segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Literatura do Rio Grande do Norte - Gothardo Netto


José Gothardo Emerenciano Netto nasceu em Natal (Rio Grande do Norte), no dia 24 de julho de 1881 e morreu na mesma cidade, em 7 de maio de 1911.

Como Itajubá, de quem era íntimo amigo, é autor de apenas um livro, também póstumo, que foi lançado em 1913, com o título de Folhas Mortas. Também jornalista, Gothardo, identicamente ao amigo, tornou-se reconhecido por sua capacidade de fazer versos, mesmo de improviso, quando das noitadas dos pastoris. Embora esmerado nos sonetos, já apontando para uma postura parnasiana, verseja e morre como autêntico romântico, bebendo sem controle, por um amor não correspondido.

(Tarcísio Gurgel in Informação da Literatura Potiguar, Natal 2001)

Apesar de ter vivido apenas 30 anos e de não ter podido completar os seus estudos, Gothardo, pelo valor de sua inspiração, situa-se, como Ferreira Itajubá, entre os grandes poetas norte-rio-grandenses do início do século passado, participando de nossas principais antologias desde Ezequiel Wanderley em 1922 até Assis Brasil, em 1999.

Filho do professor Zuza (José Ildefonso Emerenciano), que mantinha uma escola particular e dava aulas em sua residência, Gothardo Neto viveu em companhia do pai toda sua vida. As dificuldades materiais cedo obrigaram-no a suspender os estudos e entrar na vida prática, empregando-se na Capitania dos Portos, na Ribeira, e trabalhando também na redação da "Gazeta do Comércio". Pertenceu à Oficina Literária "Lourival Açucena", que publicava o jornal "O Potiguar".

Um amor impossível pela jovem Maria das Mercedes levou-o a perder o primeiro emprego; o empastelamento do jornal, o segundo. Sem amor e sem emprego, bebendo descontroladamente, viveu os últimos anos de vida na casa do pai, isolado do mundo, contatando apenas com uns poucos amigos, dentre os quais, Jorge Fernandes, Ferreira Itajubá, Ponciano Barbosa e Francisco Ivo. Foi homenageado como patrono da cadeira número 24 da Academia Norte-rio-grandense de Letras, cujo primeiro ocupante foi Francisco Ivo.

(Deífilo Gurgel e Nélson Patriota in 400 Nomes de Natal, Natal 2000)

Página Azul II


Vejo-a agora passar... Volta do banho,

Volta, que ainda as pérolas mimosas

Descem das ondas puras e formosas

Do cabelo aromático e castanho.

Na carne em flor, de um colorido estranho,

Tem vivas seduções pecaminosas...

- As antigas belezas fabulosas

Jamais brilharam em fulgor tamanho.

Todos dirão: - que mágicos olhares

Tem essa virgem lânguida e franzina,

Essa flor das morenas potiguares!

E passa ... e passa com gentil verdade,

No doce encanto da mulher divina,

No divino esplendor da Mocidade.


Fonte: geraldo2006


Acesso em 04/01/2014, às 09:30

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O REMANESCENTE GOTHARDO NETTO*

Humberto Hermenegildo de Araújo (UFRN)

Para Carlos Alexandre Câmara

 

Segundo o autor de Alma patrícia, o natalense José Emerenciano Gothardo Netto, nascido a 24 de julho de 1881, foi o melhor da geração de 1906 a 1911, sendo o mais lido dos rapazes da cidade, o primeiro sonetista e o autor de Folhas mortas (1913), livro publicado postumamente graças a uma inicativa da Officina Literaria Lourival Açucena, com prefácio de Antonio de Souza (o conhecido “Polycarpo Feitosa”). Segundo o prefaciador, “Gothardo Netto não era dos nossos dias; ele foi um dos companheiros do exílio de Casimiro de Abreu e da boêmia de Castro Alves...”; “Como outros sofredores da nossa terra, ele parecia influenciado pela sugestão de Musset”. (cf. WANDERLEY, 1993, p. 152).

Câmara Cascudo sugere que o poeta sofreu de tal modo a influência do meio que a sua tristeza romântica seria determinada pelo aspecto mórbido da rua e da casa onde morava, lugar de reclusão durante os cinco últimos anos da sua vida, quando escreveu versos doentios. Posteriormente, em texto publicado em 1940, o autor de O livro das velhas figuras escreve em tom de crônica, evocando a sofrida vida do poeta dos longínquos tempos do romantismo, morador de uma casa de aspecto colonial, preservada por reformas e envolvida em um clima de passado.

Gothardo Netto é o Patrono da Cadeira n. 24 da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras. Esse filho do professor José Ildefonso Emerenciano e de Dona Ignácia Florinda Emerenciano estudou no Atheneu Norte-Rio-Grandense, fez parte da redação da Gazeta do Commercio e d’A Capital, dirigindo mais tarde O Potyguar. Conforme registra Ezequiel WANDERLEY (1993, p. 152), ele escreveu em quase todos os jornais natalenses do seu tempo.

Amigo de Ferreira Itajubá, sendo inclusive seu companheiro de publicação no jornal O Torpedo, Gothardo Netto era também reconhecido pela sua capacidade de fazer versos, mesmo de improviso, quando das noitadas dos pastoris. Tarcísio Gurgel

representa bem esta faceta do poeta: “Deitado em uma rede, na sala de visitas da sua casa, produzia versos e mais versos, a pedidos, bebendo sem parar” (GURGEL, 2001. p. 54).

 

N’um Postal

Para o Almanak de Macau

 

Alvo e modesto este postal, Parece

Somente próprio a receber meu canto

Que nada mais de dúlcido e de santo

Tem que a meiguice virginal da prece.

Sonhos? Quem dera que os tivesse agora!

Minha vida é o rochedo

Onde a vaga estertora,

Sem jamais revelar o seu segredo!

Ah! Quem dera que sempre uma sereia,

No mistério soturno e funerário,

Guardasse esse rochedo solitário

 


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