atrás.

[…] ao longo dos últimos anos os que mais sofrem e os maiores impactados em períodos de crise são justamente os setores mais oprimidos, com destaque para as mulheres negras, com menos oportunidades de emprego nos setores produtivos da sociedade.

Esta situação tem gerado intensas manifestações de rua, tais como a “Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo e pelo Bem Viver”, que levou 50 mil mulheres negras a Brasília, em 2015.

Observam-se também ações mais focadas, como aquelas realizadas pela Articulação de Mulheres Negras Brasileiras (AMNB) e o Fórum Permanente pela Igualdade Racial (Fopir), em Nova York, em março de 2017, que trataram da autonomia econômica de mulheres negras na Comissão sobre o Status da Mulher (CSW 61) da ONU. A pressão persiste.

[…]

No campo educacional, a presença da juventude negra no ensino superior teve um expressivo aumento – triplicou nos últimos 13 anos segundo a Síntese de Indicadores Sociais de 2015, produzida pelo IBGE, gerando forte pressão no mercado de trabalho, por empregos mais qualificados e dignos.

Este aumento tem a ver com a […] luta de organizações e ativistas […], e foi fortalecida pela decisão unânime do Supremo Tribunal Federal, em 2012, declarando a constitucionalidade das ações afirmativas para promover a igualdade, e, no mesmo ano, pela sanção da lei de cotas nas universidades federais (Lei 12.711/12) representando  avanços neste campo.

Saliente-se ainda a  reserva de 20% das vagas em concursos públicos da administração direta e indireta da União (Lei nº 12.990/14), que,  se replicada por outros órgãos municipais e estaduais e pela iniciativa privada, pode representar uma efetiva resposta à exclusão de milhares de jovens negras e negros de posições qualificadas no mercado de trabalho.

Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/economia/permanencia-e-mudancas-mulheres-negras-no-trabalho

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Permanência e mudanças: mulheres negras no trabalho - Cida Bento — publicado 18/04/2017 00h31,

 

Os desafios

Para que o mercado de trabalho contemple efetivamente este expressivo contingente de jovens negras e negros no ensino superior é necessário que as grandes corporações avancem no sentido de fazer diagnósticos em seus processos de recursos humanos (recrutamento, seleção, treinamento, promoção e demissão), de comunicação, marketing, de seus produtos e serviços, nos lugares de comando e prestígio etc.. para identificar e interferir nas razões pelas quais persistem os altos níveis de exclusão da juventude negra de seus quadros de pessoal, bem como dos quadros de seus fornecedores. E, neste sentido, o trabalho com os censos e indicadores podem contribuir enormemente.

A inserção do dado cor/raça nos sistemas de informação das empresas, em particular os de recursos humanos, contribui para que se possa averiguar as diferenças de oportunidades e tratamentos.

De outro lado, a inclusão das Cláusulas de Promoção da Equidade Racial nos acordos coletivos de trabalho podem ampliar a discussão e a conquista de avanços neste território. Estudo realizado por Dieese, Inspir, e Solidarity Center (em PDF) revelam que, do total de mesas de negociação com garantias de equidade racial, dentre as analisadas em 2015, o setor rural (12,8%) e a indústria (9,6%) são os que apresentaram os maiores percentuais.

Entre os estados que avançaram nesta questão, pode-se destacar Bahia (12,5%), Sergipe (11,7%), São Paulo (10,6%), Minas Gerais (7,9%) e Mato Grosso do Sul (6,7%). A maioria das cláusulas se refere à igualdade de oportunidades e não discriminação na contratação, promoção, demissão, isonomia salarial e à reserva de vagas. As cláusulas também focaram a realização de campanhas, ações e palestras sobre o tema, pelas empresas  e a necessidade de apuração e punição dos casos de discriminação. 

[…] a realização de diagnósticos institucionais, com vistas a oferecer orientações para a adoção de medidas que contribuam para a diminuição das desigualdades raciais e de gênero.

[…] implementação e aprimoramento de políticas públicas e práticas empresariais, em um esforço coletivo para superar a discriminação de gênero e raça nas empresas.

 

Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/economia/permanencia-e-mudancas-mulheres-negras-no-trabalho

 

 

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Navios negreiros - Por Ana Luíza Mello Santiago de Andrade

 

Os navios negreiros ou navios tumbeiros foram embarcações que fizeram a travessia do Atlântico, transportando mercadorias para troca no continente africano, homens e mulheres do continente africano para as colônias europeias no novo mundo, e produtos como açúcar e café, dentre tantos outros, para o continente europeu. Esse modelo de negócio ficou conhecido como comércio triangular, cuja principal atividade foi o tráfico negreiro, um dos negócios mais lucrativos do mundo à época, enviando cativos para sustentar as produções nas plantations ou explorações do ouro, como foi o caso do Brasil.

Os escravizados africanos foram retirados de seu continente num processo conhecido como diáspora africana. Foi através dos navios negreiros, que fizeram a travessia do atlântico, que estes indivíduos chegaram em novos lugares. A viagem era bastante difícil e durava cerca de dois meses, podendo ser prolongada por conta das tempestades e calmarias em alto mar.

Os maus tratos começavam antes mesmo de embarcar nos navios. Ficavam à espera do momento do emparque, amontoados e em condições precárias e eram levados por embarcações pequenas até o navio. Homens brancos compunham boa parte da tripulação e exerciam poder por meio de violência. O lugar destinado aos escravizados era o porão do navio, onde muitas vezes ficavam amontoados e acorrentados, mas não durante toda a viagem, pois se fizessem todo o trajeto presos não chegariam vivos ou chegariam em péssimas condições físicas, o que significaria uma perda de mercadoria significativa aos exploradores do trabalho escravo. Em alto mar os escravizados ficavam soltos nos porões e eram regularmente levados ao convés para se exercitar. O aprisionamento em correntes ocorria quando o navio se aproximava do porto. As condições nos navios eram precárias, sem ventilação nos porões – onde passavam boa parte do tempo – nem higiene adequada. A alimentação era bastante restrita e recebiam pequenas porções de farinha e carne seca e um pouco de água, que era rara até mesmo entre a tripulação.

Para garantir o lucro do negócio do tráfico a superlotação foi constante nos navios negreiros. Nos porões eram separados: de um lado ficavam os homens e no outro as mulheres e as crianças. O enjoo era constante e os dejetos humanos eram presenças constantes na realidade dos porões. Com certa frequência eram limpos com água do mar e vinagre a fim de suavizar os odores e a sujeira. Desta forma muitas foram as doenças que se alastraram nos navios e chegaram aos portos, como o sarampo, a diarreia e o escorbuto.

[…] Estudos das áreas de arqueologia, arquitetura e história concluíram que os porões dos navios eram normalmente divididos em três níveis: o porão propriamente, onde ficava o armazenamento de água e comida; a falsa coberta onde ficavam os escravizados; e a coberta para a tripulação. Mas, diversos foram os tipos de embarcação que realizaram tais atividades. Algumas foram construídas especificamente para o tráfico de cativos, mas a maioria do comércio foi feita com embarcações antigas adaptadas para este fim.

[…] embora altamente lucrativa, estabeleceu-se com base na exploração e violência contra homens e mulheres africanos. Tratar da escravidão, do tráfico atlântico e do cotidiano dos navios entendendo estes indivíduos apenas como carga humana é relega-los o papel mercadológico a que foram submetidos durante trezentos anos. É preciso destacar a contribuição dos africanos de diversas origens étnicas, suas ações, suas manifestações culturais e seu modo de ser e agir no mundo, que nos formam também enquanto nação.

 

Disponível em: https://www.infoescola.com/historia-do-brasil/navios-negreiros/

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Apartheid - Por Wagner de Cerqueira e Francisco (Graduado em Geografia)

 

O termo apartheid se refere a uma política racial implantada na África do Sul. De acordo com esse regime, a minoria branca, os únicos com direito a voto, detinha todo poder político e econômico no país, enquanto à imensa maioria negra restava a obrigação de obedecer rigorosamente à legislação separatista.

A política de segregação racial foi oficializada em 1948, com a chegada do Novo Partido Nacional (NNP) ao poder. O apartheid não permitia o acesso dos negros às urnas e os proibia de adquirir terras na maior parte do país, obrigando-os a viver em zonas residenciais segregadas, uma espécie de confinamento geográfico. Casamentos e relações sexuais entre pessoas de diferentes etnias também eram proibidos.

A oposição ao apartheid teve início de forma mais intensa na década de 1950, quando o Congresso Nacional Africano (CNA), organização negra criada em 1912, lançou uma desobediência civil. Em 1960, a polícia matou 67 negros que participavam de uma manifestação. O Massacre de Sharpeville, como ficou conhecido, provocou protestos em diversas partes do mundo. Como consequência, a CNA foi declarada ilegal e seu líder, Nelson Mandela, foi preso em 1962 e condenado à prisão perpétua.

Com o fim do império português na África (1975) e a queda do governo de minoria branca na Rodésia, atual Zimbábue (1980), o domínio branco na África do Sul entrou em crise. Esses fatos intensificaram as manifestações populares contra o apartheid. A Organização das Nações Unidas (ONU) tentou dar fim à política praticada no país. O presidente Piter Botha promoveu reformas, mas manteve os principais aspectos do regime racista.

Com a posse de Frederick de Klerk na presidência, em 1989, ocorreram várias mudanças. Em 1990, Mandela foi libertado e o CNA recuperou a legalidade. Klerk revogou as leis raciais e iniciou o diálogo com o CNA. Sua política foi legitimada por um plebiscito só para brancos, em 1992, no qual 69% dos eleitores (brancos) votaram pelo fim do apartheid.

Klerk e Mandela ganharam o Prêmio Nobel da Paz em 1993. Em abril de 1994, Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul nas primeiras eleições multirraciais do país.

O Parlamento aprovou a Lei de Direitos Sobre a Terra, restituindo propriedades às famílias negras atingidas pela lei de 1913, que destinou 87% do território à minoria branca.

As eleições parlamentares de 1999 foram vencidas pelo candidato indicado por Nelson Mandela, Thabo Mbeki, descartando qualquer tentativa de retorno a uma política segregacionista no país.

Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/geografia/apartheid.htm

 

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Luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos

 

A luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos começou a ter ampla repercussão mundial a partir da segunda metade do século XX. Essa luta teve vários focos, desde aqueles que optavam pela via da manifestação pacífica até outros que defendiam a luta armada e a criação de um Estado negro separatista.

Os vários movimentos negros que se engajaram nessa luta procuravam reverter de algum modo o estado de coisas que advinha do passado dos Estados Unidos. Esse passado, assim como o brasileiro, foi marcado pela escravidão negra, mas ao contrário do Brasil, quando veio o fim da escravidão, grande parte dos estados onde ela vigorava implementou leis de segregação racial.

 

Passado escravista e segregação racial

O regime de trabalho escravista era predominante nos estados do Sul dos EUA, onde vigorou o modelo econômico agrário com base nas grandes propriedades de terra (plantations). A Guerra Civil Americana, que opôs o modelo dos estados do Norte (avessos à escravidão) aos estados do Sul, durando de 1861 a 1865, pôs fim à escravidão, haja vista que houve a vitória do Norte, liderado pelo então presidente Abraham Lincoln.

O problema é que no mesmo ano em que teve fim a guerra e o modelo escravista, começaram a aparecer fortes resistências à realidade da libertação dos negros nos estados sulistas. Um exemplo notório foi o do ex-combatente das tropas do Sul, Nathan Bedford Forreste, que, em 1865, fundou a Ku Klux Klan, um misto de seita religiosa e grupo paramilitar racista. Mesmo com as tentativas de sufocamento desse tipo de organização por parte do governo federal durante o período de reestruturação do país (fim da década de 1860), na década de 1870, políticas segregacionistas começaram a ser implantadas em vários estados do Sul.

Essas leis segregacionistas determinavam desde a proibição de casamento entre negros e brancos até a separação de repartições públicas, como escolas, restaurantes etc. Além disso, o direito a benefícios essenciais, como educação, saúde e emprego, era desproporcionalmente oferecido nos estados onde vigorava a segregação. Os negros viam-se privados de quase todos esses direitos básicos.

Disponível em: https://alunosonline.uol.com.br/historia/luta-pelos-direitos-civis-dos-negros-nos-estados-unidos.html

 

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Movimentos pelos direitos civis dos negros

A partir da década de 1950, muitos movimentos pelos direitos civis começaram a aparecer nos EUA, não apenas vinculados à situação dos negros, mas também relacionados com a sexualidade e com o comportamento cultural. Esses movimentos tornaram-se amplamente expressivos a partir de 1960. Foi o caso do movimento hippie e do movimento gay.

Entre os movimentos pelos direitos civis dos negros, um dos pioneiros e mais expressivos foi a Conferência da Liberdade Cristã do Sul (SCLC – Southern Christian Leadership Conference), formada em 1957, em Montgomery, capital do estado do Alabama. O fundador dessa organização foi o pastor protestante da Igreja Batista Martin Luther King Jr.

Luther King tornou-se notável por sua proposta de ativismo pacifista, com estratégias de manifestação como boicotes e grandes passeatas. O ato mais famoso de King ocorreu no dia 28 de agosto de 1963, em Washington D.C., quando ele proferiu o famoso discurso “Eu tenho um sonho...” para milhares de pessoas que ocupavam a esplanada do Monumento a Washington.

Além da organização de King, outras se tornaram bastante conhecidas nos anos 1960 e 1970, como o nacionalismo separatista de Malcom-X, que defendia a criação de um Estado Negro separado dos Estados Unidos. Havia ainda o movimento Black Power, termo que deriva de um livro do escritor negro Richard Wright, mas cujas raízes remontam ao início do século XX. Podemos citar também o Partido dos Panteras Negras, organização de resistência policial da Califórnia que se tornou radical, com elementos de guerrilha urbana e ideologia comunista.

O fato é que, mesmo com a enorme pressão que esses movimentos faziam sobre as autoridades dos EUA à época, as transformações demoraram a ocorrer. No auge do movimento, no ano de 1963, aconteceram repressões de grande repercussão, com a que segue descrita abaixo:

Em abril de 1963, Luther King organizou uma série de protestos não violentos em Birmingham, Alabama. Em frente às câmaras de televisão nacional, o chefe de polícia da cidade supervisionou pessoalmente ataques contra a manifestação, prendendo centenas de pessoas e usando cachorros de ataque, gás lacrimogêneo, aparelhos de choque elétrico e jatos de água contra os manifestantes, inclusive crianças e idosos. A cobertura de eventos como esse na mídia chocou a nação e teve impacto importante no apoio crescente de brancos e negros em favor de direitos civis e no próprio governo, que foi forçado a agir. [1]

 

NOTAS

[1] PURDY, Sean. “O Século Americano”. In: KARNAL, Leandro [et al.]. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007. p. 245.

 

Disponível em: https://alunosonline.uol.com.br/historia/luta-pelos-direitos-civis-dos-negros-nos-estados-unidos.html

 

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Cultura afro-brasileira se manifesta na música, religião e culinária

 

Somente a partir do século XX, manifestações, rituais e costumes africanos começaram a ser aceitos e celebrados como expressões artísticas genuinamente nacionais

 

O Brasil tem a maior população de origem africana fora da África e, por isso, a cultura desse continente exerce grande influência, principalmente, na região Nordeste do Brasil.

Hoje, a cultura afro-brasileira é resultado também das influências dos portugueses e indígenas, que se manifestam na música, religião e culinária.

Devido à quantidade de escravos recebidos e também pela migração interna destes, os estados de Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul foram os mais influenciados.

No início do século XIX, as manifestações, rituais e costumes africanos eram proibidos, pois não faziam parte do universo cultural europeu e não representavam sua prosperidade. Eram vistas como retrato de uma cultura atrasada.

Mas, a partir do século XX, começaram a ser aceitos e celebrados como expressões artísticas genuinamente nacionais e hoje fazem parte do calendário nacional com muitas influências no dia a dia de todos os brasileiros.

Em 2003, a lei nº 10.639 passou a exigir que as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio incluíssem no currículo o ensino da história e cultura afro-brasileira.

[…]

 

Música

A principal influência da música africana no Brasil é, sem dúvidas, o samba. O estilo hoje é o cartão-postal musical do País e está envolvido na maioria das ações culturais da atualidade. Gerou também diversos sub-gêneros e dita o ritmo da maior festa popular brasileira, o Carnaval.

Mas os tambores de África trouxeram também outros cantos e danças. Além do samba, a influência negra na cultura musical brasileira vai do Maracatu à Congada, Cavalhada e Moçambique. Sons e ritmos que percorrem e conquistam o Brasil de ponta a ponta.

 

Capoeira

Inicialmente desenvolvida para ser uma defesa, a capoeira era ensinada aos negros cativos por escravos que eram capturados e voltavam aos engenhos.

Os movimentos de luta foram adaptados às cantorias africanas e ficaram mais parecidos com uma dança, permitindo assim que treinassem nos engenhos sem levantar suspeitas dos capatazes.

Durante décadas, a capoeira foi proibida no Brasil. A liberação da prática aconteceu apenas na década de 1930, quando uma variação (mais para o esporte do que manifestação cultural) foi apresentada ao então presidente Getúlio Vargas, em 1953, pelo Mestre Bimba. O presidente adorou e a chamou de “único esporte verdadeiramente nacional”.

A Capoeira é hoje Patrimônio Cultural Brasileiro e recebeu, em novembro de 2014, o título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

 

Disponível em: http://www.brasil.gov.br/noticias/cultura/2009/10/cultura-afro-brasileira-se-manifesta-na-musica-religiao-e-culinaria

 

 

 

 

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Cultura afro-brasileira se manifesta na música, religião e culinária

Religião

A África é o continente com mais religiões diferentes de todo o mundo. Ainda hoje são descobertos novos cultos e rituais sendo praticados pelas tribos mais afastadas.

Na época da escravidão, os negros trazidos da África eram batizados e obrigados a seguir o Catolicismo. Porém, a conversão não tinha efeito prático e as religiões de origem africana continuaram a ser praticadas secretamente em espaços afastados nas florestas e quilombos.

Na África, o culto tinha um caráter familiar e era exclusivo de uma linhagem, clã ou grupo de sacerdotes. Com a vinda ao Brasil e a separação das famílias, nações e etnias, essa estrutura se fragmentou. Mas os negros criaram uma unidade e partilharam cultos e conhecimentos diferentes em relação aos segredos rituais de sua religião e cultura.

As religiões afro-brasileiras constituem um fenômeno relativamente recente na história religiosa do Brasil. O Candomblé, a mais tradicional e africana dessas religiões, se originou no Nordeste. Nasceu na Bahia e tem sido sinônimo de tradições religiosas afro-brasileiras em geral. Com raízes africanas, a Umbanda também se popularizou entre os brasileiros. Agrupando práticas de vários credos, entre eles o catolicismo, a Umbanda originou-se no Rio de Janeiro, no início do século 20.

Culinária

Pratos como o vatapá, acarajé, caruru, mungunzá, sarapatel, baba de moça, cocada, bala de coco e muitos outros exemplos são iguarias da cozinha brasileira e admirados em todo o mundo.

Mas nenhuma receita se iguala em popularidade à feijoada. Originada das senzalas, era feita das sobras de carnes que os senhores de engenhos não comiam. Enquanto as partes mais nobres iam para a mesa dos seus donos, aos escravos restavam as orelhas, pés e outras partes dos porcos, que misturadas com feijão preto e cozidas em um grande caldeirão, deram origem a um dos pratos mais saborosos e degustados da culinária nacional. 

Disponível em: http://www.brasil.gov.br/noticias/cultura/2009/10/cultura-afro-brasileira-se-manifesta-na-musica-religiao-e-culinaria

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Grito Negro

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.

Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.

Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
queimar tudo com a força da minha combustão.

Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão.

Eu sou carvão.
Tenho que arder
Queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.

José João Craveirinha (Lourenço Marques, 28-05-1922 — Maputo, 06-02-2003) […]. Em 1991, tornou-se o primeiro autor africano galardoado com o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa.

Disponível em: https://www.contioutra.com/5-poemas-extraordinarios-do-mocambicano-jose-craveirinha/

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Mia Couto fala sobre a literatura de Moçambique e de sua relação com as palavras - Por Marcos Fidalgo

 

O trabalho como ecólogo ocupa a maior parte do tempo de António Emílio Leite Couto. O moçambicano de 55 anos, nascido na cidade de Beira, percorre todo seu país trabalhando em estudos ambientais, que vão desde levantamentos sobre Impactos ao meio ambiente até projetos de reabilitação de parques faunísticos.

Sua rotina profissional seria apenas essa se não fossem as insônias. São elas que despertam a escrita em seus dedos, levando para junto do sono a identidade do ecólogo António e trazendo a do escritor Mia, Mia Couto.

Filho de poeta, Mia publicou suas primeiras poesias com quatorze anos no jornal de sua cidade natal.

Hoje, com obras publicadas em mais de vinte e dois países, é o escritor moçambicano mais traduzido no mundo. Em março, lançou no Brasil Estórias Abensonhadas, livro que reúne contos do autor, escritos logo após o fim da guerra pela independência de Moçambique.

[…]

 

Os contos de Estórias Abensonhadas foram escritos logo após o fim da guerra pela independência de Moçambique. Qual era o cenário do país na ocasião e que peso ele teve nas construções de suas narrativas?

 

Mia Couto. Havia uma sede de tudo, uma ânsia de poder recomeçar, de voltar a nascer. Nós vivêramos 16 anos de guerra, cercados pela violência, sem esperança de que algum dia houvesse paz. E de repente, essa paz chegou. Estávamos incrédulos, no início. Aos poucos, foi um sentimento quase de embriaguez. Podíamos sair, sem medo, para a vida. Os contos desse livro refletem esse momento de renascimento de uma nação, e de cada um de nós que resistimos a um longo desfile de mortes e destruição. É incrível como, mesmo em meio desse drama, o que queríamos era rir, cantar, festejar a vida.

 

Passadas mais de três décadas da conquista da independência, o que mudou em Moçambique e na literatura do país?

 

Mia Couto. O país mudou completamente. Mudou o regime politico, mudou o regime de ser. Uma das razões da guerra foi o assalto contra um projeto socialista. Esse projeto nem precisava de tanto inimigo. Ele estava corrompido a partir de dentro. Hoje, não temos saudade do regime que foi deposto. Mas o que veio a seguir foi um capitalismo sem capitalistas, um mercado selvagem em que vale tudo. Dissolveram-se os laços solidários que antes dominaram as sociedades rurais e urbanas. Há uma enorme saudade do que fomos, mesmo que essa identidade do passado nunca tenha realmente existido. A literatura procura hoje denunciar esse universo de competição e de desrespeito pelos que não têm dinheiro nem poder. A literatura moçambicana cresceu, tornou-se uma literatura plural, tornou-se literaturas.

 

Disponível em: https://blog.saraiva.com.br/mia-couto-fala-sobre-a-literatura-de-mocambique-e-de-sua-relacao-com-as-palavras/

 

 

 

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Mia Couto fala sobre a literatura de Moçambique e de sua relação com as palavras - Por Marcos Fidalgo

 

O moçambicano de 55 anos, nascido na cidade de Beira, percorre todo seu país trabalhando em estudos ambientais, que vão desde levantamentos sobre Impactos ao meio ambiente até projetos de reabilitação de parques faunísticos.

 

Você é filho de poeta. Seu pai te incentivou a escrever?

 

Mia Couto. Ele teve uma importância decisiva. Não apenas porque era um poeta, mas porque vivíamos em estado de poesia em nossa casa. O meu pai nos ensinou a olhar para as pequenas coisas, ao jeito das lições de Manoel de Barros, procurando brilhos entre poeiras e cinzas do chão. Numa sociedade colonial muito violenta, ele nos conduziu a descobrirmos na vida e por nós mesmos o que os livros depois revelaram. Outra coisa: ele nos fez primeiro ouvir poetas dizendo os seus próprios versos. Através de gravações, através de noites de poesia em que ele mesmo e poetas amigos diziam os seus versos. Para nós, o que nos seduzia era o modo como aquelas pessoas se embeveciam com a palavra, como se fosse uma espécie de música.

 

Uma de suas características é a ‘invenção’ de palavras. Como foi que elas começaram a surgir?

 

Mia Couto. As palavras não se inventam. Quando muito descobrem-se, por baixo da poeira de uma linguagem funcional e que despromove a criatividade.

 

Você coloca em seus textos palavras de línguas nativas de Moçambique. Existe algum propósito explícito nisso?

 

Mia Couto. Isso surge naturalmente. Por vezes, não existe equivalente entre línguas europeias e as línguas africanas. Pensamos que tudo pode ser traduzido. Mas existem conceitos e categorias que não podem ser transpostos. Por exemplo, a palavra europeia "natureza" não tem equivalente nas línguas diversas de raiz bantu que se falam em Moçambique. Em contrapartida, o termo mais próximo, que nas línguas do Sul de Moçambique é "ntumbuluku", não quer dizer exatamente "natureza", mas um conceito mais integrado e holístico. Estamos perante uma filosofia que não distingue entre sociedade e natureza.

 

Seus textos são repletos de elementos mágicos. São fantasias captadas da cultura popular moçambicana ou são procedentes de alguma outra inspiração sua?

 

Mia Couto. O modo como os moçambicanos (e os brasileiros também) concebem e aceitam a chamada "realidade" é muito pouco realista. Não se trata de uma elaboração literária que uns designaram de "realismo mágico". Trata-se de uma filosofia, de um modo de estar de todo um povo que não leva muito a sério o chamado sentido da realidade e não se deixa intimidar por uma certa racionalidade que é muito normativa em relação à necessidade de festejar o corpo e a alegria de viver.

 

Disponível em: https://blog.saraiva.com.br/mia-couto-fala-sobre-a-literatura-de-mocambique-e-de-sua-relacao-com-as-palavras/

 

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A história do Caldeirão do Beato Zé Lourenço - Edson Veriato

No ano de 1890, Zé Lourenço chega a Juazeiro do Norte. Ele saiu da Paraíba, com outros romeiros, agricultores sem-terra, atraídos pela fama do Padre Cícero.

[…] Zé Lourenço participa do grupo dos Penitentes. Depois aconselhado pelo "Padim Ciço", ele arrenda uma terra no Sítio Baixa Dantas, perto do Crato. A terra era do Cel. João de Brito. O Padre Cícero sempre visitava o Sítio Baixa Dantas e ficava feliz de ver tanta fartura. […].

Em 1914, houve uma revolta entre Juazeiro e Fortaleza.
[…] o exército do governo passou pelo sítio e fez muitas destruições. Quando terminou a guerra, o Beato voltou para o sítio e recomeçou tudo de novo.

A paz não durou muito tempo. O Cel. João de Brito vendeu o terreno para outro proprietário e o novo dono exigiu a entrega das terras ocupadas pelo Beato. Naquele tempo não tinha nenhuma defesa para o trabalhador rural, nem sindicato existia. O Beato e todos os seus companheiros foram expulsos da terra, sem nenhuma indenização pelas benfeitorias de tantos anos. Isso aconteceu em 1922.

Em 1926, "Padim Ciço" mandou o Beato Zé Lourenço juntar umas famílias para tomar conta do Sítio Caldeirão. Esse sítio, de propriedade do "Padim Ciço", fica na Serra do araripe no município do Crato. Era chamado Caldeirão, devido o grande caldeirão de pedra que conservava água até o verão.

[…] o trabalho de tantos agricultores conseguiu transformar o Caldeirão em uma terra muito produtiva. Lá eles produziam, também, as ferramentas de trabalho, roupas e calçados.
Mil novecentos e trinta e dois foi o ano de grande seca em todo o Nordeste. Em todo canto morria gente de doença e de fome. Mas no Caldeirão não morreu nenhuma pessoa de fome. Nos armazéns tinha o suficiente para todo aquele povo comer. Não faltou comida pra ninguém, nem para os flagelados que chegaram.

Os políticos e donos de terras não viam com bons olhos a concentração de trabalhadores em Caldeirão, que além de não pagarem renda, dificultavam a mão de obra barata nas fazendas. […] tinham medo que o povo na posse da terra livre, criasse uma organização forte como a de Canudos.

Padre Cícero morreu em 1934, […]. Suas terras foram procuradas pelos Salesiano […].

[…]

Políticos da região, grandes proprietários de terra, a justiça e a Igreja juntam-se aos poderosos da capital e montam um plano de destruição contra o Caldeirão. A primeira expedição foi realizada em 11/09/1936 e foi comandada pelo capitão Cordeiro Neto […].

Inicialmente queriam oferecer passagens de trem para as famílias transportarem as bagagens e se retirar do local. O povo não aceitou. […]. Queimaram 400 casas, as moagens e as roças. Nenhuma arma foi apreendida, […] entre os dois mil habitantes do Caldeirão. Os soldados roubaram tudo que podiam levar.

A segunda expedição para destruir Caldeirão ocorreu em 11/05/1937, e encontrou resistência de um grupo liderado por Severino Tavares. […]. Nesse confronto morreram um capitão, seu filho, um sargento e um soldado. Outros soldados ficaram feridos. Três camponeses morreram.

O governo do Estado telegrafou pedindo reforço Federal que enviou uma esquadrilha de aviões. Bombardearam as casas e as roças dos trabalhadores. […]. Cerca de mil trabalhadores foram mortos.

[…], começaram tudo de novo. Quando já estavam situados, chegou uma carta dos salesianos, ordenando que ele se retirasse […]. Zé Lourenço saiu direto para Pernambuco, foi para a fazenda União, em Exu. Lá morreu de peste bubônica, no dia 12 de dezembro. Seu corpo foi sepultado em Juazeiro do Norte.

[…]

Disponível em: http://www.vermelho.org.br/noticia/297143-11

 

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