“(...) antes dos
anos 1920, não havia no Rio Grande do Norte uma forte tradição literária,
alguns autores escreviam suas obras, mas de forma isolada, pois não estavam
organizados em grupos, não tinham consciência coletiva daquilo que estava sendo
produzido. Poetas como Ferreira Itajubá, Auta de Souza, Henrique Castriciano,
Eloy de Souza e outros não estavam ainda integrados a um sistema literário no
sentido que lhe dá Antonio Candido (1997). As obras produzidas nesse período
são consideradas, portanto, “manifestações literárias” pelo fato de não
dialogarem entre si, isto é, por não haver entre elas uma consistente ligação
do ponto de vista estético, histórico ou formal.” (p. 01)
XII Congresso
Internacional da ABRALIC - Centro, Centros – Ética, Estética
18 a 22 de julho
de 2011 - UFPR – Curitiba, Brasilhttp://www.abralic.org.br/anais/cong2011/AnaisOnline/resumos/TC0910-1.pdf. Acesso em 02/01/2014, às 09:00h
.......................................
Auta de Souza (Macaíba, 12 de
setembro de 1876
— Natal, 7 de
fevereiro de 1901)
foi uma poetisa
brasileira da
segunda geração romântica (ultrarromântica,
byroniana
ou Mal do Século), autora de Horto.
Escrevia poemas românticos com alguma influência simbolista,
e de alto valor estético. Segundo Luís da Câmara Cascudo, é "a maior
poetisa mística do Brasil"
Filha de Elói Castriciano de Souza e Henriqueta Leopoldina Rodrigues e
irmã dos políticos norte-rio-grandenses Elói
de Sousa e Henrique Castriciano.
O cancioneiro de Auta de Sousa é composto pelos seguintes poemas:
"Estrelas fulgem da noite em meio
Lembrando círios louros a arder...
E eu tenho a treva dentro do seio...
Astros! velai-vos, que eu vou morrer!
Ao longe cantam. São almas puras
Cantando á hora do adormecer...
E o eco triste sobe ás alturas...
Moças! não cantem, que eu vou morrer!
As mães embalam o berço amigo,
Doce esperança de seu viver...
E eu vou sozinha para o jazigo...
Chorai, crianças, que eu vou morrer!
Pássaros tremem no ninho santo
Pedindo a graça do alvorecer...
Enquanto eu parto desfeita em pranto...
Aves, suspirem, que eu vou morrer!
De lá do campo cheio de rosas
Vem um perfume de entontecer...
Meu Deus! que mágoas tão dolorosas...
Flores! Fechai-vos, que eu vou morrer!"
Lembrando círios louros a arder...
E eu tenho a treva dentro do seio...
Astros! velai-vos, que eu vou morrer!
Ao longe cantam. São almas puras
Cantando á hora do adormecer...
E o eco triste sobe ás alturas...
Moças! não cantem, que eu vou morrer!
As mães embalam o berço amigo,
Doce esperança de seu viver...
E eu vou sozinha para o jazigo...
Chorai, crianças, que eu vou morrer!
Pássaros tremem no ninho santo
Pedindo a graça do alvorecer...
Enquanto eu parto desfeita em pranto...
Aves, suspirem, que eu vou morrer!
De lá do campo cheio de rosas
Vem um perfume de entontecer...
Meu Deus! que mágoas tão dolorosas...
Flores! Fechai-vos, que eu vou morrer!"
Não sei que paz imensa
Envolve a Natureza,
N’ess’hora de tristeza,
De dor e de pesar.
Minh’alma, rindo, pensa
Que a sombra é um grande véu
Que a Virgem traz do Céu
Num raio de luar.
Eu junto as mãos, serena,
A murmurar contrita,
A saudação bendita
Do Anjo do Senhor;
Enquanto a lua plena
No azul, formosa e casta,
Um longo manto arrasta
De lúrido esplendor.
Minhas saudades todas
Se vão mudando em astros...
A mágoa vai de rastros
Morrer na escuridão...
As amarguras doidas
Fogem como um lamento
Longe do Pensamento,
Longe do Coração.
E a noite desce, desce
Como um sorriso doce,
Que em sonhos desfolhou-se
Na voz cheia de amor,
Da mãe que ensina a Prece
Ao filho pequenino,
De olhar meigo e divino
E lábio aberto em flor.
Ah! como a Noite encanta!
Parece um Santuário,
Com o lindo lampadário
De estrelas que ela tem!
Recorda-me a luz santa,
Imaculada e pura,
Da grande noite escura
Do olhar de minha mãe!
Ó noite embalsamada
De castas ambrósias...
No mar das harmonias
Meu ser deixa boiar.
Afasta, ó noite amada,
A dúvida e o receio,
Embala-me no seio
E deixa-me sonhar!
Envolve a Natureza,
N’ess’hora de tristeza,
De dor e de pesar.
Minh’alma, rindo, pensa
Que a sombra é um grande véu
Que a Virgem traz do Céu
Num raio de luar.
Eu junto as mãos, serena,
A murmurar contrita,
A saudação bendita
Do Anjo do Senhor;
Enquanto a lua plena
No azul, formosa e casta,
Um longo manto arrasta
De lúrido esplendor.
Minhas saudades todas
Se vão mudando em astros...
A mágoa vai de rastros
Morrer na escuridão...
As amarguras doidas
Fogem como um lamento
Longe do Pensamento,
Longe do Coração.
E a noite desce, desce
Como um sorriso doce,
Que em sonhos desfolhou-se
Na voz cheia de amor,
Da mãe que ensina a Prece
Ao filho pequenino,
De olhar meigo e divino
E lábio aberto em flor.
Ah! como a Noite encanta!
Parece um Santuário,
Com o lindo lampadário
De estrelas que ela tem!
Recorda-me a luz santa,
Imaculada e pura,
Da grande noite escura
Do olhar de minha mãe!
Ó noite embalsamada
De castas ambrósias...
No mar das harmonias
Meu ser deixa boiar.
Afasta, ó noite amada,
A dúvida e o receio,
Embala-me no seio
E deixa-me sonhar!
Astros celestes, docemente louros,
Giram no espaço, em luminoso bando;
Ouve-se ao longe um violão plangente
E, mais além, n’um soluçar dolente,
Canções serenas, ao luar voando.
Quanta tristeza pela noite clara!
Quanta saudade pelo azul boiando!
Cuida-se ouvir, n’um dolorido choro,
As preces tristes de um magoado coro
De almas penadas ao luar rezando.
O céu parece uma igrejinha antiga
Que a lua branca vai alumiando...
E essas estrelas, muito além dispersas,
São rosas brancas no Infinito imersas,
Monjas benditas, ao luar chorando.
Os pirilampos, pelas moitas tristes,
Voam, calados e sutis, brilhando...
Lembram descrenças, a bailar sombrias,
Ilusões mortas de esquecidos dias,
Almas de loucos, ao luar passando.
Flocos de nuvens pela Esfera adejam,
Barcos de neve pelo Azul formando...
Semelham preces que se vão da terra,
Almas mimosas, que este mundo encerra,
De criancinhas, ao luar sonhando.
Eles parecem também velas brancas
Soltas, à toa pelo mar vogando...
Leves e tênues, a correr imensas,
Folhas de lírios pelo Ar suspensas,
Aves saudosas, ao luar chorando.
Ai! quem me dera ser também criança!
Ai! quem me dera andar também voando!
Fazer dos astros um barquinho amado,
N’ele vagar por todo o Céu dourado,
As minhas dores ao luar cantando!
Angicos - Junho de 1896.
Giram no espaço, em luminoso bando;
Ouve-se ao longe um violão plangente
E, mais além, n’um soluçar dolente,
Canções serenas, ao luar voando.
Quanta tristeza pela noite clara!
Quanta saudade pelo azul boiando!
Cuida-se ouvir, n’um dolorido choro,
As preces tristes de um magoado coro
De almas penadas ao luar rezando.
O céu parece uma igrejinha antiga
Que a lua branca vai alumiando...
E essas estrelas, muito além dispersas,
São rosas brancas no Infinito imersas,
Monjas benditas, ao luar chorando.
Os pirilampos, pelas moitas tristes,
Voam, calados e sutis, brilhando...
Lembram descrenças, a bailar sombrias,
Ilusões mortas de esquecidos dias,
Almas de loucos, ao luar passando.
Flocos de nuvens pela Esfera adejam,
Barcos de neve pelo Azul formando...
Semelham preces que se vão da terra,
Almas mimosas, que este mundo encerra,
De criancinhas, ao luar sonhando.
Eles parecem também velas brancas
Soltas, à toa pelo mar vogando...
Leves e tênues, a correr imensas,
Folhas de lírios pelo Ar suspensas,
Aves saudosas, ao luar chorando.
Ai! quem me dera ser também criança!
Ai! quem me dera andar também voando!
Fazer dos astros um barquinho amado,
N’ele vagar por todo o Céu dourado,
As minhas dores ao luar cantando!
Angicos - Junho de 1896.
Imagem santa que entrevejo em sonho,
Sempre, sempre a cantar,
Criatura inocente, anjo risonho,
Que me ensinaste a amar!
Meu doce amor! Calhandra maviosa
Que canta dentro em mim;
Minha esperança tímida e formosa,
Meu sonho de marfim!
Amaranto do Céu, flor encantada,
Mimoso colibri;
Minha açucena pálida e magoada,
Meu níveo bogari;
Gota de orvalho a tremular n’um lírio
Que mal começa a abrir;
Ó tu que apagas meu cruel martírio
E que me fazes rir;
Madressilva entreaberta, lira de ouro,
Celeste beija-flor;
Minha camélia, meu sorriso louro,
Amor de meu amor;
Guarda estes versos que só dizem mágoa
E tristezas sem fim...
Deixa-os no seio como a gota d’água
No cálix de um jasmim...
Sempre, sempre a cantar,
Criatura inocente, anjo risonho,
Que me ensinaste a amar!
Meu doce amor! Calhandra maviosa
Que canta dentro em mim;
Minha esperança tímida e formosa,
Meu sonho de marfim!
Amaranto do Céu, flor encantada,
Mimoso colibri;
Minha açucena pálida e magoada,
Meu níveo bogari;
Gota de orvalho a tremular n’um lírio
Que mal começa a abrir;
Ó tu que apagas meu cruel martírio
E que me fazes rir;
Madressilva entreaberta, lira de ouro,
Celeste beija-flor;
Minha camélia, meu sorriso louro,
Amor de meu amor;
Guarda estes versos que só dizem mágoa
E tristezas sem fim...
Deixa-os no seio como a gota d’água
No cálix de um jasmim...
Tão longe a casa! Nem sequer alcanço
Vê-la através da mata. Nos caminhos
A sombra desce; e, sem achar descanso,
Vamos nós dois, meu pobre irmão, sozinhos!
É noite já. Como em feliz remanso,
Dormem as aves nos pequenos ninhos...
Vamos mais devagar... de manso e manso,
Para não assustar os passarinhos.
Brilham estrelas. Todo o céu parece
Rezar de joelhos a chorosa prece
Que a Noite ensina ao desespero e a dor...
Ao longe, a Lua vem dourando a treva...
Turíbulo imenso para Deus eleva
O incenso agreste da jurema em flor.
Vê-la através da mata. Nos caminhos
A sombra desce; e, sem achar descanso,
Vamos nós dois, meu pobre irmão, sozinhos!
É noite já. Como em feliz remanso,
Dormem as aves nos pequenos ninhos...
Vamos mais devagar... de manso e manso,
Para não assustar os passarinhos.
Brilham estrelas. Todo o céu parece
Rezar de joelhos a chorosa prece
Que a Noite ensina ao desespero e a dor...
Ao longe, a Lua vem dourando a treva...
Turíbulo imenso para Deus eleva
O incenso agreste da jurema em flor.
Desce, meu Pai, a noite baixou mansa.
Nem uma nuvem se vê mais no céu:
Aninharam-se aqui no peito meu,
Onde, chorando, a negra dor descansa.
Quando morreste eu era bem criança,
Balbuciava, sim, o nome teu,
Mas d’este rosto santo que morreu
Já não conservo a mínima lembrança.
A noite é clara; e eu, aqui sentada,
Tenho medo da lua embalsamada,
Corta-me o frio a alma comovida.
Se lá no Céu teu coração padece,
Vem comigo rezar a mesma prece:
Tua bênção, meu pai, me dará vida!
Nem uma nuvem se vê mais no céu:
Aninharam-se aqui no peito meu,
Onde, chorando, a negra dor descansa.
Quando morreste eu era bem criança,
Balbuciava, sim, o nome teu,
Mas d’este rosto santo que morreu
Já não conservo a mínima lembrança.
A noite é clara; e eu, aqui sentada,
Tenho medo da lua embalsamada,
Corta-me o frio a alma comovida.
Se lá no Céu teu coração padece,
Vem comigo rezar a mesma prece:
Tua bênção, meu pai, me dará vida!
Que é feito de meu sonho, um sonho puro
Feito de rosa e feito de alabastro,
Quimera que brilhava, como um astro,
Pela noite sem fim do meu futuro?
Que é feito deste sonho, o cofre aberto
Que recebia as gotas de meu pranto,
Bagas de orvalho, folhas de amaranto,
Perdidas na solidão de meu deserto?
Ele passou como uma nuvem passa,
Roçando o azul em flor do firmamento...
Ele partiu, e apenas o tormento,
Sobre minh’alma triste, inda esvoaça.
Meu casto sonho! Lá se foi cantando,
Talvez em busca de uma pátria nova.
Deixou-me o coração como uma cova,
E dentro dele, o meu amor chorando.
Nunca mais voltará... Pois, que lhe importa
Esta morada lúgubre e sombria?
Não pode agasalhar uma alegria
Minh’alma, pobre morta!
Feito de rosa e feito de alabastro,
Quimera que brilhava, como um astro,
Pela noite sem fim do meu futuro?
Que é feito deste sonho, o cofre aberto
Que recebia as gotas de meu pranto,
Bagas de orvalho, folhas de amaranto,
Perdidas na solidão de meu deserto?
Ele passou como uma nuvem passa,
Roçando o azul em flor do firmamento...
Ele partiu, e apenas o tormento,
Sobre minh’alma triste, inda esvoaça.
Meu casto sonho! Lá se foi cantando,
Talvez em busca de uma pátria nova.
Deixou-me o coração como uma cova,
E dentro dele, o meu amor chorando.
Nunca mais voltará... Pois, que lhe importa
Esta morada lúgubre e sombria?
Não pode agasalhar uma alegria
Minh’alma, pobre morta!
O teu olhar azul claro
Reflete não sei que luz,
O brilho fulgente e raro
Do meigo olhar de Jesus.
Eu cuido ver todo o encanto,
Toda a beleza do Céu,
Nestes teus olhos sem pranto,
N’estes teus olhos sem véu.
Sinto uma doce ventura,
Uma alegria sem fim,
Se d’eles a chama pura
A’s vezes cai sobre mim.
São flores azuis boiando
À tona d’água, de leve,
Esses dois olhos beijando
O teu semblante de neve!
Angicos - 1896.
Reflete não sei que luz,
O brilho fulgente e raro
Do meigo olhar de Jesus.
Eu cuido ver todo o encanto,
Toda a beleza do Céu,
Nestes teus olhos sem pranto,
N’estes teus olhos sem véu.
Sinto uma doce ventura,
Uma alegria sem fim,
Se d’eles a chama pura
A’s vezes cai sobre mim.
São flores azuis boiando
À tona d’água, de leve,
Esses dois olhos beijando
O teu semblante de neve!
Angicos - 1896.
Quando eu deixar a terra, anjo inocente,
Ó meu formoso lírio perfumado!
Reza por mim, de joelhos, docemente,
Postas as mãos no seio imaculado,
Quando eu deixar a terra, anjo inocente!
És a estrela gentil das minhas noites,
Noites que mudas no mais claro dia.
Não tenho medo aos gélidos açoites
Da escuridão se a tua luz me guia,
Ó estrela gentil das minhas noites!
Quando eu deixar a terra, dá-me flores
Boiando à tona de um sorriso teu;
Que os risos das crianças são andores
Onde os anjos nos levam para o céu...
Quando eu deixar a terra, quero flores!
Flores e risos me tecendo o manto,
Manto celeste feito de esperanças...
Quando eu d’aqui me for, não quero pranto,
Só quero riso, preces de criança:
Flores e risos me tecendo um manto!
Anjo moreno de alma cor de lírio,
Mais branca do que a estrela da Alvorada...
Meu coração na hora do martírio
Pede o consolo de uma prece amada,
Anjo moreno de asas cor do lírio!
Quando eu deixar a terra, anjo inocente,
Ó meu formoso lírio perfumado!
Reza por mim, de joelhos, docemente,
Postas as mãos no seio imaculado,
Quando eu deixar a terra, anjo inocente!
Serra da Raiz - Fevereiro de 1898.
Ó meu formoso lírio perfumado!
Reza por mim, de joelhos, docemente,
Postas as mãos no seio imaculado,
Quando eu deixar a terra, anjo inocente!
És a estrela gentil das minhas noites,
Noites que mudas no mais claro dia.
Não tenho medo aos gélidos açoites
Da escuridão se a tua luz me guia,
Ó estrela gentil das minhas noites!
Quando eu deixar a terra, dá-me flores
Boiando à tona de um sorriso teu;
Que os risos das crianças são andores
Onde os anjos nos levam para o céu...
Quando eu deixar a terra, quero flores!
Flores e risos me tecendo o manto,
Manto celeste feito de esperanças...
Quando eu d’aqui me for, não quero pranto,
Só quero riso, preces de criança:
Flores e risos me tecendo um manto!
Anjo moreno de alma cor de lírio,
Mais branca do que a estrela da Alvorada...
Meu coração na hora do martírio
Pede o consolo de uma prece amada,
Anjo moreno de asas cor do lírio!
Quando eu deixar a terra, anjo inocente,
Ó meu formoso lírio perfumado!
Reza por mim, de joelhos, docemente,
Postas as mãos no seio imaculado,
Quando eu deixar a terra, anjo inocente!
Serra da Raiz - Fevereiro de 1898.
Teu nome santo, ó Maria,
Tem a doçura inocente
De uma carícia macia,
De uma quimera dolente.
Nele se embala a Esperança
N’uma meiguice dileta,
Como no berço a criança,
Como no verso o poeta.
Do céu teu nome nos desce
Numa harmonia divina,
Como um cicio de prece
Nos lábios de uma menina.
Teu nome é setíneo laço
Prendido em formoso véu,
Qual branca nuvem no espaço,
Qual uma estrela no céu.
Teu nome reflete a imagem
Da melodia serena
Que passa rindo n’aragem
E no voejar da falena.
Uma blandícia suave
Nele cantando divaga,
Como no azul uma ave,
Como no mar uma vaga.
Teu nome, cheiroso lírio,
No níveo cálice encerra
Todo o mistério do Empíreo,
Toda a alegria da Terra.
Como um contraste do encanto,
N’este teu nome diviso
Toda a saudade do pranto
E todo o afago do riso...
Ah! todo o perfume amado,
Toda a fragrância mimosa
Que o colibri namorado
Bebe no seio da rosa;
Toda a pureza do Amor,
Todo o feitiço do olhar,
Orvalho a cair na flor,
Sereno a cair no mar...
Tudo em teu nome palpita,
Tudo embriaga e seduz,
Como a delícia infinita
De um paraíso de luz.
E n’um canto repassado
De lirismo que extasia,
Teu nome vive embalado,
Teu nome santo, ó Maria!
Tem a doçura inocente
De uma carícia macia,
De uma quimera dolente.
Nele se embala a Esperança
N’uma meiguice dileta,
Como no berço a criança,
Como no verso o poeta.
Do céu teu nome nos desce
Numa harmonia divina,
Como um cicio de prece
Nos lábios de uma menina.
Teu nome é setíneo laço
Prendido em formoso véu,
Qual branca nuvem no espaço,
Qual uma estrela no céu.
Teu nome reflete a imagem
Da melodia serena
Que passa rindo n’aragem
E no voejar da falena.
Uma blandícia suave
Nele cantando divaga,
Como no azul uma ave,
Como no mar uma vaga.
Teu nome, cheiroso lírio,
No níveo cálice encerra
Todo o mistério do Empíreo,
Toda a alegria da Terra.
Como um contraste do encanto,
N’este teu nome diviso
Toda a saudade do pranto
E todo o afago do riso...
Ah! todo o perfume amado,
Toda a fragrância mimosa
Que o colibri namorado
Bebe no seio da rosa;
Toda a pureza do Amor,
Todo o feitiço do olhar,
Orvalho a cair na flor,
Sereno a cair no mar...
Tudo em teu nome palpita,
Tudo embriaga e seduz,
Como a delícia infinita
De um paraíso de luz.
E n’um canto repassado
De lirismo que extasia,
Teu nome vive embalado,
Teu nome santo, ó Maria!
- Rezando (que deu origem à canção Róseo Menino)
·
Róseo menino
Feito de luz,
Lírio divino,
Santo Jesus!
Meu cravo olente,
Cor de marfim,
Pobre inocente,
Branco jasmim!
Entre as palhinhas,
Pequeno amor,
Das criancinhas
Tu és a flor.
Cabelo louro,
Olhos azuis...
És meu tesouro,
Manso Jesus!
Estrela pura,
Santo farol,
Flor de candura,
Raio de sol...
Dá-me a esperança
N’um teu olhar:
Loura criança,
Me ensina a amar.
Sonho formoso
Cheio de luz,
Jesus piedoso,
Meu bom Jesus...
Como eu te adoro,
Pequeno assim!
Jesus, eu choro,
Tem dó de mim.
No doce encanto
De um riso teu,
Jesus tão santo,
Leva-me ao Céu!
Em ti espero,
Mostra-me a luz...
Leva-me, eu quero
Ver-te Jesus!
Feito de luz,
Lírio divino,
Santo Jesus!
Meu cravo olente,
Cor de marfim,
Pobre inocente,
Branco jasmim!
Entre as palhinhas,
Pequeno amor,
Das criancinhas
Tu és a flor.
Cabelo louro,
Olhos azuis...
És meu tesouro,
Manso Jesus!
Estrela pura,
Santo farol,
Flor de candura,
Raio de sol...
Dá-me a esperança
N’um teu olhar:
Loura criança,
Me ensina a amar.
Sonho formoso
Cheio de luz,
Jesus piedoso,
Meu bom Jesus...
Como eu te adoro,
Pequeno assim!
Jesus, eu choro,
Tem dó de mim.
No doce encanto
De um riso teu,
Jesus tão santo,
Leva-me ao Céu!
Em ti espero,
Mostra-me a luz...
Leva-me, eu quero
Ver-te Jesus!
·
Macaíba - Noite de Natal -
1896.
Teus anos amanhã. Fui ver, contente,
(E como procurei por toda parte!)
Um mimo que te desse... e achei, somente,
Meu triste coração, mimo sem arte.
Mas... o que dirás tu quando, de leve,
Bem cedinho batendo à tua porta,
Vires meu coração frio, de neve,
Pobre flor sem perfume e quase morta?
Manda-o entrar... E diz, ó doce amada!
Que ele se aqueça d’esse olhar no brilho...
Vai de tão longe te pedir pousada:
Deixa-o ficar no berço de teu filho...
Angicos, 2 de Maio de 1896.
(E como procurei por toda parte!)
Um mimo que te desse... e achei, somente,
Meu triste coração, mimo sem arte.
Mas... o que dirás tu quando, de leve,
Bem cedinho batendo à tua porta,
Vires meu coração frio, de neve,
Pobre flor sem perfume e quase morta?
Manda-o entrar... E diz, ó doce amada!
Que ele se aqueça d’esse olhar no brilho...
Vai de tão longe te pedir pousada:
Deixa-o ficar no berço de teu filho...
Angicos, 2 de Maio de 1896.
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