RESENHA do artigo “Gestão escolar: uma questão paradigmática”
Uma educação que se propõe eficiente precisa considerar o aspecto d agestão como um elemento preponderante para a consecução do processo de ensino-aprendizagem. O texto de Sérgio Henrique Sousa Diniz aborda a mudança ocorrida no modelo de instituição escolar e na figura de seu gestor diante as mudanças ocorridas no mundo contemporâneo. Nesse novo ambiente interacional, novas considerações se apresentam à discussão sobre o papel da escola como mediadora do processo de formar e educar pessoas.
De acordo com o texto, autonomia, controle social e autocontrole são elementos a serem considerados como paradigmas no modelo de gestão escolar do século XXI. O autor considera que a escola deve ter a sensibilidade para considerar as idéias que transitam na sociedade em que está inserida. Seu fazer pedagógico passa a ser marcado pelos conceitos de simplicidade, transparência e objetividade, conceitos possibilitadores de um trabalho voltado para a formação de cidadãos críticos e aptos a intervirem construtiva e criativamente em seu contexto sócio-histórico. Por suas peculiaridades, tal modelo exige um trabalho orquestrado.
A gestão de uma unidade educacional em tempos modernos se relaciona com a habilidade de seus gestores em se relaionarem com as pessoas que compõem uma unidade escolar e que a rodeiam. A flexibilidade e a adaptabilidade diante de situações diversas são marcas do ato de gerir uma instituição escolar em suas várias dimensões: política, administrativa, humana e social. Esse aspecto multifacético, não considerado até meados do século XX passou a preencher o debate educacional a partir do movimento redemocratizante dos anos 1980 e a partir da elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB/1996) e dos demais documentos oficiais referentes à educação do Brasil.
A base da atual educação brasileira é de caráter renovado, de acordo com o texto de Diniz. Seu arcabouço teórico-metodológico baseia-se no sócio-construtivismo, um forma de valorização da relação eu-outro. Nesta perspectiva, a gestão passa a ser participativa e o trabalho de ensino-aprendizagem alcança um perfil estratégico, como elemento otimizador do fazer didático-pedagógico realizado no ambiente escolar institucionalizado e mediado pela figura do professor, visto não mais como senhor de um saber absoluto e incontestável.
Avançando nas discussões sobre a gestão escolar contemporânea, Diniz (s/d, p. 81) considera que falar em escola hoje inclui a questão do marketing, “ferramenta que utilizada com propriedade e saber por parte dos gestores, pode ser poderosa na construção e sustentação das instituições educacionais. Depreende-se que o termo marketing, embora característico do universo empresarial e mercadológico das sociedades capitalistas, possa ser transposto para o universo da gestão escolar porque envolve a consideração dos anseios e características das pessoas a quem o processo de ensino-aprendizagem é direcionado no cotidiano das práticas escolares. Tal transposição passa a ser um releitura do termo marketing.
Se em um outro espaço-tempo, o modelo tradicional de gestão atendia às necessidades da sociedade, hoje é complicado pensar uma escola apenas como reprodutora do conhecimento, dona de um saber incontestável e balisada prioritariamente na avaliação de caráter quantitativo, classificatório e segregacionista. Para Diniz, pelo modelo de escola renovada aceita-se a noção de diversidade como constitutivos da realidade humana e pelo modelo de gestão participativa reconhece-se que a “participação em seu sentido maior é caracterizada por ser uma forma de atuação consciente em que os membros de uma instituição reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na dinâmica da instituição” (p. 68). Daí derivam o senso de compartilhamento e de delegação de funções.
Pelo modelo estratégico de gestão, a escola parte de uma análise de suas características e em seguida elabora de maneira colaborativa um plano de ação capaz de envolver a comunidade escolar e seus segmentos em torno de um projeto baseado na exeqüibilidade de metas administrativas e pedagógicas que se voltam para o futuro. Há uma relação entre o modelo estratégico de gestão e seu capital intelectual, o “conhecimento que possui todo o conjunto humano da instituição” (p. 72). Quando essa relação é saudável e mutuamente benéfica, há a possibilidade de realização de um trabalho suficientemente adequado para que a marca da escola consiga fidelizar seu público e atrair pessoal novo.
Diniz dedica quinze páginas de seu trabalho a apresentar a noção de marketing educacional como um vocábulo típico de empresas e do mundo globalizado e que alcançou o universo escolar para caracterizar uma postura diferente de considerar as relações estabelecidas entre a escola e seu público (pais e alunos) marcadas pela “necessidade imediata de sobrevivência dentro de um cenário de competição voraz” (p. 81), expressões com as quais define o atual contexto sócio-histórico em que as escolas exercem sua função.
A ênfase dada por Diniz à associação entre escola e empresa chega a incomodar quem trabalha com educação pelo fato de que a tentativa de comparar uma com a outra acaba resvalando no debate sobre que tipo de homem a sociedade precisa. Não que sua argumentação não se mostre bem elaborada. Precisamos considerar que a escola deve tentar se adequar aos anseios e necessidades de seu público a fim de sobreviver e de poder realizar aquilo que está proposto em sua proposta pedagógica para um determinado período letivo.
Todavia, o acento de valor ideológico que surge à superfície textual não nos permite aprender as intenções do texto plenamente isentos de um sensação de servilidade por parte do autor a um projeto de ser-poder alimentado pela dinâmica neo-liberal,a qual coisifica a pessoa humana e endeusa a figura do lucro e da transitoriedade exacerbada dos bens matérias. É um jogo ideológico ao qual a escola deve evitar filiar-se sob pena de ser mais reprodutora que questionadora de conceitos e de condições de vida histórico-culturalmente fixadas.
A escola pode ser séria sem adotar um modelo empresarial, ela pode ser sensível sem se piegas ou leviana. A escola pode o que sua comunidade definir que ela possa, Neste aspecto é válido reconhecer que ser escola e no novo milênio é mais do ensinar. Ser escola no mundo da informação e do conhecimento é estar mais do que nunca voltado para a diversidade. Uma escola que não consiga canalizar a energia das pessoas que a freqüentam ou que nela trabalham está fadada a realizar um trabalho anacrônico e despolitizado na medida em que não se movimenta para atuar de maneira contundente em seu meio histórico-cultural.
Para tanto, os discursos e os fazeres dos gestores escolares podem ser um termômetro dos objetivos e metodologias caracterizadores das instituições escolares. “Em primeira e última instância, o gestor é o responsável pelo que ocorre na escola. Independente de como tenha chegado ao cargo, que ele faça valer sua posição” (Ronaldo Almeida). Pode-se supor que quanto melhor preparado for o núcleo gestor, quanto mais coordenado e dedicado a analisar e interferir positivamente no processo de ensino-aprendizagem da escola, mais pragmática será a gestão do que ocorre na construção do saber mediado e sistematizado pela escola. É um trabalho que envolve paciência e rigor, vontade e companherismo.
Referências Bibliográficas
DINIZ, S. H. S. Gestão escolar: uma questão paradigmática. In Campos & Braz (org), Gestão Escolar: saber fazer. Fortaleza, Edições UFC, 2009.
Benedito Francisco Alves
Morada Nova, Ceará, 20 de maio de 2012.
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