sábado, 4 de janeiro de 2014

Literatura do Rio Grande do Norte - Ferreira Itajubá

Manoel Virgílio Ferreira nasceu em 21 de agosto, de um ano ainda incerto, na cidade do Natal, Rio Grande do Norte. Foi filho do pescador Joaquim José Ferreira e da artesã Francisca Ferreira de Oliveira. O ano de seu nascimento é impreciso, a dúvida fica entre 1875, 1876 e 1877. Alguns autores defendem o ano de 1875, como afirma Clementino Câmara no discurso de posse da Academia Norte-rio-grandense de Letras (1951), enquanto outros 1876, como é caso de Ezequiel Wanderley e Câmara Cascudo,

respectivamente, nas obras Poetas do Rio Grande do Norte (1922) e Alma Patrícia (1921).

O irrequieto Itajubá, além de oficiar a doutrina protestante, era adepto da maçonaria, sócio benemérito e orador da Liga Artístico-Operária “a mais antiga sociedade operária do Estado” (GOMES, 1944:31), entidade que defendia princípios socialistas.

Casou-se duas vezes, a primeira vez com Emília Marques da Silva, com quem teve um filho, Nazareno Ferreira Itajubá, e a segunda vez com Maria Antonieta.

Ferreira Itajubá era um participante ativo de eventos político-sociais (inaugurações, homenagens, benefícios) nos quais esbanjava sua verve em oratória apossando-se das tribunas, discursando com entusiasmo e fervor na defesa de suas convicções.

Como se vê, nunca fora de grandes posses e de escolaridade ampla, por isso fora incompreendido pelo espírito inquieto, diminuído pelo seu comportamento boêmio, criticado por sua linguagem menor e julgado muitas vezes como incapaz de ser poeta.

No início de 1912, já doente, viaja para o Rio de Janeiro em busca de tratamento, aonde vem a falecer na Santa Casa de Misericórdia, em 30 de julho de 1912.

http://www.cchla.ufrn.br/shXVIII/artigos/GT30/PINHEIRO%20Mayara%20Costa%20Ferreira%20Itajuba%20Algumas%20consideracoes%20sobre%20autor%20e%20obra%20-%20GT%2030.pdf. Acesso em 03/01/2014, às 08:46.

 

Existem controvérsias quanto à sua data de nascimento. O próprio poeta assinou certo documento declarando que nasceu em 1877. Na casa em que nasceu, na rua Chile, 63, existe hoje uma placa de mármore com os dizeres: 1875. Câmara Cascudo defende o ano de 1876.

Ferreira Itajubá aprendeu as primeiras letras, com o professor Tertuliano Pinheiro (Terto) e com Joaquim Lourival Soares da Câmara, o Professor Panqueca, filho do consagrado poeta Lourival Açucena.

Era filho de potiguares. Seu pai, Joaquim José Ferreira, morreu de varíola quando ele tinha apenas seis anos. Sua mãe, Francisca Ferreira de Oliveira, nasceu em Morrinhos, no município de Touros. Foi ela quem criou o poeta, que teve que trabalhar desde cedo.

Aos doze anos, começou a trabalhar na loja de Antônio Sátiro, na rua Chile. Depois de quatro anos, foi morar em Macau, onde trabalhou na loja de Antônio Deodato. Lá, adoeceu de varíola e logo retornaria a Natal, e ao antigo emprego, mas com melhor salário e permissão para estudar. Mas com a morte de seu patrão, teve de procurar por outras fontes de renda. Fundou um circo no quintal de sua casa, e trabalhou como escrevente na Associação de Praticagem, em Natal, Macau e Areia Branca. Foi bedel da escola onde estudou, o Atheneu, e pintava letreiros comerciais nas horas vagas.

Funda em 1896, o jornal literário O Echo, de circulação semanal. No ano seguinte, funda a revista A Manhã. Escreveu para quase todos os jornais de seu tempo, entre eles: A República, Diário de Natal, Gazeta do Comércio, A Capital, O Trabalho, O Arurau, A Tampa, A Rua, Pax, O Torpedo.

Sua poesia era ligada ao Romantismo, mas com influência do Parnasianismo e do Simbolismo.

Foi criticado pela condição econômica e também pela pouca escolaridade.

Obra

  • Terra Natal (1914)
  • Harmonias do Norte(1927)
  • Dispersos(2009)
  • Lenda de Extremoz
  • Perfil de Jesus

Ferreira Itajubá escreveu o poema No Campo Santo, em homenagem póstuma ao também poeta e conterrâneo Lourival Açucena:

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Morreste e não soubeste, ó grande veterano,
Que, quando por Natal, a rosa todo ano
Floresce alegremente, entre as demais roseiras,
O prado embalsamando, ao lado das primeiras,
esta alma não rebenta em rosas de ilusão
Como quando cantaste ao som do violão.
Cquote2.svg

http://pt.wikipedia.org/wiki/Ferreira_Itajub%C3%A1. Acesso em 03/01/2014, às 08:31

 

Agosto. O claro mês dos meus anos. Que anseio

De ser asa migrante e fugir pelos ares,

Pelos longes do céu, através desses mares,

Em busca do calor do sol de um clima alheio!

     Mistério e inconstância. Duas palavras que podem definir os quase 35 anos de vida do poeta Ferreira Itajubá. O mistério começa pelo seu nascimento que, não se sabe ao certo, pode ter acontecido em 1875, 76 ou 77. O último ano é o mais provável. A 21 de agosto para ser mais preciso. Pelo menos foi o que assinalou o próprio poeta no termo de nomeação para servente na Associação de Praticagem. Onde nasceu? No Rio Grande do Norte, provavelmente na Praia de Touros. O sobrenome com o qual passou para a História também não era seu. Nascido Manuel Virgílio Ferreira, incorporou o Itajubá em seus primeiros versos e depois definitivamente à sua vida. A inconstância aparece no que em circunstâncias normais se chamaria de vida profissional. Foi auxiliar do comércio, orador popular, jornalista, professor, funcionário público e dono de circo, cujos espetáculos tinham lugar no quintal de sua casa. Mas acima de qualquer coisa, Ferreira Itajubá exerceu duas principais “funções” em sua passagem por este mundo: a de poeta e de boêmio.

 

Que saudade sem fim de outras terras me veio!

Que ânsia de me esquecer por estranhos lugares!

Pois se não tenho aqui lenitivo aos pesares,

Quanto mais quem me aqueça ao mormaço de um seio!

 

     Ferreira Itajubá tinha alma de poeta. Talvez daí sua brevidade neste mundo. Com a alma cheia de poesia, não precisou de grandes estudos. Tinha apenas a instrução primária. Segundo Câmara Cascudo, “morreu sem suspeitar a existência da gramática”. O que em nada diminui o valor de seus versos, “de um lirismo espontâneo, sonoros e ricos de seiva poética”, como disse Veríssimo de Melo. Na introdução de Poesias Completas - obra que reúne os dois livros de Ferreira Itajubá, Terra Natal e Harmonias do Norte -, Esmeraldo Siqueira observa: “No poema de Itajubá, o largo sopro lírico assume facetas sugestivas e variadas. É romântico, amoroso, saudosista, filial, regionalista, patriótico. Não lhe falta mesmo a nuança filosófica, o sentimento da fuga vertiginosa do tempo e da precariedade da vida”.

Minha mãe? Minha irmã? Duas mulheres santas

Mas inda falta alguém nesse longo caminho

Que tem na mocidade o perfume das plantas...

     Alma de poeta e de criança. Já adulto, empinava enormes papagaios (pipas, pandorgas) de papel de seda e, na época de São João, virava fogueteiro. Seu humor também era mostrado no jornal O Echo, que ele mesmo criou. Colaborou em todos os jornais da época. Ainda que raramente, também nos jornais A República e Rio Grande do Norte, políticos e sisudos, bem diferentes de seu estilo boêmio. Como homem simples e com a loucura dos poetas, também buscou auxílio na Bíblia, encarnando um pastor.

E como não posso ir, e como vais e eu fico,

À noiva que me espera à beira de algum ninho,

Ave de arribação, leva esta flor no bico!

     A mãe, a irmã e a misteriosa Branca eram suas fontes de inspiração. E quem era Branca? Seu amor , às vezes perto, às vezes distante, junto ao marido e que, segundo o escitor Nilson Patriota, em seu livro Itajubá Esquecido, poderia ser Emília Ribeiro, nativa da Praia de Touros. O poeta que vivia de saudades e amores oníricos morreu no Rio de Janeiro, para onde tinha ido em busca de recursos médicos inexistentes em Natal, a 30 de junho de 1912. Lá foi enterrado e, anos depois, por iniciativa de Henrique Castriciano, seus restos mortais foram levados para Natal e temporariamente depositado no ossuário da Igreja de Bom Jesus das Dores. Numa das remodelações da igreja, um frade juntou “as velharias existentes, inclusive os ossos que encontrou aqui e ali e lançou tudo numa vala comum, ao lado da igreja”. Os ossos de Itajubá estavam no meio. Termina assim a breve história do poeta, bem diferente do que ele imaginara.

Hei de morrer cantando

num domingo formoso

Quando alveja no espaço o luar saudoso

O fulgor das estrelas empanando

 

http://www.memoriaviva.com.br/itajuba/. Acesso em 03/01/2014. 08:18.

 

Recordação

 

Vi-te. Era noite, a lua descorada

Brilhava nas paragens luminosas

E a noite estava toda embalsamada,

Por que exalavam no canteiro as rosas.

Das esferas azuis, de etéreas pagas.

A luz descia cristalina, em jorros:

Ao longe as águas sem rumos das vagas

E a solidão tristíssima dos morros!

 

Quando te vi, quando me viste, amamos...

Branca, não sei se recordas... quando

Era a terra um rosal e, pelos ramos,

O mês do incenso ia desabrochando...

Amamo-nos e vivemos docemente

Sobre aterra cheirosa, erma de escolhos,

E eu me banhava apaixonadamente

No santíssimo orvalho de teus olhos

 

Que febre imensa a do primeiro beijo!

Mornos, teus seios virgens palpitavam...

Ah, quantas vezes, cheios de desejo

Os meus lábios nos teus castanholavam!

Então, se eu te falava em noivado,

Tu me dizias:”meu amor espera,

Deixa que alveje a lua se pecado,

Até que volte o sol da primavera”

 

Desse tempo risonho do passado

Cheio de tantos sonhos, de ilusões,

Eu tenho o peito agora incendiado

No fogo vivo das recordações...

De ti me lembro. e quando, nestas plagas,

A luz desaba cristalina, em jorros,

Eu vejo ao longe, sem rumos, as vagas

E a solidão tristíssima dos morros.

 
Barcarola

Não te recordas, querida,
Da noite em que nos amamos,
Sob a frescura dos ramos
Da laranjeira florida?
Gemia a viola na aldeia,
A brisa um hino entoava
E a luz da lua inundava
A terra, de rosas cheia!

Lá na planície da serra,
junho alourava as espigas,
vinham de longe as. cantigas
das moças de minha terra,
quando te vi, linda flor,
e da nolte à doce calma,
derramaste na minha alma
o efluvio do teu calor!

Saudade! quanta saudade
da noite em que, ao céu sereno,
tu me abriste o seio, pleno
de aroma e de mocidade!
A' sombra da laranjeira,
por ti, visão da alegria,
do meu beijo a cotovia
cantou, pela vez primeira!

Tu esqueceste os ditosos
domingos embalsamados,
e os cantos apaixonados
dos jangadeiros saudosos
que, ao céu transparente e azul,
do estio nas tardes belas,
passavam, molhando as velas
abertas ao vento sul!

Tudo esqueceste, e mais nada
resta em tua alma enganosa,
dessa paixão desditosa,
dessa ilusão desfolhada,
que lembro todos os dias,
pensativo, a cada instante,
Ó lavandisca inconstante
das areias alvadias!

Talvez que esta alma não possa
acreditar, nunca mais,
nos teus beijos aromais,
nos teus sorrisos de moça!
Ai, meu doce malmequer,
que me deixaste em janeiro,
- como tudo é passageiro
no coração da mulher!

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